[sempre de acordo com a antiga ortografia]

domingo, 31 de janeiro de 2016




Mozartwoche, 2016,
Concerto do serão de 28 de Janeiro



[publicado em 30.01.2016]

O concerto da noite de ontem na Grosse Saal do Mozarteum,, teve como grandes protagonistas a Camerata Salzburg e o aclamadíssimo pianista turco Fazil Say, cuja carreira em Salzburg acompanho desde que aqui se estreou.

Confesso que gosto pouco da exuberância com que costuma acompanhar as suas interpretações. No que respeita à estética performativa pianística, indubitavelmente, prefiro as propostas apolíneas às dionisíacas, preferência que colide com as opções de um Sasy tão exuberante que chega a ser histriónico.

Na realidade, só com alguma bonomia se lhe atura as madurezas. Porque assim é, aliás, tenham em consideração que preparadíssimos melómanos, como a minha amiga Prof. Geffray, a grande bibliotecária emérita do Mozarteum, pura e simplesmente, não assistem aos seus recitais e concertos...

No meu caso, o valor que lhe reconheço ainda me leva a incuí-lo na minha assinatura geral [“Generalabonnement”] da Mozartwoche que, enfim, não se dá ao luxo de contratar um qualquer tipo mais ou menos ordinário que abuse dos parâmetros geralmente considerados como adequados.

Ontem, o programa pedia-lhe «só» três concertos de Mozart para Piano e Orquestra: em Fá Maior, KV. 37, em Si Maior KV. 39 e em Ré Maior KV. 40. Dirigindo a Camerata Salzburg a partir do piano, Fazyl Say empolgou a casa que, como sempre acontece, se rende aos recursos técnicos de quem é um evidente virtuose que, inequivocamente, trabalha muito para atingir aquele apuro, com um expressivamente positivo resultado das leituras.

Quase sempre, Fazyl Say consegue acrescentar novas, ainda que subtis e quase imperceptíveis perspectivas de interpretação. Ontem, por exemplo, na aludida tríade de peças, eu estava à espera do ‘cantabile’ que faria. São obras em que tal característica e o inerente recurso de obtenção estão à prova em vários segmentos. E, de facto, não me senti frustrado. Que maravilha!

A verdade é que, entre as 19.30 e as 21.50, tivemos os três concertos de Mozart e mais duas peças sinfónicas de Mendelssohn, a saber, a Sinfonia em Sol menor N. 12 e a Sinfonia em Ré Maior N. 8. A organização que pressupõe a gestão de um horário tão exigente para a apresentação de cinco obras, numa sala cujo palco tem os problemas decorrentes de alguma exiguidade, põe à prova os recursos da logística instalada, em especial, quando ali há que movimentar um grande Steinway.

Finalmente, o meu destaque da noite que, como imediatamente verificarão, até nem foi para o pianista «de serviço». Atenção ao segundo andamento, ‘Adagio’ da referida Sinfonia N. 8, em que as violas produzem um registo de textura muito sombria, soleníssima, perante o total silêncio dos violinos.

Quero mesmo que ouçam o prodígio para o qual chamei a atenção. Ontem a Camerata Salzburg, dirigida por Werner Neugelbauer, concertino substituto, conseguiu um momento de extraordinária força e beleza, com absoluto destaque para a chefe de naipe das violas Iris Juda. Permitam que solicite ao Maestro Massimo Mazzeo, exímio violetista, a sua confirmação de perito quanto à selecção deste momento.

Na gravação que vos proponho. a interpretação está a cargo da Orquestra de Câmara de Sófia sob a direcção de Emil Tabakov.

Boa Audição!

https://youtu.be/1_rdhiki1VQ
 
Stiftung Mozarteum Salzburg em Salzburgo.
Der Ausnahmepianist Fazil Say gab am 28.1. ein Konzert mit der Camerata Salzburg
 

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