[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 30 de abril de 2014




Cavalli,
"Elena", uma festa da Música

Regresso a casa depois de uma esplêndida récita de "Elena", ópera buffa de Francesco Cavalli, que ontem aqui introduzi e apresentei. Com meios manifestamente reduzidos mas muito sofisticados e eficazes, o encenador Jean-Yves Ruf apresentou uma proposta contida, escorreita, perfeitamente adequada à barroca concepção do universo musical em que se integra.
Conjunto de vozes muito homogéneo, interpretações que evidenciaram a preparação superior e a excelente formação de uma nova geração de cantores que, ao domínio vocal técnico e artístico, alia evidentes capacidades histriónicas, recurso imprescindível à montagem de um espectáculo com estas características.
Vivi três horas de perfeita Festa da Música. E, como só vos desejo também o melhor acesso possível às boas coisas a que vou assistindo, desta vez, tenho o enorme privilégio de vos propor, exactamente, a produção que acabei de presenciar. Por isso, insisto em propor-vos a récita completa de "Elena", gravada no Festival de Aix, numa coprodução em que a própria Fundação Gulbenkian também participou.
Se for caso disso, voltem a ler as linhas de introdução já mencionadas. Assistam à récita. Não percam mesmo já que se trata de uma peça muito interessante da  História do teatro lírico europeu do século dezassete que encontrou na Cappella Mediterranea, no Maestro Leonardo Garcia Alarcón, em Jean-Yves Ruf e nas vozes do elenco anunciado, os mais adequados intérpretes depois de mais de trezentos anos ausente.

Boa audição!

Sintra,
Palácio da Pena
- novas instalações



É com o maior gosto que passo a divulgar informação que acaba de me chegar da Parques de Sintra Monte da Lua. A notícia em apreço refere-se a um aliciante que, estou certo, muitos de nós não deixaremos d
e ter em consideração a partir deste momento. Num lugar de privilégio como é o Palácio da Pena, impunha-se este investimento ao qual, sem sombra de dúvida, não é difícil augurar o maior sucesso.

A PSML está de parabéns. Porque assim é, somos todos nós que estamos de parabéns. Trata-se de um novo local onde podemos ir com a família, com amigos que nos visitam e que gostam de levar de Sintra a melhor recordação possível. Eu não vou perder qualquer oportunidade de gozar este novo benefício.

Como habitualmente, limito-me à transcrição da informação. Naturalmente, mantenho a ortografia do texto original ainda que, como sabem, no meu mural, faça questão de usar a antiga ortografia.

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Palácio da Pena com nova loja, restaurante e cafetaria para dar resposta ao aumento de visitantes

- Renovação e otimização permite melhor acesso e circulação

- Ligação entre a loja, restaurante e cafetaria, também para visitantes com mobilidade condicionada

- Investimento de cerca de 750.000 Euros

- Inovações: elevadores com tecnologia regenerativa de energia e sistema de reaproveitamento de águas

Sintra, 29 de abril de 2014 – A Parques de Sintra concluiu este mês a remodelação da loja, do restaurante e da cafetaria do Palácio da Pena, resultado de um trabalho de 15 meses (10 meses de projeto e 5 de obra) e de um investimento de cerca de 750.000 Euros. A intervenção vem dar resposta ao aumento constante do número de visitantes do Palácio da Pena, que em 2013 recebeu cerca de 780.000 entradas (aumento de mais de 8% relativamente ao ano anterior), bem como ao objetivo de acolher melhor os cidadãos com mobilidade condicionada.

O aumento do número e diversidade dos visitantes tem sido constante, pelo que a empresa optou por avançar com a remodelação da loja, restaurante e cafetaria, para conseguir acolher todos, nomeadamente os que têm mobilidade condicionada, e que podem agora circular nestas três áreas utilizando os novos elevadores.

Com o objetivo de permitir uma melhor experiência, os espaços foram reorganizados, valorizando a estrutura original do edifício, e de forma a aumentar e requalificar a loja, restaurante e cafetaria. Assim, otimizaram-se condições de acesso e utilização, melhorando inclusive a circulação entre cada um dos três pisos onde estes locais se encontram. De sublinhar que, antes desta intervenção, não existia acesso direto entre o restaurante e a cafetaria.

Os maiores desafios consistiram em conseguir definir estas novas áreas tendo em conta a arquitetura pré-existente do Palácio, que naturalmente não foi pensada para estas funções, e que implicou também a remodelação das zonas técnicas de apoio. O espaço que agora é a loja, no séc. XIX era as cocheiras, o espaço onde está o restaurante funcionava como aposentos dos criados do Palácio e a cafetaria como ucharia da Cozinha Real. A adaptação dos espaços tinha sido já realizada nos anos 90.

O edifício dispõe agora de dois elevadores: um de utilização pública, que permite uma melhor acessibilidade entre os três pisos - nomeadamente para os visitantes com mobilidade reduzida – e um elevador de serviço que liga os pisos do armazém, do restaurante e da cafetaria. Estes foram construídos alargando o espaço do simples monta-cargas existente. Ambos os elevadores possuem um sistema de geração de energia que utilizam para seu próprio consumo. A energia que é gerada na descida é utilizada diretamente no funcionamento dos elevadores (iluminação, ventilação e som).

Ainda ao nível da poupança energética, as luzes e o sistema de ventilação desligam-se quando não estão a ser utilizados, o que, associado à tecnologia LED de iluminação das cabines, resulta em consumos energéticos inferiores aos sistemas convencionais.

Outra das inovações implementadas prende-se com o sistema de reaproveitamento de água: a água dos lavatórios é encaminhada e reutilizada nas descargas dos autoclismos.

As instalações elétricas e mecânicas foram integralmente renovadas, dando seguimento à revisão em curso em todo o Palácio. A iluminação utiliza tecnologia LED em todo o edifício, incluindo nos equipamentos de iluminação cénica das abóbodas da loja, restaurante e terraço da cafetaria.

Em relação à loja, a maior intervenção prendeu-se com a recuperação da espacialidade original das arcadas, removendo elementos acrescentados em intervenções anteriores, para permitir o aumento da área de exposição de produtos e também uma maior fluidez de circulação.

O mobiliário escolhido é de cor branca, o que confere um maior destaque aos produtos, apelando aos sentidos dos visitantes. O balcão é de vidro lacado branco, material que cria um compromisso harmonioso com o edifício original.

No que se refere especificamente ao restaurante, o maior desafio colocou-se ao nível da remodelação da cozinha, dada a configuração irregular e a necessidade de incorporar todas as funções necessárias e o cumprimento da legislação.

Os novos equipamentos de cozinha permitem agora prestar ao visitante um serviço mais rápido e mais moderno, respeitando simultaneamente as regras atuais de segurança e higiene. Optou-se também por um sistema elétrico de alimentação dos equipamentos, em detrimento do gás, minimizando o risco de incêndios e explosões.

A inclusão de instalações sanitárias no piso do restaurante, inexistentes até à data, trará maior comodidade aos visitantes, que já não terão que se deslocar ao piso inferior, como anteriormente. No que diz respeito ao mobiliário, incluindo o balcão, foi utilizada a madeira de kambala (que torna o espaço acolhedor) reaproveitada de um antigo painel existente no restaurante. Foram também recuperados diversos painéis de cobre de revestimento de prateleiras e reintegrados no novo mobiliário. Para ser mais rápido e ajustado às necessidades dos visitantes, o serviço do restaurante vai basear-se numa lógica de buffet assistido.

A cafetaria seguirá uma lógica de self-service, no qual os visitantes recolhem os produtos que se encontram em estantes refrigeradas e efetuam o pagamento no balcão de atendimento, para um serviço mais rápido. Esta opção pretende dar resposta às exigências de rapidez por parte dos mais de 780.000 visitantes anuais ao Palácio da Pena, que habitualmente pretendem também visitar o Parque e outros monumentos, pelo que procuram um serviço rápido. A cor branca, também escolhida para o mobiliário, tal como na loja, adequa-se a um espaço onde os visitantes permanecem menos tempo, e em que o destaque deve ser dado aos produtos.

Ao terraço da cafetaria, local de predileção para uma pausa, a partir do qual é possível desfrutar de uma ampla vista panorâmica, regressará o balcão de venda de bebidas e refeições ligeiras.

terça-feira, 29 de abril de 2014



Efeméride mozartiana

29 de Abril de 1786

 

Viena, Mozart termina a ópera "Le nozze di Figaro" [mais tarde, catalogada como KV. 492], dando entrada no seu registo pessoal: "Em 29 de Abril, Le Nozze di figaro. opera buffa. em 4 Actos.; 34 A
ctores. Signore Storace, Laschi, Mandini, Bussani, e Nannina Gottlieb. ; Signori Benucci, Mandini, Occhely, and Bussani. Portanto, como grande protagonista, a mais famosa de todas as contemporâneas vozes de soprano da capital do Império, Nina Storace.

Comemorando a efeméride, proponho que ouçamos um final de grande luxo e também celebérrimo na história da ópera, o sexteto, cujas personagens e intérpretes são «só»:

Susanna, Anna Netrebko,
Figaro, Ildebrando d´Arcangelo, Chrubino, Christine Schäffer,
Conte, Bo Skovhus,Contessa, Dorothea Röschmann,
Marcelina, Marie McLaughlin, Bartolo, Franz Josef Seelig.

Assisti, no Festival de Salzburg de 2006, por ocasião do 250º aniversário do compositor, a uma das récitas desta produção. E deixem-me confessar que já tenho tido muito melhores dias... A encenação era um bocado descabida, Harnoncourt dirigiu demasiado lento em determinadas passagens, a Netrebko também não esteve particularmente bem.

Não é por estarmos em Salzburg, onde tudo é suposto ser superlativo que tal sempre acontece. Muitas vezes, deparo com opiniões de certas pessoas que, pelo facto de terem presenciado determinado espectáculo «lá fora», num grande 'santuário' se obrigam a expressar uma opinião positiva... Impõ-se ter sempre, bem afiado, o espírito crítico. Comigo, contem, para o bom e para o mau.

Então, aqui têm. Boa audição!

http://youtu.be/IzGW7UF3uHI
 
 



Torpedos contra a Democracia 


Ao escândalo dos tribunais plenários do antigo regime, que desonraram a Justiça em Portugal, sucede hoje a pura e simples incapacidade de apresentar aos Tribunais os ricos e poderosos que, tendo incorrido nas mais graves faltas contra o Estado Democrático de Direito, conseguem furtar-se à assunção das suas responsabilidades e ao correspondente ressarcimento social.

Naturalmente, comprometidos com esta situação de descrédito da própria Democracia, tanto estão os partidos do designado «arco da governação» que, alternando no Poder, nada fazem no sentido de que cesse este horror, como o próprio Presidente da República que, tenha-se presente, é o Mais Alto Magistrado da Nação.
 
 


Grande expectativa
Trata-se de uma verdadeira preciosidade, obra plena do refinadíssimo humor do século dezassete. Passo a reproduzir o texto da Gulbenkian:

Elena - Francesco Cavalli
 
Esteve nomeada para os Opera Awards 2014, esta ópera estreada no Festival de Aix-en-Provence e que conta com direção musical de Leonardo Garcia Alarcón e encenação de Jean-Yves Ruf.

 
Terça, 29 Abril 2014, 19:00 - Grande Auditório

O drama per musica em um prólogo e três atos Elena, de Francesco Cavalli, esteve mais de três séculos sem ser apresentado publicamente. No Verão de 2013, o Festival d’Aix-en-Provence External Link levou a obra à cena, numa coprodução com a rede ENOA External Link, da qual faz parte a Fundação Gulbenkian, o que lhe valeu uma nomeação para os Opera Awards deste ano, na categoria “Redescobertas”.

Esta é a primeira produção integral e cénica da ópera do compositor italiano do início do período barroco, Francesco Cavalli, que sucedeu a Claudio Monteverdi no cenário da ópera de Veneza, cidade onde Elena estreou em 1659, com libreto de Giovanni Faustini e Niccolo Minato.

Esquecida por mais de 350 anos, Elena de Francesco Cavalli é considerada uma das primeiras óperas cómicas do século XVII e uma das muitas obras que retomaram, nesta época, a história de Helena. Helena tinha reputação de ser a mulher mais bela do mundo e foi por isso disputada por vários homens, entre os quais Teseu e Menelau.

Nesta versão, Elena é apresentada com uma encenação de Jean-Yves Ruf, a direção musical do maestro argentino Leonardo Garcia Alarcón, acompanhado pelo agrupamento Cappella Mediterranea, que o maestro fundou, e solistas da Academia Europeia de Música.

Este “milagre de sensualidade”, como refere o jornal Le Monde, é uma produção do festival de Aix-en-Provence e da Academia Europeia de Música, co-produzida com Marseille-Provence 2013 – Capital Europeia da Cultura, com o apoio da Fundação Orange – Ópera de Lille, Ópera de Montpellier, Ópera Angers-Nantes, Ópera de Rennes e a Fundação Calouste Gulbenkian, no âmbito da Rede ENOA External Link.



Seguidamente, uma breve mas muito eficaz introdução/apresentação, por parte dos principais responsáveis por esta produção do Festival d'Aix-en-Provence, ou seja, Maestro Director musical, Leonardo García Alarcón e encenador, Jean-Yves Ruf.
http://youtu.be/BiGGCdrQ_LU

Para quem estiver interessado em assistir à récita, em especial os que não puderem deslocar-se à Gulbenkian, aqui vos apresento precisamente a mesma produção que amanhã estará no Grande Auditório da Gulbenkian, em gravação completa.
http://youtu.be/lLVBkehOVPQ

Boa audição!
 


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Vede como eles se amam!

[facebook, 27.04.2014]


“(…) Todos os que haviam abraçado a fé viviam unidos e tinham tudo em comum. Vendiam propriedades e bens e distribuíam o dinheiro por todos, conforme as necessidades de cada um. Todos os dias frequentavam o templo, como se tivessem uma só alma e partiam o pão em suas casas; tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração, louvando a Deus e gozando da simpatia de t
odo o povo (…)” (Act 2, 42-47)

Outro comunismo

É muito nestas palavras dos Actos dos Apóstolos, hoje presentes numa das leituras da liturgia do Domingo da Divina Misericórdia, que radicamos a nossa fé. Apesar de apontarem, como no comunismo laico, para a prática de quem põe em comum, de quem comunga bens materiais essenciais à subsistência e à vida em sociedade, estas atitudes dos primeiros cristãos alcançam, expressamente, uma outra dimensão, qual seja a religiosa, portanto, mesmo no sentido etimológico, de ligação ao divino.

Para nós, cristãos, é no privilégio e na bem-aventurança da partilha, de tudo quanto é possível pôr em comum, que consiste e se evidencia a vertente eucarística da nossa fé, balizando todos os nossos actos, sejam quais forem os seus enquadramentos. E, tal como, implicitamente, revelam os citados Actos dos Apóstolos, também hoje, o nosso comportamento é escrutinado por todos os demais, à nossa volta.

Um santo domingo!

domingo, 27 de abril de 2014



Vasco Graça Moura
(1942-2014) 


Durante a caminhada de hoje - não vem a propósito por que razão - recordei passagens do Inferno da Divina Comédia de Dante. A propósito, pensei eu no fabuloso trabalho de tradução para Português da obra capital da cultura europeia, realizada pelo Vasco Graça Moura. E, nele pensando, recordei como estava tão fragilizado ultimamente, ele próprio dando conta disso mesmo na última entrevista ao JL.

Ao chegar a casa, acabei de receber a notícia da sua morte. Não estranhando, não pude deixar de pensar na coincidência de que acima dei conta. Conheci-o pessoalmente e admirava-o muito. Diletante, erudito em toda e mais nobre acepão dos termos, Vasco Graça Moura trabalhou imenso em todos os domínios da Literatura. E era um excelente poeta, cultor de vários géneros, sempre com superior inspiração.

Não há muito tempo, mais precisamente em 10 de Julho de 2013, escrevia eu que:

“(…) Vasco Graça Moura, autor do poema que reproduzo, não podia ter sido mais lúcido no reconhecimento das vias do nosso desassossego. (…) estamos todos, inteiros, nestes versos.
Crónica

eram barcos e barcos que largavam
fez-se dessa matéria a nossa vida
marujos e soldados que embarcavam
e gente que chorava à despedida

ficámos sempre ou quase ou por um triz
correndo atrás das sombras inseguras
sempre a sonhar com índias e brasis
e a descobrir as próprias desventuras

memória avermelhada dos corais
com sangue e sofrimento amalgamados
se rasga escuridões e temporais
traz-nos também nas algas enredados

e ganhou-se e perdeu-se a navegar
por má fortuna e vento repentino
e o tempo foi passando devagar
tão devagar nas rodas do destino

que ou nós nos encontramos ou então
ficamos uma vez mais à deriva
neste canto que é nosso próprio chão
sem que o canto sequer nos sobreviva

[Letras do Fado Vulgar]”


Lucidez, afirmava eu. Acutilância, acrescento agora. Morreu o poeta. Como o grande vate, ainda morreu com a Pátria. De rastos, esfarrapada, esta Pátria dos que "(...) ficamos uma vez mais à deriva/ neste canto que é nosso próprio chão/ sem que o canto sequer nos sobreviva ", esta Pátria, repito, espera de nós a única atitude digna da Poesia, a atitude que nos apontaram Camões, Vieira, Pessoa, Sofia, Vasco.

Enfim, só é preciso estar à altura...
 

sábado, 26 de abril de 2014



26 de Abril,
dia de São Marcos,
primeiras memórias de Veneza,
as matinas, os Papas



Hoje, dia de São Marcos, a conotação de Veneza, impõe-se-me, grudada à longínqua memória do dia 3 de Outubro de 1967. Estava com os meus pais naquele que, por acaso, era o dia das suas bodas de prata. Por acaso, repito. Longe de se tratar de viagem de turismo e, muito menos, para celebrar qualquer efeméride matrimonial, a verdade é que o pai estava num congresso internacional e eu, que já me expressava bastante bem em Alemão, uma das línguas de trabalho, acompanhava-o, como intérprete.

Viagens, lazer e negócios eram realidades que muito se conjugavam na minha família. De acordo com as nossas capacidades, tanto eu como os meus quatro irmãos e irmãs, éramos «convidados», ao longo do ano, para algumas viagens cujos aliciante e vantagens se diluíam, por vezes, em muitas horas de trabalho a sério…

A cada um de nós, competia aproveitar ao máximo os tempos livres, de acordo com os nossos interesses, fossem eles quais fossem. No meu caso, já na altura, era a música que mais me mobilizava e, como tal, estava a tento a todas as oportunidades.

De facto, porque o meu pai era um grande melómano e, de Música e História da Música – diplomado que era em Ciências Musicais e com o curso superior de violino – como soe dizer-se, sabia mais a dormir do que alguma vez saberei acordado, eu tinha o melhor conselheiro possível para todas as conversas adventícias e laterais às dos negócios, que estavam no cerne das tais viagens.

Lembro-me perfeitamente de que, nesse ano, me falou especialmente de Gian Francesco Malipiero , o grande compositor natural da região de Veneza, que comigo partilha o dia de aniversário, acerca de quem já aqui escrevi algumas páginas de introdução à obra, precisamente, recordando as conversas com o meu pai naquele Outono de 1967. Mas, para outra coisa me alertou ele. Que, de modo algum, deveria eu perder o canto das matinas na Catedral de São Marcos!

Claro que não perdi. Não podia ter tido melhor sugestão. Absolutamente impressionante e inesquecível, aquela salmodiada e orientalizante polifonia, às seis e meia da manhã venaziana. Pois bem, é essa vellha memória, já quase semissecular, que agora me ocorre. Hoje, véspera do dia em que será canonizado João XXIII. O nosso amado Papa João, anteriormente, Cardeal Patriarca de Veneza e que, nesse contexto, escolheria o leão de São Marcos para integrar o seu brasão de armas.

O leão de São Marcos, neste dia de São Marcos. Veneza e a grande música, elos de uma cadeia interminável que ainda me levam ao Concílio Ecuménico Vaticano II, no âmbito do qual o jovem teólogo Jopeh Ratzinger teve intervenções extremamente progressistas que, aliás, contradizem totalmente o labelo de reaccionário com que, já na pele SS o Papa Bento XVI, muitos anos mais tarde, seria mimoseado por uma comunicação social mal informada. Afinal, o Papa Emérito que, amanhã, com SS Francisco, concelebrará a canonização do seu antecessor…

A espantosa História musical da Catedral de São Marcos de Veneza regista como Mestres da sua Capela Coral, entre outros, compositores tão célebres como Andrea Gabrieli, o seu sobrinho Giovanni Gabrieli, Claudio Monteverdi, Baldassare Galuppi ou Adrian Willaert.

Precisamente de Galuppi (1706 † 1785), que teve a alcunha de Buranello, por ser natural da ilha veneziana de Burano, venho propor-vos a primeira parte de um esplendoroso em Dó Maior, para Coro, solistas e contínuo, numa interpretação do Coro e Consort Ghislieri, sob a direcção de Giulio Prandi.

Boa audição!

http://youtu.be/jNGJqwxBOhM
 



O outro...

Estive ontem no Carmo. Comigo, mais três amigos, comungando a mesma emoção. Nas nossas lágrimas, igualmente, muita, muita frustração.

Por um momento, quando se cantava Às armas, às armas, pela Pátria, cavalguei o tempo, sem
freio. De facto, o tempo passara mas, lá dentro, atrás daquela fachada, «outro» ocupava a cadeira onde se sentara o então Presidente do Conselho, aguardando o desenlace do regime... 


Cantava-se Às armas, às armas, pela Pátria lutar! Contra os canhões... E o «outro»? Não, não estava em São Bento, figurante das cerimónias oficiais àquela hora... Lá dentro, no Quartel... 


Cantava a multidão. Os meus amigos, eu, todos, continuávamos a cantar Marchar, marchar!. Não era Marcelo Caetano. Sim, o «outro» que, àquela hora... Não, não estava em São Bento...


E o Chaimite, ali, a uns metros... Contra os canhões... nobre povo... levantai... 




Nem mesmo de graça?

Mais uma vez, na edição do passado dia 11, o Jornal de Sintra lembrava que, todos os domingos de manhã, os munícipes sintrenses gozam da vantagem de entrada gratuita nos monumentos, parques e jardins sob administração da Parques de Sintra Monte da Lua (PSML). Desde logo me tendo congratulado com a atitude de divulgação, aproveitaria agora o ensejo do registo para partilhar algumas considerações que me surgem a propósito.

Primeiramente, para que conste, cumpre dar conta de um conflito de interesse. É que, cá por casa, somos sistemáticos beneficiários do regime dominical de acesso livre a lugares tão especiais como o Parque e Palácio da Pena, os jardins e palacete de Monserrate, Castelo dos Mouros, Capuchos, Palácio de Queluz, Palácio da Vila…

E fazemo-lo com duplo proveito, por um lado, para inquestionável enriquecimento espiritual, por outro, nada despiciendo nestes difíceis tempos de mínguas de toda a ordem, resultando na bem material e manifesta poupança de umas centenas de euros por ano porque, de facto, lá vamos com bastante frequência.

Pois bem, precisamente durante as manhãs de domingo em que, com a família e amigos, temos aproveitado a oportunidade do acesso gratuito, fui-me apercebendo de que, se vantagens tão evidentes podem ser partilhadas por todos os munícipes, afinal, aparente e empiricamente, poucos serão aqueles que o fazem.             

Contudo, não passava de uma pessoal e difusa impressão. Valeria a pena investir na demonstração cabal que só a pertinência dos números pode avalizar? Seria possível chegar a alguma conclusão e, a partir da mesma, promover alguma estratégia de motivação para o aproveitamento mais generalizado das visitas gratuitas?

Números inequívocos

Porque a resposta só poderia ser afirmativa, tendo procurado e colhido os dados imprescindíveis, imediatamente, avanço para a estatística. Relativamente à quantidade de visitantes dos espaços sob gestão da PSML, durante o ano de 2013, os números estão disponíveis em fontes distintas, tais como a própria PSML e Direcção Geral do Património Cultural. Começarei por apresentar resultados globais, desagregados pelas duas entidades em referência.

Assim, os parques e monumentos sob gestão da DGPC registaram um total de 2.563.059 visitas e os da PSML 1.705.724. Destas últimas, cerca de 90% equivaliam a estrangeiros. É a partir desta primeira premissa que poderei prosseguir até à informação mais esmiuçada que interessa pôr em comum.

Estamos em posição de concluir que apenas 10% dos visitantes dos parques e monumentos da PSML, grosso modo 170.000, eram de nacionalidade portuguesa, podendo acrescentar que, nos termos do quadro seguinte, dentre estes visitantes nacionais, apenas 22.642, ou seja, uma percentagem geral de 13,3 %, correspondia a munícipes de Sintra que aproveitaram o regime de entrada gratuita.  

Parque/Monumento
Número de visitantes munícipes em 2013
Parque e Palácio Pena
                    6.792 -  média*130/domingo
Sintra (Palácio da Vila)
                    2.009 -       »        38/        » 
Palácio de Queluz
                    3.301 -       »        63/        »  
Castelo dos Mouros
                    3.539 -       »        68/        »
Conv. Capuchos
                    1.288  -      »        24/        »
Monserrate
                    4.003  -      »        76/        »
Chalet da Condessa
                    1.710 -       »        32/        »
TOTAL
                  22.642  -      »      431/       »

*média aproximada, por defeito

O caso da Pena merece algum destaque. Tendo recebido um total de 787.163 visitantes, é o monumento mais visitado do país, ultrapassando o Mosteiro dos Jerónimos (que registou 722.758). Se aplicarmos a mesma taxa de 10%, 78.700 eram de nacionalidade portuguesa, 6.792 dos quais munícipes sintrenses visitantes dominicais e, neste caso, numa percentagem de 8,6 %, menor do que a geral acima referida.

Contra a desinformação

Sendo ainda possível fazer outras contas a partir dos números supra, nenhuns dos seus resultados, contudo, contradirão a irrefutavelmente baixa quantidade de cidadãos residentes no concelho de Sintra que aproveitam a nítida vantagem de que desfrutam. Na realidade concreta dos números, aquela minha impressão correspondia a uma situação cujos contornos são bem claros.

Ora bem, perante desafios tão fascinantes, porque não aparecem os munícipes nestes lugares, num dia como o domingo, em que tudo lhes é favorável? Ou muito me engano ou, haverá por aí muita informação corrompida e, eventualmente, até vozes apostadas em baralhar e desinformar potenciais interessados, acabando por prejudicar quem desejam proteger…

Assim sendo, vítimas de tal paradoxo, não será de admirar que muitas pessoas desistam de visitar aqueles locais, ignorando as condições vantajosas de que podem beneficiar. Ou seja, leram, ouviram dizer que é tudo muito caro e quedam-se numa inércia que lhes é totalmente nociva.

Uns parágrafos acima, referia eu que o conhecimento dos números poderia conduzir a uma estratégia de remediação da situação que, além dos excelentes materiais de divulgação da PSML, nomeadamente, o site tão apelativo, pudesse contribuir para ainda levar mais longe a informação em apreço.

Porque há muitos cidadãos que não acedem à internet e, igualmente, tendo em conta o elevadíssimo nível de iliteracia que os atinge, parece-me impor-se a necessidade de intermediar as mensagens através das associações culturais, recreativas e desportivas, procurando o concurso dos párocos, para o efeito recorrendo, por exemplo, a simples cartazes, bem concebidos, elucidativos, com mensagens curtas e incisivas.

Num concelho com as características socioculturais do nosso, ainda há muito lugar para media congéneres. Urge sensibilizar os pais, avós e outros adultos de referência das crianças e jovens. Alguns deles, convenientemente esclarecidos, poderão tomar a atitude que mais os favorece neste domínio.

Claro que, com os pés bem assentes na terra, bem sabemos que sempre haverá quem não esteja minimamente interessado em visitar tais lugares. Têm as suas alternativas? Pois muito bem. Esses, malgrado a melhor vontade dos proponentes, infelizmente, jamais reclamarão pela possibilidade de qualquer modalidade de acesso gratuito.

Estatuto sólido e credível

Naturalmente, vem a propósito considerar que a Parques de Sintra Monte da Lua, não recebe um cêntimo do Orçamento Geral do Estado. Assim sendo, apesar de se tratar de uma entidade à qual portugueses em geral e sintrenses em particular tanto devem, nada custa aos contribuintes! Num país onde, infelizmente, tanta razão de queixa existe e subsiste no domínio do património público visitável, é um privilégio imenso poder contar com uma entidade que, em Sintra, é absolutamente modelar.

A sua única fonte de receita é a resultante das cobranças da bilheteira. E, com tais proventos - como todos sabemos e, por isso, tanto nos orgulhamos – mantém, impecavelmente, todos os monumentos, parques e jardins, promovendo iniciativas de lazer de recorte cultural do mais alto gabarito, além de sustentar campanhas de obras de preservação e recuperação do património natural e edificado ao seu cuidado, com uma tal qualidade, que vem recebendo os mais notáveis prémios internacionais e um inequívoco reconhecimento geral.

 

 

Ao abordar esta questão, não raro, me dizem que, aos domingos, em vez de visitarem o Chalé da Condessa ou o Palácio da Pena, Monserrate, Queluz etc, muitos munícipes preferem outros destinos. Naturalmente. Muito bem. Farão o que e como entenderem. Apenas se espera que esses mesmos não se queixem de falta de oportunidade de acesso, afinal, nas melhores condições possíveis, ou seja, totalmente grátis.

 

 


 
 



Concertos imperdíveis


 Eis os programas de mais dois concertos em Lisboa da Gustav Mahler Jugendorchester que, sob a direcção de David Afkham estará connosco no Grande Auditório da Gulbenkian hoje e amanhã.

Acerca de Christiane Karg, se be
m se lembram, escrevi eu algumas notas muito encomiásticas, a partir de Salzburg, durante a última Mozartwoche em Janeiro/Fevereiro deste ano. Aqui a tendes numa das canções de Alban Berg que hoje interpretará.

Boa audição
!

http://youtu.be/R38reFyRb3Y
 
After a great second concert at the Auditorio Nacional de Madrid, we are now on our way to Lisbon!

Tonight: concert at the Fundação Calouste Gulbenkian!
 


Preciosidade

Durante dois anos o Mozarteum vai poder enriquecer a sua colecção com um fabuloso violino construído por Jakob Stainer que, a título de empréstimo, foi cedido pelo património de Paul Wranizky.

A foto documenta o acto protocol
ar durante o qual o jurista francês Xavier Guerland entrega o instrumento à Dra. Gabriele Ramsauer, Directora dos Museus do Mozarteum.

A sublinhar o evento, eis o primeiro andamento do Concerto para Violino e Orquestra, No. 5, KV. 219, na interpretação de Gidon Kremer com a Orquestra Filarmónica de Viena sob a direcção de Nikolaus Harnoncourt.

Boa audição!
http://youtu.be/DaX7q9zVrDw

 
 
 
Eine Geige aus dem Besitz von Paul Wranizky (1756 –1808) wurde heute für zwei Jahre der Stiftung Mozarteum als Leihgabe überlassen. Museumsdirektorin Dr. Gabriele Ramsauer übernahm die wertvolle Leihgabe von dem französoischen Juristen Xavier Guerland.
Gebaut wurde das Instrument von Jakob Stainer, Absam 1655-60, und bereichert nun unsere Violin-Sammlung mit einem Werk eines überaus prominenten Geigenbauers.
 
Foto: Eine Geige aus dem Besitz von Paul Wranizky (1756 –1808) wurde heute für zwei Jahre der Stiftung Mozarteum als Leihgabe überlassen. Museumsdirektorin Dr. Gabriele Ramsauer übernahm die wertvolle Leihgabe von dem französoischen Juristen Xavier Guerland. 
Gebaut wurde das Instrument von Jakob Stainer, Absam 1655-60, und bereichert nun unsere Violin-Sammlung mit einem Werk eines überaus prominenten Geigenbauers.

quinta-feira, 24 de abril de 2014



Gulbenkian, 22 de Abril
 
Julia Lezhneva
e Orquestra Barroca de Helsínquia 


Razões de ordem vária têm-me impedido de apresentar ou comentar determinados eventos musicais com a regularidade que costumo dispensar à programação da Gulbenkian. Por exemplo, o concerto de ontem dever-me-ia ter obrigado a um anúncio com o maior destaque possível.

Ao Grande Auditório veio tocar a Orquestra Barroca de Helsínquia, sob a direcção de Aapo Häkkinen, para interpretação de um programa subordinado ao título “Ressurrezione, Händel em Iália” contando com a voz solista de Julia Lezhneva.

De facto, se o agrupamento orquestral em apreço me merece os maiores encómios há mais de uma dúzia de anos, a voz de soprano de Lezhneva é algo que conheço desde o mais remoto mas público surgimento, ou seja, logo depois do seu triunfo na sexta edição do prestigiado Concurso Internacional Elena Obraztsova em 2007.

Mark Minkowsky, sempre extremamente atento aos valores que, nos ‘lugares do estilo’, continuam a despontar, levou Julia Lezhneva à Mozartwoche de Salzburg no ano seguinte, portanto, muito antes de ser seu Director Artístico. A piquena, na altura com dezassete anos, deixou toda a gente embasbacada e este vosso amigo igualmente entusiasmadíssimo.

Posteriormente, em diferentes oportunidades e, apenas em Salzburg, tenho procurado não perder a oportunidade de a ouvir e acompanhar a sua evolução. Portanto, era em grande expectativa que aguardava a sua presença na Gulbenkian.

Bem, foi um sucesso estrondoso, para o qual, preciso é não esquecer, também altamente contribui a cumplicidade que, depois de várias oportunidades de trabalho em articulação, já une a cantora e a orquestra.

Ouvimo-los em excertos de “Ressurrezione”, HWV 47, “Salve Regina”, “Il trionfo del Tempo e del Disinganno”, HWV 46ª e “Agrippina”, HWV 6. Foram mais alguns daqueles momentos de privilégio excepcional que a Gulbenkian, só ela, tem conseguido suprir, sistematicamente, ao longo de tantos anos.

Para vos permitir uma ideia o mais aproximada possível da voz que ontem partilhámos, gostaria de vos propor algumas gravações do maior interesse, sempre com a participação de Lezhneva, em diferentes circunstâncias, inclusive com a mesma Orquestra Barroca de Helsínquia. Longo mas riquíssimo de valores, o vídeo respeitante ao aniversário de Les Musiciens du Louvre.

Boa audição!

http://youtu.be/c4DpYgG3FyM - 'Da tempeste il legno infranto'
http://youtu.be/mKNIvrIM3Q8 - 'Un pensiero nemico di pace'
http://www.youtube.com/watch?v=
Yw1A5TQVwvQ&list=RDYw1A5TQVwvQ&feature=share 'Lascia Chio pianga'
http://youtu.be/nOx7-oRvdJY - 30º aniversário Musiciens du Louvre
 
 
Handel: Da tempeste (Julia Lezhneva, Helsinki Baroque Orchestra)
Julia Lezhneva, soprano dir. Aapo Häkkinen Helsinki Baroque Orchestra G.F. Handel: Da tempeste il legno infranto (Giulio Cesare) Helsinki Music Centre, 31.12