[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018




Em São Pedro de Sintra,
abriu-se a caixa de Pandora...

Um dos textos aqui publicados anteontem suscitou, a título de comentário, a pejorativa sugestão de identificar os membros do QSintra com a figura do Velho do Restelo.
Tanta «originalidade» levar-nos-ia à facílima conclusão de que, muito pelo contrário, o denodo e progressismo das causas em que estão envolvidos, indiciava Prometeu como entidade mitológica que mais convém e coincide com os altruístas propósitos dos militantes cuja intervenção cívica, desde já, tanto incómodo está a causar em hostes acoitadas a certos redutos.
Tendo-nos apercebido de que o(s) autor(es) de comentários quejandos também revelariam alguma preocupação quanto a conotações musicais mais adequadas, aproveitaremos esta oportunidade para esclarecer que não faltam obras, de bem conhecidos compositores de música erudita, como Ludwig van Beethoven, Franz Liszt ou Carl Orff, que abordam o mito de Prometeu.
Na tentativa de satisfazer tanto interesse e não deixando de avisar que, se nos aprouver, voltaremos com outras e bem conhecidas alternativas musicais, fiquemos esta noite com a proposta de partilha de "Prometheus", o Poema Sinfónico No. 5 de Franz Liszt, numa estupenda leitura de Bernard Haitink à frente da London Philharmonic.
Já agora, muito a propósito da contestação à instalação do parque de estacionamento na Praça D. Fernando II, em São Pedro - ao fim e ao cabo, apenas o primeiro de muitos episódios de intervenção cívica em perspectiva, que ocuparão os membros do QSintra no futuro, por tempo indeterminado - importa ter em conta que o episódio da abertura da Caixa de Pandora também está relacionado com o grande titã...
Boa Audição!
[Ilustr: "Prometheus" por Rubens, Pieter Paul (1636-37)]

domingo, 25 de fevereiro de 2018



Largo da Feira de São Pedro de Sintra
- luta contra a máquina bem oleada da propaganda institucional

Além da ampla infraestruturação, que o Movimento cívico QSintra, de modo algum, põe em causa e até acolhe sem problemas de maior, a Câmara Municipal de Sintra tem prevista a ultra-polémica instalação de um parque de estacionamento para 100 viaturas, que subtrairia cerca de 60% da área útil da Praça D. Fernando II, essa sim, a vertente da designada «requalificação» da qual discordam em absoluto os cidadãos que se têm manifestado.
É indubitável que a situação actual [vd. foto], de um estacionamento completamente desordenado, de facto, ofende o lugar digno que aquela Praça é. Ora, a autarquia propõe-se disciplinar, ou seja, «domesticar» a selvajaria em curso, substituindo-a por aquele «serviço parqueado», tão eminentemente civilizado em qualquer latitude!...
Mas, perante aquela «nobre» intenção autárquica, ainda houve, ainda há quem tivesse ousado contrariar propósito aparente e politicamente tão correcto? Afirmativo! Houve e há. Inicialmente, em 2016, foi a Canaferrim - Associação Cívica e Cultural que se opôs aos desígnios da autarquia, dando voz aos protestos dos fregueses locais, tendo-se juntado, nos últimos meses, ao QSintra que, enquanto Movimento cívico aglutinador, tem vindo a demonstrar a operacionalidade que se impunha.
Porém, porque continuam, que motivos sustentam tanta insistência? Muito fácil, a resposta remete para o facto de o «serviço» que a Câmara Municipal de Sintra ali pretende prestar, num dos mais nobres núcleos do centro histórico de Sintra, não ter em consideração, como sabe qualquer leigo em questões de mobilidade urbana, que um parque de estacionamento não é um dispositivo estático. Neste caso, a «domesticação» significaria uma sistemática irrequietação.
É fantástico como é possível ignorar que, pelo contrário, uma das mais evidentes características do parque de estacionamento reside, precisamente, na circunstância de ser um dinâmico 'gerador de tráfego', um permanente polo de afluxo e refluxo de viaturas que, na sua constante demanda de lugares, imediatamente ocupam o vazio que, a qualquer momento, pode proporcionar-se. E «isto» constantemente, dia e noite!...
Pois, ignorando a mais evidente e nefasta consequência da sua tão polémica proposta de «requalificação» da Praça D. Fernando II, a Câmara Municipal de Sintra e a sua bem oleada máquina de propaganda, «passam por cima» de argumentos tão inequívocos e, então [vd. as outras duas fotos], com o ofensivo descaramento de ilustrações virtuais, referentes ao hipotético resultado obtenível, aparecem na «praça pública» do seu 'site' oficial com 'documentos' tão expressivos...
Já repararam como não é preciso «dar muito trabalho às meninges» para prever que cenas, bem reais, não seriam as resultantes da intervenção que a Câmara pretende concretizar, tão anacrónica, tão à revelia das mais actuais e adequadas práticas de gestão no que respeita a mobilidade urbana?
Então, não há razões de sobra para exigir ao executivo autárquico que cumpra o que, há quase três anos, prometeu às associações cívicas da sede do concelho - Alagamares - Associação CulturalCanaferrim - Associação Cívica e Cultural e ADPS, Associação de Defesa do Património de Sintra - no sentido de que, no Verão de 2016, já estariam instalados e a funcionar os parques periféricos, um dos quais, na zona do Ramalhão, a 500 metros da Praça D. Fernando II, até já teria resolvido a situação objecto da contestação em curso?
Enfim, de regresso às sugestivas imagens, o que poderá dizer-se da eficácia das virtuais fotos, ilustrativas de tão edílicas cenas? Eventualmente, em relação à gestão autárquica local, conseguirão convencer, tão só, quem se deixou submeter a consabidas estratégias de índole «clubistica», acomodando-se àquela inércia de nada porem em causa e, acriticamente, aplaudirem o que lhes for chegando, vindo do Largo Dr. Virgílio Horta...


[Ilustr: Estacionamento desordenado, foto publicada no 'site' oficial da CMS em 24-08-2016; 2 fotos virtuais da Praça D. Fernando II publicadas por 'Sintranotícias' em 20-02-2018]

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018



Em São Pedro de Sintra,
horas exemplares de democracia participativa

Eis o artigo que subscrevi para a edição de hoje do 'Jornal de Sintra', uma adaptação do texto que li durante a minha intervenção na Assembleia de Freguesia de Sintra, na passada Sexta-feira, dia 16.

Como, no final da referida reunião, o Senhor Presidente da União das Freguesias de Sintra resolveu surpreender os participantes com considerações algo controversas, acrescentei um PS acerca das mesmas para o qual também me permito chamar a vossa atenção.



São Pedro de Sintra,
Praça D. Fernando II
- intervenção cívica e conotações mitológicas

Para descanso dos detractores do QSintra, nomeadamente, no que se refere ao envolvimento na luta contra a implantação do parque de estacionamento na Praça D. Fernando II, permitam que passe a citar algumas linhas do meu anterior 'post' "Quem marcha? - Que Movimento Cívico está em marcha?":
"(...) o QSintra goza o privilégio de poder contar com figuras nacionais em diferentes campos culturais que, numa perspectiva integrada, são afectas à defesa e preservação do património, tais como algumas das Artes e Letras, Arquitectura Paisagista, Mobilidade Urbana, Economia e Finanças, Engenharia do Ambiente, ao Direito, gente actualizada e nenhum «velho do Restelo», que não deixa os seus créditos por mãos alheias quando afirma ser uma tremenda asneira insistir na instalação do tal parque para 100 viaturas. (...)"
E, agora, para efeitos da reposição da sintrense tranquilidade geral, gostaria de a todos garantir que uma das «condições de adesão» ao QSintra, movimento cívico em marcha, passou mesmo por uma declaração notarial em que os potenciais aderentes se manifestaram avessos a qualquer atitude ou actividade que pudesse evidenciar o mínimo sintoma de velhice do Restelo...
De qualquer modo, ainda com o objectivo de mitigar a preocupação de apoucar, que leva alguns a demandar, na mitologia nacional, uma figura com as características que o grande Camões foi capaz de cantar, permitir-me-ia sugerir-lhes que - como não têm outra hipótese senão a de enaltecer quem luta pelos interesses da comunidade - se lembrassem de Prometeu, máximo mito da nossa cultura europeia.
É que, no QSintra, com toda a propriedade, todos trazemos na lapela o 'emblema' que Ésquilo tão bem caracterizou...

[Ilustr: Columbano Bordalo Pinheiro, "O Velho do Restelo"; Christian Giepenk: "Prometeu"]



Quem marcha?
Que Movimento Cívico está em marcha?
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- A propósito do plano da autarquia para instalação do parque de estacionamento na Praça D. Fernando II
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[Publicado no facebook em 22 de Fevereiro de 2018]

Começo por expressar uma verdade inequívoca que, infelizmente, parece ainda não ter sido assumida por quem tem tido nas mãos os destinos da nossa terra, qual seja a de Sintra não merecer que gente menos esclarecida ponha em risco os mais distintos valores patrimoniais que levaram a UNESCO a classificá-la como Paisagem Cultural da Humanidade.
Pois bem, entre outras, também é por ter isso em consideração que os cidadãos se envolveram no QSintra, gerando uma privilegiada plataforma para a intervenção cívica, inclusive com base parcial em associações cívicas e culturais já existentes, na tentativa de alterar e remediar situações que, na maior parte das vezes têm inusitada carga de polémica.
Entretanto, não deixa de ser altamente sintomático, quase perverso, que os cidadãos envolvidos em tão representativo Movimento cívico tenham de lutar contra quem, democraticamente, foi eleito para representar os mais legítimos interesses deste lugar único.
Na realidade, ao referir a Câmara Municipal de Sintra, pois é a autarquia que está em causa, quem pode concluir diferentemente de ter vindo ela a demonstrar, com inusitada exuberância, como não está à altura das necessidades actuais de uma gestão esclarecida e actualizada?
Cumpre esclarecer que, em especial, me reporto a uma vasta série de desafios, de toda a ordem, colocados quer pelos cidadãos residentes, fregueses e munícipes, quer por visitantes nacionais e estrangeiros que, muito especificamente, demandam o núcleo da sede do concelho.
E é nesta zona, ou seja, no seu vasto centro histórico - integrando a Estefânea, Vila Velha e São Pedro, bem como outros pontos do maior interesse patrimonial, mais próximos ou mais afastados como os do alto da Serra - que muitas questões estão em causa e que se acumulam as grandes razões de queixa.
Por outro lado, ninguém nega a evidência de ser difícil, muito difícil intervir, mesmo com as melhores intenções, no sentido de modificar uma determinada situação em qualquer enquadramento urbano, dificuldade que, então nos centros históricos, é exponenciada por todos os factores adversos em presença.
Tenha-se em consideração, meramente a título de flagrante exemplo, o caso que acaba de chegar aos 'media' nacionais, precisamente, em resultado da acção do QSintra que, como lhe compete, apenas dá voz a quem, desde 2016, repudia a decisão da Câmara de instalar um parque para 100 viaturas, no coração de São Pedro, em plena Praça D. Fernando II, para 'disciplinar' o actual e, evidentemente, caótico estacionamento.
Perante tanta manifestação de desagrado, o mínimo que se pode concluir é que, 'ab initio', tudo nasceu torto. Como a autarquia não consultou os fregueses e estes se manifestaram como puderam, nomeadamente através de abaixo-assinado com centenas e centenas de assinaturas, foi ela obrigada a emendar a mão, a alterar o projecto que, no papel, entre outras 'melhorias', refira-se de passagem, até deixou de ter pedrinhas coloridas a pavimentar aquele nobre terreiro...
Apesar de tanta contestação relativamente ao objectivo da Câmara, os cidadãos ainda não conseguiram que, em definitivo, os autarcas abandonem a insistência, a impensável persistência numa asneira que aparece à revelia das melhores práticas de gestão da mobilidade urbana e que revela tanta falta de lucidez e de actualizada informação.
Em sentido oposto, basta aceder à lista das centenas dos primeiros subscritores do QSintra, todos os dias engrossada por aderentes e já atingindo a casa dos milhares, para perceber que o Movimento em marcha está longe de se apresentar como porta-voz dos interesses da tal meia dúzia de famílias de Sintra que o Senhor Presidente da Câmara Municipal de Sintra quis entender.
Não, o QSintra goza o privilégio de poder contar com figuras nacionais em diferentes campos culturais que, numa perspectiva integrada, são afectas à defesa e preservação do património, tais como algumas das Artes e Letras, Arquitectura Paisagista, Mobilidade Urbana, Economia e Finanças, Engenharia do Ambiente, ao Direito, gente actualizada e nenhum «velho do Restelo», que não deixa os seus créditos por mãos alheias quando afirma ser uma tremenda asneira insistir na instalação do tal parque para 100 viaturas.
Ao partilharem a consabida norma do parque de estacionamento como gerador de tráfego, pois são tais pessoas que, em alternativa ao despautério, apontam a solução de uma 'bolsa de estacionamento de proximidade', nunca para 100 mas, realisticamente, abrangendo cerca de 40 automóveis, nunca a instalar na referida Praça mas nas ruas Marquês de Viana e Serpa Pinto e, essencialmente, se pronunciam quanto à inevitabilidade da permanentemente adiada instalação dos 3 parques periféricos - um dos quais a cerca de 500 metros do referido terreiro de São Pedro - servidos por carreiras de transporte público interligando todos os principais destinos.
Neste momento em que, finalmente, os meios de comunicação social, dão voz aos anseios dos cidadãos de Sintra, também lhes deixam um enorme lastro de esperança, tão necessária para criar o espírito de corpo para outras lutas.
Sim, porque este caso do Largo da Feira de São Pedro, é apenas um entre muitos episódios, um exemplo do gigantesco trabalho de desmontagem e de descodificação de um estado de coisas extremamente desfavorável, em especial, repito, nos diferentes pontos fulcrais do centro histórico.
Este é o tempo em que, com os media bem informados acerca do que está a passar e tem vindo a suceder, se poderá desmascarar manobras da eficaz máquina de propaganda que tanta confusão tem gerado a quem desconhece ou conhece mal os problemas que, tão seriamente, têm posto em causa a qualidade de vida em Sintra.



[Publicado em 22 de Fevereiro de  2018]

Temos tantas coisas e causas em comum, agora potenciadas pelas exigências de intervenção cívica do QSintra, que qualquer pretexto serve para nos juntarmos a tratar dos pendentes.
Esta manhã, foi o nosso macchiato! Aconselhamos vivamente. Na 'Piriquita', o macchiato é óptimo! Nesta que é uma das casas mais icónicas do país, vale bem a pena procurar outras 'receitas', além dos travesseiros, queijadas, pastéis da Pena ou toucinho do céu...
E esta do macchiato ainda tem o condão de tanto me lembrar as minhas horas no café Bazar, em Salzburg, onde o vou tomando ao longo de uma ou outra tarde que a Música me deixa livre...


Finalmente!

[Publicado no facebook em 21 de Fevereiro de 2018]

Os media, em geral, todos os media, já estão a divulgar o documento que o QSintra preparou no sentido de habilitar os jornalistas com a informação essencial às queixas que fregueses e munícipes de Sintra têm apresentado em várias instâncias.
Quanto mais divulgada for a situação e se discutir o assunto, com toda a abertura, seriedade e sem truques de manipulação propagandística, mais bem respeitados serão os interesses de todos os envolvidos de parte a parte.
Munícipes defendem a criação de parques de estacionamento na periferia e não no centro histórico de Sintra. Autarquia diz que estacionamento no largo vai ser…
PUBLICO.PT

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018



Assinem já!


QSintra já disponibilizou os meios para que se possam pronunciar contra a desqualificação do Largo D. Fernando II em São Pedro de Sintra..
Caros amigos, não há como escapar a este desafio que vos lança a possibilidade de uma intervenção cívica lúcida e consequente.
Trata-se de um assunto que, como é bem patente, na sua especificidade de ofensa a um património que a própria UNESCO classificou como Paisagem Cultural da Humanidade, ultrapassa os limites do enquadramento de Sintra.
Logicamente, ao assinarem esta petição, assinalarão, de forma inequívoca, como nos acompanham, por todo o lado, nesta atitude de defesa e preservação de um património que, em Sintra, neste e noutros casos, tão ofendido tem sido.
Dirigindo-me, especialmente, a quem não é de cá e não sabe 'o que a casa gasta', cumpre lembrar que Sintra tem uma série de 'jóias da coroa', os mais sofisticados monumentos, sob administração, direcção e gestão de uma entidade, tão credenciada a nível mundial, como é a Parques de Sintra.
Nos Palácios, Jardins e Parques Históricos, sob custódia daquela entidade, de facto, não há reparos a fazer. O mesmo, infelizmente, não podemos dizer do «resto». Abundam os casos de negligência e das mais controversas intervenções, como a do caso vertente, que, invariavelmente, são fruto da falta de lucidez dos 'responsáveis' e da sua deficiente informação em relação às mais favoráveis práticas de gestão autárquica.
Lembram-se do que, entre outras coisas, escreveu Goethe acerca da ignorância? Pois, quando 'a dita cuja' se instala no poder os resultados são tenebrosos!...
Ao assinar esta petição, não tenham dúvida de que, entre outras nobres consequências de tal gesto, também estão a fazer o que podem e devem no sentido «de pôr em sentido» quem, de todo em todo, se tem atrevido além do que Apeles aconselhava ao sapateiro...
O seu apoio é muito importante. Apoie esta causa. Assine a Petição.
PETICAOPUBLICA.COM


Membro do QSintra

Outro notável militante da defesa do património


Há 17 anos, Presidente da Câmara Municipal de Sintra era Edite Estrela, tida como 'mulher «de» Cultura', que, à revelia da vontade dos munícipes, pretendeu concretizar, na Volta do Duche, em pleno coração do Centro Histórico de Sintra, um projecto avesso a tudo quanto se considera ser o 'espírito do lugar'. Não levou a sua avante e, em simultâneo, foi derrotada nas urnas na sua candidatura a mais um mandato autárquico.
Em 2018, Presidente da Câmara Municipal de Sintra é Basílio Horta, que, neste seu segundo período como líder do executivo autárquico, também decidiu assumir o Pelouro da Cultura. E é, nessa dupla qualidade, portanto, também como 'homem «da» Cultura', que pretende concretizar o projecto de requalificação da Praça D. Fernando II (Largo da Feira de São Pedro).
É no contexto daquela proposta que se agiganta a sua polémica vertente de instalação de um parque de estacionamento que, entre outros malefícios, subtrairia ao recinto 60% da sua superfície, com a justificação da necessidade de disciplinar o estacionamento caótico, quando os cidadãos repudiam, isso sim, qualquer submissão à lógica da presença do automóvel, absolutamente decididos a privilegiar o peão.
À distância de quase duas décadas, não deixa de ser curiosa, por parte de ambos os autarcas, esta insistência na asneira da instalação de parques de estacionamento automóvel em pleno centro histórico de Sintra. No caso do actual Presidente da Câmara, tal insistência ainda é mais contundente, na medida em que a sua proposta de hoje replica um 'pecado original', em versão de 2016, que logo mereceu o repúdio da comunidade.
Pois bem, não deixa de ser altamente significativo, mesmo simbólico, que o Francisco Caldeira Cabral, nome incontornável da arquitectura paisagista nacional, tenha estado ao nosso lado, como militante da defesa do património de Sintra contra o parque de estacionamento da Volta do Duche - com outras grandes figuras da Cultura portuguesa actual como Gonçalo Ribeiro Telles ou da querida e saudosa Gabriela Llansol - e, agora, que também possamos contar com ele contra o despautério de São Pedro.
Precisamente ontem, em reunião do Movimento QSintra, pudemos continuar o privilégio da sua colaboração. Felizmente, o QSintra conta com adesões do mais alto gabarito como, aliás, há poucos dias, tive oportunidade de destacar, através de outro que é o caso exemplar do Vitor Serrão, distinto académico, Prof. Catedrático de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, coautor do processo que conduziu Sintra à classificação pela UNESCO como Paisagem Cultural da Humanidade.
O simples facto de termos connosco estes e outros amigos tão notáveis, lutando pela defesa e preservação do património de Sintra, lugar único, não pode deixar de encher de orgulho o QSintra. Sintomático, no entanto, que tenhamos de lutar contra quem foi democraticamente eleito para representar os sintrenses em geral. Enfim, perversidades do estado a que isto chegou...
[Ilustr: Francisco caldeira Cabral]


Praça D. Fernando II
(Largo da Feira de São Pedro)
Assembleia de Freguesia de Sintra

[Publicado no facebook em 17 de Fevereiro de 2018]

Tanto eu como os meus amigos das associações cívicas e culturais da sede do concelho, Canaferrim - Associação Cívica e CulturalAlagamares - Associação Cultural, Associação de Defesa do Património de Sintra e QSintra, com uma assinalável representação de militantes, vivemos um momento muito interessante de participação cívica esclarecida, actuante e consequente.
Muito sinceramente, sendo todos nós favoráveis ao grande objectivo do projecto, ou seja, a infraestruturação do Largo, e, a partir dos sinais que acolhemos, estamos em crer que ainda será possível que a autarquia reconsidere a intenção da instalação do parque de estacionamento.
Eis as palavras que dirigi à Assembleia. Encontrei eco absolutamente favorável em todas as bancadas partidárias à excepção do PS.
___________________________________
Apoio ao projecto da instalação de infraestruturas
Contra o parque de estacionamento
Permita, Senhor Presidente, que, com toda a sinceridade, aqui partilhe a sensação de me escapar a razoabilidade da insistência da Câmara Municipal de Sintra em concretizar a parte do projecto da designada requalificação da Praça D. Fernando II, o nosso Rossio de São Pedro, que fregueses, munícipes e cidadãos em geral repudiaram em 2016.
Naturalmente, refiro-me, não à totalidade do mencionado projecto – na medida em que ele contém, por exemplo, a proposta de dotar a praça com as infraestruturas indispensáveis ao seu pleno usufruto, que não suscita a mínima discordância – mas, isso sim, e tão somente, ao objectivo da instalação de um parque de estacionamento para 98 viaturas. Aqui chegado, Senhor Presidente, importa lembrar ser, essencialmente, contra esta vertente do projecto, que, em sucessivas oportunidades, se têm insurgido os cidadãos.
Permita que recorde ter sido naquele contexto de oposição a tal proposta que, por exemplo, se concretizou, em Agosto de 2016, a reunião entre o Senhor Presidente da Câmara e representantes da Canaferrim, Associação Cívica e Cultural, também a Assembleia de Freguesia, no seguinte mês de Outubro, que se recolheram mais de 400 assinaturas em abaixo assinado, se escreveram artigos de opinião na imprensa local e se publicaram inúmeros textos nas redes sociais.
Senhor Presidente, perante a actual e evidente prática de um caótico estacionamento de viaturas na Praça D. Fernando II, não deixa de ser perfeitamente lógico que o executivo da Câmara Municipal de Sintra tenha concluído que não haveria outra solução senão uma imprescindível, digamos, domesticação dessa atitude de selvajaria, em pleno Centro Histórico.

Em curto parêntesis, ainda permitirá o Senhor Presidente: que recorde como, de facto e, para todos os efeitos, a Praça D. Fernando II é tão centro histórico como o Largo Rainha D. Amélia na Vila Velha; também lembre como a própria UNESCO repudia qualquer solução de estacionamento que induza afluxo de tráfego aos centros históricos e que, finalmente, tenha em consideração a própria vontade expressa – e muito bem, do próprio Senhor Presidente da Câmara, em recente entrevista, à qual os media nacionais deram o devido destaque – de libertar o centro histórico de viaturas.
Em síntese, e voltando ao ponto em que, há pouco, referia o argumento da Câmara no sentido de disciplinar o estacionamento na Praça D. Fernando II, os fregueses, munícipes e cidadãos que, em geral, se posicionam contra esta, sublinho, esta vertente do projecto, consideram que nada há a disciplinar porquanto, a admiti-la, pura e simplesmente, tal solução iria de braço dado, se me permite a expressão, com a concessão dos mais equívocos direitos à lógica de submissão à invasão do automóvel em tudo quanto é recinto com vocações outras, tais como as de estadia e lazer de uma comunidade que, como acontece em São Pedro, preza e honra, isso sim, as mais remotas memórias de um lugar sem quaisquer conotações que credibilizem a solução do favorecimento do automóvel, ainda que muito bem parqueado.
Quando se propõe uma tal solução, imaginar-se-á o afã, o frenesim habitual em instalações que tais, em determinados períodos da manhã, da tarde e da noite, quando, nas mais diferentes circunstâncias do seu quotidiano, uns condutores entrariam no recinto, dirigindo-se à zona do parque, em busca de um lugar disputadíssimo, com outros, já em fila, aguardando desesperadamente a oportunidade da saída de alguém para ocuparem o espaço vazio… Mesmo que, suponhamos, muito civilizado, é este o cenário que, Senhor Presidente, queremos partilhar com as nossas crianças, jovens e idosos, ao fim e ao cabo, num recinto que dispõe, isso sim, de todas as condições e características para um usufruto adequado à melhoria de qualidade de vida dos fregueses residentes e dos visitantes?
Naturalmente, repudiando o acolhimento de viaturas neste especialíssimo canto do Centro histórico de Sintra, fregueses, munícipes sintrenses e cidadãos em geral, não deixam de estar preocupados com a solução que, sem margem para qualquer dúvida, consideram ser a adequada ao estacionamento do automóvel em que os interessados demandam o recinto. Ou seja, em perfeita sintonia com o senhor Presidente da Câmara Municipal de Sintra, que pretende proibir o trânsito de viaturas particulares no centro histórico, apontam para a instalação dos parques dissuasores da sua entrada na urbe que, em locais de periferia estratégica, nas entradas da sede do concelho – Ribeira-Várzea, Ramalhão e Lourel, e em articulação com uma rede integrada de transportes públicos – resolvam, em termos definitivos, através de instalações adequadas, seguras, civilizadas, uma necessidade cuja satisfação, com décadas de atraso, lembro neste preciso momento, esteve prometida até ao final do mandato anterior, promessa oportunamente expressa por dois Senhores Vereadores, em reunião concretizada nos Paços do Concelho, em Julho de 2015, perante representantes de três associações cívicas e culturais da sede do concelho.
Enquanto assim não acontecer, de facto, tudo continuará comprometido. Como tenho dito e repetido, Sintra está armadilhada. Mas, Senhor Presidente, não é por estar altamente comprometida a mobilidade urbana que os cidadãos estarão dispostos a dar de barato e a comprometer um espaço tão digno como a Praça D. Fernando II. Nesta disposição, afinal, também honramos a memória do patrono distinguido pela toponímia, o monarca a quem, Sintra em particular e o país, em geral, tanto devem.