[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016



É preciso merecer a Pena


Muitas vezes tenho citado as palavras que encimam estas linhas. Dizia e escreveu-as Manuel Pedro do Rio-Carvalho (1928-1994), um querido e saudoso amigo «herdado» da sua amizade com meu pai - que era só meia dúzia de anos mais velho - melómano infatigável e militante, a quem devo inesquecíveis horas de infindas lições, fruto da frequência da Música, por cá e por todo o mundo, desde os anos trinta.

'É preciso merecer a Pena', propunha ele. Através de tal expressão, aliás, referia-se a uma específica condição do acesso ao Palácio, condição 'sine qua non', de subida a pé, proposta tanto mais significativa já que, manifestamente coxo, para si, tal caminhada resultava em evidente sacrifício.

Quando subo até lá acima e, em especial, sempre que as condições atmosféricas são consideradas como ‘não propícias’, é impossível esquecer as palavras do Manuel Rio. Ontem, por exemplo, não foi particularmente fácil mas, em Dezembro/Janeiro do ano passado, enfrentei maiores adversidades para não perder os Serões Musicais no Palácio da Pena.

Claro que valeu a pena. Valeu a Pena! Estar com os amigos, partilhar a Música em ambiente tão cativante, sentir e perceber as memórias musicais daquelas paredes, tanto as iniciais, contemporâneas de D. Fernando, como as de tempos mais recentes, por exemplo, dos recitais e concertos incluídos em tantas e sucessivas edições do Festival de Sintra.

Que se livre da minha reacção quem tiver o topete de dizer que aquelas paredes não falam! É, exactamente, porque falam que a Parques de Sintra promove esta iniciativa, sob a Direcção Artística do Massimo Mazzeo. Apesar das dificuldades de toda a ordem os ‘Serões Musicais’ aí estão e, justificando o êxito, com a lotação esgotada.

Ontem, subordinado ao tema, ‘Quadros da Natureza’, tivemos um programa preenchido pelo “Quarteto de Cordas em Sol Maior, Cenas da Montanha”, Op. 14 de Vianna da Motta e o “Quinteto para Piano e Cordas em Lá Maior, A Truta”, D 667 de Franz Schubert, na interpretação do Quarteto de Cordas de Matosinhos e de António Rosado, ao piano.

Este agrupamento de câmara é bem conhecido dos melómanos. Muito solicitado tanto nos mais diferentes enquadramentos nacionais, como na vizinha Espanha, além das tournées por Londres, Amsterdão e Viena, é nos “Dias da Música”, no CCB, que mais tenho acompanhado as suas prestações.
Percebe-se bem que a tarimba do Quarteto de Matosinhos tem sido imprescindível para o empenho, o entrosamento ganho nos oito anos que já levam de trabalho em comum, fomentando as cumplicidades indispensáveis aos bons resultados alcançados.

Gostaria de registar o muito bom nível do evento ainda que, no referente à tão conhecida peça de Schubert, tivesse preferido uma interpretação mais afim do que é habitual considerar como o «quadro vienense» de referência, a exemplo do que o Quatuor Mosaïques, também «pela mão» de Massimo Mazzeo teve oportunidade de, tão prodigamente, evidenciar no Palácio de Queluz em Outubro de 2015, no contexto do Ciclo 'Tempestade e Galanterie'.

A musicóloga Prof. Luísa Cymbrón fez uma palestra introdutória tão agradável, informal e esclarecedora como as que nos tem habituado desde que começaram estes Serões. Enfim, tudo a correr estupendamente, como é habitual, com o superior nível do selo da Parques de Sintra.

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Finalmente, quero partilhar convosco uma interpretação do Quinteto "A Truta" que reputo de excelente. Verei se Massimo Mazzeo também é da minha opinião e se, com esta proposta, estamos perto do cânone acerca do qual falávamos ontem à noite. Então, aqui têm os membros do Quarteto Hagen (de Salzburg), com Alois Posch no contrabaixo e Sir András Schiff ao piano.

I Allegro vivace
II Andante
III Scherzo: Presto
IV Theme & Variations: Andantino
V Finale: Allegro giusto


Boa Audição!

https://youtu.be/Ssy5OUpTcDs
 
 
 
©PSML - Luís Elvas
 
 
 
 

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