[Segunda parte do artigo iniciado no sábado passado, transcrição do texto publicado na Secção Cultural da edição de 30.03.2012 do 'Jornal de Sintra]
Nacional socialismo musical [II]
Ao terminar a primeira parte do texto publicado na última edição, depois de ter feito o enquadramento das «Jornadas Musicais do Reich» [Reichmusiktage], passei ao segundo tema destas considerações, ou seja, a exposição «Música Degenerada» [Entartete Musik], cujo primeiro responsável foi o Conselheiro de Estado Hans Severus Ziegler, de Weimar.
Conselheiro técnico para os assuntos do teatro no Land da Turíngia, Ziegler publicara, já em 1930, um decreto «contra a cultura negra, a favor do carácter nacional alemão» com o intuito de combater a crescente influência do jazz. Tratava-se, fundamentalmente, de protestar contra a ópera Jonny spielt auf, de Ernst Krenek, representada em Leipzig com enorme sucesso.
Na altura em que, em 1936, se prepara em Weimar a Festa dos Músicos da Associação musical alemã, Ziegler ergue-se vivamente contra a programação de várias obras. No entanto, não é o único a fazê-lo. A título de exemplo, lembrarei Ernst Nobbe, director-geral do Teatro Nacional de Weimar, doutorado em musicologia, que produz a sua crítica no contexto de um contributo intitulado «Atonalidade e bolchevismo artístico na música» [Atonalität und Kunstbolschewismus in der Musik], publicado em 13 de Junho de 1936 pelo Allgemeine Thüringische Landeszeitung Deutschland/Weimar.
Procurando uma relação entre atonalidade e bolchevismo artístico, o autor diagnostica a perda da fundamental noção da medida, a dissolução e o desaparecimento dos temas musicais. Explica esta evolução através da «diversidade caótica» das raças na Alemanha, considerando o judaísmo como responsável principal. Goebbels, para quem a intervenção de Ziegler e de Nobbe dá a impressão que a Tonkünstlerfest, Festa dos Músicos, quase que só propunha a música atonal, anula a sua deslocação a Weimar. Por outro lado, decide dissolver a Associação musical alemã, fundada por Liszt e portadora de uma rica tradição, transferindo as suas competências para a Câmara da Música do Reich [Reichmusikkammer].
Em complemento, cria um departamento musical no Ministério da Propaganda. A diversidade de pontos de vista que caracterizava a referida associação e a sua longa tradição não tinham mais lugar no estado totalitário. Quanto às Festas dos Músicos, são substituídas pelos Reichmusiktage, cuja organização compete ao tal departamento musical.
A exposição «Música Degenerada»
Em Junho de 1936, uma exposição de manuscritos e de partituras originais, no foyer do Teatro Nacional de Weimar, celebrava os 75 anos da Associação musical alemã. Alguns artefactos, portanto, elementos desta exposição, serão aproveitados por ocasião da manifestação de propaganda «Música Degenerada» [Entartete Musik] que o referido Ziegler prepara para as Jornadas Musicais do Reich, em Düsseldorf – entre 22 e 29 de Maio de 1938, como referido na I parte do artigo - com a ajuda de Paul Sixt, o seu novo chefe de orquestra permanente.
Esta iniciativa obedece ao figurino da exposição «Arte Degenerada» [Entartete Kunst] levada a efeito em Munique no ano de 1937. Contudo, diferentemente da exposição de Munique, o projecto de Düsseldorf não parte de uma encomenda oficial. Ziegler consagra-se à ideia, de sua própria iniciativa, e por interesse pessoal. A estrutura da ADMV, Allgemeiner Deutsche Musikverein [Associação Musical Alemã] fornece-lhe o argumento de prova de que a vida musical alemã é dirigida por judeus negociantes sem escrúpulos, tendo como alvo principal Leo Kerstenberg, da agência de concertos de Berlin, Wolf & Sachs.
Como temas da exposição, são de considerar «O Teatro Judeu de Outros Tempos em Ritmo de Jazz» e a «Degenerescência na Criação Musical». Otto zur Nedden, nas suas conferências de introdução intituladas «Fundamentos Históricos e Raciais das Músicas Tonal e Atonal», tomando como exemplo o uso da longa trompa de bronze pelos primitivos povos germânicos, especialmente escandinavos, esforça-se por demonstrar a relação natural entre estes últimos e o acorde perfeito.
Repetidos em sucessivas ocasiões, tais argumentos socorrem-se de exemplos de obras como Finlândia, de Sibelius ou Sagração da Primavera, de Stravinki, não deixando de causar a mais viva polémica e de suscitar um acolhimento muito crítico por parte dos especialistas. Por exemplo, Friedrich Blume, que em Düsseldorf, naquele mesmo ano de 1938, tratou do tema “Música e Raça”, considerou a conferência de zur Nedden ‘indigna de um professor universitário alemão’.
Organizadas a pedido de Goebbels, por Heinz Drewes, seu adjunto para a música [Musikreferent], as primeiras Jornadas Musicais do Reich no novo Estado, são inauguradas no dia 22 de Maio de 1938, nos cento e vinte e cinco anos do nascimento de Richard Wagner. É neste enquadramento que, dois dias mais tarde, Ziegler inaugura no Palácio das Artes Düsseldorf a exposição de propaganda «Música Degenerada».
O seu discurso de abertura começa com uma citação de Adolf Hitler e, quanto ao subtítulo desta alocução, «Um acerto de contas», igualmente se refere ao Mein Kampf. Nele encontra um cúmulo de razão e dever para se comprometer publicamente na luta contra o mal que identificou, enunciando assim os seus objectivos: “(…) Fazer política cultural, significa preocupar-se com a alma do povo, cultivar as suas forças criativas e, todos estes valores, no carácter e nas ideias, aquilo que resumimos na noção geral de «carácter popular» [Volkstum]. Políticos e políticos da cultura têm um mesmo objectivo: criar uma nação forte e assegurar tanto as suas bases material e ideal, garantir a sua existência no exterior e aprofundar a sua existência no interior. (…)”
(Continua)
________
A exemplo do que aconteceu na semana passada, eis uma proposta que reputo do maior interesse. Trata-se da célebre gravação da mesma ópera, "Die Meistersinger von Nürnberg", em que Karajan dirige a Staatskapelle Dresden. Como verificarão, do último acto, este é um dos mais sublimes excertos. Boa audição!
YouTube/c7gQ4TDx8dA
Richard Wagner - Die Meistersinger von Nürnberg - act 3^ part 10 www.youtube.com
[sempre de acordo com a antiga ortografia]
sábado, 31 de março de 2012
sexta-feira, 30 de março de 2012
Sintra,
um, dois, três concelhos?
Gostar de Sintra como eu gosto equivale a manter, sempre aceso, um amor de infância que, ao longo de dezenas de anos, se transformou na funesta paixão que me mantém em permanente desassossego. Durante muito tempo, através da escrita, tive necessidade de partilhar impressões e opiniões acerca desta ligação. Em especial, focando a atenção sobre inúmeras ofensas de que Sintra é vítima, dava conta do desgosto resultante de palavras, actos e omissões que tanto mal lhe têm causado.
Publicadas na imprensa local, principalmente no Jornal de Sintra, contam-se por algumas centenas as crónicas, acerca dos mais diversos assuntos, ainda que com particular destaque para a salvaguarda do património natural e edificado mas não descurando outras vertentes como turismo, urbanismo, educação, eventos culturais. Norteada por um rígido princípio de independência, a minha atitude, ao fim e ao cabo, não passava de uma forma de exercício da cidadania que preenchia o objectivo de participação nos desígnios da comunidade.
Não raro, contudo, me senti objecto de tão evidentes quanto lamentáveis reacções de incompreensão que, em determinadas ocasiões, assumiram contornos da mais baixa mesquinhez. Naturalmente, sendo a escrita uma arma contundente, não me podia surpreender. Enquanto foi possível, mantive o ânimo bastante para continuar mas o cansaço acabou por vencer, pelo que, pouco a pouco, me fui libertando da quase obrigação que, tacitamente, vinculava a minha actividade.
Na realidade, o cansaço a que aludi coincidia com uma sensação de dias avinagrados, protagonizando eu uma tenção que, pelo simples facto de se manifestar através da escrita militante – deixem que use o adjectivo sem que dele abuse – em nada de concreto ou positivo, rarissimamente, se transformava. Fui vencido por um complexo novelo de contradições já que a esperança de ver resolvidos os assuntos que denunciava ou cuja inequívoca solução alvitrava, era negada pelo sistemático e geral alheamento.
No entanto, há semanas, tendo vindo à baila a questão da reorganização da administração local, o tal desassossego da paixão tem vindo a avolumar-se, suspendendo e deixando de conceder a trégua a que me obriguei. Daí até concluir que que o melhor talvez fosse mesmo repegar na matéria que tratei em inúmeros textos, foi o passo que estão a testemunhar. Oxalá não ganhe motivo para maiores desilusões.
A minha intervenção neste domínio sempre privilegiou a perspectiva de que a governabilidade de um gigantesco concelho como o de Sintra passaria pela possibilidade de o dividir, em duas ou três unidades, agregando conjuntos de freguesias com mais ou menos evidentes características de coerência, por exemplo, geográfica, sociocultural, económica, etc.
Em Sintra, jamais me passaria pela cabeça propor a extinção e subsequente concentração de freguesias em unidades de maior escala. Admito perfeitamente que, em determinados concelhos do todo nacional, haja necessidade de assim proceder, sem que tal signifique ou traduza a sistemática generalização da medida a todo o território português.
Aliás, nalguns casos, a dimensão e escala das freguesias sintrenses ultrapassou – e de que maneira, veja-se, por exemplo, o caso de Algueirão Mem Martins!... – a viabilidade de uma gestão humanizada, de proximidade, valores que, inequivocamente, devem prevalecer. Neste contexto, como não considerar, como autêntico escândalo, a cegueira do poder político central tentando impor uma solução, que vem ao arrepio de toda uma cultura, com base na observância de compromissos com credores internacionais plasmados no designado Memorando de Entendimento, como se aí estivesse a salvação das finanças públicas?
Por acaso, o mesmo poder central já deu passos, de algum significado, no sentido de obviar o efectivo desperdício de recursos, numa sangria que continua a vitimizar e a enfraquecer a fazenda nacional através das proverbiais mas elimináveis gorduras da Administração Central ou, enfim, mais próxima da realidade local, já apresentou algum instrumento que viabilize a eliminação de empresas municipais que, em termos constitucionais, até são de de duvidosa génese?
Como permanecer indiferente, enquanto Sintra se prepara para aceitar as irremediáveis consequências desta invectiva do terreiro do Paço subjugado a estratégias desenhadas por negociadores estrangeiros que não tiveram interlocutores nacionais à altura das circunstâncias da negociação que precedeu o referido compromisso? Por outro lado, que residual força de David tenho eu para me permitir dirimir argumentos com cidadãos eleitos que, na Assembleia Municipal de Sintra, são fiéis seguidores da solução de supressão e concentração de freguesias?
E, ainda, para além de não alinhar em qualquer supressão de freguesias, como me permito eu, a partir da mesma realidade de base territorial, propor a constituição de mais um ou dois concelhos? Pois, de facto, não estando louco nem animado por qualquer espécie de espírito de contradição, tão somente penso na referida possibilidade de governança através de unidades concelhias de menor dimensão e mais coerentes.
Convencido da minha razão, lucidamente, também sei que não tenho qualquer veleidade de convencer quem, pelo menos, poderia abrir a porta ao debate. A única atitude que me resta é a de voltar a publicar, ipsis verbis, artigos – alguns dos quais com cerca de dez anos – cuja substância, nas suas linhas gerais, continuo a considerar actual. Espero que a vossa reacção me ajude a reflectir quanto à pertinência da solução que mantenho como mais consentânea.
sábado, 24 de março de 2012
Nacional-socialismo musical [I] *
A partir de hoje, entramos num universo temático em que consideraremos algumas notas indispensáveis à compreensão do modo como os nacional-socialistas do III Reich encaravam a música, ao serviço dos seu...s mais evidentes propósitos, em especial, no que se refere à tão proclamada necessidade de «recuperação» de uma suposta, remota e perdida pureza de contornos desta arte.
Assim, pedir-vos-ia que me acompanhassem na abordagem de dois momentos da história daqueles alemães e turbulentos anos trinta – em primeiro lugar, as "Jornadas musicais do Reich" e, seguidamente, a exposição "Música Degenerada" – que antecederam a eclosão do conflito armado no final da década, apesar de constituírem prova acabada e evidente de um tremendo choque que minava a vida cultural do país, perversamente caído nas malhas do totalitarismo na sequência de um processo eleitoral democrático.
1.As jornadas musicais do Reich
As Jornadas musicais do Reich (Reichmusiktage) que, a partir de 1938, substituem as anteriores "Tonkünstlerfeste", da Associação musical alemã (Allgemeiner Deutsche Musikverein, ADMV), proclamam a vitória das ambições totalitárias de Goebbels no domínio da música. De acordo com a vontade do Ministro da Propaganda, era suposto que proporcionassem uma visão de conjunto sobre a vida musical do Reich nacional-socialista, funcionando como ponto de referência para a sua evolução.
Goebbels definiria os princípios desta estratégia, no grande discurso sobre política cultural, pronunciado no encerramento das Jornadas de Düsseldorf. Anteriormente, a imprensa já tinha sublinhado o grande interesse de Goebbels pela música, por exemplo, no artigo intitulado 'O Dr. Joseph Goebbels: relação com a música e seus mestres', publicado em 1934, no Boletim oficial dos músicos do Reich.
Através de tal documento se evidencia como o ministro, para além de tudo o mais, se afirmava próximo de Richard Wagner. O autor do artigo, Paul Büllow, esclarece que “(…) ele conhece Wagner de cor! (…)”, afirmando que, no seu discurso sobre Os Mestres Cantores, em Bayreuth, em 1933, Goebbels acrescentara “(…) das coisas mais sublimes (…) alguma vez ditas acerca daquela obra, a mais alemã e a mais profunda de Wagner.
No discurso de 28 de Maio de 1933 em Düsseldorf, Joseph Goebbels propunha-se, nada mais nada menos, do que definir a essência da música alemã. Reparem como ele expressa o primeiro dos designados 'Dez Princípios' da criação musical alemã: “(…) A essência da música não reside nem no programa nem na teoria, nem na experimentação, nem na estrutura. A sua essência é a melodia. É a melodia que eleva os corações e revigora as almas; o povo canta-a, porque se grava facilmente na memória e, de modo algum é de gosto inferior ou censurável. (…)”
Para Goebbels, a música depende essencialmente do sentimento; nela, o que fala é a alma (Seele), e não a razão, o entendimento (Verstand). Também o próprio Hitler se exprime, mais ou menos, em termos idênticos, no mesmo ano, durante o Congresso do partido em Nuremberga: “(…) Não é o entendimento intelectual que deverá guiar o músico mas uma irrupção do sentimento musical (…)”
A tónica colocada na esfera do sentimento constitui como que um eco da hostilidade do nacional-socialismo em relação à Aufklärung, no conceito de «esclarecimento» que coincide com o de «Iluminismo» alemão. Não se esperava que os membros da Volksgemeinschaft, ou seja, da «comunidade do povo», debatessem questões políticas, antes deviam, pura e simplesmente, confiar na ideologia nacional-socialista.
A grande música, como a de Richard Wagner e de Anton Bruckner, servia para estimular esta atitude – diria – religiosa. Para Goebbels, não restava a mínima dúvida de que a música tem uma relação directa com as questões raciais. Senão, atentemos no terceiro dos já referidos 'Princípios':“(…) Tal como as outras artes, também a música provém de forças misteriosas e profundas, enraizadas na índole nacional (Volkstum), não podendo corresponder à necessidade e ao irreprimível instinto musical de um povo, se não for concebida e administrada pelos herdeiros deste carácter popular. Opostos por natureza, o judaísmo e a música alemã estão em contradição radical. (…)”
O sentimento, aqui considerado como elemento primeiro na música, vê-se completado pela pulsão, enquanto «irreprimível instinto musical», e pela noção do natural. A vida afectiva e a natureza pulsional do homem têm, portanto, o seu fundamento na raça. Os nazis, uma vez que concebem a Arte como expressão «da alma duma raça» e, ao mesmo tempo, fazem da pureza da raça o seu cavalo de batalha – ao ponto de criar vários «institutos de higiene racial» nas universidades – excluem os judeus da concepção e da administração da música germano-ariana.
Depois de 1933, mais nenhuma possibilidade lhes foi concedida no sentido de que fossem intérpretes, compositores, pedagogos, organizadores de concertos ou agentes da política cultural.
(continua)
*
Transcriçãoção do artigo, com o mesmo título, publicado na página de Cultura do 'Jornal de Sintra', em 23 de Março de 2012. Com periodicidade semanal, no dia posterior à sua publicação no referido jornal, continuarei a reproduzir os artigos que se seguirão neste mural do fb.
PS:Aqui têm o fim da ópera "Die Meistersinger von Nürnberg". São páginas de inspiradíssima música orquestral e de canto onde, tão abusivamente, os nacional-socialistas foram beber mensagens que alimentaram conceitos como os que Goebbels propala.
http://youtu.be/0vC-HI8x7Xg
Para vos permitir uma via de acesso facilitado ao discurso final de Hans Sachs, constante da gravação anterior, eis a tradução em Inglês:
"Beware! Evil tricks threaten us;
if the German people and kingdom should one day decay, under a false, foreign rule, soon no prince would understand his people;
and foreign mists with foreign vanities they would plant in our German land;
what is German and true none would know, if it did not live in the honour of German Masters.
Therefore I say to you: honour your German Masters, then you will conjure up good spirits!
And if you favour their endeavours, even if the Holy Roman Empire should dissolve in mist, for us there would yet remain holy German Art!"
De facto, como facilmente se verifica, era muito fácil aos nazis apropriarem-se desta mensagem...
A partir de hoje, entramos num universo temático em que consideraremos algumas notas indispensáveis à compreensão do modo como os nacional-socialistas do III Reich encaravam a música, ao serviço dos seu...s mais evidentes propósitos, em especial, no que se refere à tão proclamada necessidade de «recuperação» de uma suposta, remota e perdida pureza de contornos desta arte.
Assim, pedir-vos-ia que me acompanhassem na abordagem de dois momentos da história daqueles alemães e turbulentos anos trinta – em primeiro lugar, as "Jornadas musicais do Reich" e, seguidamente, a exposição "Música Degenerada" – que antecederam a eclosão do conflito armado no final da década, apesar de constituírem prova acabada e evidente de um tremendo choque que minava a vida cultural do país, perversamente caído nas malhas do totalitarismo na sequência de um processo eleitoral democrático.
1.As jornadas musicais do Reich
As Jornadas musicais do Reich (Reichmusiktage) que, a partir de 1938, substituem as anteriores "Tonkünstlerfeste", da Associação musical alemã (Allgemeiner Deutsche Musikverein, ADMV), proclamam a vitória das ambições totalitárias de Goebbels no domínio da música. De acordo com a vontade do Ministro da Propaganda, era suposto que proporcionassem uma visão de conjunto sobre a vida musical do Reich nacional-socialista, funcionando como ponto de referência para a sua evolução.
Goebbels definiria os princípios desta estratégia, no grande discurso sobre política cultural, pronunciado no encerramento das Jornadas de Düsseldorf. Anteriormente, a imprensa já tinha sublinhado o grande interesse de Goebbels pela música, por exemplo, no artigo intitulado 'O Dr. Joseph Goebbels: relação com a música e seus mestres', publicado em 1934, no Boletim oficial dos músicos do Reich.
Através de tal documento se evidencia como o ministro, para além de tudo o mais, se afirmava próximo de Richard Wagner. O autor do artigo, Paul Büllow, esclarece que “(…) ele conhece Wagner de cor! (…)”, afirmando que, no seu discurso sobre Os Mestres Cantores, em Bayreuth, em 1933, Goebbels acrescentara “(…) das coisas mais sublimes (…) alguma vez ditas acerca daquela obra, a mais alemã e a mais profunda de Wagner.
No discurso de 28 de Maio de 1933 em Düsseldorf, Joseph Goebbels propunha-se, nada mais nada menos, do que definir a essência da música alemã. Reparem como ele expressa o primeiro dos designados 'Dez Princípios' da criação musical alemã: “(…) A essência da música não reside nem no programa nem na teoria, nem na experimentação, nem na estrutura. A sua essência é a melodia. É a melodia que eleva os corações e revigora as almas; o povo canta-a, porque se grava facilmente na memória e, de modo algum é de gosto inferior ou censurável. (…)”
Para Goebbels, a música depende essencialmente do sentimento; nela, o que fala é a alma (Seele), e não a razão, o entendimento (Verstand). Também o próprio Hitler se exprime, mais ou menos, em termos idênticos, no mesmo ano, durante o Congresso do partido em Nuremberga: “(…) Não é o entendimento intelectual que deverá guiar o músico mas uma irrupção do sentimento musical (…)”
A tónica colocada na esfera do sentimento constitui como que um eco da hostilidade do nacional-socialismo em relação à Aufklärung, no conceito de «esclarecimento» que coincide com o de «Iluminismo» alemão. Não se esperava que os membros da Volksgemeinschaft, ou seja, da «comunidade do povo», debatessem questões políticas, antes deviam, pura e simplesmente, confiar na ideologia nacional-socialista.
A grande música, como a de Richard Wagner e de Anton Bruckner, servia para estimular esta atitude – diria – religiosa. Para Goebbels, não restava a mínima dúvida de que a música tem uma relação directa com as questões raciais. Senão, atentemos no terceiro dos já referidos 'Princípios':“(…) Tal como as outras artes, também a música provém de forças misteriosas e profundas, enraizadas na índole nacional (Volkstum), não podendo corresponder à necessidade e ao irreprimível instinto musical de um povo, se não for concebida e administrada pelos herdeiros deste carácter popular. Opostos por natureza, o judaísmo e a música alemã estão em contradição radical. (…)”
O sentimento, aqui considerado como elemento primeiro na música, vê-se completado pela pulsão, enquanto «irreprimível instinto musical», e pela noção do natural. A vida afectiva e a natureza pulsional do homem têm, portanto, o seu fundamento na raça. Os nazis, uma vez que concebem a Arte como expressão «da alma duma raça» e, ao mesmo tempo, fazem da pureza da raça o seu cavalo de batalha – ao ponto de criar vários «institutos de higiene racial» nas universidades – excluem os judeus da concepção e da administração da música germano-ariana.
Depois de 1933, mais nenhuma possibilidade lhes foi concedida no sentido de que fossem intérpretes, compositores, pedagogos, organizadores de concertos ou agentes da política cultural.
(continua)
*
Transcriçãoção do artigo, com o mesmo título, publicado na página de Cultura do 'Jornal de Sintra', em 23 de Março de 2012. Com periodicidade semanal, no dia posterior à sua publicação no referido jornal, continuarei a reproduzir os artigos que se seguirão neste mural do fb.
PS:Aqui têm o fim da ópera "Die Meistersinger von Nürnberg". São páginas de inspiradíssima música orquestral e de canto onde, tão abusivamente, os nacional-socialistas foram beber mensagens que alimentaram conceitos como os que Goebbels propala.
http://youtu.be/0vC-HI8x7Xg
Para vos permitir uma via de acesso facilitado ao discurso final de Hans Sachs, constante da gravação anterior, eis a tradução em Inglês:
"Beware! Evil tricks threaten us;
if the German people and kingdom should one day decay, under a false, foreign rule, soon no prince would understand his people;
and foreign mists with foreign vanities they would plant in our German land;
what is German and true none would know, if it did not live in the honour of German Masters.
Therefore I say to you: honour your German Masters, then you will conjure up good spirits!
And if you favour their endeavours, even if the Holy Roman Empire should dissolve in mist, for us there would yet remain holy German Art!"
De facto, como facilmente se verifica, era muito fácil aos nazis apropriarem-se desta mensagem...
sexta-feira, 23 de março de 2012
O Ring sem palavras
É uma proposta do conhecido maestro e também compositor Lorin Maazel, algo que se poderia designar como síntese sinfónica do Ring, para concepção da qual terá sido fortemente influenciado pelos comentários de Wieland Wagner, neto do compositor, acerca da importância da orquestra na Tetralogia.
Trata-se de um resumo orquestral , com a duração de uma hora e um quarto, concebido com o expresso objectivo de proporcionar a novas audiências a magia destes monumentais dramas musicais. Se, no caso da gravação que vos proponho, acrescentarmos que a orquestra de serviço é a Filarmónica de Berlin, podem preparar-se para assistir a um concerto da máxima qualidade, independentemente de serem discutíveis algumas opções de Maazel.
Gostaria de chamar a vossa particular atenção para alguns momentos. Por ordem de audição, em Das Rheingold [Ouro do Reno], aos 6’15’’, ‘Entrada dos deuses no Walhalla’, e, particularmente conseguido, extremamente comovente, o episódio da despedida de Wotan, no fim de Die Walküre, aos 23’19’’. Na minha opinião, em Gotter Dämmerung [Crepúsculo dos Deuses], menos eficaz, a grande pressão que Maazel imprime em ‘Viagem de Siegfried pelo Reno', que se inicia aos 44’22’’ da qual se redime em ‘Morte de Siegfried e Música Fúnebre’, aos 56’12’’.
Não tenho a mínima dúvida de que este arranjo de Lorin Maazel constitui um excelente trabalho de promoção, animação e divulgação musical. É uma aproximação à Tetralogia, o famoso conjunto de preâmbulo e três jornadas que assumiu Der Ring des Nibelungen [O Anel do Nibelungo] que Richard Wagner nos legou como marco extremamente compósito e essencial, não só da ópera, mas de toda a música e da cultura ocidental.
Bom visionamento. Boa audição!
http://youtu.be/AQX0MswCnrw
PS: Ontem à noite, esta mesma peça foi interpretada no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian, pela orquestra da casa, sob a direcção de Michael Boder. Naturalmente, a orquestra precisou de grandes reforços em todos os naipes, num total de mais de quarenta músicos extra! Infelizmente, veio a verificar-se a mais que previsível falta de coesão.
Abalançar-se a uma peça com estas características, com o misto grupo de músicos resultante do referido alargamento, exigiria um significativo conjunto de ensaios que, manifestamente, não se verificou. De qualquer modo, mesmo sem entrar em detalhe, cumpre referir terem-se escutado alguns momentos de bom recorte.
É uma proposta do conhecido maestro e também compositor Lorin Maazel, algo que se poderia designar como síntese sinfónica do Ring, para concepção da qual terá sido fortemente influenciado pelos comentários de Wieland Wagner, neto do compositor, acerca da importância da orquestra na Tetralogia.
Trata-se de um resumo orquestral , com a duração de uma hora e um quarto, concebido com o expresso objectivo de proporcionar a novas audiências a magia destes monumentais dramas musicais. Se, no caso da gravação que vos proponho, acrescentarmos que a orquestra de serviço é a Filarmónica de Berlin, podem preparar-se para assistir a um concerto da máxima qualidade, independentemente de serem discutíveis algumas opções de Maazel.
Gostaria de chamar a vossa particular atenção para alguns momentos. Por ordem de audição, em Das Rheingold [Ouro do Reno], aos 6’15’’, ‘Entrada dos deuses no Walhalla’, e, particularmente conseguido, extremamente comovente, o episódio da despedida de Wotan, no fim de Die Walküre, aos 23’19’’. Na minha opinião, em Gotter Dämmerung [Crepúsculo dos Deuses], menos eficaz, a grande pressão que Maazel imprime em ‘Viagem de Siegfried pelo Reno', que se inicia aos 44’22’’ da qual se redime em ‘Morte de Siegfried e Música Fúnebre’, aos 56’12’’.
Não tenho a mínima dúvida de que este arranjo de Lorin Maazel constitui um excelente trabalho de promoção, animação e divulgação musical. É uma aproximação à Tetralogia, o famoso conjunto de preâmbulo e três jornadas que assumiu Der Ring des Nibelungen [O Anel do Nibelungo] que Richard Wagner nos legou como marco extremamente compósito e essencial, não só da ópera, mas de toda a música e da cultura ocidental.
Bom visionamento. Boa audição!
http://youtu.be/AQX0MswCnrw
PS: Ontem à noite, esta mesma peça foi interpretada no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian, pela orquestra da casa, sob a direcção de Michael Boder. Naturalmente, a orquestra precisou de grandes reforços em todos os naipes, num total de mais de quarenta músicos extra! Infelizmente, veio a verificar-se a mais que previsível falta de coesão.
Abalançar-se a uma peça com estas características, com o misto grupo de músicos resultante do referido alargamento, exigiria um significativo conjunto de ensaios que, manifestamente, não se verificou. De qualquer modo, mesmo sem entrar em detalhe, cumpre referir terem-se escutado alguns momentos de bom recorte.
quarta-feira, 21 de março de 2012
A vida é uma farsa!
Conhecer Sir John Falstaff é tarefa que, pelo menos, nos transporta a “Henrique IV” e “As alegres comadres de Windsor”, a um Shakespeare renascentista que, com o século dezanove quase a terminar, empresta a Arrigo Boito a matéria essencial com a qual comporia a personagem apresentada a Verdi como protagonista do seu libreto.
Sem margem para qualquer dúvida, é a partir daquele texto, e, portanto nesta ópera “Falstaff” que o compositor escreve as melhores páginas da sua música. Verdi excede-se no engenho burilado em oficina longa para nos legar belíssimas páginas de um testamento que continuamos a honrar sempre que, ouvindo-lhe a obra, o celebramos.
O final é estupendo. É uma súmula da vida. Se as palavras estão ao nível da ideia de proverbial sabedoria que se pretende salte para a cena, o público só partilha e se empolga quando, do fosso da orquestra, lhe chegam os acordes, geniais a todos os títulos,remetendo para o turbilhão de um tempo que vive, que passa e vai escoando nas mãos do truão que o Homem é. De certeza que não é preciso tradução…
Bom visionamento. Boa audição!
http://youtu.be/7E4S-E2qAX8
Conhecer Sir John Falstaff é tarefa que, pelo menos, nos transporta a “Henrique IV” e “As alegres comadres de Windsor”, a um Shakespeare renascentista que, com o século dezanove quase a terminar, empresta a Arrigo Boito a matéria essencial com a qual comporia a personagem apresentada a Verdi como protagonista do seu libreto.
Sem margem para qualquer dúvida, é a partir daquele texto, e, portanto nesta ópera “Falstaff” que o compositor escreve as melhores páginas da sua música. Verdi excede-se no engenho burilado em oficina longa para nos legar belíssimas páginas de um testamento que continuamos a honrar sempre que, ouvindo-lhe a obra, o celebramos.
O final é estupendo. É uma súmula da vida. Se as palavras estão ao nível da ideia de proverbial sabedoria que se pretende salte para a cena, o público só partilha e se empolga quando, do fosso da orquestra, lhe chegam os acordes, geniais a todos os títulos,remetendo para o turbilhão de um tempo que vive, que passa e vai escoando nas mãos do truão que o Homem é. De certeza que não é preciso tradução…
Bom visionamento. Boa audição!
http://youtu.be/7E4S-E2qAX8
Primavera,
a propósito...
Hoje, com a entrada oficial da Primavera, é inescapável o recurso ao tema no sentido de enquadrar peças musicais com ele relacionadas. Tal é o caso de “Appalachian Spring”, de Aaron Copland (1900-1990), obra cuja ...articulação com a estação do ano não deixa de ser, no mínimo, muito curiosa…
nicialmente, o compositor designara-a, muito simplesmente, como “Bailado para Martha”. Tratava-se, de facto, de uma encomenda da bailarina e coreógrafa Martha Graham (1894-1991) que o estrearia na Biblioteca do Congresso em Washington, em 1944.
Pouco depois, foi ela própria quem sugeriu a designação “Appalachian Spring”, inspirando-se na seguinte passagem do poema ‘The Dance’, do poeta americano Harold Hart Crane (1899-1932), incluído na colectânea “The Bridge”:
“O Appalachian Spring! I gained the ledge;
teep, inaccessible smile that eastward bends
And northward reaches in that violet wedge
Of Adirondacks! (…)”
Depois de conhecerem este episódio, imaginem o vosso gozo quando, em futura oportunidade, ouvirem, como eu tenho ouvido, certos radialistas em programas na Antena Dois, ou lerem, como eu tenho lido, em certos programas de concerto, assinadas por pessoas com alguma responsabilidade no mundo musical, referindo «a capacidade do compositor em captar o lirismo da Primavera nos Apalaches»...
O mínimo que poderão fazer é, tal como o próprio compositor, sorrir com certa benevolência, já que Copland, ao compor a obra, estava tão afastado da realidade daquela ou doutra montanha como qualquer um de nós… Acresce ainda a circunstância de que a tal ‘spring’, no poema de Crane ser uma ‘nascente’ e não a estação do ano… De qualquer modo, condescendamos, trata-se de uma caminhada ao encontro do tempo primaveril.
Deixo-vos com a gravação histórica da primeira parte do bailado, com a própria Martha Graham.Bom visionamento!
http://youtu.be/XmgaKGSxQVw
a propósito...
Hoje, com a entrada oficial da Primavera, é inescapável o recurso ao tema no sentido de enquadrar peças musicais com ele relacionadas. Tal é o caso de “Appalachian Spring”, de Aaron Copland (1900-1990), obra cuja ...articulação com a estação do ano não deixa de ser, no mínimo, muito curiosa…
nicialmente, o compositor designara-a, muito simplesmente, como “Bailado para Martha”. Tratava-se, de facto, de uma encomenda da bailarina e coreógrafa Martha Graham (1894-1991) que o estrearia na Biblioteca do Congresso em Washington, em 1944.
Pouco depois, foi ela própria quem sugeriu a designação “Appalachian Spring”, inspirando-se na seguinte passagem do poema ‘The Dance’, do poeta americano Harold Hart Crane (1899-1932), incluído na colectânea “The Bridge”:
“O Appalachian Spring! I gained the ledge;
teep, inaccessible smile that eastward bends
And northward reaches in that violet wedge
Of Adirondacks! (…)”
Depois de conhecerem este episódio, imaginem o vosso gozo quando, em futura oportunidade, ouvirem, como eu tenho ouvido, certos radialistas em programas na Antena Dois, ou lerem, como eu tenho lido, em certos programas de concerto, assinadas por pessoas com alguma responsabilidade no mundo musical, referindo «a capacidade do compositor em captar o lirismo da Primavera nos Apalaches»...
O mínimo que poderão fazer é, tal como o próprio compositor, sorrir com certa benevolência, já que Copland, ao compor a obra, estava tão afastado da realidade daquela ou doutra montanha como qualquer um de nós… Acresce ainda a circunstância de que a tal ‘spring’, no poema de Crane ser uma ‘nascente’ e não a estação do ano… De qualquer modo, condescendamos, trata-se de uma caminhada ao encontro do tempo primaveril.
Deixo-vos com a gravação histórica da primeira parte do bailado, com a própria Martha Graham.Bom visionamento!
http://youtu.be/XmgaKGSxQVw
An die Musik
A todos os amigos que quiseram saudar-me neste dia (18 de Março), eis a expressão da minha gratidão. Numa interpretação antológica da Schwarzkopf, precedido por uma introdução muito sóbria do mítico Gerald Moore, este é o famoso Lied que Schubert compôs a partir de um poema do seu amigo Franz von Schober, cujo original vos apresento de seguida. Para os que não acedem ao texto em Alemão, uma 'aproximação' em Inglês.
__________________
Du holde Kunst, in wieviel grauen Stunden,
Wo mich des Lebens wilder Kreis umstrickt,
Hast du mein Herz zu warmer Lieb' entzunden,
Hast mich in eine beßre Welt entrückt!
Oft hat ein Seufzer, deiner Harf' entflossen,
Ein süßer, heiliger Akkord von dir
Den Himmel beßrer Zeiten mir erschlossen,
Du holde Kunst, ich danke dir dafür!
Oh lovely Art, in how many grey hours,
When life's fierce orbit ensnared me,
Have you kindled my heart to warm love,
Carried me away into a better world!
How often has a sigh escaping from your harp,
A sweet, sacred chord of yours
Opened up for me the heaven of better times,
Oh lovely Art, for that I thank you!
____________________
Boa audição!
http://youtu.be/Bm_AKMV0ME0
Malipiero?
Sim, meus amigos, Gian Francesco Malipiero (1882-1973), um dos mais importantes compositores italianos do século vinte, prática e injustamente desconhecido entre nós, é merecedor da maior atenção da vossa parte. Já que os grandes auditórios o mantêm num afastado do público - haverá razões de carácter ideologico-político - eis que me proponho «programá-lo» neste mural através do qual, como sabem, também pretendo dar a conhecer obras menos divulgadas, esquecidas ou que não 'acontecem' por mera ignorância.
O que vos proponho é um conjunto de cinco documentos audiovisuais cuja partilha vos permitirá adquirir uma relativamente segura noção de que se trata de obras maiores da música do século passado. Nelas descobrirão, estou certo, afinidades declaradas com a maioria dos compositores seus contemporâneos e uma evidente originalidade em que julgo não ser necessário insistir. «Isto» é tudo menos fancaria superficial.
Deliciem-se com momentos de excelente recorte musical que, sendo contemporâneos, são de todos os tempos. Este é um compositor cuja oficina muito deve a seus «colegas» do barroco e do classicismo, percebe-se perfeitamente que os «frequentou» sendo exímio em verter, na sua, o filtro da obra de ilustres antepassados, assim contribuindo para que o fluxo cultural de épocas anteriores, continue plasmado nos compassos da nossa vida.
Há precisamente quarenta e cinco anos - lembro-me, perfeitamente - tinha uma conversa, em Veneza (Treviso, muito perto é o lugar natal de Malipiero), em que meu pai tecia as maiores loas a este homem da Música. Fiquei muito impressionado com o modo como, para o meu pai, este compositor era a charneira indispensável à compreensão do processo musical em permanente evolução. E, como ele afirmava, peremptoriamente, não só na Itália, mas em todo o mundo que se reclama desta espantosa herança cultural.
Por favor, não me regateiem a vossa opinião.
Boa audição!
http://youtu.be/w20_QIq0e1Q
segunda-feira, 19 de março de 2012
Hoje, um conjunto de peças nos últimos dias publicadas no facebook.
[1]
Efeméride mozartiana
Numa quinta feira, dia 15 de Março de 1770, aos quatorze anos, Mozart completava o seu primeiro quarteto de cordas, em Sol Maior, KV. 80. Ao contrário do costume na época, o jovem compositor inicia a obra com um andamento lento, um Adagio de seis minutos que, na economia de uma peça cuja duração total é de cerca de um quarto de hora, é evidentemente longo. É precisamente neste primeiro andamento que evidencia uma maturidade verdadeiramente surpreendente.
A interpretação deste excerto da peça, que apenas compreende o referido Adagio e o Allegro seguinte, está a cargo do Quarteto Casals [que, como já tive oportunidade de referir, esteve na Gulbenkian recentemente].
Boa audição!
http://youtu.be/jpumSTiMdUE
[2]
No outro lado do Mundo
In VIII, Segunda Parte, 'Mar Português' de "Mensagem", Fernando Pessoa celebra outro Fernando, o navegador que, no dia 16 de Março de 1521, chegou às Filipinas. Que melhor homenagem a um português tão enigmático e esquecido?
Fernão de Magalhães
No valle clareia uma fogueira.
Uma dança sacode a terra inteira.
E sombras disformes e descompostas
Em clarões negros do valle vão
Subitamente pelas encostas,
Indo perder-se na escuridão.
De quem é a dança que a noite aterra?
São os Titans, os filhos da Terra,
Que dançam da morte do marinheiro
Que quiz cingir o materno vulto –
Cingil-o, dos homens, o primeiro –,
Na praia ao longe por fim sepulto.
Dançam, nem sabem que a alma ousada
Do morto ainda commanda a armada,
Pulso sem corpo ao leme a guiar
As naus no resto do fim do espaço:
Que até ausente soube cercar
a terra inteira com seu abraço.
iolou a Terra. Mas elles não
O sabem, e dançam na solidão;
E sombras disformes e descompostas,
Indo perder-se nos horizontes,
Galgam do valle pelas encostas
Dos mudos montes.
[3]
Camélias!
A partir de hoje, em Sintra, temos camélias em exposição. Quem puder, faça o possível por dar um salto até cá. Não pode ser mais central, no denominado 'Jardim da Preta' do Palácio Nacional (Palácio da Vila) conforme a notícia dealhada que aqui dei.
Indissociáveis da Dama, estas flores para sempre ficarão conotadas com a grande «desviada». Sem Alexandre Dumas, Francesco Maria Piave e Giuseppe Verdi, "La Traviata" jamais seria o paradigma icónico da ópera tout court. Lembrem-se deles, conheçam essa gente fascinante.
Camélias! Para todos! E, em especial, para esta fabulosa Renata Scotto a quem, entre outras personagens, também ouvi numa uinesquecível Violetta Valéry.
Boa audição!
http://youtu.be/2Z7NhCWqPLc
[4]
“Mozart e Salieri",
Rimsky-Korsakov
Hoje é o aniversário do célebre compositor russo Nikolai Rimsky-Korsakov [Tikhvin, 18 de Março de 1844-Lyubensk, 21 de Junho de 1908], de quem conhecerão algumas famosas obras que me dispenso de citar. Duvido, no entanto, que tenham tido o privilégio de ouvir qualquer gravação e, muito menos, de assistir a qualquer representação das duas cenas de “Mozart e Salieri”, pequena ópera de Acto único, cujo libreto foi quase totalmente extraído da homónima peça de Alexander Puskin.
Vem a propósito manifestar quanto, à limitada escala das minhas possibilidades, me tenho esforçado no sentido de repor a verdade histórica em relação à suposta rivalidade entre Mozart e Salieri. Aqueles que têm lido os meus textos acerca da matéria sabem que não se trata de tarefa fácil. É que, logo à partida, foi o próprio Salieri quem se encarregou de propalar a ideia de que teria sido o assassino de Mozart.
Com a caligrafia de Beethoven foram encontradas algumas notas manuscritas – não cartas, como inicialmente se chegou a supor – meros papéis dentre os muitos de que o grande surdo se servia para comunicar, em que registou aquela convicção de um senil e demente Salieri, o mesmo Salieri que fora seu brilhante professor. Estava lançada a lenda e fazia caminho galopante.
Reparem que, em 1830, apenas passados cinco anos sobre a morte de Salieri, já Puskin tinha publicado a peça referida. Nesta saga de fictícios elos, eis que aparece Rimsky-Korsakov. Seguir-se-ão o dramaturgo Peter Schäffer, com a peça “Amadeus” e Milos Forman, que realiza o filme cujo argumento é naquela baseado.
Todos estaviveram no seu direito de fantasiar e de ficcionar o que muito bem lhes deu na real gana. Nada nem ninguém os obrigava ao respeito pela Verdade. Embora a Arte possa coincidir com a Verdade, tal não é condição necessária. Dá que pensar, isso sim, que a geral ignorância de uma época, precisamente a nossa, tivesse acolhido, como verdadeiros, alguns passos, quer de Salieri quer de Mozart, que nada têm de biográfico e que, aliás, não era suposto que tivessem…
Voltemos à esquecidíssima ópera, hoje em dia tornada pouco mais do que mera curiosidade. Em Moscovo, na sua estreia russa, em 1898, o barítono de serviço, assumindo a personagem de Salieri, foi o mítico Fyodor Shalyapin. Histórico também é o documento cujo visionamento agora vos proponho, já que se reporta à primeira apresentação da obra em Nova Iorque no Chamber Opera Theatre, numa produção excelente que contou com Joseph Shore e Ron Gentry, dois formidáveis cantores, como terão oportunidade de verificar.
Trata de uma raridade. Vale bem a pena dedicar-lhe o melhor da vossa atenção. Rimsky-Korsakov, o compositor celebrado neste 18 de Março, é um gigante que bem merece o destaque. Não hesitou ele em incorporar directas referências a "Don Giovanni" e à "Missa de Requiem" de Mozart na partitura, atitude de humildade que também não pode deixar de se assinalar.
Bom visionamento, boa audição!
http://youtu.be/QdMUBz55Ly8
[1]
Efeméride mozartiana
Numa quinta feira, dia 15 de Março de 1770, aos quatorze anos, Mozart completava o seu primeiro quarteto de cordas, em Sol Maior, KV. 80. Ao contrário do costume na época, o jovem compositor inicia a obra com um andamento lento, um Adagio de seis minutos que, na economia de uma peça cuja duração total é de cerca de um quarto de hora, é evidentemente longo. É precisamente neste primeiro andamento que evidencia uma maturidade verdadeiramente surpreendente.
A interpretação deste excerto da peça, que apenas compreende o referido Adagio e o Allegro seguinte, está a cargo do Quarteto Casals [que, como já tive oportunidade de referir, esteve na Gulbenkian recentemente].
Boa audição!
http://youtu.be/jpumSTiMdUE
[2]
No outro lado do Mundo
In VIII, Segunda Parte, 'Mar Português' de "Mensagem", Fernando Pessoa celebra outro Fernando, o navegador que, no dia 16 de Março de 1521, chegou às Filipinas. Que melhor homenagem a um português tão enigmático e esquecido?
Fernão de Magalhães
No valle clareia uma fogueira.
Uma dança sacode a terra inteira.
E sombras disformes e descompostas
Em clarões negros do valle vão
Subitamente pelas encostas,
Indo perder-se na escuridão.
De quem é a dança que a noite aterra?
São os Titans, os filhos da Terra,
Que dançam da morte do marinheiro
Que quiz cingir o materno vulto –
Cingil-o, dos homens, o primeiro –,
Na praia ao longe por fim sepulto.
Dançam, nem sabem que a alma ousada
Do morto ainda commanda a armada,
Pulso sem corpo ao leme a guiar
As naus no resto do fim do espaço:
Que até ausente soube cercar
a terra inteira com seu abraço.
iolou a Terra. Mas elles não
O sabem, e dançam na solidão;
E sombras disformes e descompostas,
Indo perder-se nos horizontes,
Galgam do valle pelas encostas
Dos mudos montes.
[3]
Camélias!
A partir de hoje, em Sintra, temos camélias em exposição. Quem puder, faça o possível por dar um salto até cá. Não pode ser mais central, no denominado 'Jardim da Preta' do Palácio Nacional (Palácio da Vila) conforme a notícia dealhada que aqui dei.
Indissociáveis da Dama, estas flores para sempre ficarão conotadas com a grande «desviada». Sem Alexandre Dumas, Francesco Maria Piave e Giuseppe Verdi, "La Traviata" jamais seria o paradigma icónico da ópera tout court. Lembrem-se deles, conheçam essa gente fascinante.
Camélias! Para todos! E, em especial, para esta fabulosa Renata Scotto a quem, entre outras personagens, também ouvi numa uinesquecível Violetta Valéry.
Boa audição!
http://youtu.be/2Z7NhCWqPLc
[4]
“Mozart e Salieri",
Rimsky-Korsakov
Hoje é o aniversário do célebre compositor russo Nikolai Rimsky-Korsakov [Tikhvin, 18 de Março de 1844-Lyubensk, 21 de Junho de 1908], de quem conhecerão algumas famosas obras que me dispenso de citar. Duvido, no entanto, que tenham tido o privilégio de ouvir qualquer gravação e, muito menos, de assistir a qualquer representação das duas cenas de “Mozart e Salieri”, pequena ópera de Acto único, cujo libreto foi quase totalmente extraído da homónima peça de Alexander Puskin.
Vem a propósito manifestar quanto, à limitada escala das minhas possibilidades, me tenho esforçado no sentido de repor a verdade histórica em relação à suposta rivalidade entre Mozart e Salieri. Aqueles que têm lido os meus textos acerca da matéria sabem que não se trata de tarefa fácil. É que, logo à partida, foi o próprio Salieri quem se encarregou de propalar a ideia de que teria sido o assassino de Mozart.
Com a caligrafia de Beethoven foram encontradas algumas notas manuscritas – não cartas, como inicialmente se chegou a supor – meros papéis dentre os muitos de que o grande surdo se servia para comunicar, em que registou aquela convicção de um senil e demente Salieri, o mesmo Salieri que fora seu brilhante professor. Estava lançada a lenda e fazia caminho galopante.
Reparem que, em 1830, apenas passados cinco anos sobre a morte de Salieri, já Puskin tinha publicado a peça referida. Nesta saga de fictícios elos, eis que aparece Rimsky-Korsakov. Seguir-se-ão o dramaturgo Peter Schäffer, com a peça “Amadeus” e Milos Forman, que realiza o filme cujo argumento é naquela baseado.
Todos estaviveram no seu direito de fantasiar e de ficcionar o que muito bem lhes deu na real gana. Nada nem ninguém os obrigava ao respeito pela Verdade. Embora a Arte possa coincidir com a Verdade, tal não é condição necessária. Dá que pensar, isso sim, que a geral ignorância de uma época, precisamente a nossa, tivesse acolhido, como verdadeiros, alguns passos, quer de Salieri quer de Mozart, que nada têm de biográfico e que, aliás, não era suposto que tivessem…
Voltemos à esquecidíssima ópera, hoje em dia tornada pouco mais do que mera curiosidade. Em Moscovo, na sua estreia russa, em 1898, o barítono de serviço, assumindo a personagem de Salieri, foi o mítico Fyodor Shalyapin. Histórico também é o documento cujo visionamento agora vos proponho, já que se reporta à primeira apresentação da obra em Nova Iorque no Chamber Opera Theatre, numa produção excelente que contou com Joseph Shore e Ron Gentry, dois formidáveis cantores, como terão oportunidade de verificar.
Trata de uma raridade. Vale bem a pena dedicar-lhe o melhor da vossa atenção. Rimsky-Korsakov, o compositor celebrado neste 18 de Março, é um gigante que bem merece o destaque. Não hesitou ele em incorporar directas referências a "Don Giovanni" e à "Missa de Requiem" de Mozart na partitura, atitude de humildade que também não pode deixar de se assinalar.
Bom visionamento, boa audição!
http://youtu.be/QdMUBz55Ly8
quinta-feira, 15 de março de 2012
Liszt,
intemporal
Podem procurar à vontade. Só nas mãos de Alfred Brendel esta peça tem tanta luz, só ele a consegue racionalizar deste modo, elevando-a à esfera do espiritual. Na mais nobre acepção da pianística lisztiana, o 'intelectual' Brendel desmaterializa esta "Bagatelle sans tonalité". Ouçam e repitam até a sentirem na «vossa tonalidade»...
Boa audição!
tp://youtu.be/cwS4kyGl1nE
Mozart,
duas Árias célebres [I]
Está visto que o dia 8 de Março era muito propício à manifestação do génio de Mozart no domínio das Árias de concerto. Com o intervalo de dez anos, datadas de 1781 e 1791, eis duas das mais interessantes composições do género, respectivamente, “Misera, dove son!“ – Ah! non son io che parlo“ para soprano, KV 369 e “Per questa bella mano” para voz de Barítono e Contrabaixo obligato, KV 612.
Portanto, estamos em presença não de uma mas de duas efemérides que nos cumpre celebrar através das melhores interpretações que me foi possível encontrar. Quanto à primeira, a opção «definitiva» é a de Gundula Janowitz. Como verificarão, com texto de Metastasio, nesta peça temos todo um curso de canto mozartiano. No meu caso pessoal, há quase cinquenta anos, lhe devo o melhor Mozart que ouvi desde então, sendo justo assinalar que faz parte de uma tríade de ouro, juntamente com a Schwarzkopf e Stich-Randall.
Aqui têm a primeira peça. A vossa atenção também para a segunda que vos é proposta, já de seguida, em post separado.Boa audição!
http://youtu.be/0AJ6M1EaQ6Q
Mozart,
Duas Árias célebres [II]
Quanto à segunda Ária, devo confessar-vos uma especial preferência. Neste caso, dentre as perfeitamente excepcionais características da composição, destacarei a mestria de Mozart no domínio daquele que, aparentemente, é o pesado contrabaixo, um quase mastodonte condenado à emissão dos mais graves registos das cordas que o compositor emancipa através de uma proposta fascinante.
Tenham em consideração que estamos em Março de 1791, o último ano da curta vida de Mozart.É a derradeira Ária de concerto que compõe. Ouçam como é possível fazer soar um contrabaixo, com tão inquestionável mas surpreendente ligeireza. E reparem como os graves registos do instrumento e da voz se encontram em terreno tão propício. Mozart, em Viena, começara a pensar em Die Zauberflöte [A Flauta Mágica].
Tinha à sua disposição a voz excepcional de Franz Gerl, o barítono que assumiria o primeiro desempenho de Sarastro e o virtuosismo de Friedrich Pichelberger, chefe de naipe dos contrabaixos da orquestra do Theater auf der Wieden onde aquela ópera seria estreada.
Acompanhem-me nesta obra sublime e verifiquem como o virtuosismo, quando não é apenas tecnicismo – aliás, absolutamente indispensável para atingir o efeito que Mozart pretende, através de uma imparável sucessão de arpejos e de cordas duplas em terças no contrabaixo – nos remete para as culminâncias da Arte mais cativante.
Nesta gravação que vos proponho Thomas Quasthoff é «a voz» e Christoph Anacker o contrabaixista. A orquestra é a da Staatskapelle Berlin dirigida por Julien Salemkour.Bom visionamento, boa audição!
http://youtu.be/00k1i07ys8A
duas Árias célebres [I]
Está visto que o dia 8 de Março era muito propício à manifestação do génio de Mozart no domínio das Árias de concerto. Com o intervalo de dez anos, datadas de 1781 e 1791, eis duas das mais interessantes composições do género, respectivamente, “Misera, dove son!“ – Ah! non son io che parlo“ para soprano, KV 369 e “Per questa bella mano” para voz de Barítono e Contrabaixo obligato, KV 612.
Portanto, estamos em presença não de uma mas de duas efemérides que nos cumpre celebrar através das melhores interpretações que me foi possível encontrar. Quanto à primeira, a opção «definitiva» é a de Gundula Janowitz. Como verificarão, com texto de Metastasio, nesta peça temos todo um curso de canto mozartiano. No meu caso pessoal, há quase cinquenta anos, lhe devo o melhor Mozart que ouvi desde então, sendo justo assinalar que faz parte de uma tríade de ouro, juntamente com a Schwarzkopf e Stich-Randall.
Aqui têm a primeira peça. A vossa atenção também para a segunda que vos é proposta, já de seguida, em post separado.Boa audição!
http://youtu.be/0AJ6M1EaQ6Q
Mozart,
Duas Árias célebres [II]
Quanto à segunda Ária, devo confessar-vos uma especial preferência. Neste caso, dentre as perfeitamente excepcionais características da composição, destacarei a mestria de Mozart no domínio daquele que, aparentemente, é o pesado contrabaixo, um quase mastodonte condenado à emissão dos mais graves registos das cordas que o compositor emancipa através de uma proposta fascinante.
Tenham em consideração que estamos em Março de 1791, o último ano da curta vida de Mozart.É a derradeira Ária de concerto que compõe. Ouçam como é possível fazer soar um contrabaixo, com tão inquestionável mas surpreendente ligeireza. E reparem como os graves registos do instrumento e da voz se encontram em terreno tão propício. Mozart, em Viena, começara a pensar em Die Zauberflöte [A Flauta Mágica].
Tinha à sua disposição a voz excepcional de Franz Gerl, o barítono que assumiria o primeiro desempenho de Sarastro e o virtuosismo de Friedrich Pichelberger, chefe de naipe dos contrabaixos da orquestra do Theater auf der Wieden onde aquela ópera seria estreada.
Acompanhem-me nesta obra sublime e verifiquem como o virtuosismo, quando não é apenas tecnicismo – aliás, absolutamente indispensável para atingir o efeito que Mozart pretende, através de uma imparável sucessão de arpejos e de cordas duplas em terças no contrabaixo – nos remete para as culminâncias da Arte mais cativante.
Nesta gravação que vos proponho Thomas Quasthoff é «a voz» e Christoph Anacker o contrabaixista. A orquestra é a da Staatskapelle Berlin dirigida por Julien Salemkour.Bom visionamento, boa audição!
http://youtu.be/00k1i07ys8A
quarta-feira, 14 de março de 2012
Sócrates,
imensa cloaca
Alimentada por um esterco que parece não dar sinais de estancar, a imensa cloaca continua a encher. De modo algum, será caso para admirar. Aliás, alguém esperaria que, pelo facto de se ausentar para parte certa, o cidadão Sócrates deixaria de fornecer ao caneiro o manancial inesgotável de controvérsia e polémica que constituem a marca indelével de um protagonismo caracterizado pelas piores razões?
Faltava o episódio da deslealdade institucional? Provavelmente, faltava. Por vezes, nestas lusas paragens, como bem se tem verificado nas mais diversas ocasiões, só quando transborda o esgoto e já tudo fede em redor, obrigando o pessoal a pisar os dejectos, então se fecha a comporta por onde purga a trampa. No caso em apreço, infelizmente, parece não se ter alcançado ainda esse ponto…
Apesar de, num contexto político muito medíocre, o assunto já ter sido explorado até à náusea, na fase final do segundo governo que Sócrates chefiou, disso se tendo encarregado a rasteira classe política nacional, sempre muitíssimo bem acolitada por uma comunicação social de péssimo extracto, a questão foi agora inabilmente repescada por um Presidente da República que continua dando sobejas provas de falta de sentido de Estado, num momento totalmente desadequado.
Não tenho a menor dúvida em alinhar com todos quantos consideram que, de facto, o então Primeiro Ministro actuou em flagrante delito de deslealdade institucional . Também considero que, coerente e consequentemente, a o Presidente da República apenas restava a solução de demitir Sócrates. Afinal, por muito menos, Jorge Sampaio, esse sim, soube estar à altura da situação. Naturalmente, não o tendo feito em tempo oportuno, neste momento, a «resposta presidencial» parece coisa de senhora vizinha, ainda que sob a formal aparência de inclusa num prefácio dos anais de Belém…
No meio de tudo isto se evidencia um manifesto testemunho de ofensa – não ao cidadão Aníbal Cavaco Silva, mesmo na sua condição de Presidente da República – mas de deslealdade à própria República. Na realidade, no exercício das altas funções de Chefe do Governo, encarregado da condução da coisa pública [res publica, República] José Sócrates desrespeitou o juramento que oportunamente fizera quando se comprometera a exercer ‘com lealdade’ – faz parte da fórmula – as funções em que fora investido.
Provado ficou que José Sócrates foi desleal à República. Inequivocamente. A História já registou e, para sempre, assim se dirá e constará. No entanto, não menos claramente, a actuação do cidadão Aníbal Cavaco Silva, enquanto Presidente da República, pecou por desrespeito à República e à Constituição da República. Então não se comprometeu ele a cumprir e a fazer cumprir a Constituição da República? Então a assunção deste sagrado princípio não determinaria a liminar demissão do cidadão que protagonizou o episódio de deslealdade à República?
Como, em Portugal, nada é levado às últimas consequências, claro que a resposta só pode ser negativa. Por outro lado, como a cloaca não transbordou, não cheira muito mal e ainda ninguém está suficientemente atolado na porcaria, vai ser preciso aguardar pelos episódios da licenciatura feita às três pancadas que já voltou à baila, pelo andamento dos processos Face Oculta, Freeport e Cova da Beira cuja procissão ainda não saiu do adro e sei lá o que mais. O que não falta é matéria para parangonas de jornais e abertura de telejornais…
imensa cloaca
Alimentada por um esterco que parece não dar sinais de estancar, a imensa cloaca continua a encher. De modo algum, será caso para admirar. Aliás, alguém esperaria que, pelo facto de se ausentar para parte certa, o cidadão Sócrates deixaria de fornecer ao caneiro o manancial inesgotável de controvérsia e polémica que constituem a marca indelével de um protagonismo caracterizado pelas piores razões?
Faltava o episódio da deslealdade institucional? Provavelmente, faltava. Por vezes, nestas lusas paragens, como bem se tem verificado nas mais diversas ocasiões, só quando transborda o esgoto e já tudo fede em redor, obrigando o pessoal a pisar os dejectos, então se fecha a comporta por onde purga a trampa. No caso em apreço, infelizmente, parece não se ter alcançado ainda esse ponto…
Apesar de, num contexto político muito medíocre, o assunto já ter sido explorado até à náusea, na fase final do segundo governo que Sócrates chefiou, disso se tendo encarregado a rasteira classe política nacional, sempre muitíssimo bem acolitada por uma comunicação social de péssimo extracto, a questão foi agora inabilmente repescada por um Presidente da República que continua dando sobejas provas de falta de sentido de Estado, num momento totalmente desadequado.
Não tenho a menor dúvida em alinhar com todos quantos consideram que, de facto, o então Primeiro Ministro actuou em flagrante delito de deslealdade institucional . Também considero que, coerente e consequentemente, a o Presidente da República apenas restava a solução de demitir Sócrates. Afinal, por muito menos, Jorge Sampaio, esse sim, soube estar à altura da situação. Naturalmente, não o tendo feito em tempo oportuno, neste momento, a «resposta presidencial» parece coisa de senhora vizinha, ainda que sob a formal aparência de inclusa num prefácio dos anais de Belém…
No meio de tudo isto se evidencia um manifesto testemunho de ofensa – não ao cidadão Aníbal Cavaco Silva, mesmo na sua condição de Presidente da República – mas de deslealdade à própria República. Na realidade, no exercício das altas funções de Chefe do Governo, encarregado da condução da coisa pública [res publica, República] José Sócrates desrespeitou o juramento que oportunamente fizera quando se comprometera a exercer ‘com lealdade’ – faz parte da fórmula – as funções em que fora investido.
Provado ficou que José Sócrates foi desleal à República. Inequivocamente. A História já registou e, para sempre, assim se dirá e constará. No entanto, não menos claramente, a actuação do cidadão Aníbal Cavaco Silva, enquanto Presidente da República, pecou por desrespeito à República e à Constituição da República. Então não se comprometeu ele a cumprir e a fazer cumprir a Constituição da República? Então a assunção deste sagrado princípio não determinaria a liminar demissão do cidadão que protagonizou o episódio de deslealdade à República?
Como, em Portugal, nada é levado às últimas consequências, claro que a resposta só pode ser negativa. Por outro lado, como a cloaca não transbordou, não cheira muito mal e ainda ninguém está suficientemente atolado na porcaria, vai ser preciso aguardar pelos episódios da licenciatura feita às três pancadas que já voltou à baila, pelo andamento dos processos Face Oculta, Freeport e Cova da Beira cuja procissão ainda não saiu do adro e sei lá o que mais. O que não falta é matéria para parangonas de jornais e abertura de telejornais…
quarta-feira, 7 de março de 2012
CAMÉLIAS EM EXPOSIÇÂO
É com o maior gosto que divulgo a iniciativa cujo elucidativo detalhe me dispensa de maior introdução. Naturalmente, trata-se de um evento programado pela Parques de Sintra Monte da Lua. Como vem sendo habitual, de excelente qualidade, a informação chegou-me através da Coordenadora dos Serviços de Comunicação, Maria do Céu Alcaparra a quem, mais uma vez, saúdo.
Exposição de Camélias - Sintra 2012 (17-18 março)
As melhores Camélias expostas em Sintra
Exposição e Concurso nos Jardins do Palácio Nacional de Sintra
Quintas históricas e produtores expõem as suas melhores Camélias
Prémios: Melhor Camélia de origem Portuguesa e Melhor Camélia
Parceria Parques de Sintra, Pal. Nac. Sintra e Assoc. Port. de Camélias
A Parques de Sintra, o Palácio Nacional de Sintra e a Associação Portuguesa de Camélias apresentarão, a 17 e 18 de março, a II Exposição de Camélias – Sintra 2012. Esta exposição e concurso, a ter lugar no Palácio Nacional de Sintra, contará com diversas Quintas históricas e produtores de camélias, e incluirá a atribuição de prémios para os melhores lotes de flores apresentadas.
Assim, um júri composto por Dra. Joana Andresen Guedes (Presidente da Associação Portuguesa de Camélias), Prof. António Lamas, (Presidente do Conselho de Administração da Parques de Sintra), e Dr. Inês Ferro (Diretora do Palácio Nacional de Sintra), bem como diversos especialistas em Camélias, irá avaliar a qualidade e beleza (como critérios de avaliação) dos lotes de flores apresentadas, atribuindo prémios não só para a Melhor Camélia como para a Melhor Camélia de uma variedade de origem Portuguesa.
Até Abril, os parques, quintas e jardins de Sintra são animados pelas graciosas flores das “japoneiras”, sendo estas o ex-libris do Inverno sintrense, motivo para bailes e festas. A introdução de Camélias em Sintra (Parque da Pena) e o gosto pelo cultivo de variedades no século XIX deveu-se fundamentalmente a D. Maria II e a D. Fernando II.
Muitas destas variedades foram batizadas com nomes de membros da Família Real, em reconhecimento e como forma de divulgação das Camélias em todo o país, sobretudo no Norte, onde o clima era também favorável ao seu cultivo. Assim, encontramos rainhas, ‘Dona Maria II, Rainha de Portugal’ (1865, vermelha – cor de cereja), ‘Dona Maria Pia, Rainha de Portugal’ (branca virgem com riscas de carmesim); princesas: ‘Princeza D. Amelia’ (1865, branca pura), ‘Princeza Real’ (1865, vermelha – cor de cereja com manchas brancas); os infantes: ‘Dom Carlos Fernando (Príncipe Real)’ (1865, cor de rosa delicado), ‘Infante Dom Augusto’ (1865, cor de rosa com riscas brancas); e os reis e imperadores: ‘Dom Pedro V, Rei de Portugal’ (1872, branca pura com marcas e riscas cor de rosa), ‘Dom Pedro, Imperador do Brazil’ (1865, branca com riscas carmesim), e não faltando a Condessa d’Edla (1872, branca pura).
Em Sintra, a presença de Camélias é ainda hoje muito importante, e esta exposição vem permitir a promoção científica da enorme coleção de Camélias existente na área. Estas coleções são objeto de estudo, classificação e recuperação com o objetivo de vir a ser os mais importantes acervos de variedades históricas portuguesas no sul do país.
Horário:
17 de março - 14h30 - 17h30
18 de março - 10h00 - 17h30
Entrada livre nos jardins do Palácio Nacional de Sintra
Informações ao público: 21 923 73 00 / npa@parquesdesintra.pt
segunda-feira, 5 de março de 2012
Hojotoho!!
Provavelmente já conhecerão este episódio. Tal como no caso do video anterior, aconteceu durante a gala do jubileu dos 25 anos de James Levine na direcção do Met de New York. A História da Música também se faz a partir de eventos como este.
Birgit Nilsson que vi e ouvi várias vezes - uma das quais em Lisboa, no São Carlos, na única récita de "Crepúsculo dos Deuses" que cantou em Lisboa, se não me engano, em 1977, ainda contratada por João de Freitas Branco - foi «só» a grande voz, não só wagneriana, do século vinte. Escutem as palavras da diva ao maestro.
Mesmo no fim deste documento, aos setenta e oito anos, ouçam um ar da sua graça... Porém, aqui, o que conta é o belíssimo testemunho de amizade e de cumplicidade na Arte.
http://youtu.be/aQQY6GP5Pn0
Nilsson verdiana
Bem, já que estou numa de Nilsson, a provar que não era apenas a proverbial wagneriana, ei-la, verdiana, em Lady Macbeth, 'Nel di della vittoria'. Uma lição!
http://youtu.be/xHdaUASO9Pc
Génio
Não, não estou numa de 'mano-a-mano'. Comparar Callas e Nilsson? Precisamente, na mesma Ária, é verdade, mas sem esse exercício de comparação. O génio é único. Incomparável. E, neste caso, como podem verificar, o génio também erra. Callas errava bastante mas não deixava de ser genial...
http://youtu.be/8oOZmKbNMDI
E a Verrett?
Sempre na mesma Ária. Esta produção do Abbado/Strehler é considerada perfeitamente antológica. No entanto, há quem considere que, apesar da voz fabulosa, Shirley Verrett não «mordia» suficientemente as palavras desta cena ímpar, escapando-lhe o efeito da malícia absoluta que a personagem transpirava por todos os poros. Olhem que não deixa de ser uma douta opinião.
http://youtu.be/i6wpV4_g84M
Verrett vs Verrett?
Quando fizerem comparações, tenham em consideração como cantar no contexto de uma produção no palco é diferente de um concerto, como neste caso. E, por favor, não façam comparações com gravações em estúdio.
http://youtu.be/5I4wBGRHoI8
Nel di della vittoria,
como «ler» x 4?
Sendo admissível pronunciarem-se acerca de cada uma das anteriores quatro propostas, concedam a possibilidade de, igualmente, as entenderem como integrantes de uma infinitude poligonal de hipóteses. Contudo, no caso vertente, para comodidade de análise, a perspectiva do ilimitado confinou-se, reduziu-se a um aspecto tetraédrico.
sexta-feira, 2 de março de 2012
Arvo Pärt,
“Fratres”
Começo pelos intérpretes, Hortus Musicus, um conjunto de música de câmara da Estónia, fundado há precisamente quarenta anos por Andres Mustonen que, na altura, estudava violino no Conservatório de Tallin.
O grupo especializou-se na designada Música Antiga, privilegiando o canto gregoriano, os motetes, música do renascimento, incluindo canções e vilancicos franceses, madrigais italianos, etc. Outra vertente do seu empenho concentra-se no reportório de peças contemporâneas que, em muitas circunstâncias, lhe foram expressamente dedicadas.
Naquele último contexto, se inclui “Fratres”, a peça cuja audição vos proponho. Trata-se de música extremamente ‘simples’, qual sucessão de acordes, alternando com secção de percussão, ao longo da qual vão ocorrendo mudanças que resultam de mínimas mas muito sofisticadas alterações no ritmo e na dinâmica.
Para onde nos leva Pärt? Certamente que para uma plataforma de 'religiosidade' em que, com Hortus Musicus, os próprios instrumentos também propiciam uma significativa vertente de viagem no tempo, muito enriquecedora da verdade da obra que, na sua universalidade, não tem tempo.
Boa audição!
http://youtu.be/dMz_rEr372M
“Fratres”
Começo pelos intérpretes, Hortus Musicus, um conjunto de música de câmara da Estónia, fundado há precisamente quarenta anos por Andres Mustonen que, na altura, estudava violino no Conservatório de Tallin.
O grupo especializou-se na designada Música Antiga, privilegiando o canto gregoriano, os motetes, música do renascimento, incluindo canções e vilancicos franceses, madrigais italianos, etc. Outra vertente do seu empenho concentra-se no reportório de peças contemporâneas que, em muitas circunstâncias, lhe foram expressamente dedicadas.
Naquele último contexto, se inclui “Fratres”, a peça cuja audição vos proponho. Trata-se de música extremamente ‘simples’, qual sucessão de acordes, alternando com secção de percussão, ao longo da qual vão ocorrendo mudanças que resultam de mínimas mas muito sofisticadas alterações no ritmo e na dinâmica.
Para onde nos leva Pärt? Certamente que para uma plataforma de 'religiosidade' em que, com Hortus Musicus, os próprios instrumentos também propiciam uma significativa vertente de viagem no tempo, muito enriquecedora da verdade da obra que, na sua universalidade, não tem tempo.
Boa audição!
http://youtu.be/dMz_rEr372M
Gala Mozart
Aí têm a oportunidade de assistir a um evento absolutamente excepcional, um daqueles que só é possível em Salzburg. Estamos em Salzburg, por altura do 250º aniversário de Mozart.
Orquestra Filarmónica de Viena, maestro Daniel Harding. Vozes de Anna Netrtebko, Ekaterina Siurina, Magdalena Kozena, Michael Schade, Patricia Petibon, René Pape, Thomas Hampson.
Uma rara concentração de tantos talentos. A vossa especial atenção para Michael Schade. Este é «o» tenor mozartiano em toda a acepção do termo.[aparece aos 13' 33'']. Já não é a primeira vez que o destaco. Merece, de facto. É um paradigma no reportório mozartiano.
Boa audição!
ttp://youtu.be/9_kAJyHdc48A Mozart Gala from Salzburg
youtu.be
Aí têm a oportunidade de assistir a um evento absolutamente excepcional, um daqueles que só é possível em Salzburg. Estamos em Salzburg, por altura do 250º aniversário de Mozart.
Orquestra Filarmónica de Viena, maestro Daniel Harding. Vozes de Anna Netrtebko, Ekaterina Siurina, Magdalena Kozena, Michael Schade, Patricia Petibon, René Pape, Thomas Hampson.
Uma rara concentração de tantos talentos. A vossa especial atenção para Michael Schade. Este é «o» tenor mozartiano em toda a acepção do termo.[aparece aos 13' 33'']. Já não é a primeira vez que o destaco. Merece, de facto. É um paradigma no reportório mozartiano.
Boa audição!
ttp://youtu.be/9_kAJyHdc48A Mozart Gala from Salzburg
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Mozart,
outra efeméride
Com texto de Metastasio, uma Ária datada de Milão, primeiro de Março de 1770. Aos quatorze anos, apenas mais uma peça de confirmação do génio. Neste registo, Lucia Popp, irrepreensível.
Boa audição!
http://youtu.be/s6nvdWQzqk0
Mozart - Aria for Soprano and Orchestra "Per pietà, bell'idol mio" in C KV 78 - Andante con moto
youtu.be
quinta-feira, 1 de março de 2012
Parsifal,
o máximo
Ora aqui têm os meus amigos uma leitura do Prelúdio ao primeiro acto de "Parsifal" de Richard Wagner. É Barenboim quem conduz a estupenda Orquestra do Festival de Bayreuth que, como sabem, é constituída pelos melhores músicos, provenientes das melhores orquestras alemãs, recrutados para o efeito do festival, entre fim de Julho e Agosto. Só por curiosidade, em 1987, tive oportunidade, em Bayreuth, de ouvir esta mesma ópera, sob direcção de Daniel Barenboim.
Lá mesmo, tenho ouvido outras melhores e outras piores abordagens de "Parsifal".
Não deixa de ser curioso que o grande 'arquitecto' que Richard Wagner também foi, tivesse pretendido que, no seu teatro, em Bayreuth, nem orquestra nem maestro aparecessem aos olhos do público no sentido de evitar um factor distractivo e que, nesta gravação, toda a atenção esteja focalizada no maestro...Enfim, não deixa de constituir uma certa forma de perversão dos propósitos do Wagner, grande demiurgo.
Quanto à música, chamaria a vossa atenção para a concepção helicoidal, no sentido ascencional, que, desde os primeiros acordes, nos vai elevar à plataforma superior onde, durante horas, permaneceremos imunes à contaminação dos parasitas com que a mundana realidade nos afecta a todo o momento.
Talvez fosse esta - ou, melhor, não só este início mas toda a ópera "Parsifal" - a grande obra dentre toda a Música que conheço, a levar para não sei onde se apenas uma me fosse permitido. Está lá tudo como, por exemplo, a nível da Literatura, o mesmo acontece com "Guerra e Paz" de Tolstói ou "À la Recherche du Temps perdu" de Proust.
Boa audição!
http://youtu.be/7w17MamPY7A
Wagner - Parsifal Act I Prelude_1 youtu.be
Comparando [I]
Venho propor-vos um exercício de comparação. A mesma peça - Concerto para Piano e Orquestra No. 4 de Beethoven, segundo andamento - neste momento, na interpretação de Maria João Pires. Atenção que, já de seguida, terão Artur Pizarro. Mesmo com orquestras e maestros distintos, podem chegar a algumas conclusões.
http://youtu.be/J5oC5_RCaSI
MARIA JOAO PIRES - RICARDO CASTRO - Beethoven
youtu.be
Comparando [II]
Pois. A Orquestra é estupenda, Sir Charles Mackerras a dirigir, enfim, não é bem a mesma coisa do que a Orquestra da Baía, sob a batuta de Ricardo Castro. Mas o exercício de comparação para o qual vos desafiei não é perverso. Concentrem-se e tirem as vossas conclusões.
http://youtu.be/HS4LgImLEg0
Artur Pizarro - Beethoven Piano Concerto No 4 mov II - Mackerras
youtu.be
Fim de comparação!
Naturalmente, jamais esperaria que, após a comparação entre as interpretações do desafio precedente, surgissem conclusões muito doutas, acerca do fraseado, do 'touché', do' legato' ou do 'rubato'...
Se qualquer intenção havia da minha parte, ia apenas no sentido de que, mesmo sem pressupor que aqui viria escrever qualquer comentário, o ouvinte interiorizasse a diferença. A impressão suscitada, essa, merecerá sempre reflexão. Outra coisa bem diferente mas natural e afim, será expressão resultante da mencionada reflexão. Essa será sempre mais simples quando verbalizada em grupo, portanto, presencialmente e, se possível, com a intervenção de um pivô, de um animador que introduza e propicie elementos de análise e facilite a partilha do caminho de acesso a mais conhecimento.
Finalmente, aquilo que considero um presente absolutamente extraordinário. Preparem-se porque vão aceder a uma leitura antológica e muito sábia da mesma peça, portanto, o 2º andamento do Concerto No. 4 de Beethoven, por Wilhelm Backaus, ainda hoje considerado o intérprete de referência desta obra.
Com esta excelente orquestra, a Sinfónica de Viena - atenção que não é a Filarmónica de Viena - e Karl Böhm a dirigir, é um momento de rara Beleza. Ah, pois muito naturalmente, deixa de haver qualquer hipótese de comparação...
Boa audição!
http://youtu.be/AceX_ilPDfs
Beethoven Piano Concerto n. 4 - II mvt. - Wilhelm Backhaus (Piano)
youtu.be
Venho propor-vos um exercício de comparação. A mesma peça - Concerto para Piano e Orquestra No. 4 de Beethoven, segundo andamento - neste momento, na interpretação de Maria João Pires. Atenção que, já de seguida, terão Artur Pizarro. Mesmo com orquestras e maestros distintos, podem chegar a algumas conclusões.
http://youtu.be/J5oC5_RCaSI
MARIA JOAO PIRES - RICARDO CASTRO - Beethoven
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Comparando [II]
Pois. A Orquestra é estupenda, Sir Charles Mackerras a dirigir, enfim, não é bem a mesma coisa do que a Orquestra da Baía, sob a batuta de Ricardo Castro. Mas o exercício de comparação para o qual vos desafiei não é perverso. Concentrem-se e tirem as vossas conclusões.
http://youtu.be/HS4LgImLEg0
Artur Pizarro - Beethoven Piano Concerto No 4 mov II - Mackerras
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Fim de comparação!
Naturalmente, jamais esperaria que, após a comparação entre as interpretações do desafio precedente, surgissem conclusões muito doutas, acerca do fraseado, do 'touché', do' legato' ou do 'rubato'...
Se qualquer intenção havia da minha parte, ia apenas no sentido de que, mesmo sem pressupor que aqui viria escrever qualquer comentário, o ouvinte interiorizasse a diferença. A impressão suscitada, essa, merecerá sempre reflexão. Outra coisa bem diferente mas natural e afim, será expressão resultante da mencionada reflexão. Essa será sempre mais simples quando verbalizada em grupo, portanto, presencialmente e, se possível, com a intervenção de um pivô, de um animador que introduza e propicie elementos de análise e facilite a partilha do caminho de acesso a mais conhecimento.
Finalmente, aquilo que considero um presente absolutamente extraordinário. Preparem-se porque vão aceder a uma leitura antológica e muito sábia da mesma peça, portanto, o 2º andamento do Concerto No. 4 de Beethoven, por Wilhelm Backaus, ainda hoje considerado o intérprete de referência desta obra.
Com esta excelente orquestra, a Sinfónica de Viena - atenção que não é a Filarmónica de Viena - e Karl Böhm a dirigir, é um momento de rara Beleza. Ah, pois muito naturalmente, deixa de haver qualquer hipótese de comparação...
Boa audição!
http://youtu.be/AceX_ilPDfs
Beethoven Piano Concerto n. 4 - II mvt. - Wilhelm Backhaus (Piano)
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