[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 28 de novembro de 2008



A desilusão dos senadores


Em Sintra, aliás, como em todo o país, neste ano lectivo, está a acontecer um fenómeno deveras preocupante em relação à aposentação de professores dos ensinos básico e secundário. Neste especial período do fim das suas carreiras, sem entrar em pormenores de perfil mais técnico, convém considerar, basicamente, as duas soluções pelas quais estão a optar.

Num primeiro caso estarão todos os professores que, atingindo um mínimo de trinta e três anos de serviço e sessenta e um e meio de idade, aproveitam recente dispositivo legal que lhes concede a possibilidade de uma saída tão rápida quanto possível, sem qualquer penalização de ordem pecuniária, ainda que, de acordo com as novas disposições relativas a aposentação, o Sistema Educativo com eles deveria contar, consoante os casos individuais, durante mais um, dois, três anos.

Poderiam manter-se por mais uns tempos, não é? Pois é. Em condições normais, provavelmente, assim aconteceria. Reparem que, portanto, numa altura de fim de carreira, em que alunos e colegas ainda tanto poderiam beneficiar da sua experiência e dedicação, cortam abrupta, tantas vezes dolorosamente, com uma actividade profissional docente e lectiva que muita abnegação sempre lhes exigiu ao longo de dezenas de anos.

É toda uma cultura de Escola, uma cultura de seniores que não passa, um capital que a comunidade escolar, a comunidade educativa e o Sistema Educativo se dão ao luxo de perder, deixando sair, amargurada, uma série de pessoas que estiveram ao serviço das crianças e dos jovens, cumprindo o que deles esperavam os contribuintes em geral, pais e encarregados de educação em particular.

Não fosse isto suficientemente significativo, ainda se permitem abdicar da conveniência de auferirem um montante de reforma um pouco mais elevado. Dão de barato um dinheiro que, inevitavelmente, lhes faltará num tempo em que nem um Cêntimo se pode desperdiçar. Tudo isto é certo e pertinente. Todavia, invariavelmente, perderam o ânimo.

Em segundo lugar, ainda mais preocupante, é a situação dos colegas que, não tendo reunido as condições mínimas, quer de idade quer do tempo de serviço, decidem abandonar a Escola, com sérias penalizações pecuniárias que, em conhecidos casos de estabelecimentos de ensino, em Sintra, atingem cortes de cerca de vinte por cento. Mas ainda haverá quem se espante perante o que está a acontecer?

Perante uma política educativa sem norte, conduzida por uma equipa ministerial impreparada, sem visão sistémica do complicadíssimo universo que era suposto saber gerir, todos os profissionais da Educação, os professores em especial, foram confrontados com medidas que não podiam tê-los causticado em mais larga medida. Esta equipa de governantes que ocupou a 5 de Outubro em 2005 e, não esqueçamos, também o primeiro ministro, máximo responsável pelo desconchavo – bem podem gabar-se de terem forçado a barra até ao limite máximo.

Assim sendo, em ambas as aludidas situações, há muitos professores que, em Sintra, vão ficando disponíveis para atitudes outras em relação à Escola, à Educação e ao ensino. Vão constituindo, juntamente com aqueles que os precederam em anos recentes, um contingente de senadores que muito bom seria para a comunidade poder contar.

Ora bem. É aqui que entra a minha sugestão ao Senhor Vereador da Câmara Municipal de Sintra com o pelouro da Educação. Porque não constituir, segundo condições a definir, um Senado Escolar, informal órgão consultivo da autarquia, integrando os experientes mestres educadores interessados numa tal iniciativa? Porque não aproveitar a nível local, aquilo que o poder central ousa desperdiçar?

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro amigo Cachado,

Hoje estou em greve, como a maioria dos professores de Portugal. É uma desolação chegar ao fim da carreira e vermo-nos tão mal tratados com o Ministério a dar a entender que não queremos ser avaliados, a tentar virar a população contra nós.
Também estou à beira da reforma, situação que a minha mulher já goza há três meses. Somos da mesma geração, meu caro João Cachado, os mesmos anos, a mesma Faculdade de Letras, nós de História, você e a sua mulher de Germânicas.
Revejo-me nas suas palavras. Nunca tinha pensado que sou um «senador», à imagem do que acontecia em tempos clássicos... E penso que a proposta do «Senado Escolar» é excelente para aproveitar o que ainda podemos dar apesar de tanta desmotivação.
Mas você é um optimista inveterado. Eu não acredito que o poder local agarre a ideia. Estão muito ocupados com as suas guerras de alecrim e manjerona para sequer lerem as suas palavras. Acredito mais que alguns de nós podíamos fazer o tal Senado, a nível particular, talvez um associação que hoje é muito fácil de conseguir.
Porque não pensa nisso? Eu alinho, a minha mulher também. Se falarmos a meia dúzia de colegas a coisa pode avançar. Continue de vez em quando a escrever sobre problemas de Educação. Em Sintra, há muita gente que desconhece como você foi um excelente Técnico de Educação, técnico superior do Ministério, conhecedor do Sistema Educativo. É uma pena não se aproveitar o seu saber e o de tantos como nós que ainda estamos vivos. Sessenta anos é o começo de outra vida agora que tanto se morre aos noventa e muitos.
Um abraço
P. Nolasco Ferreira