[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Desilusão
sem nome próprio

(conclusão)


Basta lembrar o modo como o Presidente da Câmara se envolveu na Jornada de Reflexão sobre a Estefânea em 22 de Março de 2004. Esteve presente no Palácio Valenças, acompanhado por dois vereadores e técnicos dos serviços, interveio, interessou-se e, mais tarde, fez uma série de promessas a muitos cidadãos que tinham sido mobilizados pelo movimento cívico, que emergira com a luta contra o aludido parque subterrâneo, movimento que ainda não tinha definhado e que até conseguira acolher conhecidas figuras do meio cultural nacional, mas radicadas em Sintra, como Gabriela Llansol e Bartolomeu Cid dos Santos.

Confiando nos sinais, eu iludia-me. Até que se começou a evidenciar como as promessas não passavam de palavras vãs, ao mesmo tempo que, noutro contexto, apesar de variadíssimas atitudes de insistência no sentido de satisfazer a comunidade com o esclarecimento que se impunha, casos como o da controversa gestão do biólogo Serra Lopes na Monte da Lua esbarraram, até hoje, com um presidencial muro de silêncio. E, mais recentemente, outros silêncios continuam a gritar no caso das mortes de duas senhoras em Belas, durante a cheia de 2008, ou de duas crianças numa lagoa do Cacém.


A geracional incompetência dos decisores políticos que têm servido Sintra nas últimas décadas não se alterou com Fernando Seara. Mas eu iludi-me. Ingenuamente. Repare-se que os mais emblemáticos casos de degradação do património civil edificado, tanto em pleno Centro Histórico – com o escândalo do Hotel Netto, a falta de saneamento básico, a vergonha da Rua dos Arcos, ou as ruínas do Rio do Porto, por exemplo – como na Estefânea, com a Garagem Sintra, o prédio do Comendador Justino e toda a quela fileira de indignidade na Heliodoro Salgado, tudo já vinha de anteriores gerências e mantém-se, santo Deus!


A preservação do património classificado passou a ser uma balela. O discurso é um e a realidade, essa, outra e bem mais dolorosa. Seteais testemunha-o à saciedade, não só com a cedência aos caprichos do concessionário do hotel, do grupo Espírito Santo, que se consumou na destruição do tanque, mas também no inconcebível licenciamento de uma casa, enorme e desconforme com as características e espírito do lugar, na Quinta do Vale dos Anjos, propriedade de Miguel Pais do Amaral, mesmo em frente do palácio.


Trata-se de património ofendido. Todavia, tal como tenho vindo a denunciar, há outro património que Fernando Seara, se não abandonou, até parece, como acontece na Quinta da Ribafria. Um vultuoso investimento dos munícipes nada rende. Resultaram infrutíferas as informais tentativas no sentido de saber o que por lá se passa. Umas cenas por lá filmadas, disseram-me. Será este o destino que o Senhor Presidente terá em mente para a Quinta do Relógio, cuja aquisição, cifrada em muitos milhões de euros, está a propor aos cidadãos, sem qualquer programa para as instalações?


Ainda outro património, de carácter mais virtual mas importantíssimo, como a reputação do Festival de Sintra, até isso Fernando Seara, por acção e omissão, deixou comprometer. Por outro lado, em domínio bem diferente, autorizou que se instalasse um clima de tolerância à impunidade. Por exemplo, no estacionamento selvagem e caótico dos automóveis, em zonas pedonais, desautorizando os agentes das forças policiais. Quando os próprios agentes se queixam de que o Presidente da Câmara os desmotiva do cumprimento do dever…


Estão a perceber os leitores as razões do meu gradual e definitivo afastamento? Entendem melhor o meu processo, de ilusão/desilusão? Não é difícil nem custa admitir mas cumpre sublinhar que, após um auspicioso e promissor período inicial, em que até alguma participação cívica foi possível, Fernando Seara desfez a máscara e, lembrem-se, tal como no poema de Manuel da Fonseca, matou a tuna

Como o título deste escrito dá a entender, esta desilusão não tem nome próprio. Muito redutor seria confundir, em exclusivo, o nome de Fernando Seara com esta desilusão. Não esqueçam que, à volta do Presidente, há uma corte de subservientes, inequivocamente co-responsáveis com o statu quo. Isto é trabalho de um grupo, não de um homem só, embora a responsabilidade última a ele tenha de ser endossada.

Agora, tal como Marcus Tullius Cícero, contra Lucius Sergius Catilina, só nos resta a possibilidade de desafiar o Presidente, perguntando-lhe até quando abusará da nossa paciência…


8 comentários:

Anónimo disse...

Esta semana começaram a tirar destroços da garagem Sintra. Já há alguma decisão tomada, sobre o destino do edifício?

Anónimo disse...

O abuso poderá terminar em breve, parece que a candidatura à FPF vai mesmo adiante. Depois temos o vice-presidente ao leme durante cerca de 3 anos. Se for do calibre do seara lá vamos continuar na mesma desgraça. José J. Jales

Anónimo disse...

Pode ser que a noticia de ontem de que a agência Mooddyś apontou o dedo às CM's de Sintra e Cascais, produza efeitos.

Anónimo disse...

Quando alguém, sabendo de antemão o desequilibrio emocional e correspondente inépcia de outrém e mesmo assim lhe desencanta um TACHO DOURADO na Regaleira è o quê? Também foi enganado? Passemos a outra situação, no mesmo lugar. A Fundação Cultursintra de tempos a tempos lá vai tendo as suas reuniões de conselho de administração, numa destas últimas, o sr. presidente chegou mesmo a gritar com o sr. joão cruz alves leembrando-o de que a Regaleira ainda não era dele, isto perante a evidência do despesismo e má gestão. E o outro Alves, o da CDU que por lá também tem assento fez alguma coisa? E o sr. seara não sabe o que por lá mantém? Vampiros è o que são! Natália Sales Gomes

Fernando Castelo disse...

Meu Caro João Cachado,

O "rosário" poderia ter sido mais longo, justificando um posterior trabalho de compilação.

Por agora, perante a notícia da Moodys ter Sintra naquilo a que se costuma dizer "debaixo de olho", não ficaria mal que a história pouco conhecida da aquisição da QUINTA DO RELÓGIO tivesse o único epílogo digno: público anúncio de não se realizar.

Quanto à questão da FPF não passa de um "fait-diver". Porquê? Direi a minha opinião. Porque a FPF é apenas para que se fale e não pelas excessivas palavras de amor pelo futebol. A prová-lo, está o facto de - ao que se diz - o presidente da CMSintra querer ocupar os dois lugares.

Portanto, a tal "Dedicação TOTAL", tem tido dias.

Sintra faz-lhe, sim, muita falta. Porque em Sintra pode distribuir uns subsídios por aqui e por ali, continuando a manter, à custa do erário público, a imagem do político que paga relvas, que dá fundos para as mais variadas instituições que mais parecem pedintes, garantindo dessa forma a imagem para acções futuras. Que acções? Veremos, mas tem de existir um projecto a médio ou a longo prazo.

Depois, na FPF, não será tão fácil ter algumas televisões a - num ritmo quase regular - visitar a burgo, hoje de trem, amanhã de eléctrico, outro dia com qualquer pretexto para um directo seja por um fogacho ou outro qualquer pretexto.

SIntra é sempre um óptimo trampolim e, na perspectiva de uma alteração do quadro eleitoral, é bom que se dêem provas de vida.

Aliás, pela lógica, a capital mereceria mais propaganda, mas António Costa é muito menos badalado nos media. Porque será?

Bom Natal para todos e um futuro mais risonho para Sintra em 2011.

Assunção Serpa disse...

Estimado Dr. Cachado,
Primeiramente bom Natal. Parabens por estes textos. A desilusão para mim tem o nome de Seara porque votei nele, com muita esperança que ele fosse diferente da Edite Estrela que eu já não podia aturar e ele ainda é pior. Não passei por essas situações que o Dr Cachado relatou e imagino
o desgosto. Como a situação de Sintra é muito má tudo o que vier depois do Seara só pode ser melhor. Não perca a esperança. Cumprimentos,
Assunção Serpa

Anónimo disse...

Caro Dr. João Cachado,

Bom Natal para si e para todos.
Também espero que o Dr. Seara tenha um bom Natal lá na sua terra depois daquele programa gravado na Quinta da Ribafria. Tenho a certeza que
foram para a Ribafria porque o Dr. Cachado começou a denunciar o
abandono do lugar. Não desejo mal
ao Dr. Seara mas espero que vá
para FPF bem depressa.Basta de
falta de qualidade como consequência dos seus mandatos.
I. Lemos

Diogo Sales disse...

Como ressuscitou a Ribafria sem dúvidas graças ao que este blogue tem denunciado até houve um hara-kiri que deve ser esclarecido de quanto pagou a TV à Câmara de Sintra para que depois não se fale de retribuição em espécie.Já muita gente esqueceu aquela da TVI com a companhia na Tapada do Mouco que ia dar muitos milhares mas nunca se soube bem se eles entraram.O Dr. Lamas devia dar essa informação pública porque não foi no tempo dele que as coisas se passaram mas deve saber-se se entrou o dinheiro,o que se sabe é que uns tempos depois a TVI passou a ter um novo comentador.
Muitas felicidades para o blogue que é uma referência e exemplo.