[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sábado, 31 de maio de 2014



Efemérides do coração


Aniversário da nossa filha mais velha. Em 1973, o 31 de Maio foi dia de espiga e Joana a telúrica afirmação de vida, primeira certeza de continuidade que me vem dos confins do tempo para o abismo do infinito.
 
Também hoje faz anos o meu querido José Moraes, amigo de dezenas de anos, colega, companheiro e cúmplice de tantas e boas aventuras de trabalho no Ministério da Educação. Igualmente, pelo seu aniversário, dia de sentir a maior saudade da Maria Clara Antunes Ferreira, que já nos deixou, outra grande amiga que o mundo da Educação me desvendou quando Abril ia dando os primeiros passos.

Outro dia 31 de Maio. De 1809, há mais de duzentos anos. Joseph Haydn partia, deixando-nos um dos mais espantosos legados artísticos de todos os tempos. Eis o compositor a quem mais vezes recorro. Se calhar ainda não vos tinha confessado como e quanto me sinto devedor de Haydn.

Noutra oportunidade convosco partilharei as razões de tanta afinidade.
Celebrarei estas efemérides do coração com música de Haydn. E, para mim, porque o 31 de Maio é Dia de Acção de Graças, pela família e pelos meus amigos, será com uma das suas missas, a “Harmoniemesse”, dele, que escreveu das melhores que conheço.

A interpretação está a cargo da Orquestra e Coro da Rádio da Baviera, sob a direcção de Mariss Jansons, e dos solistas Malin Hartelius, soprano, Judith Schmid, Mezzo, Christian Elsner, Tenor e Franz Joseph Selig, Barítomo.

Boa audição!


http://youtu.be/ra5ds1XiO_0
 


Jeanne d' Arc

30 de Maio

1431 - Aos 19 anos, Jeanne d' Arc morre na fogueira por bruxaria. 

Dia para recordar um dos clássicos da história do cinema. Realizado por Carl Theodor Dreyer em 1928, "La Passion de Jeanne d'Arc" é um filme mudo, baseado no processo de que foi objecto e vítima a heroína e santa francesa. A interpretação de Renée Jeanne Falconetti é um paradigma. Espantosa, a fotografia. Enfim, altamente suspeito na minha avaliação, tenham em consideração que sou um indefectível de Dreyer. Melhor? Sim, "Ordet", de 1955...

Bom visionamento!


http://youtu.be/d3Q6FVhqLY0
 
 



Demolidor


Quem vive no convento é que sabe o que lá vai dentro. No convento. mesmo no convento, não vive Mário Soares. Mas sabe muito bem o que lá vai dentro... Nas suas considerações acerca de António José Seguro e, em particular, do modo como tem sido incapaz de protagonizar uma liderança mobilizadora, saberá melhor do que qualquer observador que as suas palavras são demolidoras.

Quem tem ti...
do a paciência de ler as linhas que, de vez em quando, vou escrevendo acerca da situação político-partidária, sabe perfeitamente que considero AJS um homem falho de ideias, com défice de lastro ideológico, um produto apressado da organização de juventude do PS e, nesse contexto, aliás, com uma génese de líder partidário coincidente com a de PPC.

Mário Soares tem toda, toda a razão. Seguro nem sequer mobiliza o eleitorado total do PS e, portanto, muito menos, o tem feito em relação ao eleitorado flutuante que poderá consignar ao PS uma victória significativa se, em vez dele, tiver um líder mais bem preparado, com algum carisma, o que, de facto, não é difícil...

Considero, igualmente na linha do que, há anos, tenho tido oportunidade de opinar, que devem aparecer, desta vez ao lado de AC, as boas cabeças do Partido. É tempo de deixarem a retranca e de avançarem para junto de quem julga ter condições para ir ao leme. Julgo saber o que acabo de propor. Tenho bons amigos, gente experiente, com grande capacidade em vários domínios, que não podem continuar na sombra.

Apenas uma ressalva final. Nada do que estão lendo pressupõe qualquer atitude de encorajamento ou de colagem à candidatura de António Costa. Neste como em muitos outros assuntos, limito-me a constatar.


Concerto Gulbenkian 


[facebook, 29.05.2014]



Dento de hora e meia, na Gulbenkian, mais um Concerto com Coro e Orquestra Gulbenkian, sob a direcção do maestro titular Paul McCreesh, interpretando a Sinfonia No. 9 em Ré menor, op. 125, "Coral", de Beethoven. No 4º andamento, além do coro, contaremos com as vozes solistas de Annette Dasch, soprano, Virpi Räisänen, mezzo, Noah Stewart, tenor e Florian Boesch.

Como Annette Dasch é muito Salzburg, tenho acompanhado a sua carreira. Aprecio imenso o seu ...
discernimento, as opções, a gestão que tem feito da excelente voz. Embora, nesta peça, seja muito reduzida a sua participação, quem estiver com atenção bem pode aquilatar como estará em presença de uma óptima intérprete.

Agora, para quem sabe Alemão, um documento muito interessante através do qual também podem avaliar as capacidades de animadora de Annette Dasch. Em Salzburg, tenho assistido a propostas análogas, uma das quais aflorei aqui no fb, durante a Mozartwoche de 2012. Mesmo não entendendo as partes faladas, acreditem que vale a pena.

Boa audição!


http://youtu.be/y9ikkt38D34



Totalmente de acordo!


[facebook, 29.05.2014]


Devo ao meu amigo Massimo Mazzeo esta oportuna chamada de atenção. E acrescentaria que, por outro lado, na Europa, no contexto de campanhas de marketing altamente sofisticadas, alguns jovens maestros, enaltecidos como génios prodigiosos, não passam de vulgaríssimos dirigentes que, ao longo da experiência que forem adquirindo, até poderão tornar-se maestros interessantes.


No velho continente, talvez tenhamos dois ou três jovens maestros, com menos de trinta anos, que são mesmo excepcionais. A excepção, pois claro, que confirma a regra. Além da 'escola', na direcção musical, o factor experiência é tão determinante como em todos os domínios profissionais em que as artes se conjugam.
Conductor or automaton? The machining of American orchestra conductors
 
share.d-news.co
Even with advanced degrees, too many American conductors are musical automatons, not expressive musicians.

sexta-feira, 30 de maio de 2014



Efeméride mozartiana

29 de Maio de 1787

A interpretação do documento que hoje temos para partilhar é do maior interesse. Trata-se de Sonata para Piano em Dó para Quatro Mãos, KV. 521 que Mozart compôs para Franziska Jacquin, no dia 29 de Maio de 1787.

Temos o privilégio de assistir à leitura desta peça por dois talentos como Argerich e Kissin. É um especialíssimo momento de encontro que bem vale a pena aproveitar, tentando perceber que cumplicidade se gerou entre os dois. Ouvir, ouvir, repetir. . Para ouvir a obra total, há que acionar os dois comandos [i] e [ii].

Boa audição!


http://youtu.be/URj9NoUDD08 [i)
http://youtu.be/rJV0FNS3HvY [ii]


Leopold Mozart

28 de Maio de 1787

Morria em Salzburg o pai Mozart, Leopold, que nascera em Augsburg em 14 de Novembro de 1719. Um excelente violinista e tão importante pedagogo no universo do violino, que o seu método de ensino ainda actualmente é tido em consideração.

Dele ouçamos a Missa Solemnis em Dó Maior, obra a todos os títulos surpreendente, em que se revela compositor de primeira água, mestre inequívoco do género coral sinfónico de recorte sacro.

São intérpretes:

Arleen Augér, Soprano
Gabriele Schrecknbach, Alto
Horst Laubenthal, Tenor
Barry McDaniel, Baritono
- Roland Bader, Maestro
- Chor der St.Hedwigs - Kathedrale (Berlin), DomKapelle - Berlin


Boa audição!

http://youtu.be/PtvIunhayjM


Da necessidade de ser 'grande'


[facebook, 28.05.2014]

Ontem, entrevistado acerca das perspectivas de mudança de liderança no Partido Socialista, Manuel Alegre disse que, estivesse ele na posição do actual Secretário-Geral, não hesitaria na imediata convocação de um Congresso extraordinário.
 
Será António José Seguro capaz de protagonizar tal atitude ou preferirá deixar que os lideres das distritais vão debitando - não raro, com a dose de veneno qb - opiniões que minam o terreno do debate de ideias em ambiente democrático, tão saudável quanto possível?

Claro que, entre Manuel Alegre e António José Seguro vai tão grande distância que nem me atrevo a propor comparações ou metáforas. Mas quero acreditar que, por si próprio e aceitando a opinião dos melhores conselheiros, AJS acabará por estar à altura do momento. Impondo-se ser 'grande', oxalá não caia em  tentações de diferentes sinais.



Dietrich Fischer Dieskau (1925-2012)
28 de Maio de 1925

[facebook, 28.05.2014]

Faria hoje 89 anos, aquele que considero ter sido «o» barítono do século vinte. Tive o espantoso privilégio de poder assistir a vários eventos por ele protagonizados, momentos de epifania, verdadeiramente memoráveis, que fazem parte do meu tal 'currículo oculto' e de um património individual sem preço atribuível.

Impõe-se ouvi-lo, sempre, cada vez mais, porque insubstituível. A gravação que vos proponho é datada de Londres, Kingsway Hall, 24 e 25 de Junho de 1952, pouco depois de Wihelm Furtwängler ter «descoberto» aquela jovem voz [tinha Fisher-Dieskau 27 anos...] perfeitamente divina. O mítico maestro dirige a Philharmonia Orchestra, num programa com os "Lieder eines fahrenden Gesellen" de Gustav Mahler.
 
Deixo-vos com um dos Lied do ciclo, "Die zwei blauen Augen von meinem Schatz", com transcrições do original em Alemão e de tradução para Inglês.


Die zwei blauen Augen von meinem Schatz,
Die haben mich in die weite Welt geschickt.
Da mußt ich Abschied nehmen vom allerliebsten Platz!
O Augen blau, warum habt ihr mich angeblickt?
Nun hab' ich ewig Leid und Grämen.

Ich bin ausgegangen in stiller Nacht
Wohl über die dunkle Heide.
Hat mir niemand Ade gesagt.
Ade! Mein Gesell' war Lieb' und Leide!

Auf der Straße steht ein Lindenbaum,
Da hab' ich zum ersten Mal im Schlaf geruht!
Unter dem Lindenbaum,
Der hat seine Blüten über mich geschneit,
Da wußt' ich nicht, wie das Leben tut,
War alles, alles wieder gut!
Alles! Alles, Lieb und Leid
Und Welt und Traum!


 [Trd. Inglês]

The two blue eyes of my darling -
they have sent me into the wide world.
I had to take my leave of this well-beloved place!
O blue eyes, why did you gaze on me?
Now I will have eternal sorrow and grief.

I went out into the quiet night
well across the dark heath.
To me no one bade farewell.
Farewell! My companions are love and sorrow!

On the road there stands a linden tree,
and there for the first time I found rest in sleep!
Under the linden tree
that snowed its blossoms onto me -
I did not know how life went on,
and all was well again!
All! All, love and sorrow
 and world and dream!



Boa audição!


http://youtu.be/XZ_IAHqbb1E

quarta-feira, 28 de maio de 2014



O PS, em cima da hora!

Acabo de ouvir António Costa, em directo, afirmar que iria contactar o Secretário-Geral do Partido Socialista no sentido de informar que vai disputar a liderança do PS. Finalmente! A ver se, juntamente com António Costa, se perfilam as boas cabeças do PS que tão arredadas têm andado, incapazes de emparceirar com o vazio que se instalou no Largo do Rato.

Há minutos, editei...
o meu texto desta manhã, "Questão de sobrevivência". Permitam que me cite:

"(...) O Partido Socialista tem silenciado demasiadas vozes, lúcidas e pertinentes. Muitos se afastaram, desiludidos, incapazes de suster a vaga de «jotas», não direi acéfalos, mas manifestamente impreparados para as respostas que se impõem aos desafios nacionais e do contexto europeu em que nos inserimos.

O PS só pode e deve aproveitar a oportunidade. Trata-se, creio bem, de uma questão de sobrevivência. Não estarei exagerando se considerar que o Partido Socialista está perante um sério problema de identidade. Como se conhece e reconhece ele em relação ao legado de luta pela causa da Liberdade e pela instalação da Democracia e do Estado Democrático de Direito, legado que recebeu dos «pais fundadores» entre os quais, felizmente, ainda contamos entre nós, a exemplo de Mário Soares e de António Arnaut?

De que modo se enquadra na família socialista ibérica e europeia? Quais são as suas novas, inequívocas e muito concretas propostas nos domínios da Educação, da Justiça, da Saúde, da Defesa, do Trabalho e da Segurança Social, etc, com cronogramas de execução, se fosse governo?

Num país cujo povo tanto está a sofrer, onde há fome e carências de toda a ordem, e impondo-se marcar a actuação política, com inequívocos exemplos de economia de meios de toda a ordem, que devem partir do topo, quais as mordomias que está disposto a prescindir e a propor, tendo em consideração a necessidade de credibilização da classe política?

Identidade, herança, coerência e adequação ao figurino socialista, na matriz da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, pela qual tantos ilustres europeus se têm batido ao longo dos últimos séculos. Ao contrário do que, eventualmente possa parecer, de facto, continua a haver lugar para esta luta, cujo objectivo é a estupenda Utopia da Felicidade do Homem."

Fim de citação. A atitude de António Costa, coincidindo com o preciso momento em que escrevia isto mesmo, surge num momento que só pode ser de ânimo e de encorajamento. Assim haja vontade de protagonizar uma mudança responsável, sem qualquer ponta do folclore habitual que tão pródigo tem sido no sentido de anular as melhores intenções.


Questão de sobrevivência
 
 
[facebook, 27.05.2014]

 Na sequência do pequeno texto que ontem aqui publiquei, subordinado ao título "A marcar a agenda", prevendo inevitáveis movimentações decorrentes dos resultados eleitorais do passado domingo no Largo do Rato, já começaram a aparecer as primeiras reacções dos chamados «pesos pesados» do Partido Socialista. Apenas a título de exemplo, Mário Soares e Victor Ramalho.

Hoje de...
manhã, em entrevista à rádio pública RDP 1, na sequência de uma pergunta acerca da posição de Mário Soares, de quem é considerado muito próximo, Victor Ramalho disse tudo o que havia para dizer, nas linhas e nas entrelinhas, depois das precipitadas e triunfais declarações de Assis e Seguro no passado domingo.

Com a cautela que se lhe conhece, e nos termos da lisura exigível em circunstâncias que tais, Victor Ramalho, além de dar a entender que Seguro não tem estado à altura da situação política que se vive em Portugal nos últimos tempos, também expressou uma opinião muito lúcida acerca de uma eventual substituição do Secretário Geral do PS.

De nada serviria, afirmou ele, mudar de líder sem fazer a profunda reflexão que se impõe. Ou seja, cumpre fazer circular as ideias, na presunção de que as boas cabeças do PS se mobilizem e debitem o que é preciso pôr em comum, não no contexto de um congresso meramente seguidista e triunfalista, mas de um enquadramento susceptível de acolher todas as opiniões, trabalhar as diferenças de perspectiva, em sentido construtivo, sem quaisquer receios.

Estou completamente de acordo. O Partido Socialista tem silenciado demasiadas vozes, lúcidas e pertinentes. Muitos se afastaram, desiludidos, incapazes de suster a vaga de «jotas», não direi acéfalos, mas manifestamente impreparados para as respostas que se impõem aos desafios nacionais e do contexto europeu em que nos inserimos.

O PS só pode e deve aproveitar a oportunidade. Trata-se, creio bem, de uma questão de sobrevivência. Não estarei exagerando se considerar que o Partido Socialista está perante um sério problema de identidade. Como se conhece e reconhece ele em relação ao legado de luta pela causa da Liberdade e pela instalação da Democracia e do Estado Democrático de Direito, legado que recebeu dos «pais fundadores» entre os quais, felizmente, ainda contamos entre nós, a exemplo de Mário Soares e de António Arnaut?

De que modo se enquadra na família socialista ibérica e europeia? Quais são as suas novas, inequívocas e muito concretas propostas nos domínios da Educação, da Justiça, da Saúde, da Defesa, do Trabalho e da Segurança Social, etc, com cronogramas de execução, se fosse governo?

Num país cujo povo tanto está a sofrer, onde há fome e carências de toda a ordem, e impondo-se marcar a actuação política, com inequívocos exemplos de economia de meios de toda a ordem, que devem partir do topo, quais as mordomias que está disposto a prescindir e a propor, tendo em consideração a necessidade de credibilização da classe política?

Identidade, herança, coerência e adequação ao figurino socialista, na matriz da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, pela qual tantos ilustres europeus se têm batido ao longo dos últimos séculos. Ao contrário do que, eventualmente possa parecer, de facto, continua a haver lugar para esta luta, cujo objectivo é a estupenda Utopia da Felicidade do Homem.


A marcar a agenda

[facebook, 26.05.2014]

Ou muito me engano ou, por razões não tão distintas como, em primeira análise, até poderia parecer, os PS ibéricos vão ter de se preparar, com todas as cautelas, para os embates decorrentes dos resultados eleitorais.

Em Madrid, Rubalcaba acaba de se demitir, com o objectivo de suscitar a realização de congresso e eleições internas em Julho. Não tinha alternativa. E, em Lisboa,
onde nunca esteve de pedra e cal, poderá o Secretário-Geral Seguro descansar sobre os louros de uma vitória, certo é que inequívoca mas tão mitigada? Perante o comentário de António Costa, tudo parece possível.

Para já, mesmo ciente de que, neste momento, a Moção de Censura é mera atitude formal, o PCP, esse sim, é que está a marcar a agenda. E, a prová-lo, o facto de o PS não ter alternativa quanto a votá-la. Favoravelmente? Abstendo-se? Votando contra? O PCP assim decidiu, com todo o sentido de oportunidade, e o PS tem de responder. Mais nada!...

ALS LUISE DIE BRIEFE IHRES UNGETREUEN LIEBHABERS VERBRANNTE

26.05.1787

Efeméride mozartiana

[facebook, 26.05.2014]


Esta peça de Mozart, KV 520, é uma canção para soprano com acompanhamento ao piano, que entrou no seu catálogo pessoal no dia 26 de Maio de 1787, altura em que, precisamente, começara a compor “Don Giovanni” e dois dias antes da morte do pai, Leopold. Compô-la Amadé em casa do seu amigo Gottfried von Janequin (1767-1792), a partir de um poema de Gabrielle von Baumberg (1768-1839).

Segue o poema no original Alemão e na tradução para Inglês.


ALS LU
ISE DIE BRIEFE IHRES UNGETREUEN LIEBHABERS VERBRANNTE

Erzeugt von heißer Phantasie,
In einer schwärmerischen Stunde
Zur Welt gebrachte, geht zu Grunde,
Ihr Kinder der Melancholie!

Ihr danket Flammen euer Sein,
Ich geb' euch nun den Flammen wieder,
Und all' die schwärmerischen Lieder,
Denn ach! er sang nicht mir allein.

Ihr brennet nun, und bald, ihr Lieben,
Ist keine Spur von euch mehr hier.
Doch ach! der Mann, der euch geschrieben,—
Brennt lange noch vielleicht in mir.

[Trad. para Inglês]

AS LUISE WAS BURNING THE LETTERS OF HER UNFAITHFUL LOVER

You borne of such hot phantasy,
In revelry and so much gushing
Brought to the world, o perish
You offspring from melancholy!

The flames which made you into being,
I give you now back to the flames,
And all those songs of revelry,
Alas! he sang not just for me.

You cherish'd letters, there you burn,
And soon there is no trace of you.
Alas! the man who once has penn'd you,—
Will possibly burn long in me.

Nesta gravação, Anna Hofmann é acompanhada ao piano por Piotr Wisniewski.

Boa audição!

http://youtu.be/6wefijKGWD0

 
 

segunda-feira, 26 de maio de 2014



Efeméride mozartiana

25 de Maio de 1782


Mozart ceia em casa da Condessa de Thunn. É nesta ocasião que ensaia o primeiro dos concertos no Auergarten de Viena que ocorreria no dia seguinte, com o seguinte programa:

- Concerto para 2 Pianoforti e Orquestra, em Mi bemol Maior (1.allegro, 2.andante, 3.rondò, allegro), KV. 365, em que teria Josephine Auernhammer como co-intérprete;
- Sinfonia Nº 34, KV. 338 em Dó Maior (1.allegro vivace, 2.andante molto, 3.minuetto, allegretto,
4.allegro vivace).

Como vos proporcionei a introdução e comentários à audição de todas as sinfonias de Mozart, hoje apenas me volto para o referido Concerto que, de facto, é uma verdadeira obra-prima. Eis uma das muito boas interpretações disponíveis, por Alfred Brendel e Imogen Cooper, com a Academy of St. Martin-in-the-Fields e Sir Neville Marriner como maestro.

Boa audição!


http://youtu.be/jSRcu7yGVPw

 
 

sábado, 24 de maio de 2014

Quod erat demonstrandum!


Antonio Cazal-Ribeiro*  tem toda a razão. Quando li notícias análogas às do seu comentário, imediatamente, me ocorreu a mesma conclusão. É verdade que nos livrámos do brutal investimento num aeroporto absolutamente escusado, ao qual será necessário acrescentar a desistência da construção de uma terceira travessia sobre o Tejo e de mais uma autoestrada a Sul, além do TGV para Madrid.

Mas ainda andamos às voltas, sem saber o que bem fazer com o aeroporto de Beja… Atravessamos centenas e centenas de quilómetros de autoestradas desertas, que, tendo sido negociadas em regime de PPP, os nossos netos continuarão a pagar sem qualquer hipótese de benefício. E, já agora, decididos pela mesma pessoa, também dotados de campos de futebol, em vários pontos do país, onde, durante anos, não se deu um pontapé nem numa bola de trapos. Mas, como curta é a memória, a maior parte da malta já se esqueceu das façanhas do Euro 2004.

Não tenhamos ilusões. Continuam ao ritmo de sempre os estudos da treta, encomendados à medida, para justificar a inequívoca necessidade de empreendimentos de toda a natureza, quer nos domínios da saúde e da educação quer nos transportes, justiça, defesa e comunicações.

Porque a avidez dos negócios não conhece limites. E, por outro lado, se tiverem todas as necessárias precauções, os intervenientes até podem viver descansadinhos da vida. De facto, como bem sabemos, só muito raramente, por se zangaram algumas comadres ou alguém dar com a língua nos dentes, é que as designadas comissões surdas se transformam em bem sonoras e ribombantes. Nessas alturas até é possível perceber como certos negócios, como o da compra dos submarinos, até poderão ter financiado partidos políticos…


 
* António Cazal-Ribeiro: 700 voos adicionais no Aeroporto da Portela! Sim senhora.
Confirma-se portanto, que um novo aeroporto para Lisboa é desnecessário.
Os milhares de milhões que o governo anterior nos estorrou com estudos de treta...Não haja dúvida que merecemos o que temos!

sexta-feira, 23 de maio de 2014



Efeméride mozartiana

23 de Maio de 1791


Eis uma das peças do último ano de vida de Mozart. Datada de Viena, é  o Adagio e Rondo em Dó Maior para Glassharmonica, flauta, oboé, viola e violoncelo K. 617.

Foi composta para Marianne Kirchgässner, uma célebre virtuose de glassharmonica, cega, que a interpretaria no Teatro Kärtnerthor. Trata-se de obra muito, muito sofisticada, certamente a mais célebre escrita para o curioso instrumento cuja invenção se atribui a Benjamin F...
ranklin. Portanto, a vossa melhor atenção.

Boa audição!


http://youtu.be/BkuUgI6gb9E
 
 



Estacionamento,
civismo e ultramontanismo



Não há muito tempo, alguns comerciantes da zona, reclamavam o estacionamento de viaturas particulares no local. Guardo recortes de imprensa com essas «sugestões» tão civilizadas como primárias para não escrever primitivas e ultramontanas.

É por estas e por outras que sempre relaciono estas atitudes com a iliteracia galopante, que condiciona o acesso à informação, ao esclarecimento, desfavorecendo a lucidez, as práticas civilizadas e cultas indissociáveis do usufruto correcto dos bens patrimoniais de toda a ordem.

Por outro lado, quem pretender equacionar as soluções mais atinentes, ou conta com estes factores de relutância à mudança ou «dá com os burrinhos na água»... Está em curso a discussão pública de um documento da autarquia, acerca do problema do estacionamento, sobre o qual todos os agentes culturais deverão pronunciar-se.

É, aliás, nesse contexto que, sendo agora duas e meia da manhã, ainda estou a trabalhar. Enfim, poderia dar-me para pior...




O estacionamento de carros de volta ao Palácio da Vila em Sintra.
Esperemos que não para ficar...
Andar para trás não!
 
 


quinta-feira, 22 de maio de 2014



Wagner, a Condessa e a Avó


Eis-me, novamente, em mais um 22 de Maio. As efemérides várias que só hoje se comemoram, andam a bailar-me na cabeça há semanas. Muito forte, esta é uma data em que não só se congregam mas também se confundem as celebrações aniversariantes da avó Júlia, de Richard Wagner e da Condessa d’Edla.

Como é meu hábito, celebro esta gente em Sintra. Faço-me ao caminho e vou até à Pena. Mesmo
durante os anos em que permaneceu ruína galopante, era para o Châlet da Condessa que me dirigia. Por ali, sempre encontrei o ambiente propício à minha demanda. Agora, recuperados casa e jardim, diferente a festa.

É precisamente disso que escrevo, da procura e dos encontros. Começo pela avó. Partiu lúcida, com quase cem anos, já no princípio deste século. Sempre muito presente tenho a sua memória que, neste dia, é impossível não conjugar com a dos outros ilustres. Na Pena, a avó leva-me, pela mão. Não tarda muito, encontramos uma sombra, conversa-se e lemos. A avó é a pessoa que mais vezes eu vi ler antes de eu próprio começar a ler.

No ninho de amor, Elise. Leio-lhe um poema de Ruy Belo, de casas vividas. E percebo, sinto a presença da segunda mulher do Rei, a rainha da Pena. Chega-me ela, com a carga de desentendimentos de que foi pública vítima, mas em sossego. Vem, afinal e sempre, superior às desconsiderações de quem a amesquinhou. Ah, minha querida Emília Reis, que elegância a da «nossa amiga»!…

E que posso eu senão confirmar que Richard Wagner anda muito por ali, também de visita? Vejo Elise, lendo os poemas de Mathilde e ouço-a cantá-las para Fernando. Wagner íntimo, este dos Wesendonck, já ensaiando Tristan. Por ali, tal como o outro Richard, nos dá conta de como também muito o impressiona esta réplica do jardim do grande feiticeiro. Passada a prova das Blumenmädchen, logo nos espreita Parsifal.

Para mim, que caso tão sério este de celebrar Wagner! É coisa a que me habituei desde miúdo. Grandes wagnerianos eram o avô Albano - um bom pianista amador, que tocava imensas reduções ao piano de temas do grande compositor, nomeadamente as subscritas por Liszt - e meu pai, que não seguindo a carreira musical, tinha o curso superior de violino e ciências musicais. Ouvir tocar um e outro, escutar gravações de óperas de Wagner, em discos que o pai importava directamente para si e seus amigos, eram atitudes muito habituais, aquilo que poderia designar como verdadeiramente familiares.

De facto, tive esta sorte enorme. Mas, como já tenho contado, convivência tão precoce com o universo wagneriano, quase me afectava. Pelos meus treze, quatorze anos, deu-me para ouvir Tannhäuser obcessivamente. Vindo do Liceu, lembro-me de chegar a casa naquela mira de me fechar no quarto a ouvir, não só a avassaladora Abertura, mas também 'Geliebter, komm!' ou 'Wie Todesahnung-O du mein holder Abendstern'. A coisa atingiu tal dimensão que minha mãe chegou a temer pela minha sanidade mental.

Bayreuth, por onde peregrino há dezenas de anos, muito naturalmente, também é hábito que ganhei em família. Não, não sei se conseguirão imaginar o desgosto por não poder ter concretizado o projecto de lá estar, exactamente no ano jubilar de 2013. Depois da fractura da perna, porque ainda estava em recuperação, não foi possível. De qualquer modo, Wagner é em qualquer lugar e quase todos os dias. Enfim, julgo que já terei recuperado…

Ainda por ali, já noutra dimensão, pairando sobre a Pena, comungamos Parsifal.
É o Prelúdio do III Acto e o tema de Sexta-Feira Santa. Toca a Gustav Mahler Jugendorchester, sob a direcção do discretíssimo Daniele Gatti que tanto me tenho habituado a respeitar, numa gravação colhida em 26 de Agostode 2012 durante os Proms.

Boa audição!
http://youtu.be/tJaztmR66-I


Estacionamento em Sintra
Análise pública


[facebook, 21.05.2014]



Este talvez seja o assunto ao qual tenho dispensado a maior parte da minha intervenção cívica através da escrita na imprensa local e nas redes sociais. Como não poderia deixar de acontecer, a Alagam
ares propõe soluções que há muito advogo e, portanto, com as quais estou totalmente de acordo.

Dificilmente se entende que a
Câmara Municipal de Sintra tivesse apresentado o documento que, actualmente, está em análise pública, sem avançar com uma estratégia para resolução de questões absolutamente inadiáveis, perdendo a oportunidade de comunicar como pretende estar à altura de problemas cuja gravidade é manifesta.

De qualquer modo, ainda importa sublinhar que este assunto apenas contempla uma atitude de análise e de ataque operacional, qual seja a integrada, em articulação com outros também tão sérios como a da necessidade de encerramento ao tráfego de determinadas vias e zonas, rede diversificada de transportes públicos, acesso aos pontos altos da Serra, etc.

Integrado num grupo de cidadãos preocupados com a questão, além de me considerar representado pelo parecer da Alagamares, associação cultural de que sou sócio, igualmente estou a participar na elaboração de um documento que será submetido à consideração da autarquia e publicamente partilhado.
 
 

Oportuno, inequívoco e pertinente

[facebook, 21.05.2014]


Os argumentos veiculados através deste documento estão ao serviço de todos quantos se batem contra a abstenção. Penso que, não avançando novidades de maior, consegue ser eficaz. Por isso considero conveniente partilhar por todos quantos comungam esta convicção.


Fernando Roboredo Seara, a 'Democracia híbrida', memórias deTurim e
palavras da Senhora Marquesa de Cadaval
 

[facebook, 21.05.2014]


Conheço bem Turim, capital do Piemonte, cidade estupenda, cidade de trabalho e de trabalhadores, cidade de Cultura. O meu pai mantinha negócios com amigos industriais da região e, «oportunista» como era, quando nos ofereceu a viagem de casamento, incluiu Turim no circuito para que eu não deixasse de fazer um contacto que muito lhe interessava... Nada me custou e, mais uma vez, nessa altura - há quase quarenta e cinco anos!... - fomos muito bem recebidos pelos amigos que nos cumularam de provas de simpatia. Dias inesquecíveis.

Agora, mais atinente com o seu texto, a memória de alguém que ambos tanto prezamos. Como o meu amigo bem sabe, a Senhora Marquesa de Cadaval era natural de Turim. Dela são as palavras que lhe quero lembrar, as últimas palavras do documentário biográfico que, sob a sua presidência, a
Câmara Municipal de Sintra teve oportunidade de patrocinar. São palavras de testamento de vida, que bem se adequam à reflexão que desenvolve neste seu lúcido e pertinente artigo. Dizia a Senhora Marquesa:

"(...) Isto, evidentemente, mudou muito, alguma coisa boa há-de sair. Há sempre bom e mal em tudo. Agora, neste momento de crise por toda a parte, se Deus quiser, hão-de surgir coisas boas com certeza. Artistas há sempre e não é a política que os manda calar." De facto, o melhor da Democracia, mesmo desta 'Democracia híbrida' que vivemos, é a Liberdade. E a Liberdade é condição sine qua non da Arte e da criação artística, sem dúvida alguma, o melhor de que o Homem é capaz.


Elise Hensler,
Condessa d'Edla
Morte em 21 de Maio de 1929
[facebook, 21.05.2014]

 
Amanhã será a efeméride do seu aniversário. Hoje, a lembrança de sinais do desfavor com que foi acolhida a sua relação com D. Fernando.

Assim, tenhamos em consideração que, no dia 2 de fevereiro de 1860, Elise chegou a Portugal integrando a Companhia de Ópera de Laneuville, para cantar no Teatro Nacional São João, no Porto. Seguidamen...
te, actua no São Carlos, no dia 15 de abril de 1860, interpretando o pagem da ópera "Um Baile de Máscaras", de Verdi.

É naquela oportunidade que, presente na récita, o viúvo rei D. Fernando II terá reparado, com especial interesse, não só nos encantos da voz de soprano da cantora que, então com vinte e quatro anos, dá que falar nos meios sociais de Lisboa.

Pouco se importando com as reacções da corte, D Fernando vai impondo a presença de Elise Hensler como sua companheira, em circunstâncias referidas, por exemplo, pela Condessa de Rio Maior*:

"(...) O tio Francisco [1º Conde de Azinhaga] está melhor, fez-lhe muito bem ser convidado para a função d'el-rei D. Fernando antes de ontem. (...) A sociedade de homens não era má, estavam todos os criados da casa[cortesãos), o corpo diplomático e alguns preferidos mas de senhoras a Hensler (...) conhecendo os cantos à casa, e até atrevendo-se a armar (...) uma partida de monte, jogo que se não joga em casa nenhuma séria. Nem el-rei D. Pedro nem nenhum dos irmãos estava, o que ainda dava um cunho mais decidido à festa, mas o dono da casa contentíssimo, cantando toda a noite. Tudo aquilo é um pouco esquisito; deixá-lo; mas antes pecar por seriedade de mais, como el-rei D.Pedro. (...)"

Portanto, pouco mais de seis meses depois de ter conhecido a sua futura mulher, o Senhor D. Fernando II ia propiciando serões aos seus amigos e conhecidos, detalhes dos quais bem podem aquilatar-se pelo teor do excerto da carta supra citada. Ao fim e ao cabo, apenas sintomas da opinião desfavorável à futura Condessa d'Edla.

PS:

Hoje mesmo - coincidência interessante - acabo de remeter uma sinopse afim da realização de um documentário biográfico sobre a figura desta senhora, concebido em moldes idênticos aos do filme "Marquesa de Cadaval, uma vida de cultura" de que sou coautor. Personagens e personalidades diferentíssimas, deixaram em Sintra marcas indeléveis que nunca será demais lembrar, comemorar e honrar.
______________

*Rio Maior, "Correspondência de e para seus filhos", carta a José, 12.1.1861, in "D. Fernando II, um Rei Avesso à Política", LOPES, Maria Antónia, Círculo de Leitores ed., Lisboa, 2013
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terça-feira, 20 de maio de 2014


Chegada à Índia

Faz hoje 516 anos. Vasco da Gama ancorou em Calecute no dia 20 de Maio de 1498. Evento crucial na história da humanidade, a descoberta do caminho marítimo para a Índia tem inspirado inúmeros artistas ao longo de séculos.

No domínio da música, por exemplo, uma referência se salienta em relação ao universo operático. Trata-se de “L’Africaine” do compositor Giacomo Meyerbeer, preci
samente a sua última obra, com libretto em Francês de Eugène Scribe, sobre factos ficcionados da vida do navegador.

“Vasco da Gama” teria sido o título preferido pelo compositor que morreu um ano antes de ter sido estreada em Paris, na Salle Le Peletier em 28 de April de 1865, a partir de uma edição de François-Joseph Fétis que, este sim, a baptizou com a designação que conhecemos.

Proponho que dela partilhemos uma célebre ária, ‘O paradiso’ gravada por Alfredo Kraus em 1958, portanto, no mesmo ano em que veio a São Carlos apresentar-se com Maria Callas na célebre récita de “La Traviata”.

Boa audição!


http://youtu.be/qJAVCwR3abU


Gustav Mahler
(7/7/1860-18/5/1911)

Memórias de Luzern e de Alma

 Passou ontem a efeméride da morte de Mahler. Assinalando a data, gostaria de vos propor a sua “Sinfonia No. 6 em Lá menor” que, manifestamente, em consequência da impreparação do público que frequenta as salas de concerto, é considerada a menos popular de todas as do compositor. Como ‘Trágica’ cognominaram esta que, na opinião de Alban Berg, é a «única» Sexta, mesmo incluindo a ‘Pastoral’…

Trata-se de gravação colhida no Festival de Luzern, em leitura de Claudio Abbado, que dirigiu algum do melhor Mahler a que assisti. Luzern, uma das mais belas cidades europeias, acolhe um estupendo Festival que tem deixado marcas especialmente significativas na minha vida de melómano. Marcas da melhor música, marcas de pessoas.

Hoje, pouco mais de um mês depois do primeiro ciclo de conferências do Colóquio Nacional sobre Raul Lino em Sintra, lembro alguém cuja memória tenho muito presente, filha do grande arquitecto, a Sra. D. Isolda Lino Norton de Matos, que fazia parte do "grupo do festival de Luzern" em que me integrava. Que personalidade vincada, que preparação cultural, que privilégio a sua especial companhia!...

A vossa particular atenção para o primeiro andamento da Sinfonia em referência em que Mahler faz um retrato de sua mulher Alma. Eis o detalhe da obra:
I. Allegro energico, ma non troppo. Heftig, aber markig. 0:07; II. Andante moderato 24:10; III. Scherzo: Wuchtig 39:13; IV. Finale: Sostenuto - Allegro moderato - Allegro energico 52:18.

Alma foi mulher de outros homens, tão extraordinários como Gustav, tais como Gropius, Franz Werfel, Kokoschka, que a pintou inúmeras vezes, íntima de Arnold Schoenberg, de Gerhart Hauptmann, Enrico Caruso e de Alban Berg cuja ópera “Wozzeck” lhe foi dedicada. Trata-se de personagem absolutamente fascinante que vale a pena conhecer o melhor possível. Documentação não falta.


Boa audição!

http://youtu.be/Lqqk0cfaA8Y
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Efeméride mozartiana

18 Maio de 1787

Viena: Composição da canção "Die Alte" [A velha] KV. 517

Eis uma interpretação de Ruth Ziesak (Soprano) com Ulrich Eisenlohr ao piano. Segue o texto, muito bem humorado, para poderem acompanhar.

Boa audição!

http://youtu.be/nU1hs2i5oPQ


"Die Alte"


Zu meiner Zeit, zu meiner Zeit
Bestand noch Recht und Billigkeit.
Da wurden auch aus Kindern Leute,
Aus tugendhaften Mädchen Bräute;
Doch alles mit Bescheidenheit.
O gute Zeit, o gute Zeit!
Es ward kein Jüngling zum Verräter,
Und unsre Jungfern freiten später,
Sie reizten nicht der Mütter Neid.
O gute, Zeit, o gute Zeit!

Zu meiner Zeit, zu meiner Zeit
Befliss man sich der Heimlichkeit.
Genoss der Jüngling ein Vergnügen,
So war er dankbar und verschwiegen;
Doch jetzt entdeckt er's ungescheut.
O schlimme Zeit, o schlimme Zeit!
Die Regung mütterlicher Triebe,
Der Vorwitz und der Geist der Liebe
Fährt jetzt oft schon in's Flügelkleid.
O schlimme Zeit, o schlimme Zeit!

Zu meiner Zeit, zu meiner Zeit
ward Pflicht und Ordnung nicht entweiht.
Der Mann ward, wie es sich gebühret,
Von einer lieben Frau regieret,
Trotz seiner stolzen Männlichkeit.
O gute Zeit, o gute Zeit!
Die Fromme herrschte nur gelinder,
Uns blieb der Hut und ihm die Kinder;
Das war die Mode weit und breit.
O gute Zeit, o gute Zeit!

Zu meiner Zeit, zu meiner Zeit
war noch in Ehen Einigkeit.
Jetzt darf der Mann uns fast gebieten,
Uns widersprechen und uns hüten,
Wo man mit Freunden sich erfreut.
O schlimme Zeit, o schlimme Zeit!
Mit dieser Neuerung im Lande,
Mit diesem Fluch im Ehestande
Hat ein Komet uns längst bedräut.
O schlimme Zeit, o schlimme Zeit!
 


17 de Maio, Satie
 
[facebook, 17.05.2014]

Neste dia de 1866 nasceu Erik Satie, compositor e pianista francês (m. 1925).
Comemoremos a data ouvindo "Sonnerie de la Rose-Croix - Air du Grand Prieur", peça datada de 1892, interpretada por Reinbert de Leeuw.

Boa audição!...


http://youtu.be/7tZXdhLLs-g
 
 

sábado, 17 de maio de 2014

Sintra
Casino, novo destino

[Transcrição do artigo publicado na edição do 'Jornal de Sintra' de 16 de Maio de 2014]

17 de Maio, inauguração

Casino,
novo destino

Museu das Artes de Sintra - MU.SA! Ora í temos, bem mais cedo do que jamais imaginaríamos, o novo espaço museológico que, aproveitando as características de um edifício tão interessante como é o Casino, permite explorar a subtil polivalência de propostas que ali
é possível concretizar para benefício dos munícipes e visitantes em geral.

Apesar de tão bem a conhecer, fascina-me cada vez mais esta grande casa da Heliodoro Salgado. Depois do inicial Casino, sem quaisquer jogos de azar, Sintra exigiu-lhe 'cenas' de Biblioteca Municipal – onde trabalhou a grande figura da Cultura Portuguesa que foi o filósofo Manuel Lourenço – também de Secção de Finanças ou Escola Preparatória e, mais recentemente, Museu de Arte Moderna-Colecção Berardo.

Enfim, para nossa permanente surpresa, as sete vidas que lhe vamos acrescentando, dele têm feito um verdadeiro felino, flexível, adaptável a todas as circunstâncias… E, de facto, 'esgalhado' pelo gabarito do Arquitecto Norte Júnior, aquele edifício tem aguentado tudo o que se lhe pede, com uma ductilidade fora do comum.

Ora bem, cumpre lembrar que, como tem sido público e notório, através dos artigos nestas páginas dados à estampa ao longo dos últimos meses, estive perfeitamente convencido de que o 'último pedido' ao Casino tinha sido oportunamente formulado, no sentido de acolher a designada Colecção Bartolomeu Cid dos Santos, já que decorria dos termos do Protocolo celebrado entre a autarquia e Maria Fernanda dos Santos.

A montante do MU.SA

Praticamente, desde o início do mandato do actual executivo autárquico, se sabe que existiam divergências de interpretação de algumas e importantes cláusulas do referido documento contratual. Naturalmente, tal circunstância suscitou a necessidade de recorrer aos consultores jurídicos de ambas as partes. De acordo com as informações que obtive, embora prolongadas e ainda não concluídas, é de prever que as negociações tenham o desfecho que mais convirá à salvaguarda tanto dos interesses da autarquia como da cedente.

Confortável com esta explicação, considerei que, dispondo da mais-valia de tal edifício, não era possível protelar, sine die, a ocupação do Casino que – entretanto, tal como tenho dado conhecimento – foi devidamente beneficiado e dotado das condições necessárias e suficientes ao funcionamento como espaço propício à promoção de exposições de artes plásticas permanentes e temporárias. Pois bem, tanto quanto indaguei, foi neste contexto que se evidenciou e concluiu como a solução MU.SA se revestia da maior pertinência.

Quando me apercebi de que, surpreendentemente, e em tempo curtíssimo de trabalhos de preparação, a Câmara Municipal de Sintra já estaria a perspectivar a reabertura para uma data tão próxima quanto é a do dia 17 do corrente mês de Maio, procurei inteirar-me. Logo entendendo que era esse o meu objectivo, o Vice-Presidente Rui Pereira, também Vereador com o Pelouro da Cultura, sugeriu-me integrar o pequeno grupo que, no passado dia 9, se deslocou ao Casino em visita de reconhecimento.

Se, em boa hora o fez, ainda em melhor aceitei eu o convite porque, só assim, teria o privilégio de partilhar opiniões e impressões indispensáveis à redacção destas linhas. Em primeiro lugar, gostaria de sublinhar o facto de, já há alguns anos, ser este um projecto cuja eventualidade de concretização foi objecto de frequente troca de impressões entre técnicos dos serviços, tal como, participante activa da visita, a Dra. Conceição Carvalho, assessora do Conselho de Administração da SintraQuorum, teve oportunidade de recordar.

A verdade é que, ultimamente, esta mesma hipótese de montar um museu no Casino ganhou novo realce depois de ter sido ventilada por Fernando Castelo, no seu blogue Retalhos de Sintra, num texto em que propunha, além da exposição das obras de pintura do valiosíssimo espólio municipal, também a possibilidade de constituir um núcl eo museológico com as peças oportunamente doadas pela escultora Dorita de Castel-Branco e considerar mais outro espaço para a realização de exposições temporárias.

Ao reconhecer o seu manifesto interesse, o Vice-Presidente Rui Pereira, durante a conversa que comigo manteve antes da aludida visita, não perdeu a oportunidade de me dar a entender como aquela proposta fora determinante para a efectivação do projecto e, portanto, como a autarquia está atenta às sugestões dos cidadãos.

A visita

Integrei-me, então, no tal grupo visitante que, contando com a já mencionada Dra. Conceição, era composto pela Dra. Ana Santos, adjunta do gabinete da Vice-Presidência, Dr. Carlos Vieira, Chefe da Divisão de Cultura, Pintor Vitor Pi, fotógrafo Nuno Antunes, foi guiado pelo Coordenador do Núcleo de Museus e Galerias de Arte da CMS, Mestre Jorge Baptista, cuja estratégia e coerência de opções teve oportunidade de connosco partilhar.

Uma das notas salientes é a presença da obra de Dorita, já que não se limita à ocupação do núcleo museológico que, no rés-do-chão, à direita de quem acede ao interior do edifício lhe é totalmente afecto. De facto, quer na esplanada exterior quer no primeiro andar, algumas das suas peças sublinham as afinidades de um percurso que o visitante deverá entender, como será a da tapeçaria de grandes dimensões que, na parede fronteira, ao cimo da escadaria, naquele impositivo patamar do primeiro andar, é um marco da distribuição da pintura, da escultura e da fotografia do importante acervo do município de Sintra.

À direita, teremos uma zona de homenagem a Emílio Paula Maria De Fáti

ma Ribeiro Campos, a quem é consignado o devido reconhecimento e destaque. Á partir daí se parte para uma viagem que, através das sucessivas e contíguas salas, nos levará à obra de consagrados, como Júlio Pomar, Milly Possoz, Cristino da Silva ou de Adriano Costa, «o pintor de Sintra», na apreciação de Fernando Pamplona no seu “Dicionário de Pintores e Escultores ”.

Neste piso, um lógico circuito vai privilegiando a paisagem, desde obras figurativas, até à abstracção, num bem encadeado novelo de conotações, igualmente circulando por uma componente espacial em que se articulam obras premiadas no Concurso D. Fernando II, finalizando com a vertente da fotografia. Depois de descer e retomar o rés-do-chão, eis um espaço afecto às exposições temporárias – a primeira das quais dedicada a Vitor Pi – e o Lab.Art, zona de lugar à vanguarda, cuja primeira iniciativa contemplará a instalação “Entrentrente” de Jorge Cerqueira.

Pendentes

Não poderia deixar de aproveitar a oportunidade para lembrar que, ininterruptamente, entre 2005 e 2013, o “World Press Cartoon” viveu 9 edições, de início, no Centro Cultural Olga Cadaval e, posteriormente, no Casino. Trata-se de um evento anual do maior interesse que já está indissociavelmente ligado a Sintra e que Sintra não tem qualquer vantagem em perder para um enquadramento alheio.

Final e compreensivelmente, o grande destaque de pendência para a Colecção Bartolomeu Cid dos Santos. Como é sabido, além do espólio do grande artista, cujo magistério na Slade School de Londres ainda hoje é reclamado pelos maiores gravadores mundiais, a Colecção integra um núcleo de obras assinadas pelos mais prestigiados pintores portugueses contemporâneos, tais como Paula Rego, Vieira da Silva ou Júlio Pomar, bem como peças do também seu amigo Francis Bacon, um conjunto perfeitamente deslumbrante que, não tenho a mínima dúvida, passarão a constituir um extraordinário polo de atracção cultural em Sintra. Tendo sido prevista para o Casino, há que lhe equacionar a melhor solução.

[João Cachado escreve de acordo com a antiga ortografia]
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O artigo, em última página, é ilustrado com duas fotos de obras expostas no Casino, uma de Júlio Pomar e outra de Adriano Costa