[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017



Francamente!
Não há paciência...



Dr. Basílio Horta aos pontapés à gramática:

"(...) É, pois, nesta celebração dos 40 anos do Poder Autárquico Democrático, realizadas a 12 de Dezembro de 1976 (...)"


Esta pérola do pior Português que já vi em letra de forma, subscrita pelo Presidente da Câmara Municipal de Sintra, foi-me enviada por um amigo, na vã esperança de que ainda pudesse eu justificar, como correcta (????), uma frase que lhe parecia integrar um grande pontapé na gramática.

Como agravante da circunstância tão penosa que é aceder a linhas que tais, registe-se o contexto: isto aparece na página de abertura da Agenda do Professor 2016 / 2017, em texto dirigido à classe docente do concelho...

Naturalmente, trata-se de episódio merecedor da sumaríssima análise que esperam o meu correspondente e, agora, os leitores desta peça. Atentemos naquele «realizadas», feminino plural. Não, não permite concluir sobre qualquer lógica de concordância. Mas, admitindo a ocorrência de um eventual problema, mantenhamos o verbo 'realizar', e tentemos introduzir alternativas.

Então, primeiramente, no feminino singular «realizada»? Não, também não resulta. E no masculino singular «realizado»? Igualmente negativa. Finalmente, masculino plural «realizados»? Igual e manifestamente impossível!

Na realidade, como previa o meu amigo, trata-se mesmo de um grande pontapé na gramática. De qualquer modo, ainda não desistindo da resolução do enigma, concentremo-nos na data mencionada. Ora bem, aos 12 de Dezembro de 1976 - faz hoje precisamente 40 anos e um mês - ocorreram, de facto, as primeiras eleições autárquicas depois da recuperação do regime democrático ! Fornecerá isto alguma pista? Talvez.

Será de considerar que o Senhor Presidente da Câmara tivesse pretendido aproveitar determinadas palavras de um outro escrito a propósito daquela consulta às urnas e que, ao concretizar a manobra da colagem, o resultado o tivesse traído. E, traído também foi pela muita precipitação que reinará nos Paços do Concelho porquanto, além dele, autor, também nenhum dos adjuntos e assessores terá reparado.

Pois é, tratando-se de publicação impressa, com a chancela da Câmara Municipal de Sintra, a situação não deixa de ser grave, denunciando a falta de controlo da qualidade da matéria escrita produzida, sintomática e reveladora da ligeireza dos procedimentos.

A menos que, afinal, não se tratando de erro, tão lamentável como indesculpável, a coisa tenha uma origem outra. Ou seja, tão preocupado com aquilo que, durante quase quatro anos não realizou e, percebendo que, nos poucos e restantes meses, já nada mais de substancial conseguirá realizar, o edil andará com a cabeça tão cheia deste verbo que ele lhe salta a torto e a direito...
 

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