segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
Sintra romântica,
ou mais do mesmo…
Nos últimos dias, no parque de estacionamento do Rio do Porto, em pleno centro histórico de Sintra, tem-se repetido a desqualificada cena que, tantas vezes, aqui tenho denunciado. Ainda não são às dezenas, como nos meses de Verão mas não deixa de ser significativo que, num dia de Inverno como o de hoje, lá estivessem acampadas cinco autocaravanas, três das bem grandes e duas mais pequenas.
Ao contrário do que, muito benevolamente, já ouvi alguém colocar como hipótese, os seus condutores não estacionam ali as caravanas para irem procurar alojar-se em qualquer pensão ou hotel das redondezas. Aliás, por alguma razão investiram tais viajantes num tal tipo de transporte que também lhes serve de abrigo… De facto, trata-se de gente que, pernoita in loco. Ninguém, a não ser as autoridades policial, autárquica e sanitária, tem a mínima dúvida.
Hoje mesmo, bem cedo, passando pela Volta do Duche, tive oportunidade de me aperceber das manobras despertativas dos ocupantes de três dos veículos, já que, na altura, saíam três homens, um deles de toalha ao pescoço, para o fresco da manhã, aproveitando para o espreguiçamento e uns exercícios de aquecimento. Ao longo de tantos anos, alertando para o que ali se passa, tenho verificado que o sítio é muito propício. Sim senhor, excelente escolha...
Portanto, que ninguém se iluda. A escassas dezenas de metros dos Paços do Concelho, funciona o mais descarado manifesto de Sintra, capital do Romantismo. Como já tive oportunidade de aqui escrever, é o amor e uma cabana (sobre rodas…) do século vinte e um, qual alternativa aos motéis aí da periferia sintrense onde, com certeza, tão romântica quanto apressadamente, se aviam as fugazes cenas de amor que, enfim, todos nós imaginamos…
Se Sintra tivesse um Vereador do Turismo à altura da terra que é, nada disto aconteceria. Mas, pelos vistos, o Senhor Vereador tem outras preocupações. Não posso deixar de me perguntar, porventura esquecido destas imagens pouco edificantes, como é que ainda me permito, a exemplo do que fiz na passada quinta-feira – através do último texto aqui publicado, repescado de um meu artigo, há seis anos saído no saudoso Jornal de Sintra – sugerir-lhe que protagonize atitudes civilizadas para benefício da actividade turística em Sintra…
Só eu, meu Deus! Como perco, tão facilmente, a noção do nível da pessoa a quem dirijo as minhas palavras? E, não senhor, até nem tinha bebido um bom copo que pudesse relevar-me o deslize. Enfim, não tenho desculpa, sou um ingénuo incorrigível.
[NB: este texto foi objecto de uma série de comentários inadvertidamente eliminados. O meu pedido de desculpa aos autores]
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
[O texto que hoje vos trago foi publicado em 15 de Abril de 2005, quase há seis anos, quando, no saudoso Jornal de Sintra, muito mais propícios, outros ventos sopravam... Infelizmente, as minhas considerações e sugestões de então, não perderam a mínima actualidade. Pelo contrário, depois de tanto tempo sem que nada tivesse sido alterado, ainda maior pertinência revestem.
Novidade para alguns, aí tendes o que se me oferece acerca da necessidade de melhor mostrar e identificar o património de Sintra. Desta vez, vai à especial atenção do Senhor Vereador do Turismo. A ver se deixa os slôganes baratos, da Sintra capital do Romantismo e quejandos, para vender esta terra a pataco ordinário, começando os serviços que dele dependem a ser um pouco mais operacionais e eficazes. É que já vai sendo tempo...].
É perfeitamente comum e geralmente aceite a estafada ideia de que Sintra é terra com uma vocação turística indesmentível. Pois admitamos que assim seja: beleza paisagística, património natural e edificado, gastronomia, cultura local e outros pertinentes atributos, na realidade, tudo parece concorrer no sentido de não pôr em causa a referida noção.
No entanto, se tivermos em consideração, por exemplo, o modo displicente como nos permitimos mostrar e apresentar Sintra a quem a visita, logo se instala a dúvida, não em relação à tal vocação mas, isso sim, quanto a estar à altura dos desafios colocados por esta pródiga e soberba terra.
Introdução tão geral, autorizaria um infindável número de abordagens, desde a incapacidade de obstar ao desleixo e estado de abandono a que estão votados tantos edifícios em pleno centro histórico, até à inércia letárgica que tem inviabilizado o ataque aos problemas do estacionamento, a gestão dos fluxos de tráfego (indutores, alguns, do encerramento de determinadas vias à circulação de viaturas automóveis que não as prioritárias) a imposição de um regime civilizado de cargas e descargas, etc, etc.
Vão permitir um parêntesis para lembrar que ninguém poderá afirmar que tais questões têm sido alheias às nossas preocupações. Pelo contrário, têmo-las partilhado com os leitores ao longo dos anos, jamais nos subtraindo a qualquer contributo, estritamente motivados pelo desejo de animar o debate que tais problemas sempre suscitam.
Legendas, por favor
É nesta linha de actuação, portanto, meramente de serviço cívico, que hoje nos debruçamos sobre o parapeito da janela que Sintra abre aos visitantes, deixando que espreitem o que de mais interessante tem para oferecer à curiosidade de quem se desloca, por vezes, de tão longe, e, não raro, permanecendo tão pouco tempo.
Não temos a veleidade de vir propor algo de original já que nos baseamos em exemplos conhecidos, apenas trazendo à colação práticas comuns a outros destinos que, tal como Sintra, são geralmente aceites como turisticamente vocacionados. Indo directamente ao cerne do problema, tudo isto para introduzir uma questão absolutamente vital à actividade turística, qual seja a necessidade de, em tempo oportuno, muito sinteticamente, com a maior eficácia, transmitir toda a informação que é suposto fornecer acerca de determinado local.
Simples? Sabemos que não é coisa simples de concretizar, pressupondo o envolvimento de uma equipa que, para além do historiador, divulgador cultural, contará ainda com peritos de comunicação, tradução, semiótica, desenho gráfico, etc. Provavelmente, se pensarmos em casos concretos, facilitada ficará a tarefa que nos propusemos concretizar nestas linhas da rubrica Concelho adiado.
Alguns casos…
Consideremos, por exemplo, três casos paradigmáticos e contíguos: a Quinta da Regaleira, a Quinta do Relógio e o esplêndido monumento vivo que é aquela sobreira, mesmo à beira da estrada, à direita de quem, poucos metros adiante, vai iniciar a subida da rampa. Pois, nada, absolutamente nenhuma informação ali existe que esclareça o passante quanto à singularidade dos três manifestos de património.
No pelouro do turismo da autarquia, se confrontados com esta realidade, os responsáveis replicariam que o visitante, turista nacional ou estrangeiro, passa pela delegação do Turismo local onde é apetrechado de folhetos, de mapas e cumulado com documentação de todo o tipo, que lhe facilitará as deslocações, o respectivo esclarecimento. Muito provavelmente, ainda manifestariam a maior perplexidade quanto à despropositada observação que tivemos a ousadia de evidenciar…
O mínimo que poderíamos ripostar é que uma coisa não invalida a outra. Pois sim senhor, não só todo o suporte documental, em papel impresso, mas também a informação que, in loco, deve estar disponível, através de placa ou painel informativo, de reduzidas dimensões, legível à curta distância de cerca de um metro, contendo apenas meia dúzia de frases imprescindíveis à localização da peça no tempo e no espaço, dando conta de qualquer episódio de interesse relevante.
mais exemplos…
A Quinta da Regaleira, a Quinta do Relógio, exemplos acima referidos, disporiam de uma placa informando sobre a estética revivalista romântica da sua arquitectura, esclarecendo acerca dos proprietários iniciais promotores da construção, dos artistas envolvidos, das curiosidades mais notáveis, tais como toda a simbologia maçónica da Regaleira, ou o facto histórico de D. Carlos e D. Amélia terem passado a lua de mel na Quinta do Relógio. A propósito da sobreira, para além das referências botânicas identificativas da espécie, importaria divulgar os escritores que a ela se referiram.
Mais casos? Porque não Seteais, a pouca distância? Chegados ao portão de acesso, há placas que identificam o Palácio de Seteais apenas como hotel de luxo de determinada empresa e uma informação bem destacada permitindo o exclusivo acesso das viaturas dos hóspedes. Ora, caros leitores, como já devem ter verificado, se por ali tiverem passado com frequência, esta é uma atitude perfeitamente intimidatória que, naturalmente, afasta do local os visitantes pouco ou mal informados.
Ali deveria existir informação acerca deste palácio do século XVIII, dos jardins de acesso livre e gratuito, do miradouro do qual se avista uma das mais impressionantes paisagens de Portugal, daquele arco de triunfo e o acontecimento ali celebrado, etc, etc. Isto é o mínimo que merecem os bens patrimoniais da comunidade em termos de interpretação e divulgação.
…circuitos e sugestões
Outro exemplo, entre tantos referenciáveis: em pleno coração do centro histórico, justificar-se-ia a existência de informação acerca da zona da Judiaria junto ao arco de acesso, à esquerda de quem sobe a rua a caminho da Periquita. E, em sentido contrário, outra placa ou painel referenciando a Rua do Açougue, remota reminiscência do as-soq árabe, mesmo sob a esplanada do Café Paris. Estas, apenas duas das etapas de passagem de um circuito medieval de Sintra a promover com outros motivos do maior interesse.
Como não lembrar, igualmente, entre tantas que poderíamos citar, noutra zona da sede do concelho, as obras de Norte Júnior, Adães Bermudes, Raul Lino, sem qualquer identificação?Naturalmente, a informação a disponibilizar, ainda que significativamente reduzida, obedeceria sempre a um mesmo modelo padrão, de painel-placa, talvez com a aposição de um pequeno símbolo cromático, identificador de certo circuito (medieval, romântico, queiroziano ou outros) em coerente articulação com a que aparece nos folhetos turísticos, tanto em termos do estilo informativo como no aspecto gráfico.
Será difícil pôr em marcha semelhante plano de identificação e divulgação de todos os lugares de interesse de Sintra? Será difícil de entender que este tipo de informação é, pelo menos, tão essencial como o dos folhetos e mapas distribuídos pelo Turismo? Não se perceberá que esta também é uma forma de promover a auto-estima dos residentes menos esclarecidos, possibilitando-lhes uma informação sucinta e rápida sobre um património que os forasteiros procuram por razões nem sempre compreensíveis?
Muito trabalho? Mas tão aliciante, tão útil, urgente e necessário!
[NB: este texto foi objecto de uma série de comentários inadvertidamente eliminados. O meu pedido de desculpa aos autores]
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
Par(a)lamentar
Vivemos um tempo em que, não raro, assistimos a manifestos de desrespeito pela instituição parlamentar que não deixam de ser muito preocupantes. A propósito, convém não esquecer que o Parlamento é a casa da Democracia. De facto, é mesmo. Casa da Democracia não há outra. Aliás, por razão altamente substantiva, até um qualquer Rui Pedro Soares [lembram-se das palavras do jovem ex-administrador da PT, no dia em que se apresentou à Comissão Parlamentar?] declina este conhecido chavão.
O desrespeito está praticamente institucionalizado, podendo assumir contornos inusitados que, não raro, são protagonizados pelos próprios parlamentares, perante a geral apatia dos cidadãos e, muito naturalmente, pela desatenção dos media, cada vez mais afastados das matérias em que, com toda a pertinência, poderiam aplicar a sua força de detentores do designado quarto poder.
Neste contexto, hoje vos trago uma nota de breve reflexão acerca de um assunto que me permito opinar deveria ter merecido uma atenção diferente daquela que, em meados de Dezembro, lhe votou a comunicação social, quando se soube que o conhecido antropólogo, Miguel Vale de Almeida, deputado do Partido Socialista, resolvera renunciar ao mandato.
Na altura, considerou o parlamentar independente que estava cumprida a tarefa para a qual fora eleito. Ou seja, cessava o seu mandato uma vez que acabara de ser legalmente reconhecido o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a causa em que se tinha empenhado na Assembleia da República, desde que havia sido eleito no ano precedente.
Ora bem, nas sociedades onde vigora o regime da democracia representativa, é suposto que os eleitos se empenhem nas causas constantes dos programas partidários sufragados. Na sequência de eleições legislativas, recebe o deputado um mandato nos termos do qual, durante quatro anos, se compromete fazer o que estiver ao seu alcance para honrar o contrato celebrado com quem nele delegou o poder de conceber e alterar leis que melhorem a qualidade da vida de todos os cidadãos.
Como não podia deixar de ser, ao candidatar Miguel Vale de Almeida nas suas listas, o Partido Socialista apresentou-o ao círculo eleitoral e à República, com o geral estatuto que enquadra todos os potenciais eleitos. Não havia, não podia nem pode haver qualquer diferença de condição ou enquadramento. Então, como se entende que, passados uns meses, o deputado se tivesse arrogado à quebra do compromisso, afirmando o que afirmou, desvinculando-se da palavra que o prendia aos cidadãos que nele confiaram?
Em conclusão, cumpre afirmar o que, implicitamente, se infere das linhas precedentes, ou seja, Miguel Vale de Almeida não foi eleito por um punhado de eleitores para o desempenho da tarefa que, tão apressada como erradamente, afirmou como tendo sido, afinal, a única que o determinara. Grande erro. Grande falta de discernimento. E, convenhamos, igualmente, grande desrespeito pelo Parlamento.
No meio de tudo isto, triste, muito triste que ninguém, com mandato institucional e soberano, se tivesse pronunciado contra tal atitude e, ainda mais estranho, que a mesma não tivesse sido objecto da sanção de pejorativa avaliação que deveria suscitar. Sinais de um tempo em que algo de irregular se passou, sem qualquer aparente reacção de desagravo, no lugar onde, ao mais alto nível, se vive a representatividade dos interesses da República.
Ou, muito prosaicamente, pouco ou nada preocupados com as atitudes de desrespeito de cidadãos eleitos, detentores de cargos decorrentes da vivência democrática, teremos já chegado ao ponto de admitir que a prática da República, em todas as instâncias, se reduza à estéril declinação de chavões que, tão justamente, nos apressamos a condenar nas latitudes ditatoriais? É que, assim sendo, teríamos de concluir estarmos perante o mais monstruoso manifesto de cultura do desleixo em que, a todos os níveis, os portugueses são primorosos artífices.
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De hoje em diante, passarei a publicar os textos que não versem matéria especificamente sintrense no blogue João Cachado - Notas soltas ao passo que as peças relativas ao universo musical serão enquadradas noutro suporte a anunciar posteriormente.
[NB: este texto foi objecto de uma série de comentários inadvertidamente eliminados. O meu pedido de desculpa aos autores]
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
- Alvíssaras!
É verdade, a notícia que vos trago é daquelas que merece choruda recompensa. De facto, julgo estar em posição de garantir que a Câmara Municipal de Sintra desistiu da aquisição da Quinta do Relógio. Colhi a informação junto de fonte absolutamente fidedigna mas, manda a habitual reserva e cautela, que aguardemos pela confirmação pública que não deverá tardar.
Em Sintra, durante meses seguidos, ninguém como nós, tanto se terá batido contra a concretização de tão famigerado negócio. Este blogue foi veículo de opiniões que, acerca da controversa questão, acumularam um lastro de descontentamento cujo volume e substância, não tenho a menor dúvida, terá contribuído decisivamente para o desfecho que me apraz comunicar.
Já circulavam anedotas e dichotes. Muito a propósito, por exemplo, se dizia que a Quinta do Relógio era o aeroporto do Seara, quando não a primeira ponte do Seara ou o TGV do Seara. Naturalmente, funcionava a analogia com o que, desgraçada e desafortunadamente, continua a acontecer relativamente à teimosia do Primeiro Ministro quanto às grandes obras públicas nacionais apesar de não haver condições de assunção da dívida para o seu financiamento.
Não somos só nós, munícipes de Sintra, que estamos de parabéns. O Presidente da Câmara Municipal de Sintra também deve sentir-se muito honrado por assim ter decidido. Deste modo, em Sintra, só temos motivos para, mutuamente, nos congratularmos. Prevaleceu a lucidez. Porque, em última instância, o Presidente soube ser sensível aos argumentos da razão, decidindo a favor dos interesses da comunidade.
E, assim resolvendo, tal como várias vezes aqui defendi, pois que funcionem os mecanismos do mercado. Se for bom negócio, não faltará quem se posicione no sentido de aproveitar uma boa oportunidade de investimento. De qualquer modo, a Câmara tem de estar muito atenta de tal modo que não deixe, isso sim, de controlar os projectos dos potenciais e eventuais interessados.
Por todas as rezões que aqui advoguei, não posso estar mais satisfeito por o negócio não ser da autarquia. Contudo, tal não significa que defenda o desinteresse de Sintra pelo futuro da Quinta do Relógio. Muito pelo contrário, interessa tanto como, por exemplo, interessa o presente e o futuro da Quinta de Seteais, cujo hotel está concessionado. Ou, igualmente, como interessa o presente e o futuro da Quinta de Ribafria onde, com um potencial residual fantástico, lamentavelmente, nada se passa.
Hoje é um bom dia. Trouxe-vos a melhor notícia dos últimos meses. Tal como tantas vezes faço, também hoje lhes sugiro que manifestem o vosso contentamento, através do envio de mensagens de congratulação, neste caso, ao Presidente Fernando Seara que protagonizou uma decisão tão determinante.
A nossa condição de sintrenses, apenas interessados no bem de Sintra, enquadra este tipo de atitude. Passa por aqui a nossa diferença. Não estamos ressabiados com coisa alguma, não temos ressentimentos. Quando o Presidente resolve bem, a bem de Sintra, aqui estamos a manifestar o nosso regozijo. Alegramo-nos porque foi capaz de fazer todo um caminho, contra aquela que terá sido a sua convicção inicial. Demonstra a grandeza de quem não teme evidenciar o erro que estaria prestes a cometer. Aliás, como bem sabem, só os burros não mudam…
Na realidade, o nosso Presidente pode ter muitos defeitos, mas burro não é. E, por favor, não me respondam que não fez mais do que o seu dever. É que, sendo isso verdade, também é verdade que o Presidente, hábil como é, e sem entrar em qualquer desonestidade, poderia ter aduzido uma série de razões justificando que o seu dever de zelo pelos interesses dos sintrenses ia precisamente em sentido oposto…
Então, e quanto às alvíssaras, não dizem o que estão a pensar oferecer-me por esta belíssima notícia? Fico à espera...
[NB: este texto foi objecto de uma série de comentários inadvertidamente eliminados. O meu pedido de desculpa aos autores]
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
Eram oito horas quando, pela primeira vez, na manhã de anteontem, avistei parte do reboque do grande camion. Naquele momento, ao atravessar a Heliodoro Salgado, entre o Museu Berardo e a Caixa Geral de Depósitos, chamara-me a atenção o enorme volume branco que, algo estranhamente, uns metros mais abaixo, evoluía em marcha atrás, ocupando a maior parte da rotunda.
Na tentativa de me inteirar quanto à razão de tão insólita manobra, aproximei-me. Era mesmo um dos mais avantajados TIR que rolam por essas estradas da Europa. Inicialmente, não reconheci a origem da matrícula. Porém, um inequívoco dístico com as maiúsculas MD, a proximidade do Centro Cultural Olga Cadaval onde, precisamente para noite de sábado, estava programada uma récita de Rigoleto pela Companhia do Teatro de Ópera da Moldávia, levou-me à conclusão que os leitores também já decifraram.
Pude testemunhar o alto nível de perícia do motorista destes mastodonte. Era absolutamente impressionante o modo como manobrava. Fascinado, imaginava eu os pés daquele homem, em perfeita sincronia, accionando travões, acelerador, engrenando e desengrenando o avanço do monstro, umas vezes à frente, outras à retaguarda. Uns passos atrás, senhor de toda a cena, via à minha esquerda, a altíssima caixa do atrelado e o espelho retrovisor a milímetros de distância da parede exterior da Vila Alda. E, do lado direito, um pequeno automóvel que, ali estacionado, só aparentemente, era a causa imediata do insucesso da manobra.
Após sucessivas e cada vez mais sofisticadas tentativas de continuar recuando, para se aproximar da entrada de mercadorias nas traseiras do CCOC, o motorista rendeu-se à evidência. Era impossível. Entretanto, fui a casa buscar a máquina fotográfica com o objectivo de registar o episódio. E foi a circunstância de me ver com a objectiva em punho, que levou o condutor a interpelar-me, procurando perceber a minha intenção.
Entendemo-nos em italiano. Expliquei-lhe, então, aquilo que já tive oportunidade de escrever nestas páginas. Por ocasião das obras de adaptação do antigo cine-teatro, ao perceber que o futuro Centro Cultural não estava dotado dos dispositivos de carga e descarga habituais, alertei quem de direito. Claro que ninguém me deu ouvidos. E, também devido às características da implantação do edifício na malha urbana, sem que tivesse havido qualquer preocupação de desobstrução das imediações, naturalmente – como ontem mesmo era tão evidente – a própria rentabilidade da sala ficou comprometida.
Deveras interessado, fui acompanhando o episódio de sábado passado, ao fim e ao cabo, apenas mais um a acrescentar ao rol. Não pensem que foi fácil a resolução. E, tanto assim, que envolveu a intervenção de vários agentes da GNR que, paulatina e muito profissionalmente, foram resolvendo a situação. Afinal, como as imagens bem demonstram, a manobra foi igualmente dificultada pela presença de um outro automóvel cujo estacionamento provocou a chamada de um pronto socorro cuja chegada se verificou, cerca das onze um quarto, um minuto depois de o motorista do TIR já ter resolvido o problema.
Ao contrário do que alguns circunstantes iam opinando, o que ontem aconteceu não se deveu, de modo algum, ao estacionamento indevido, incorrecto, ilegal – qualifiquem como quiserem – de algumas viaturas que, estariam impedindo o acesso do grande camion ao seu destino. Na realidade, desde a inauguração, o que sempre sucede, quando é preciso concretizar idêntico movimento de mercadorias, é, isso sim, a consequência mais que previsível e lógica de uma errada opção técnica que, em devido tempo, a Presidente da Câmara Dra. Edite Estrela, não esteve à altura de colmatar.
Este é apenas um caso paradigmático e bem ilustrativo de como a desatenção, inépcia e incompetência de técnicos combinadas com a impreparação de um decisor político podem ter futuras e tão negativas consequências na comunidade. E, quanto aos custos, de toda a ordem, o melhor é nem abordar a questão porque há tanto pano para mangas que nunca mais daqui sairia.
Bem a propósito, podia lembrar que, na segunda metade do século dezanove, alguém absolutamente genial e de vistas largas, como um Richard Wagner, era capaz de prever, para o seu teatro de Bayreuth, a possibilidade de ali poderem entrar dois vagões de comboio carregados com material necessário à montagem de qualquer ópera… O que não se admite é que, no fim do século vinte e princípio do vinte e um, ainda haja gente tão desqualificada a prejudicar o bem estar de Sintra.
Voltemos ao caso vertente. Para que nenhuma dúvida subsista, o que aconteceu, durante mais de três horas, nas imediações do Centro Cultural Olga Cadaval, impedindo a concretização da manobra de condução de um veículo longo e pesado, hoje em dia perfeitamente corriqueira e sem a mínima sofisticação em qualquer latitude civilizada, só pode e deve ser entendido no quadro de uma deficiência estrutural. Porque a questão do estacionamento, eventualmente indevido, daqueles dois automóveis é coisa de mera circunstância.
Finalmente, uma vez que a situação é o que é, também se impõe que o CCOC pense numa estratégia de comunicação com a comunidade e, em especial, com os cidadãos que, habitualmente, estacionam as suas viaturas naquele local. Um dos agentes da autoridade, depois de se inteirar que, apenas dois dias antes, umas simples folhas de tamanho A4 tinham sido coladas nas paredes do edifício, avisando da impossibilidade de ali estacionar, afirmava que tal não podia ser, pois os responsáveis tinham de actuar com mais antecedência. Sem dúvida, e, acrescento eu, com algo mais visível que o tal papelucho branco, com letras a preto…
Naturalmente, nos nossos dias, é uma vergonha assistir, como há dois dias constatei e voltei a confirmar, à descarga manual de pesadíssimas caixas. Em condições normais, com toda a operacionalidade, os materiais saem do camion, transportados por empilhadores e pequenos porta-paletes, directamente para o interior das salas de espectáculo. Mas, se querem saber, apesar de difícil, há solução radical para o caso e sem grande investimento.
Apesar de não estar ligado ao meio dos espectáculos, uma vez que visito muitos auditórios por esse mundo fora, conheço não um mas vários casos onde, a posteriori – portanto, em teatros construídos há muitos anos – foi possível instalar expeditos cais de recepção, como se tal solução tivesse sido pensada de raiz. Que paradoxo! Até eu, perfeito leigo mas razoável observador, sei como remediar e resolver o assunto. Valha-nos Deus!...
NB:
1.Três horas e meia separam as situações registadas pelas primeira e antepenúltima fotos;
2.Reparem nas duas últimas. À distância de cinco metros, era isto o que se lia da mensagem...;
3.Atentem também na antepenúltima. Como se verifica, não há outra hipótese, senão a manual, para descarga dos materiais.
[NB: este texto foi objecto de uma série de comentários inadvertidamente eliminados. O meu pedido de desculpa aos autores]
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
como chegar, onde ficar (1)
Várias pessoas me têm pedido para escrever sobre os festivais de Salzburg e acerca deste último do qual acabo de regressar. Também gostariam que contasse um pouco da história da cidade, da indissociável relação com Mozart, ao fim e ao cabo, matérias que tratei durante anos, enquanto mantive colaboração no saudoso Jornal de Sintra.
Ali assinei muitas páginas de crítica musical acerca do que ia acontecendo nos festivais. E sabem que era um caso único na imprensa portuguesa? Nenhum órgão da comunicação social escrita, além do Jornal de Sintra, durante anos sucessivos, teve enviado a Salzburg. E, como calculam, tratando-se de colaboração gratuita, o gosto que tive em produzi-la foi deveras especial porque, em Salzburg, só acontece a melhor música do mundo…
A verdade, se querem saber, é que há gente de Sintra que foi e vai a Salzburg na sequência da leitura desses meus textos. O facto de me ter visto compelido a deixar de colaborar naquele semanário e a adicional circunstância de ter notado alguns indícios de uma invejazita muito lusa e rasca, levaram-me a deixar de partilhar as minhas impressões, não só de Salzburg, mas também de Bayreuth, por exemplo. E se era coisa que me dava especial prazer!...
Ora bem, por isso mesmo, só pelo prazer que me dá e pela possibilidade de ser útil, nem que seja a um só leitor, decidi voltar à carga. Por isso aqui me têm, dando conta da minha experiência. E, desde hoje, fica já o compromisso da futura e constante preocupação no sentido de que os interessados numa eventual visita à cidade e à região, acedam a informação de um guia perfeitamente desinteressado. De vez em quando, talvez quinzenalmente, cá me terão a bater nesta mesma tecla.
Para vos contar da minha relação com Salzburg não bastaria dizer-vos quantas vezes já lá estive para participar na Mozartwoche, o festival de Inverno – exclusivamente afecto ao mundo mozartiano e suas conotações mais explícitas ou implícitas, cujo início, em 1956, marcou a efeméride dos duzentos anos do nascimento de Mozart – ou no Osterfestspiele, o Festival da Páscoa, fundado em 1967 pelo maestro Herbert von Karajan, natural da cidade.
De facto, ao longo de tantos anos, foram dezenas de vezes. Para vos dar uma ideia aproximada, e, circunscrevendo-me apenas ao Mozartwoche, que sempre comemora o nascimento do compositor, em 27 de Janeiro, nunca permaneço em Salzburg menos de quinze dias. No entanto, por exemplo, em 2006, 250º aniversário, estive quase um mês.
A minha casa
Seja qual for a razão que ali me conduz, festivais, estudo, puro lazer, há muitos anos que o Institut St. Sebastian é sempre o meu poiso. É um antigo convento do século dezassete, adjacente à igreja e ao famoso e lindíssimo cemitério, sob o patrocínio do mesmo santo, onde estão sepultados muitos notáveis, desde o Príncipe-Arcebispo Wolf Dietrich von Raitenau, num mausoléu belíssimo, até essa figura ímpar da história da Ciência e da Medicina que foi Paracelso, ou os Mozart, Leopold e Constanza, respectivamente pai e mulher de Amadé.
Depois de tantas estadas, é natural que me considerem um amigo. Como amigo, levo sempre uma lembrança (claro que adoram as queijadas de Sintra…) a sublinhar a relação duradoura que nos une. Cumpre esclarecer que St. Sebastian não é residência universitária, ainda que, entre os seus hóspedes, muitos estudantes se contem. Não queiram saber os jovens estudantes de música, de todo o Mundo, músicos, críticos, musicólogos que tenho encontrado, conhecido em St. Sebastian, relações que, felizmente, vou mantendo. Há grande informalidade, por exemplo, ao pequeno almoço, a altura propícia à troca de informação e de experiências.
Também não é um hotel. Vem a propósito referir que, durante alguns anos, até me ter decidido por esta casa, também eu era hóspede de um dos muitos hotéis da cidade. Todavia, por muito simpática que possa ser uma unidade hoteleira, o ambiente que se vive em St. Sebastian nada ou muito pouco tem para comparar. Mas a designação Institut é inequívoca. Trata-se de uma casa afecta à Igreja Católica Apostólica Romana que, em Salzburg, tem uma presença fortíssima.
A propósito, não vá algum jacobino militante ou irredutível ateu deixar-se cativar pelo meu testemunho de afecto a esta casa de Deus, ficando interessado em ali procurar abrigo, desde já fica feito o aviso: o melhor é não procurarem St. Sebastian já que a ostensiva presença dos crucifixos e de outros artefactos religiosos poderá gerar alguma alergia cutânea aos mais susceptíveis… Mas, não sendo esse o caso, apenas deixaria o conselho de pedirem um quarto afastado da torre sineira porque, com a igreja mesmo ao lado, depois das seis e meia da manhã, os toques podem incomodar. Enfim, em caso de necessidade, os tampões para os ouvidos não servem para outra coisa...
Quanto à viagem, o aeroporto Wolfgang Amadeus Mozart é o que serve a cidade. Mas não é a melhor opção para quem a demanda pela via aérea. A partir de Lisboa não há voos directos. Insistir em chegar a Sazburg por avião, implica fazer escala, por exemplo, em Palma de Maiorca, Paris, Amsterdam, Frankfurt, alternativa esta sempre mais dispendiosa do que a minha solução que, muito simplesmente, é a de voo directo para Munique e, a partir daí, o trajecto restante, por transfer.
Os cento e vinte quilómetros de automóvel entre a capital da Baviera e o destino final revelam-se como a melhor opção. Em relação a esta hipótese, a escala aérea implica em mais duas ou três horas. Como suplementar e grande atractivo, não só a possibilidade de viajar de carro através de uma deslumbrante paisagem, mas também de ser conduzido mesmo, mesmo até à porta. Para quem, como eu, é obrigado a acompanhar-se de muita bagagem, especialmente no Inverno, com a necessidade de bons abafos, não há nada mais cómodo e barato.
(continua)
sábado, 5 de fevereiro de 2011
Como oportunamente informei, acabo de regressar de uma estada de quinze dias em Salzburg, onde participei na Mozartwoche, o festival de música que ali se realiza há mais de cinquenta anos, entre a última quinzena de Janeiro e os primeiros dias de Fevereiro, sempre aproveitando para comemorar a data de 27.01.1756, aniversário natalício de Mozart. Mais do que em qualquer outro momento, é nesta altura do ano em que tudo gira à volta o queridíssimo Amadé, como cada vez maior número de estudiosos e melómanos se lhe referem, respeitando o gosto do próprio compositor neste tratamento que, aliás, também foi seu modo de assinar.
Pois bem, para a inteligibilidade deste texto – que, além do preâmbulo supra, nada mais tem a ver com o festival – convém partilhar convosco a satisfação de pertencer ao cada vez mais reduzido grupo de mortais que pode dar-se ao luxo de viajar sem se fazer acompanhar da parafernália informática que alguns indefectíveis insistem em considerar indispensável à vida. A verdade é que, durante quinze e mais dias, consigo ir para qualquer lado sem o computador atrelado…
Sempre à minha custa, e após a ocorrência de alguns bem humorados episódios, que só maculam o meu cv, acabei por aprender que, com demasiada frequência, aquilo que apenas é interessante ferramenta para alguns trabalhos, inquinava, infectava e afectava algum do meu tempo, que só deixava de ser de paz e sossego, exactamente porque, invariavelmente, o computador suscita momentos de irritação, de impaciência, nada compatíveis com os objectivos que determinam as minhas ausências, nomeadamente, em locais onde procuro o benefício e o privilégio da Música, da Beleza e da Arte.
Portanto, sem computador estava eu, sem acesso a correio electrónico, sem poder publicar textos no sintradoavesso nem aqui intervir com quaisquer comentários. Enfim, na opinião de alguns familiares e amigos, personificava eu, naquela civilizadíssima Salzburg, o perfeito quadro do infeliz, desgraçado e desligado do mundo que, na minha diametralmente oposta opinião, mais coincide com a moldura do bem-aventurado eremita…
…Mas com telemóvel!
Tenham paciência. Estou quase a chegar ao assunto que hoje me traz ao vosso convívio. Entretanto, preciso é que me imaginem, a milhares de quilómetros de distância, no coração da Europa, reduzido à indigência comunicacional de um pré-histórico telemóvel Nokia, daqueles que custaram vinte e cinco tostões e que nem tiram fotografias… E, já agora, para disporem do quadro completo da minha capacidade (?!), ficarão também a saber que, só há pouco mais de um ano, a família mais chegada e um bom amigo me obrigaram a aprender a receber e enviar sms…
Pois, então, aí vem a história. Habituado que estou, apenas uma vez por dia, a telefonar para casa a perguntar as novidades, e, de viva voz, a saber como estão todos, num belo dia da semana passada, fui surpreendido, a meio da tarde, por um toque daqueles que assinalam a chegada de mensagem ao telemóvel. Como não é normal, fiquei preocupado. Parei imediatamente o trabalho de consulta que estava a fazer na Bibliotheca Mozartiana para aceder à mensagem.
Ora bem. Abençoados telemóveis! Em cima da hora, perfeitamente coincidente com o que estava a passar-se em Sintra, aparece-me um pequeno texto nos seguintes termos: “Pai, a Polícia Municipal já está a bloquear carros na nossa rua”. Era uma das minhas filhas que, tão preocupada como eu com os desmandos que sucedem em consequência do estacionamento caótico na zona da Estefânea onde moramos, que me queria dar a boa notícia da intervenção da Polícia Municipal. Finalmente, a força da ordem passava a actuar em força.
Ainda mal refeito da boa nova, eis que outra mensagem chegava, um quarto de hora mais tarde: “João, água mole em pedra dura… A Polícia Municipal bloqueia carros na Câmara Pestana. Como vês vale a pena insistir.” A minha mulher, desconhecendo que a filha já me havia informado, reforçava e congratulava-se. De facto, há anos que chamo a atenção, que escrevo e falo acerca do assunto sem qualquer resultado. Portanto, era caso para especial saudação e festejo.
O meu primeiro impulso foi o de mandar uma mensagem a felicitar a Comandante da Polícia Municipal. No entanto, contive-me. Melhor seria esperar uns dias para, uma vez regressado, confirmar se não teria sido só um passageiro fogo de vista.
Pois não senhor. A boa nova confirma-se mesmo e, por enquanto, a polícia continua a actuar como é seu dever, em benefício da comunidade. Ainda ontem, cá estava um automóvel de roda bloqueada na minha rua, mesmo de fronte do Olga Cadaval. E, apenas em dois dias, desde que voltei de Salzburg, já tive oportunidade de alertar condutores, que estavam prestes a prevaricar, para a eventualidade do bloqueio idêntico ao do carro imobilizado uns metros atrás. Perante os factos, ficam sem argumentos…
Ao regressar de uma cidade onde raríssimos são os comportamentos de desrespeito pelas normas vigentes relativas ao estacionamento, não posso deixar de manifestar esta satisfação. Vejo cumprir e fazer cumprir a Lei. Num Estado Democrático de Direito, isto não deveria constituir motivo para tanto regozijo. Infelizmente, em Sintra, por ser excepção, acaba por merecer este realce.
Como, por aqui, já tenho visto de tudo e, como em Sintra tudo é possível, por mais bizarro que se conceba, veremos se, ao mais alto nível da autarquia, não aparece alguém que desmotive a Senhora Comandante e os agentes da Polícia Municipal quanto aos resultados do bom serviço estão a dar aos cidadãos em geral e aos munícipes em particular...
PS:
Porque não se trata da primeira vez que abordo a questão das atitudes da Polícia Municipal ao serviço da comunidade, façam o favor de aceder aos textos precedentes, pelo menos, os mais recentes, publicados em 2 de Novembro e 18 de Outubro de 2010.
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
Tirar o chapéu a Manuel do Cabo
Goste-se ou não de algumas opiniões de Manuel do Cabo, o artigo que subscreveu na última edição do Correio de Sintra, na qualidade de Presidente da Associação Empresarial do Concelho de Sintra, justifica que se lhe tire o chapéu.
O texto espelha, com clareza, a involução do desenvolvimento sintrense, sem sombra de dúvida da responsabilidade dos autarcas que a têm gerido nos últimos 10 anos.
O facto de ter citado a criação de 700 novas empresas, sem também indicar as que fecharam, mas a cautela sobre o “cariz uni-familiar” de algumas, não desvaloriza o escrito.
Ao citar um conjunto de vertentes que se tornam apelativas aos investidores, não deixa de se referir ao “famigerado xadrez económico-financeiro do nosso concelho”.
Meditemos no sofrimento com que aborda a “fraca dedicação” que ao desenvolvimento empresarial é dado pelo Município de Sintra, o qual, na sua opinião “faz pouco para atrair investimentos”. Não podemos regatear-lhe solidariedade pela coragem.
Venderam-nos gato por lebre, falaram numa dedicação que antes nos empobrece e enche de indignação, justificando que um destes dias as populações se levantem e manifestem com veemência o seu protesto. No dia em que se ocupe o Largo Virgílio Horta, os responsáveis terão a visão do que os sintrenses são capazes.
A monstruosa grua junta da Bristol, sujando a paisagem, é o símbolo do que se passa no concelho, merecendo exibir um dedo que aponte os responsáveis. Nada justifica a falta de propostas para a solução, um pouco como a construção de um hotel em S. Pedro.
Enquanto regredimos, a Europa avança. Cidades limpas, com riquíssimo Património histórico como Colmar, Annecy, Bruges ou Dubrovnik (entre outras) enchem-se de esplanadas cujos lugares são disputados por milhares de visitantes e deixam boas receitas financeiras.
No largo fronteiro ao parlamento Suíço, em Berna, agricultores vendem, semanalmente, os seus produtos (não fica uma pétala no chão!), protegidos pelo governo que limita fortemente a importação desses bens. Imaginam semelhante actividade em frente do Palácio Nacional de Sintra? Que escândalo, num espaço para automóveis em dias especiais.
O centro histórico de Munique, a cidade mais rica da Alemanha, é ocupado por quiosques e bancas nos chamados “Mercados de Natal”, onde milhares e milhares de pessoas compram e confraternizam. Até no pátio interior da Rathaus (Câmara Municipal) se come, bebe e compra. E Sintra das vaidades? O retrato de uma ou outra figura a inaugurar uma série de luzes numa árvore.
Por cá, meia dúzia de pessoas, sobreviventes da época do Plano De Gröer (1949), conseguem travar o progresso, incapazes de perceber que, com arte e engenho, se responderia às dificuldades actuais, garantindo mais capacidade económica e postos de trabalho.
Diz, então, Manuel do Cabo: - “É Tempo de mudar”. Antes, tinha escrito que “temos todas as condições, mas também temos todos os obstáculos (…)”. Que triste sorte se abateu sobre Sintra…
As palavras foram tão claras que encosta à parede os mais altos responsáveis.
Com o devido respeito, mais uma vez se tira o chapéu a Manuel do Cabo.
Fernando Castelo