terça-feira, 31 de março de 2009
Pobre magalhães
Recentemente, a Ministra da Educação foi ao Parlamento dar explicações acerca das circunstâncias que terão determinado o aparecimento de uma série de erros de língua portuguesa nas instruções de certos jogos com que o computador magalhães foi dotado.
Tanto quanto a polémica governante deu a entender, houve material que, pura e simplesmente, não foi objecto de controlo por parte do Ministério da Educação, que considerou ter terminado o seu trabalho de supervisão antes que o fabricante tivesse dado o produto como definitivamente acabado. Isto não é ligeira coisa, uma vez que os mecanismos de controlo, avaliação e certificação obedecem a regras que não podem ser postas em causa tão displicentemente.
Já anteriormente, num discurso não coincidente mas afim, a Subdirectora-Geral da Inovação e Desenvolvimento Curricular havia afirmado que os Serviços tinham controlado tudo menos as instruções dos programas onde, ao fim e ao cabo, estavam os erros, só mais tardiamente detectados, sem hipótese de remediação, quando os aparelhos já estavam em poder dos destinatários.
Se, de facto, assim aconteceu, no quadro das pressas,* à mistura com a desenfreada propaganda do Governo e das suas mais que descaradas manobras eleitoralistas, não há consequências para os responsáveis? Andaram a brincar com o dinheiro dos contribuintes, colocaram nas mãos de crianças das escolas um produto com erros de palmatória e tudo fica em águas de bacalhau?
Ou, como sempre costuma acontecer neste desgraçado país, não há responsáveis? Será como em Entre-os-Rios, com a queda da ponte? Será como em Belas, na sequência da cheia de Fevereiro do ano passado? Nuns casos, até há morte de cidadãos cujo único erro foi estar no lugar errado à hora errada. Noutros, como é o caso – estando a montante a mesmíssima cultura de desleixo – os graves prejuízos poderiam ter sido evitados.
Triste sina a de Fernão de Magalhães. Na realidade, a que pior destino podia ter ficado ligado o seu nome? magalhães, naturalmente, em itálico, naturalmente minúsculo, já passou à condição de símbolo da nacional, generalizada, proverbial incúria e de vergonhosa irresponsabilidade. Felizmente, em Espanha, outro é o respeito pelo grande navegador...
* Vd. texto publicado em 12 do corrente
quinta-feira, 26 de março de 2009
Hoje, apenas um curtíssimo apontamento para manifestar o maior regozijo pela singela obra de requalificação do parquer infantil adjacente ao Palácio Valenças. Que coisa estupenda ver todo aquele arranjo, a brancura dos muros e muretes, a limpeza e pintura dos equipamentos colocados à disposição das crianças! Estamos todos de parabéns.
É isto o que se entende por sossego civilizado, que se encontra em qualquer latitude mais bafejada pela sorte. Naturalmente, trata-se de tudo menos de sorte já que, isso sim, apenas tem a ver com práticas de cívismo contrárias à cultura do desleixo em que Sintra é tão pródiga.
É este o verdadeiro protótipo da obra de regime. Os autarcas, que sonham com lobos grandes, é que ainda não descobriram a enorme importância, a verdadeira grandeza destas insignificâncias. Oxalá, não falte, a partir de agora, o inerente cuidado de manutenção.
terça-feira, 24 de março de 2009
Palmas ao bom trabalho do BE. Denunciou, no site Cidadania Queluz, a contratação, pela Câmara Municipal de Sintra, da Xelentenota* (que nome original!...), por ajuste directo, no montante de quase sessenta e três mil Euros, para a execução de uma tarefa de prestação de serviços de consultadoria na área da gestão da comunicação e da informação.
Como há trezentos e vinte e seis dias, cerca de onze meses, para a execução do trabalho em apreço, a Xelentenota pode dar prova cabal da excelência do produto que terá preparado, em especial para o período eleitoral que se avizinha, durante o qual a Câmara tanto tem de comunicar e informar.
A Xelentenota é uma sociedade unipessoal, da qual o Senhor Deputado Municipal Paulo Marques, líder da bancada socialista na Assembleia Municipal de Sintra, é gerente e único sócio. Pelo que assim se verifica, especialmente em tempo de crise, o que é preciso é concentrar competências e reduzir despesas.
Que o Estatuto dos Eleitos Locais impeça os membros das Assembleias Municipais e outros autarcas da celebração de qualquer contrato deste tipo; que o Senhor Deputado Municipal Paulo Marques desempenhe funções de assessor do gabinete dos Senhores Vereadores do PS na Câmara Municipal de Sintra; que o mesmo Senhor Deputado também seja sócio da Ideia Prima (outro nome muito original!...) editora do jornal Cidade Viva, contando como sócios o Senhor Vereador Rui Pereira, o Senhor Deputado Municipal Luís Mota Gaspar e o Senhor Luís Bernardo (um dos assessores de imprensa do PM) devem ser puras e perfeitas coincidências.
Assim se entende que o jornal Público, na sua edição do passado dia 21 do corrente, no contexto da negra campanha em curso, tenha reproduzido palavras do referido assessor de José Sócrates no sentido de que não ia à empresa há cerca de três anos, desconhecendo até se a mesma ainda tem actividade. Não há dúvida! Todos merecem Xelentenota.
Fora deste baralho, claro que excelente nota merece o Bloco de Esquerda. Paulatinamente, assim se faz o trabalho de casa.
*O nome é mesmo muito estranho. Todavia, como não poderá deixar de acontecer, o problema deve ser meu, pouco habituado que estou a tão sofisticadas estratégias de gestão da comunicação e da informação que, inevitavelmente, ab initio, pressuporão a própria designação da entidade contratada.
sábado, 21 de março de 2009
Sinais dos tempos
na direcção da Antena Dois
Como têm acompanhado alguns dos episódios da minha denúncia ao que está a acontecer na Antena Dois e pretendendo eu que, pelo menos, de vez em quando, tenham um ou outro eco do que continuo fazendo nesse contexto, eis o que ontem se passou.
I.
Ás 12.15, remeti o seguinte texto ao Director–adjunto da Antena Dois da RTP - Rádio e Televisão de Portugal:
Senhor Almeida,
Na realidade, o senhor é uma verdadeira fonte de desassossego...
Há cerca de quarenta minutos, sintonizava eu, no meu auto-rádio o FM94.4, dei consigo a anunciar a peça Les Cris de Paris, de Clément Janequin. De repente, eis que o senhor Almeida, com a sua incontrolável verve, começa a falar em pr[é]gões. Valha-o Deus! pr[é]gões? Como plural de pr[é]gão, que, igualmente, é coisa que se não diz?
Tanto no singular como no plural, o [e] não é aberto. Há um sinal fonético, semelhante a um [i] cortado no segmento superior, que designa o correcto som que o senhor director da Antena Dois não soube emitir, aos microfones de uma rádio de referência, numa casa cujo património cultural o senhor não herdou, onde erros que tais são inadmissíveis.
Felizmente, raras vezes tenho a desdita de o encontrar. Sabendo quais são os seus horários, defendo-me de o frequentar. Infelizmente, quando topo consigo, logo se aplica o anexim: cada cavadela, minhoca...
Passe bem.
João Cachado
PS:
Muito gostaria de saber o que fez a sua Direcção da excelente sugestão do Senhor Provedor do Ouvinte, relativamente à realização dos Estados Gerais da Antena Dois...
II.
Às 14.03, eis o que responde o Sr. Almeida:
Senhor Cachado.
Muito obrigado pelo seu espírito de sacrifício, e pelo seu talento de pregador (aqui com um “E” bem sonoro). Gosto particularmente dos seus termos gentis.
PS: julgava bem empregue o meu tempo quando lhe enviei, há semanas, aquele longo lençol... mas o que vale isso ao lado dum bom pregão (um prego gigante, e não um grito apregoado) dos seus?
João Almeida
III.
Às 17.26, resolvi partilhar o episódio com o Prof. Doutor Mário Vieira de Carvalho, dando conhecimento a Adelino Gomes, o Provedor do Ouvinte:
Caro Professor,
Apenas mais um triste episódio da Antena Dois.
De imediato, seguirão as mensagens subsequentes.
As melhores saudações do
João Cachado
IV.
E, imediatamente, nova mensagem para o Senhor Almeida:
Senhor Almeida,
No caso vertente, apenas lhe restaria a assunção do erro. Repare que o apontei, tão somente, e, mais uma vez, a título de exemplo dos incontáveis do seu rol. De qualquer modo, o reconhecimento da falta pressupõe, invariavelmente, uma certa nobreza e alguma dose de humildade. Tais qualidades, contudo, não são conjugáveis com o paradigma a que tem obedecido a sua actuação quer como radialista quer como director na Antena Dois.
Por outro lado, na sua resposta, tão flagrantemente marcada por um quadro de indigência, o Senhor bem quis fazer ironia. Mas isso, Senhor Almeida, como deveria saber, não está ao alcance de pessoas com as características que se deduzem da sua pública prestação aos microfones dessa rádio. E não precisaria de fazer grande investigação para descobrir, em seus tão ilustres como recentes antecessores, João Paes ou João Pereira Bastos, modelos bem dotados das virtudes que lhe faltam...
Mas isso é outra gente, outra Cultura de base, outra Educação e em tão grandes proporções que, mesmo em conversa directa consigo, por muito que se esforçassem, jamais conseguiriam impedir que o senhor se espalhasse na prova real da sua proverbial e inconsequente verborreia. Isto mesmo já aconteceu, durante as conversas de intervalo, nas transmissões do MET. Todavia, duvido que tenha reparado...
Finalmente, permitir-me-ia aconselhá-lo a uma atitude de geral contenção enquanto se mantiver na Marechal Gomes da Costa. E não esqueça que, hoje em dia, há sofisticadíssimas formas de registo, no âmbito das quais já estão preservadas, para o futuro, as pérolas da sua prolixidade. A História vai fazendo o seu trabalho e, não raro, escreve direito por linhas tortas.
Entretanto, o Provedor do Ouvinte, vai dando mínima satisfação a tanta crítica dos ouvintes, perante tanto dislate na estação. Como terá tido ocasião de verificar, afinal, são mesmo muitos aqueles que se têm manifestado contra as polémicas opções da sua Direcção. E, nem todos anónimos, como se verificou com Mário Vieira de Carvalho que, com a autoridade que todos lhe reconhecemos, bem soube dizer como vai nu o rei.
Num país em que as pessoas pouco ou nada reclamam, ainda que em causa esteja a qualidade dos produtos que lhe entram casa dentro, por via radiofónica ou televisiva, não deixa de causar impressão o volume de tanta queixa contra a rádio clássica.
A seu crédito, o Senhor Almeida, soma e segue. Oxalá não seja muito grande o trambolhão resultante da aditiva operação. Acredite que não me dá o mínimo prazer assistir ao desastre de alguém. É coisa sempre, sempre muito triste. Até porque, quanto mais desastrosa se revelar a situação, maior o prejuízo dos destinatários da acção. Acresce a circunstância, nada despicienda, de que a Antena Dois presta um Serviço Público, sustentado pelo dinheiro dos contribuintes.
João Cachado
V.
Pouco mais de uma hora depois, o Senhor Almeida contesta:
Senhor Cachado.
Caso não se tenha apercebido, não neguei o erro. Acontece que não me coibi de, por outro lado, julgar os seus termos, tanto na mensagem original como nesta, e a meu ver muito mais graves do que o pregão mal pronunciado. Ó para ele, cheio de talento literário, com o seu brilho camiliano, sentenciando os outros como reles escribas… indigentes… pois ele é da mais elevada estirpe, já se vê. Ora que essa!! O senhor lembra-me aqueles professores académicos infrequentáveis, não pelo conhecimento que revelam mas pela soberba, pela veia castigadora. Só que isso era no tempo da outra senhora. Não pode esperar que o seu interlocutor se curve perante a sua postura. É uma questão de estilo. Ou seja, um erro meu ou de quem quer que seja, sendo figura pública ou não, não lhe permite despejar juízos de valor a eito, nem pisar ou achincalhar com recurso a linguagem trocista e, claro, totalmente descabida. Que sabe o senhor do meu trabalho em 20 anos de rádio? Que presunção é essa de aquilatar a honra a partir dum pregão mal dito? Acaso nos conhecemos pessoalmente? Deduções suas, não é verdade? Se quiser ser reconhecido como justo ou até modesto (ocorre-lhe isso?), cinja-se aos factos… modere a linguagem. E nós, humildemente, nos curvaremos, como acontece com tantos outros ouvintes quando apresentam as suas reclamações, sem juízos apressados à mistura. A humildade, para si, seria a que me faria arrojar a seus pés pedindo perdão pelo “pregão” mal acentuado, e pedindo, claro, a demissão, pois já se vê o crime que aqui está em causa. Como detalhadamente lhe expliquei, não tenho motivos para me achar menor, ou para me ajeitar perante as suas considerações. Leia a mensagem que lhe escrevi há umas semanas. São factos que vão muito para lá de pregões, de acentos, ou de outras contabilidades. Já agora, muitos há, ouvintes, que reconhecem, por outro lado, a estirpe de certos protestos. E reconhecem-nos bem à légua. Reenvio-lhe a última mensagem recebida via provedor.
PS: tenho pena… muita pena. Julgava que a mensagem que lhe enviei há semanas serviria para o senhor fazer outras contas. Lamento o seu apego ao pingalim… mas quem não sente…
João Almeida
VI.
E, de volta a cumplicidade de Mário Vieira de Carvalho:
Prezado Dr. João Cachado
Obrigado pela informação. Mas houve outros mimos no programa que ouvi de início mas desliguei logo.
As melhores saudações
Mário Vieira de Carvalho
VII.
ÀS 20,00 volto a contactar o Senhor Almeida:
Senhor Almeida,
Foi o Senhor e mais ninguém quem, hoje mesmo, respondendo à minha primeira mensagem, lembrava que me enviara um lençol em tempo oportuno. Pois, nessa ocasião, a leitura da mensagem - que, tão pressurosamente, reivindica como muleta salvadora em tão desesperado momento da sua indigente prestação radialista - como seria previsível, nada acrescentou ou contribuiu no sentido de que pudesse alterar, uma vírgula sequer, àquilo que previamente lhe havia remetido.
Lençol, lhe chamou o Senhor Almeida. Pois lençol será. Na realidade, não me sobra paciência para os lençóis tecidos com os paupérrimos materiais que o Senhor manipula. O tempo é precioso, Senhor Almeida, e eu estou a perder tempo com esta conversa que nada lhe adianta.
Manifestamente, tenho cuidado com o Português em que me expresso. Muito me honra que nele encontre qualquer, ainda que leve, reminiscência camiliana. Infelizmente, o mesmo jamais poderei dizer ou escrever acerca dos solavancos, deslizes, imprecisões inqualificáveis e inadmissíveis, repito, i-n-a-d-m-i-s-s-í-v-e-i-s erros, que o Senhor se permite articular aos microfones de uma rádio que não merece ser dirigida por si e pela equipa de que o senhor faz parte.
Deu-se ao trabalho de me transcrever uma mensagem encomiástica que um ouvinte remeteu ao Provedor. Deve ser coisa tão rara que o melhor será emoldurar. Se bem me lembro, o Provedor sublinhou a circunstância de serem em muito maior quantidade as mensagens desfavoráveis... Olhe, Senhor Almeida, em sentido contrário, vou reencaminhar, para o seu endereço, uma mensagem que recebi há poucos minutos, não de um anónimo ouvinte, mas de alguém que o senhor bem conhece.
João Cachado
VIII.
…E, ainda, novamente, ao mesmo Senhor Almeida, com conhecimento ao Provedor do Ouvinte e ao ex-Secretário de Estado, a mensagem supra acompanhada da que este me enviara:
---------- Forwarded message ----------
From: Mário Vieira de Carvalho
Date: 2009/3/20
Prezado Dr. João Cachado
Obrigado pela informação. Mas houve outros mimos no programa que ouvi de início mas desliguei logo.
As melhores saudações
Mário Vieira de Carvalho
Repeti a transcrição porque, hão-de convir, tão curta mensagem é altamente reveladora do apreço em que o Senhor Almeida, Director-adjunto da Antena Dois, é tido pelo signatário, ex-governante, respeitadíssimo musicólogo e uma das mais conhecidas e reconhecidas autoridades do mundo musical português…
IX.
Já de madrugada, responde o Director-adjunto da Antena Dois:
Tem a sua graça detectar, numa única frase de MVC, um descarado exemplo de mau português. Não sei se reparou, mas há ali "mas" a mais. Pois. Pela boca morre o peixe. Erros, certamente que os dou eu... mas, pelos vistos, a autoridade também. Só o prezado Dr. Cachado é que é infalível. E pressuroso em mostrar virtude: veja, professor, como o apanhei! Louvado seja.
Com o devido salamaleque.
E ala que se faz tarde.
João Almeida
X.
A minha resposta:
Senhor Almeida,Tenho a impressão que terá mal interpretado uma ou outra passagem das minhas anteriores mensagens, nomeadamente, quando me terei referido a questões de indigência. Ainda que o adiantado da hora aconselhe o devido recato, talvez valha a pena esclarecer este ponto.
Verdade é que, em minha opinião, o seu discurso não é rico nem sequer escorreito. Contudo, esta é uma opinião pessoal com a qual muita gente concordará e da qual o Senhor Almeida, muito naturalmente, discordará. Ora bem, efectivamente, se nas minhas referências à aludida indigência, uma quota parte estava afecta a detalhes do verbo, outra componente, muito mais significativa, se arrimava a questões substantivas, relativas, isso sim, à sua prestação como radialista e director.
No entanto, por mais que me esforce e, pelos vistos, por mais que o Provedor do Ouvinte tanto se tenha esforçado por trazer à colação determinadas fragilidades da sua direcção, o Senhor Almeida - eventualmente escudado em argumentos de índole outra, quiçá de ordem oculta à apreciação de reles mortais como os queixosos ouvintes da Antena Dois - subtrai-se à avaliação, não se reconhece atingido. Pois em seu direito está. E não deixa de ser normal reacção, em casos que tais.
Quanto aos reparos à mensagem, tão directa e fulminante do Prof. Mário Vieira de Carvalho, de ímplicita avaliação da sua prestação de ontem, aos microfones, apenas noto evidentes marcas de coloquialidade. Parece-me, isso sim, que à falta de argumentos que contrariassem um apoucamento tão pejorativo, decorrente daquela opinião, o Senhor Almeida agarrou aquilo que estava mais à mão...
Mas, como calcula, o Prof. Mário Vieira de Carvalho não me passou procuração. Se o Senhor Almeida considerou que valia a pena colocar-me a questão, se calhar, com muito mais pertinência, a deveria apresentar ao autor da frase. De qualquer modo, não me é difícil adivinhar o resultado de tal diligência, se a isso o Senhor Almeida se dispusesse. E depois, sabe, há o problema do tempo que não sobra para estas minudências.
Finalmente, informo que esta nossa troca de impressões já está publicada no meu blogue sintradoavesso que, aliás, como sabem o Senhor Almeida e outros seus colegas da Antena Dois, tem acolhido matéria afim.
João Cachado
................................................
Tal como noutras públicas empresas, provém de públicos recursos, dos impostos dos contribuinte, o dinheiro com que se paga a directores como o Senhor Almeida. Ou eu muito me engano ou, unicamente a partir dos sintomas que tenho trazido a este blogue, haveria matéria suficiente para abrir um fórum de discussão acerca do desafortunado momento que se vive na Antena Dois. Não gostariam de participar?
quinta-feira, 19 de março de 2009
O PREC*
na Pena e em Monserrate,
Têm sido muitas as pessoas que, frequentemente, me dizem do seu contentamento com o que se está a passar nos Parques da Pena e Monserrate, em relação aos trabalhos de recuperação do seu património natural e edificado, cujo sucesso é inegável.
Fazem-no porque acabam por confirmar, pessoalmente, aquilo de que tenho dado conta na série de textos aqui e no Jornal de Sintra publicados, através dos quais tanto me tenho congratulado com os novos tempos que se vivem por aquelas bandas, depois do consulado do biólogo e, em abono da verdade, após o período em que o Engº António Abreu começou a pôr ordem naquela casa.
Ontem mesmo, foi o meu amigo Dr. Mário João Machado quem me referiu, em termos altamente elogiosos, o que acabara de verificar, nos dois aludidos lugares, no âmbito de uma recente deslocação. Se aqui trago a sua apreciação é porque o Mário João Machado é um qualificado observador.
Responsável pelo Turismo de Sintra durante muitos anos, com uma licenciatura na área do Turismo, sintrense dos quatro costados, este homem que, em tempos, me chegou a confessar a sua falta de esperança na possibilidade de recuperação de Monserrate, ele que gosta tanto de Sintra como eu e como todos os que por ela se interessam e sofrem, também rejubila com o resultado dos trabalhos em curso, promovidos pela PSML.
Todavia, embora evidenciando estes positivos sinais, todos nos devemos preparar para uma longa campanha de trabalhos na totalidade do território confiado àquela empresa de capitais públicos, que tão boas provas está dando na gestão dos recursos que lhe têm sido confiados. É um caso de sucesso? Claro que sim. Mas o sucesso não é por acaso.
Aliás, nunca qualquer sucesso é ou foi obra do acaso...
*PREC = Período de Recuperação Em Curso
segunda-feira, 16 de março de 2009
Luís Pereira Leal,
o senhor da Música
O Dr. Luís Pereira Leal é um grande senhor da música a nível mundial. Não, não é exagero já que corresponde a uma evidência sobejamente conhecida nos meios culturais em geral, algo que, no passado domingo, dia da pública homenagem de que foi alvo, com um belíssimo concerto na sua casa de trabalho, mais uma vez se constatou no Grande Auditório da Avenida de Berna.
Todos os grandes, os maiores nomes da grande ribalta, compositores, maestros, cantores e solistas têm passado por aquela emblemática sala. Sempre pela mão de Luís Pereira Leal, como Daniel Barenboim, Alfred Brendel, Maurizio Pollini, Radu Lupu, Felicity Lott, John Nelson, Menahem Pressler, Jordi Savall, Grigory Sokolov, Maxim Vengerov – ínfimo número de uma série de centenas e centenas de notáveis – ontem deram o seu testemunho de apreço a este excelente homem a quem tanto deve a vida cultural portuguesa.
Para quem desconhece, bom será voltar a referir que a Fundação Gulbenkian é uma das casas de absoluta referência mundial no mundo da grande Música, das que melhor programação apresentam. Quando, entre nós, se fala de excelência, não há dúvida que a Gulbenkian é o grande paradigma. Ali só acedem os melhores dentre os melhores. Ora bem, Luís Pereira Leal, que há mais de quarenta anos trabalhava nos Serviços Musicais da Fundação Calouste Gulbenkian e, há mais de trinta, como seu Director, é o responsável por este palmarés absolutamente ímpar nas lusas paragens.
Nunca me canso de referir que, deslocando-me aos melhores auditórios no estrangeiro e aos famosos festivais de Música em Salzburg, Luzern, Bayreuth, Schleswig-Holstein, por exemplo, jamais terei ouvido recital, concerto de grande intérprete, conjunto orquestral ou coral que, mais tarde ou mais cedo, às vezes antes, não passe pela Gulbenkian.
É com toda a justiça que Luís Pereira Leal vem às páginas do Sintradoavesso. Certamente, trata-se da mais singela das homenagens de quantas lhe estão a prestar, nesta ocasião em que se retira das lides, para uma aposentação que, naturalmente, não se afastará das salas de concerto e das partituras, já que a formação musical, para além da Licenciatura em Ciências Historico-Filosóficas, é matriz desta singular personalidade, de promissor compositor e violoncelista que deixou tais actividades, para se dedicar em exclusivo à Direcçaõ Musical da Gulbenkian, com tanto sucesso.
É conhecida a profundíssima relação com Sintra, em especial com o Festival de Sintra, do qual é Director Musical há vinte e cinco anos. Em reconhecimento dos altos serviços que vem prestando, foi atribuída a Medalha de Ouro do Concelho, a quem também já foi agraciado, entre outras, com a Ordem de Mérito da Áustria, Oficial da Ordem das Artes e das Letras de França e de Cavaleiro da Ordem da Coroa da Bélgica ou com a Ordem de Cristo.
A Luís Pereira Leal o meu, o nosso mais sincero obrigado, com votos de boa saúde, por muitos anos, em que o seu saber, especial aconselhamento, experiência incomparavelmente rica, constituem bens inapreciáveis de que nós, em Sintra, poderemos continuar a ter o privilégio.
quinta-feira, 12 de março de 2009
e o magalhães*
Comecemos por admitir ser perfeitamente plausível que, em determinadas circunstâncias, ocorram os designados erros ou acidentes de percurso, cujas causas, desde logo, se detectam através dos mecanismos de controlo que qualquer projecto pressupõe. Há que aceitar que a infalibilidade é coisa raríssima, e, mesmo a do papa, só funciona num quadro de excepção…
Todavia, neste nosso cada vez mais inviável país, tais acidentes deixaram de constituir aquilo que, noutras mais civilizadas paragens, evidencia contornos de coisa excepcional, para assumirem um perfil de extremamente preocupante regularidade, de quase normalidade, como se tivessem passado à condição de regra.
É neste contexto, com moldura tão sui generis, tão negativamente sugestiva, que se enquadra o mais recente e conhecido caso de trapalhice em que o actual Governo da Nação tem sido tão fértil. O próprio título deste texto vos dá a pista quanto ao objecto destas palavras, o famigerado computador magalhães,* já tão carregado de historietas e de sujidades mais ou menos profundas.
Em relação ao magalhães - que não passa de mera ferramenta de trabalho - determinou o deslumbramento patusco e provinciano dos nossos pategos decisores políticos que o tivessem alcandorado à condição de absolutamente indispensável às aprendizagens das criancinhas do ensino básico. Claro que não é. Claro que é grossa asneira e, como técnico de educação, professor, autor e co-autor de materiais didácticos, tenho obrigação de saber o que acabo de afirmar.
Dou de barato se a tecnologia é minoritária ou maioritariamente nacional, se a mão de obra nacional corresponde ou não a uma mais valia, a um valor acrescentado. Dou de barato se terão ou não havido vícios de concurso. E até dou de barato que tenha ocorrido algum favorzinho, cobrindo uma ou outra negociata, como tem vindo a público na comunicação social.
Igualmente, estou nada preocupado com a falta de cumprimento dos prazos de entrega. Mas, de todo em todo, não consigo admitir que, brincando com dinheiros públicos, uma série de incompetentes tenha contribuído para colocar nas mãos dos miúdos um instrumento de trabalho crivado de erros de Português. É incrível ainda que, infelizmente, não passe de mais um triste episódio a acrescentar ao desgraçado palmarés da equipa que ocupa os gabinetes da Cinco de Outubro.
Contudo, como poderíamos estar felizes da vida se o caso do computador magalhães constituísse caso único ou, pelo menos, absolutamente fortuito. É que, para além do tenebroso processo de avaliação dos docentes – a grande bandeira e prova real do insucesso e incompetência, não só do Ministério de Educação, mas também do próprio Governo em geral – há imensos casos, eu sei lá, um rol de asneiras de bradar aos céus.
Se alargarmos o leque a outras áreas da governação, imediatamente nos surgem os exemplos do Ministro dos Transportes e Obras Públicas com o sinuoso processo do Aeroporto e aquele leonino contrato da Liscont-Mota Engil, do amterior Ministro da Saúde que ia incendiando o país com a sua falta de senso, do Ministro da Administração Interna que não consegue definir uma estratégia para as polícias, do Ministro da Segurança Social que fez publicar o Código de Trabalho com grosseiros erros e omissões, do Ministro da Cultura que anunciou um forçado regime de Mecenato Cultural antes de terminadas as negociações, do Ministro das Finanças a braços com uma tremenda crise para a qual olha como boi para palácio…
Na maior parte dos casos, tudo vai acontecendo porque, no afã de apresentar muito, muito trabalho antes de terminar a legislatura, o governo não concede tempo bastante para que funcionem os mecanismos de controlo, avaliação e de certificação da qualidade dos projectos, da legislação que os enquadra e de outros relevantes pormenores. A propósito, nunca ouviram dizer que as cadelas apressadas pariram cachorros cegos?
Nos diversos ministérios, em vez dos técnicos, são os comissários políticos, contratados a peso de ouro, como assessores e consultores, para os gabinetes de Suas Excelências os Ministros e Secretários de Estado, que se encarregam, com a máxima celeridade, de atirar para a rua com mirabolantes produtos como o magalhães.
São as pressas, o frenesim, a imprepração, a falta de cultura do que é o nobre Serviço Público, a perspectiva empresarialista, no sentido mais pejorativo do termo, que estão a montante deste perfeito despautério que encheu as páginas dos jornais e ecrãs de telejornais do passado fim-de-semana. E, pelo andar da carruagem, o melhor é não ter grandes esperanças de mudança.
Vai continuar o salve-se quem puder e esta horrorosa mentalidade do dirigente que é tão habilidoso e sinuoso, tão chouriceiro e mixordeiro, como aqueles que dirige. Há séculos que assim é neste pobre país de analfabetos e habilidosos, que Hergé tão bem caracterizou no Senhor Oliveira da Figueira. Também por isso mesmo, há séculos que Portugal está em perda. Olhem, mais ou menos, desde o tempo de Fernão de Magalhães…
PS:
Já depois de ter escrito este texto, trouxe-me o correio a revista Ler no. 78, deste mês de Março, que publica uma notável entrevista, conduzida por Carlos Vaz Marques, a António Barreto. Nela afirma este nosso amigo:
"(...) Da maneira como o Governo aposta na informática, sem qualquer espécie de visão crítica das coisas, se gastasse um quinto do que gasta, em tempo e em recursos, com a leitura, talvez houvesse em Portugal um bocadinho mais de progresso. O Magalhães, nesse sentido, é o maior assassino da leitura em Portugal. Chegou-se ao ponto de criticar aquilo a que chamaram «cultura livresca». O que é terrível. É a condenação do livro. Quando o livro é a melhor maneira de transmitir cultura. Ainda é a melhor maneira. A coroa de todo este novo aparelho ideológico que está a governar a escola portuguesa - e noutras partes do mundo - é o Magalhães. Ele foi transformado numa espécie de bezerro de ouro da nova ciência e de uma nova cultura, que, em certo sentido, é a destruição da leitura. (...)"
Claro que não posso estar mais de acordo com esta opinião, que tão bem espalda as minhas palavras do quarto parágrafo do texto supra. Aliás, aconselho vivamente a integral leitura da entrevista, nas suas oito páginas de boa conversa, com alguém cuja lucidez nos habituámos a contar.
* Assim mesmo, grafado com minúscula. Como verificam, outra foi a opção da Ler.
terça-feira, 10 de março de 2009
O jornal diário para profissionais de turismo online Opção Turismo, anunciou ontem que hoje, dia 10 de Março, reabrirá o hotel Tivoli Palácio de Seteais.
Como ainda não passei por lá, desconheço em que condições se vai processar o acesso ao público de um terrero que nunca devia ter sido fechado e, muito menos, sob a esfarrapada desculpa de que erm questões de segurança que teriam determinado o ebcerramento. A descarada mentira chegou ao ponto de invocarem a abertura de valas que, na realidade, nunca foram concretizadas.
De facto, como se previa, o relvado - único espaço reivindicado para continuação das visitas - esteve sempre livre de quaisquer manobras que pudessem constituir obstáculo, por exemplo, à demanda de estudantes de todo o país que, durante um ano, ali não puderam concretizar actividades previstas nos programas escolares.
Entretanto, o que foi ingénuo tanque, em moldura de aprazível lugar de lazer, lá está transformado na prosaica casa de máquinas que o Igespar autorizou, na anunciada presunção de que era muito boa solução, com ilusionista espelho de água e tudo o mais. Como se nada tivesse com isto, a Câmara Municipal de Sintra, prima pelo silêncio. Atitude sintomática? Não. Apenas o que a casa gasta...
De Seteais, o costume (II)
Afinal, acabei por ir ao terreiro. Como podia eu ficar mudo e quedo perante a perspectiva da reabertura do recinto? Fui, entrei e, não sem uma certa emoção, dei uma volta de reconhecimento. Ainda há obras em curso, certo é que de acabamento. Do interior do palácio não vos dou notícia. Na verdade, era aquela sensação de pisar um terreno nosso, que eu procurava. E isso, encontrei.
Um pouco mais acima, anda um enorme desassossego de mangueiras, condutas, cabos elécticos. De portas escancaradas, a casa das máquinas está prestes a receber motores, bombas eléctricas, um sem número de equipamentos cuja natureza é coisa só para iniciados, incluindo as brilhantíssimas mentes que imaginaram e decidiram ofensa tão acabada. O hoteleiro concessionário de Seteais continua a fazer das suas mas, note-se, a coberto do aval do Ministério da Cultura... É Portugal no seu melhor!
O nosso amigo Fernando Castelo escreveu um comentário acerca do texto desta manhã ao qual pretendo dar o merecido destaque, não o deixando confinado ao reduto dos comentários. Por isso, aí está a sua transcrição:
"Como a contagem das minhas Primaveras se vai aproximando das setenta, começo a duvidar se penso em certas coisas, e logo existem, ou se estou no meio de idiotices da idade, com coisas que não existem.
Então não é que uma noite destas dei comigo a sonhar que para a transferência de um comentador tinha bastado um telefonema? Nem sei a que propósito me apareceu tal sonho, mas agora, perante as dúvidas que coloca no seu texto, fico comparando o que é fácil ao nível pessoal e o que se torna difícil quando é preciso tomar decisões de interesse colectivo. Pelo menos algumas.
Seteais e a Quinta de Vale dos Anjos ficarão na história dos nossos momentos tristes. Porque nada mais podia fazer, estou envergonhado. Batemos a todas as portas: Os mais altos responsáveis autárquicos, Unesco, um homem de cultura (Manuel Maria Carrilho) que por lá anda. Sem respostas. Ficaram mais umas desilusões.
Como sabe, os responsáveis continuam orgulhosos das suas poses, impantes pela sua qualidade de eleitos pelo povo. Povo este que, abnegadamente, de tantos em tantos anos NÃO ESCOLHE QUEM LHES DÊ MELHOR FUTURO, MAS SIM UM MELHOR FUTURO PARA UNS TANTOS MILHARES DE ELEITOS. Estamos de rastos, meu caro. É a decadência de um país.
Fernando Castelo
10-03-2009 16:05"
A minha resposta, essa sim, continua onde deve permanecer, portanto, no lugar dos comentários.
sexta-feira, 6 de março de 2009
o Cinco de Março
Na realidade, não fosse a prestigiada actividade da Parques de Sintra Monte da Lua, com tantas marcas de sucesso a seu crédito, desde que a equipa liderada pelo Prof. António Ressano Garcia Lamas iniciou funções, e não saberia eu onde ir buscar lenitivo e alento, como antídoto contra tanto despautério e desconchavo que aí vai por Sintra.
Ontem, mais um significativo e simbólico marco, a sublinhar o êxito decorrente de um abrangente e ambicioso programa de actividades tão consistente, no seu desenho a montante, como competentemente posto em execução. Foi o caso da inauguração da Biblioteca do Palácio de Monserrate que, para todos quantos assistiram, terá constituído um momento especialmente emotivo.
De facto, o júbilo de que vos dou conta, começa a ser coisa felizmente habitual nos espaços confiados à PSML. Sabiamente geridos, os recursos disponíveis, quer os gerados pela própria empresa, quer os resultantes de mecenato internacional, estão permitido intervenções no sofisticado património natural e edificado, sob sua custódia.
Provavelmente, enquanto testemunho de património edificado de recorte romântico, o Palácio de Monserrate constituirá o caso mais paradigmático do escandaloso estado de abandono a que, durante décadas, estiveram votados, monumentos classificados do maior interesse. Correu risco de derrocada mas, hoje em dia, ali está, afirmando-se como fénix de esperança e confiança.
Obedecendo e seguindo à risca todos os princípios que enquadram as intervenções em peças patrimoniais congéneres, uma competente e alargada equipa de profissionais, sob coordenação da Arq. Luísa Cortesão, recuperou uma das salas mais atingidas pela perniciosa cultura do desleixo que tanto afecta as lusas paragens.
Como sabem os que costumam seguir os meus escritos, tive oportunidade de acompanhar os trabalhos e, portanto, de confirmar como foram respeitadas as cartas internacionais que obrigam Portugal neste domínio da recuperação de património. Tudo exemplar, impecável. Claro que é uma grande satisfação ver, agora, aquela estupenda sala, prestes a recuperar a sua vocação.
Trata-se de algo difícil de verbalizar ou descrever. Compreenderão os leitores a dimensão da emoção e do júbilo de três dos presentes, Ema Gilbert, José Manuel Carneiro e eu próprio, cúmplices que temos sido de uma causa que todos conhecem, experimentando tantos anos de desgosto e desânimo, relativamente ao que parecia irremediável?
Pessoalmente, ainda tive o grato prazer de reencontrar uma série de pessoas afectas ao campo da defesa, preservação, recuperação e restauro de património. Perdoar-me-ão se, em vez dos representantes das entidades oficiais – e lá estavam um Ministro, Secretários de Estado, a Embaixadora da Noruega – aqui vier destacar antigos alunos que têm estado envolvidos nesta obra, cujos nomes o Presidente da PSML ontem distinguiu nas singelas mas pertinentes palavras que a todos dirigiu.
Como se tudo isto já não fosse bastante, o Prof. Lamas e colaboradores, tinham preparado, para a Sala de Música, um recital de câmara, com um programa diversificado e muito agradável, com pequenas peças de Bach, Händel, Mozart, Beethoven, Schubert, Bocherini e Bizet a cargo do Trio de Cordas Intempore e Natália de Carvalho Brito, meio-soprano, que decorreu com grande dignidade, havendo oportunidade para confirmar as boas condições acústicas do espaço.
Naturalmente, também de parabéns, e de que maneira!, estão os outros dois membros do Conselho de Administração, Drs. João Lacerda Tavares e Manuel Baptista. Tenho a certeza de que o manifesto sucesso da empresa também é fruto do bom ambiente de trabalho que ali promoveram e fomentaram, um ar que se sente. Eu sinto e já tenho idade para não me enganar em avaliações que tais…
Toda a equipa técnica da PSML estava natural e particularmente feliz. Se, ontem, em destaque, estaria a Arq. Luísa Cortesão – que, com a sua proverbial discrição, não cedeu às luzes da ribalta – o Engº Jaime Ferreira, a Dra. Ana Oliveira Martins, a incansável Ana Cristina Rocha, todos partilhavam connosco mais um simbólico momento, em que Sintra melhorou a olhos vistos.
Ah, meu Deus, quem dera poder escrever coisa idêntica a estas linhas, acerca do executivo municipal, que vai adiando e enredando a resolução de sobejamente conhecidos e mais que estudados problemas, como o do centro histórico, comprometendo a qualidade de vida dos munícipes, tão lamentável como indesculpavelmente!
Por tudo quanto venho de escrever, deixaria um aviso que, em simultâneo, também é conselho àqueles bons amigos da PSML, cujo sucesso incomoda muita gente, no sentido de se preparem para a continuação do coro dos incompetentes e conhecidos invejosos locais, coro esse indirecto, acoitado à surdina de campanhas em (re)curso de alguns cidadãos de boa vontade cuja instrumentalização se adivinha.
PS:
Permitam que, a propósito do evento de ontem, aproveite a oportunidade para lembrar como, não só em Sintra, mas igualmente por esse país fora, existe tanto, tanto trabalho para jovens profissionais que, paradoxalmente, após o seu período de formação, têm alguma dificuldade em encontrar onde exercer as suas tão necessárias competências.
É Portugal, no seu melhor, negando a quem adquiriu uma sofisticada formação, em escolas secundárias e superiores sustentadas por dinheiros públicos, a possibilidade de aplicar os seus conhecimentos, enquanto os bem patrimoniais caem aos bocados…
quarta-feira, 4 de março de 2009
Nan - di - nho?
Interessa-me começar por introduzir a noção de diminutivo enquanto substantivo que designa pessoa, animal ou objecto num contexto afectivo ou familiar. Neste caso, pode ser uma forma reduzida simples, por exemplo, Zé por José, vó ou vô, por avó e avô, um segmento fónico repetido, como Dudu, Totó, por Eduardo, António, dois segmentos de vocábulos diferentes, no caso de Marri por Maria Rita ou ainda uma forma sufixada como em Aninhas ou Anocas por Ana.
Outros casos poderia mencionar mas, no vertente, basta-me este do registo familiar. E tudo isto a propósito de quê? Pois, muito simplesmente, porque um certo Fernando, reportando-se a um homónimo, conhecida figura pública, o referiu, tão carinhosa como familiarmente, por Nandinho. Os mais perspicazes, não duvido, já adivinharam quem são as duas personagens cá do burgo. Se assim for, por enquanto, mantenham o suspense uma vez que importa circunstanciar a cena.
A coisa passou-se no Portugal sem fronteiras, programa da RTP1, no dia 14 de Fevereiro, Dia dos Namorados. Trata-se de um produto de qualidade mais que duvidosa que, acreditem, nunca tinha visto. Mas, mão atenta e amiga, fez-me chegar uma gravação em cd, reproduzindo o tempo útil do contexto em que o tal Fernando fala do tal Nandinho.
Efectivamente, aquele programa é de uma indigência a toda a prova. Para além da circunstancial pobreza do discurso – que, adivinho, será uma das suas permanentes características – naquele dia, a alarvidade dominava. A menos que, para além da indigência, a alarvidade também seja constante e dominante. No segmento que visionei, e só dessa posso dar-vos conta, falava-se de Sintra.
Creio que assim sucederia, talvez explorando o estafado epíteto das românticas paragens, cada vez mais descaracterizadas (pela gestão de autarcas, valha-os Deus, muito pragmáticos e nada votados ao revivalismo romântico), no designado Dia dos Namorados, coisa de comerciantes oportunos que nada tem a ver com a nossa cultura. Portanto, nada a destoar e tudo condicente…
Tudo se passava sob a desbocada batuta de um Carlos Alberto Moniz que, embora nunca tenha sido bom em coisa alguma que publicamente mostrou, tudo leva a crer já terá passado os seus dias menos maus para, actualmente, assumir uma pose de fim de carreira, de animador de tretas ou, se quiserem, de entertainer de terceira classe.
Pois então, pelo meio de muita gargalhada forçada e gratuita, com umas queijadas e travesseiros sobre a banca à sua frente, o Fernando um, Cunha de sobrenome, sempre tratado como tal, com estes nome próprio e apelido de família, permitiu-se falar acerca de um super amigo (sic) um tal Nandinho que o Moniz – não fosse alguém mal entender – muito pressurosamente, logo esclareceu ser, nem mais nem menos, do que o presidente da Câmara Municipal de Sintra.
Ora bem, desconhecendo que o Professor Fernando Jorge Reboredo de Seara, ilustre Presidente da Câmara Municipal de Sintra, mantinha tamanha intimidade com o fabricante das queijadas, dirigente desportivo e Presidente da Junta de Freguesia de São Pedro Penaferrim, fiquei a saber, de uma assentada que fora ele, o Nandinho, a convencer Fernando um, designemo-lo assim, no sentido de se candidatar à Junta, porque, para todos os efeitos, morava em São Pedro, razão bastante, parece, para que alguém se apresente a sufrágio popular e se transforme em autarca eleito…
Agora, posso eu começar a tirar algumas conclusões acerca de assuntos que, na minha santa ingenuidade e ignorância, não me passavam pela cabeça. Por exemplo, o caso do funicular que Fernando um, chama teleférico, ignorando ser este último inadequado ao lugar e coisa diferente. Lembram-se? Originou notícia não desmentida, no Diário de Notícias, nos termos da qual estaria iminente a construção de teleférico que, partindo do campo de futebol do clube de que é dirigente, se dirigiria à Pena.
Reparem que, projecto tão retumbante que, noutro qualquer município, mereceria o anúncio do presidente, quando não mesmo de três ministros, por exemplo, dos Transportes, do Turismo ou do Ambiente, aqui foi dado a conhecer pelo polivalente presidente-da-Junta-dirigente-desportivo-fabricante-das-queijadas. Bem fiquei eu embasbacado com tamanho manifesto de autonomia… Porém, depois de perceber quão íntimos eles são, imagino o que se terá passado nos bastidores.
Umas queijadas aqui, uns travesseiros ali, umas graçolas buçais à mistura com uns pontapés na gramática, Nandinho para cá, São Pedro para acolá, mais umas abébias subvencionáveis no curto, médio ou longo prazos, eis os ingredientes da receita a montante do mirabolante teleférico, que era coisa abortada à nascença, óptima para entreter Fernando um e todos os papalvos que, semelhantemente, fossem ao engodo.
Entretanto, quando melhor lhe aprouver, o institucional Presidente da Câmara Municipal de Sintra, Prof. Fernando Jorge Reboredo de Seara, em contexto formal qb, adequado à escala de um ambicioso projecto integrado de transportes e estacionamento, há-de anunciar um grande dispositivo sistémico, nos termos do qual, será referido não só um, para a Pena, mas também, provavelmente, mais dois funiculares, em distintas encostas da serra, que possibilitem um fácil e despoluído acesso aos cumes, com estações intermédias e tudo…
Claro que é apenas outro cenário, cuja probabilidade de concretização será tão nula como a do anunciado por Fernando um. De qualquer modo, sempre teria outra dignidade, embora a cerimónia pudesse rematar com um bom Collares e umas queijadas.
E, finalizando, já repararam que, em Cascais, outro galo canta? Porque será que, por aquelas tão vizinhas e próximas bandas, ninguém aparece a reclamar intimidades com o Tonecas ou o perinhas do Sporting, isto é, presumíveis diminutivo e alcunha (não aplicáveis pela respeitabilidade devida) a António Capucho, paralelos alternativos do Nandinho e careca do Benfica? Pois é, em Sintra, com muita pena minha, jogar no popularesco, ainda dá votos.
Ainda em tempo. Afinal, implícita ou explicitamente, acabei por fazer publicidade às queijadas de Fernando Cunha. Embora nada tenham com isso, sempre vos digo que, no tocante às ditas, em primeiro lugar, prefiro as da Teresinha, seguindo-se as do Chico, perdoem-me a Teresa, da Casa Gregório e o Francisco de Almeida, da Casa do Preto, pessoas que muito respeito mas sem familiaridades. Desconheço se algum ou ambos são objecto de atenções do Nandinho. Nesta, como noutras coisas, penso que deve haver franca, honesta e equitativa distribuição…
E vós, leitores, o que pensais?
segunda-feira, 2 de março de 2009
“(…) Saí dali [Terreiro do Paço de Sintra] com o sentimento de que, na minha “cidade” [Sintra], onde se desenrolam tantos dos meus livros, eleitos, estranhamente afastados do vivo e do belo, decidiam e devastavam. De que era prudentemente fundada a desconfiança generalizada pelos políticos. De que estes eram um perigo. Que não deixavam sangue nas ruas, mas feridas mortais nos lugares, nas paisagens, nas sensibilidades, na simples e antiquíssima boa-fé. (…) onde os interesses materiais vingarem como fim, o homem não será (…)”.
"Não haverá diálogo entre mortos" Maria Gabriela Llansol, jornal Público, 8 de Dezembro de 2001
Passa amanhã um ano sobre a data da morte de Maria Gabriela Lansol que ficará para sempre ligada a Sintra, também por ter lançado uma das mais violentas acusações contra eleitos locais que não se mostram à altura dos desafios. Na altura, perante a vontade do executivo camarário, de construir um parque subterrâneo de estacionamento na Volta do Duche, a escritora insurgiu-se, através de artigo que subscreveu no jornal Público, em 8 de Dezembro de 2001, do qual extraí a citação supra.
Só se tiverem perspectivas muito curtas é que interpretarão aquelas como palavras que, tão somente, visariam Edite Estrela e os restantes edis, os eleitos autárquicos do momento. Considerando os casos mais recentes de Seteais, Quinta do Vale dos Anjos, bem como, a título de mero exemplo, as tentativas de Monte Santos ou da Cinelândia, entenderão a abrangência de tal discurso, tão certeiro.