[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 29 de abril de 2009



Santa Eufémia,
património ameaçado*


Não admira que o deslumbrante terraço de Santa Eufémia venha atraindo sucessivas gerações das gentes de Sintra e de muitos forasteiros que, bem informados, não se dão ao luxo da perda de o privilégio de um dos mais espantosos panoramas deste sudoeste europeu, tão periférico, tão especialmente marcado pela serra a derramar-se sobre a foz do rio e a entrar pelo mar dentro.

Santa Eufémia, lugar propício que é à celebração da Beleza e de acesso ao divino, tem a telúrica força das alturas montanhosas, que concitam o favor dos deuses desde as mais remotas eras. Recolhimento e meditação, espaço de romaria religiosa e de alegre convívio, lendário sítio procurado por pares de namorados e terreiro para familiares merendeiros, eis as marcas de Santa Eufémia, inequívocos sinais de um património real e espiritual de Sintra, cuja preservação, sob todos os aspectos, deveria merecer especial atenção.

Neste contexto, muito mal se compreende que, ao longo dos últimos trinta anos, o terreiro venha sendo descaracterizado, em consequência daquilo que designaria como sucessivas
campanhas de desgaste, retirando-lhe nobreza e dignidade, instalando-se os famigerados adereços da proverbial cultura do desleixo sintrense, ou seja, construções degradadas, falta de limpeza, etc.

Mais recentemente, a construção de um acesso à Pousada da Juventude, em sentido único descendente, precisamente a partir do terreiro, esconde a inexplicável decisão de fazer atravessar aquilo que, afinal, é um santuário, pela continuação da estrada vinda de São Pedro. Não dá para acreditar mas, felizmente, é coisa facilmente remediável.

Indubitavelmente, lugar de tão especiais e densas memórias, suscita a necessidade de uma intervenção dos cidadãos, da Câmara Municipal e Junta de Freguesia, da paróquia local e da diocese, em concertada e integrada atitude de defesa do inquestionável património, ali adossado ao Parque da Pena, onde, para nosso regozijo, tanta coisa excelente está acontecendo no domínio da recuperação de bens patrimoniais.

Para já, porque não aceitam o desafio de uma caminhada até Santa Eufémia, no próximo dia 1 de Maio? Provavelmente, muitos dos mais jovens, desconhecem ser esta uma data em que, tradicionalmente, as gentes de Sintra demandam o lugar. Tanto quanto sei, haverá missa às onze da manhã - nesta data, a Igreja também comemora São José Operário - e, depois, certamente, ocasião para franco e informal convívio.


*
Pouco alterado, trata-se do texto publicado pelo Jornal de Sintra em 01.05.09



terça-feira, 28 de abril de 2009


Tratem o lixo



Ainda a propósito do texto O cocó dos lulus, aqui publicado no passado dia 2o, a geral limpeza do burgo causa enorme preocupação. Por exemplo, mesmo no coração da sede do concelho, no conhecido bairro da Estefânea, o que dizer da Correnteza, daquele constante nojo, em especial quando chuvisca o suficiente para deixar a lindíssima mas desleixada calçada perigosamente conspurcada e escorregadia?

Porém, é na gestão dos lixos urbanos, em termos do enquadramento da solução do seu tratamento final, que se coloca a questão de maior acuidade, de verdadeiro escândalo ambiental, em que Sintra aparece com significativa quota parte de responsabilidade, no contexto da perspectiva intermunicipal, que a envolve com Oeiras, Cascais e Mafra.

Por enquanto, segundo o Expresso de 7 de Abril, questionado acerca do assunto “(…) Fernando Seara, de Sintra, endereçou a questão a Lino Ramos, o vereador do CDS com assento na empresa [Tratolixo], que nos reenviou para Seara. (…)” Então, o que acham deste circuito comunicacional? Enfim, como estratégia de limpeza, também não está mal.

Pois é, cocó dos lulus, canil municipal, limpeza urbana na sede do concelho, tratamento final dos lixos, são apenas algumas das vertentes de um mesmo problema, cuja resolução pressupõe a tal análise sistémica – tantas vezes reclamada pelo Senhor Presidente da Câmara – que permitirá a sua resolução integrada e global. Caso contrário, é apenas o que a casa gasta…

(parcialmente publicado no JS em 24.04.09)


sábado, 25 de abril de 2009

Sintra, 25 de Abril de 2009

Sem mais comentários, eis a mensagem que o amigo Fernando Castelo hoje nos enviou:

Apenas este poema(*) me obrigaria a resistir. Pois resistir também é a nossa alma efervescente de indignação.

Tivesse assistido àquele indigente espectáculo do içar da bandeira nos Paços do Concelho de Sintra e não sei que palavras mais adedquadas.

Mandam as regras da má educação e de inconformidade política que nada se cumpra com rigor. Mandam os sentimentos degradados que quem vive da causa pública, despreze as regras mínimas dos cargos que ocupam.

Hoje, 25 de Abril de 2009, trinta e cinco anos depois da revolução, senti-me o mais envergonhado dos portugueses, apesar de - numa primeira impressão - ter julgado que estava a sofrer de uma terrível paramnésia.

Marcada para as 10 horas, só depois das 10h e 10 minutos devem ter dado instruções para a banda musical avançar para o local.

Ficou a convicção nos assistentes, na maior parte gente com muitos anos de vida, que o atraso se deveria justificar com a espera pelo Presidente da Câmara. Mas a cerimónia acabaria por começar cerca das 10,15 notando a relevante ausência de desse político.

Inicidado o Hino Nacional, nenhuma das figuras postadas ao longo do passeio fronteiro (estava presente o Vice-Presidente) se destacou para a saudação às bandeiras que iam subindo no mastro, cada uma a seu tempo, a cargo de agentes da polícia municipal que estavam fardados com aqueles reflectores verdes, desconhecendo se é essa a farda oficial para cerimónias.

Na verdade, talvez pela pouca prática nos andamentos do Hino, a Bandeira Nacional subiu mais depressa, seguindo-se a do município que ficou a três quartos quando acabou o Hino, apreciando-se a da União Europeia a meio do mastro, como se de algum luto se tratasse.

A cerimónia, com vários hiatos entre marchas da Banda dos Aliados, durou 8m,06s e 26/100, o que é superior ao ano passado.

Apeteceu-me gritar contra tal despudor político.

Apeteceu-me gritar para que estes políticos beijassem as pedras pisadas pelos militares, porque foram eles que lhes criaram condições para procederem como procedem.

Faltou-me a voz. A vergonha que senti foi tamanha que apenas consegui soletrar a palavra "degradante".


(*) Nevoeiro (Post precedente)

NEVOEIRO

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra.
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer -
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal e o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a Hora!

Valete, Fratres.


Fernando Pessoa, Mensagem


[Foi escrito em dez de Dezembro de mil novecentos e vinte e oito. É o derradeiro poema de Mensagem, integrando a terceira parte, que o poeta titulou «O Encoberto» e, nesta mesma, pertence ao grupo III. – “Os Tempos”].


Em vinte e cinco de Abril de dois mil e nove, este é o país, palavra por palavra, verso a verso. Leio, releio. Até a exaltação final, a entendo hoje mais como imprecação que, sempre lúcido, o poeta ortónimo deixa ao futuro, certo que estava do implícito sarcasmo lançado a uma gente que bem conhecia.

Fica o brilho da palavra certa, colado a uma impotência de décadas e décadas, minhas e herdadas. Um horror!

Em Liberdade, o Belo, horrível...




sexta-feira, 24 de abril de 2009



Confusões (in)convenientes

A manipulação das estatísticas é uma atitude com a qual não podem pactuar as pessoas que, de boamente, tentam compreender os fenómenos sociais, políticos e económicos que marcam e enquadram os nossos viveres. Como seria de esperar e se tornou evidente, a crise em que estamos mergulhados tem fornecido, aos políticos de todos os quadrantes, campo fértil à distorção de índices, marcadores, percentagens, sintomas ou sinais.

A prática que maior escândalo me suscita é a que se relaciona com a grosseria de comparar a situação deste pobre e desgraçado país que, há décadas, vive acima das suas possibilidades, incapaz de gerar a riqueza de que carece para bastar às suas necessidades, com a de países europeus cujos índices económicos, sociais, culturais, em termos globais e específicos, é nitidamente mais favorável.

Neste contexto, o Governo tem usado e abusado de tão abominável recurso, ofendendo sistematicamente a inteligência dos cidadãos. A primeira conclusão a retirar de prática tão lamentável é a de que não lhe convém assumir a sua quota parte de governação inábil, geradora da crise nacional e endógena, sem qualquer hipótese de confusão com a que se abateu pelo mundo fora, na sequência dos desmandos neoliberais, a galope e sem o freio da supervisão que era suposto ter funcionado nas diversas instâncias nacionais e internacionais.

Baralhar e confundir são verbos que, descaradamente, se conjugam cada dia que passa, em todos os meios de comunicação social que procuram os governantes, ávidos da colheita das suas doutas opiniões. Inevitavelmente, o próprio Primeiro Ministro, não tem poupado os cidadãos à confusão de números, numa altura em que, quotidianamente, a OCDE, o FMI, o BCE vão despejando previsões cada vez mais catastrofistas.

Há dois ou três dias, depois de o Banco de Portugal, ter anunciado uma perda de rendimento de 3,5%, o Fundo Monetário Internacional agravou as perspectivas e, pronunciando-se acerca da situação em vários países europeus, prevê uma recessão mais gravosa, não só em Portugal mas também, por exemplo, na Alemanha. Logo, sistemática e repetidamente, o PM português se desdobra em declarações, sugerindo ou dando a entender que a Alemanha está pior que Portugal.

É coisa que possa fazer-se? É coisa que possa abordar-se sem ter em consideração a relatividade de contextos tão diferentes, infelizmente tão mais negativos em Portugal? A verdade é que, grosseira e enganadoramente o faz quem deveria abster-se desta enormidade. É como comparar, ainda por exemplo, a pobreza nos dois países, como se os desgraçados dos nossos dois milhões de pobres tivessem as mesmas oportunidades que os pobres alemães e mesmo dos pobres que, não sendo alemães, vivem na Alemanha.

Perdeu a noção do decoro. Aliás, tudo isto se articula com a maneira preocupante como o chefe do executivo vem dando indícios de descontrolo pessoal, em resultado da pressão a que tem estado sujeito, cujos sintomas foram demasiado evidentes, durante a sua última entrevista à RTP1, em especial, relativamente ao modo como lida com a crítica em geral e com a dos jornalistas em particular.

quinta-feira, 23 de abril de 2009


Amargas amêndoas culturais*


Enquanto não se perceber que o estacionamento em Sintra é assunto a resolver de braço dado com a decisão de, simultaneamente, atacar outras decisivas questões, não se vai a parte nenhuma…Trata-se, na realidade, de um complexo e multifacetado problema, que sempre pressuporá a instalação de parques periféricos, estrategicamente situados nas entradas da sede do concelho, a partir dos quais os utentes ficarão articulados com a futura rede integrada dos transportes públicos urbanos e turísticos.

Além disso, medidas como a requalificação e aproveitamento de pequenas bolsas de estacionamento urbano, o provimento de uma ou duas unidades de expedito estacionamento vertical, o encerramento de determinadas vias ao trânsito, o regime de cargas e descargas, o parqueamento de viaturas de residentes e, por exemplo, o acesso aos cumes turísticos da Serra, com recurso aos hipomóveis e funiculares, devem ser equacionadas num quadro de abordagem sistémico, global e integrado.

Não se pode resolver, civilizadamente, o problema do estacionamento sem obedecer a esta moldura de referência. Porém, enquanto isso não acontecer, é inadmissível estimular qualquer atitude facilitadora do acesso de viaturas particulares ao centro histórico, uma vez que as características deste são incompatíveis com a inerente necessidade de defesa de um património tão singular quanto vulnerável. Trata-se, aliás, de uma regra inquestionável.

Todavia, na Regaleira, contra estes princípios e agravando a questão, a Fundação CulturSintra pretende construir, intramuros, um parque de estacionamento, para trinta viaturas. O Vereador da Cultura da CMS deu cobertura à inqualificável proposta, comunicando ao Jornal da Região que o despautério deverá nascer na zona da quinta onde existe uma espécie de galinheiros degradados. E o IGESPAR? Tal como para a destruição do tanque de Seteais, já deu parecer favorável…

Há algum tempo, sustentando-se nos habituais e estafados argumentos, comerciantes locais tiveram o despudor de pretender que, novamente, o Terreiro do Paço de Sintra se transformasse num parque de estacionamento. É coisa que não surpreende, justificada que está pela proverbial impreparação e ignorância atávica de
agentes económicos de trazer por casa.

Será aceitável que a administração da CulturSintra, fundação de recorte cultural, mais o Vereador da CMS e o referido organismo do Ministério da Cultura tivessem subscrito atitude ainda mais grave? Não é aceitável, embora possível, já que não passam de agentes culturais de trazer por casa. Maior falta de nível? Não é fácil…


*Texto publicado no JS, 10.04.09


terça-feira, 21 de abril de 2009



Bater no ceguinho


Espero bem que não tenham perdido o debate que opunha os cabeça de lista dos vários partidos candidatos às eleições para o Parlamento Europeu, nos Prós e Contras, de ontem à noite na RTP1.

Reportar-me-ei, tão somente, à parte útil do programa que, de algum modo, poderia ter algo a ver com Sintra. A verdade é que, estando destacadamente presentes (mas sem microfone) Edite Estrela e Ana Gomes apontavam uma remota conotação com esta terra – uma porque já foi, a outra porque quer ser – e ambas pelas muito pessoais razões que lhes conhecemos.

Nuno Melo interpelava Vital Moreira quanto à duvidosa lisura do critério que terá levado o Partido Socialista a inscrever Ana Gomes e Elisa Ferreira, como candidatas ao Parlamento Europeu e às autárquicas, a primeira em Sintra, a outra no Porto. Trata-se de uma questão perfeitamente pertinente que, muito naturalmente, também eu próprio já coloquei em textos neste blogue e no Jornal de Sintra.

Mais uma vez, Vital Moreira evidenciou a sua flagrante, confrangedora fraqueza como candidato, incapaz de justificar o que é injustificável, ou seja, aquela farisaica proposta de jogar em dois carrinhos, para optar, consoante os resultados eleitorais assim o determinarem, em Sintra e no Porto ou Estrasburgo. Deveria estar preparado para a questão. Claro que seria colocada.

Enquanto isso, Ana Gomes, sem os propósitos convenientes à dignidade dos cargos para os quais se apresenta a duplo sufrágio, e na tentativa de compensar a indisfarçável, péssima prestação do «seu» cabeça de lista, inquietava-se, articulava umas palavras indistinguíveis e emitia forçados sorrisos, quais esgares, denunciando a incomodidade da situação.

Vital Moreira, para além de não estar preparado, nem para aquela nem para as outras questões, é um fraquíssimo candidato, a prova provada do erro do Secretário Geral do Partido Socialista que nele apostou o que, no meu modesto parecer, não deveria. Vital Moreira foi um autêntico e penoso bombo da festa, atingido por todos os lados, uma coisa penosa, conforme confirmará quem tiver assistido. Não se podia ter batido mais no ceguinho…

Perante tanta fragilidade, todos os outros candidatos estiveram à vontade. Em destaque, à direita, Paulo Rangel, sereno, preparado, eficaz. À esquerda, Miguel Portas, grande senhor da noite, o grande esclarecedor, pertinente, pondo no seu lugar o candidato do PS, sempre que este ultrapassava a fronteira das evidências, escancarando as suas próprias e fatais incoerências e incongruências.

Prevê-se imensa abstenção dos eleitores portugueses e de todos os europeus em geral. Mas, para já, entre nós, espectáculo não falta.

segunda-feira, 20 de abril de 2009


O cocó dos lulus

Nada mais louvável do que a campanha que a Câmara Municipal de Sintra actualmente conduz, no sentido de sensibilizar os donos de cães para a necessidade de cuidarem dos dejectos do animal, quando o levam ao passeio diário que, em todos os aspectos, deveria ser higiénico.

Neste início do século vinte e um, trata-se de uma iniciativa que, na sequência de atitudes congéneres e recentes, a autarquia está a patrocinar, correspondendo a uma fase de consciencialização cívica que, noutras paragens, mais bafejadas pela sorte,* há muito aconteceu. Enfim, a cada terra, o seu uso, ou seja, o seu tempo de actuação.

Entretanto, no âmbito de uma perspectiva global e integrada – decorrente da visão sistémica que o senhor Presidente da Câmara constantemente, e muito bem, se reclama – me parece que o executivo não poderá deixar de conceder a maior atenção à resolução do problema das condições de funcionamento do canil municipal. É que, naturalmente, trata-se de matérias indissociáveis.

Sabem os habituais leitores deste blogue, que já tive necessidade de publicitar queixas de utentes e de promotores da defesa dos direitos dos animais,** apontando Sintra como uma nódoa incompatível com uma latitude civilizada e, portanto, um mau exemplo a corrigir com a máxima urgência.

Naturalmente, não podia estar mais de acordo com a CMS no que respeita aos cocós dos lulus. Todavia, ao pedir aos munícipes atitudes civilizadas, já que está com a mão na massa, cumpre-me lembrar as suas obrigações num domínio igualmente crítico, cuja resolução deverá propiciar (sem desenrascar, sem as improvisações habituais...) a civilizada correcção de uma situação resultante da tão portuguesa e sintrense cultura do desleixo.


* sorte - leia-se desenvolvimento sociocultural
...
** caso da Dra. Cristina Dias Ferreira





quinta-feira, 16 de abril de 2009



Um desperdício?


O Desperdício de anteontem, foi comentado pela Dra. Margarida Paulos através de um texto que, por sua vez, suscitou a minha subsequente resposta. Por me parecer que tais peças podem e devem ser partilhadas como propostas autónomas, decidi reproduzi-las.

Portanto, em primeiro lugar, o comentário da Dra. Margarida Paulos:

Não consigo entender porque é que as pessoas se espantam, pela manifestação de opinião do Dr João Cachado, em relação ao PS, e, nomeadamente, em relação ao Vereador Domingos Quintas: julgo que a competência e honestidade de que deu mostras, como responsável financeiro da autarquia, são indiscutíveis e o desnorte que actualmente se verifica (veja-se a reunião de câmara de hoje), vêm confirmar todos estes dados; por isso, a opinião do Dr João é justa e válida, como o foi para os socialistas de Sintra; no entanto,o facto de o Presidente da Câmara, ter o acesso, sobejamente conhecido à Comunicação Social, fez surgir a necessidade de se encontrar outra «figura mediática», no seio do Partido Socialista, que pudesse enfrentar alguém que está sempre nos écrans ou nas páginas de jornais e, de facto, o Dr Quintas, não tinha ainda tido oportunidade de construir essa imagem, junto dos sintrenses, o que em nada desmerece das qualidades de coerência, honestidade e competência enunciadas.

No entanto, a Drª Ana Gomes,é também uma muulher de princípios e uma lutadora e sabemos que se Sintra a escolher para dirigir os seus destinos, ela dedicar-se-á ao Concelho de alma e coração e em exclusividade, como é seu apanágio. Descansem os sintrenses que se a tivermos como Presidente, a teremos em fulltime e a 100%. Assim o queira a vontade de todos nós. Como socialista e amiga pessoal do Dr Quintas, resta-me agradecer ao Dr João Cachado, a referência amável, elogiosa e absolutamente merecida que lhe faz.

Margarida Paulos
15-04-2009 21:50



E a minha resposta:


Minha Cara Dra. Margarida,


Ao começar por escrever que se trata de uma cena «déja vue»* e, apesar da conotação eventualmente pejorativa que a expressão entre aspas evidenciará, também eu tinha em consideração as justificações, a montante da opção do Partido Socialista, que a Margarida tão bem e detalhadamente circunstanciou.

Compreendo. A opção é coerente com toda uma lógica que subjaz, a nível nacional e internacional, não só ao percurso do Partido Socialista mas também de outras instituições políticas e de índole mais abrangente. Limitam-se a corresponder aos desafios colocados por uma sociedade tão mediatizada como aquela em que estamos mergulhados.

De qualquer modo, julgo não exorbitar ao considerar que uma tal lógica não deixa de constituir uma «sui generis» forma de cedência cívica a instrumentos de comunicação que, algo perversamente, condicionam o escrutínio dos cidadãos, ao ponto de obnubilar a sua capacidade de avaliação. Era e é, tão só neste contexto, que me permiti pronunciar acerca da opção do Partido Socialista quanto à cabeça de lista para as eleições autárquicas em Sintra.

Como calcula, tal como a maioria dos munícipes sintrenses e dos portugueses em geral, a minha opinião acerca de Ana Gomes é consideravelmente positiva, especificamente no domínio da actividade diplomática que é o seu enquadramento profissional e de entrega pessoal à defesa das grandes causas dos Direitos do Homem.

Julgo, contudo, que se impõe jogar em inequívocos terrenos de verdade. Ana Gomes é óptima naquilo que a tem notabilizado no serviço que o país lhe pediu. De igual modo, Domingos Quintas é óptimo naquilo que Sintra lhe tem solicitado, ao ponto de, com toda a nobreza, ter satisfeito os interesses do concelho ainda que, como vereador da oposição, tivesse assumido a dificílima pasta das finanças municipais, sob a condução de «um executivo que não era o dele».

Neste contexto, até admito que Ana Gomes poderia ser uma presidente tão capaz como os que têm ocupado aquele cargo. Mas tenho a certeza, minha cara Dra. Margarida, que Domingos Quintas poderia fazer render, no momento próprio, todo o capital acumulado em anos de um saber feito de experiência, no concreto quotidiano de muitos anos de conhecimento das necessidades do concelho.

E quem, a priori, poderá demonstrar que, perante uma figura mediática consigo concorrente, Domingos Quintas não se evidenciaria, com argumentos que não lhe faltariam? Os combates de David e Golias também se dirimem nas arenas da comunicação e esta, como sabe, compreende interessantíssimos e surpreendentes mecanismos.

Quantos e quantos anónimos (e não é o caso...), não se têm transformado em fenómenos mediáticos? Enfim, só coloco a pergunta na presunção de ser esta uma «conditio sine qua non» de que o Partido Socialista jamais prescindiria.

Até parece que estou a defender uma qualquer estratégia de promoção de Domingos Quintas. E, se acrescentar que, na edição do Jornal de Sintra de amanhã, sairá a minha "6ª Coluna" subordinada a idêntica «defesa», então não tenho safa possível. Pois bem, nada menos correcto. Nem Domingos Quintas precisaria do meu aval que, perversamente, até lhe poderia causar nefastos efeitos, tal a minha fama...

Aproveitaria a oportunidade para sublinhar que, seja qual for a personalidade que vier a assumir a presidência do executivo municipal, na sequência das eleições do próximo Outono, importará que tenha uma perspectiva profundamente estratégica das necessidades do concelho, por exemplo, em função das suas características de ingovernável gigantismo.

Conhece a Dra. Margarida como, a propósito, tenho defendido a cisão desta grande unidade concelhia em duas ou três, a partir das afinidades de vária ordem entre freguesias agrupáveis para efeito da desejável governabilidade. Temo que, enquanto tal não acontecer, enquanto tal estratégia se não concretizar, enquanto a visão de Estado não se sobrepuser aos mesquinhos interesses de ordem partidária e eleiçoeira, se continue a perder um tempo precioso, sem proveito para quaisquer munícipes, apenas prolongando o «statu quo».

Como sabe a Dra. Margarida, a actual situação é particularmente conveniente não aos políticos - que somos todos nós, homens e mulheres da polis - é particularmente conveniente não aos cidadãos - que somos todos nós, homens e mulheres da cidade - mas, isso sim, aos politiqueiros e corruptores da Democracia e da cidadania que a sustenta.

Enquanto a coisa se mantiver e apresentar este quadro de inconveniência, não auguro nada de especialmente profícuo e favorável à melhoria da qualidade de vida do meio milhão de pessoas que habita um concelho desconforme, uma manta de retalhos, que se abriga à prestigiada designação de Sintra, mas que pouquíssimo tem a ver com o topónimo e seus aparentes privilégios.

Portanto, e, em conclusão, como bem vê, a minha luta é por uma causa outra, que nem sequer vai aparecer no programa de qualquer das organizações partidárias concorrentes à Câmara de Sintra, uma vez que a actual «lógica» partidária interpreta tal proposta como um tiro no pé.

O mais certo é que passem ainda vários mandatos, antes que a minha razão se evidencie como inevitável.Com os meus mais de sessenta anos, não prevejo que assista à concretização da ideia. Mas quem disse que o sonho é para realizar durante o efémero tempo da nossa existência física?As melhores saudações,
João Cachado
16-04-2009 10:58


Claro que muito gostaria de relançar o debate da dimensão do concelho. No entanto, com a correcta noção das minhas fracas possibilidades e limitações, considero ser matéria de suficiente abrangência para suscitar a existência de um forum, dotado de suporte logístico adequado à concretização operacional das diligências que tal projecto pressupõe.


* vd. texto publicado em 14.04.09

quarta-feira, 15 de abril de 2009


Amor de Perdição



Inserido no Tema da última edição do JL (8 a 21 de Abril), está um texto de Maria Alzira Seixo, "O Amor de Perdição hoje, Constantes e deslizes na cultura", cujo interesse largamente ultrapassa os limites dos domínios cultural e literário e stricto sensu.

A autora, conhecida especialista camiliana, propõe uma reflexão extremamente bem burilada sobre a actualidade do romance do genial autor de São Miguel de Ceide, através da qual somos conduzidos por um percurso inteligente, muito perspicaz e salpicado de lúcida ironia, em que, por exemplo, relembra os erros de opções estratégicas nos curricula escolares, cujos desastrosos resultados nos desafiam cada dia que passa.

Apenas uns breves excertos que, estou certo, vos aguçarão o interesse para a leitura do artigo completo:

"(....) Mas compreendo que pegar hoje no Amor de Perdição intrigue os espíritos, dado o aumento da criminalidade contemporânea institucional, que começou por banir a Literatura e outras Humanidades do ensino, e depois se espanta por «já não haver valores»... Ou dado que o que não é de hoje, e, logo, não é moderno (quando a Filosofia deixa de ser estudada, a ausência da Lógica dá silogismos deste género), vai para a reciclagem, as reescritas impressionam-nos, mas esse romance de 1861, é certo, já ninguém o lê. Apenas os eruditos. Ou aquele grupo de apaixonados da Literatura que sempre resistem, como no filme do Truffaut, Farenheit 451, e guardam no coração e na memória (saber de «cor», etimologicamente, é « saber no coração») os textos de sempre.

(...) E talvez se diga, sim, que não há condições para que hoje se leia este romance, achando que é preciso preparar as cabecinhas estudantes com rodeios, exemplos, brincadeiras, adaptações à moderna e fichas de várias espécies, e as ditas cabecinhas ficam tão bem preparadas que já nem precisam de ler, nem tempo teriam para tal, pcupado que foi todo o seu tempo na «preparação», que acaba por substituir a «ocupação».

Ora dêem mas é tempos livres aos estudantes, sem fichas, em pleno lazer - e as cabecinhas, se estão bem preparadas em raciocínio e em gosto (por alguém que também ambos possua...), surpreender-se-ão com o seu interesse, e talvez façam como algumas de dantes: surripiar o livro para o ler às escondidas, à noite debaixo dos lençóis, ou à débil luz dessas estrelas que Teresa invocou para Simão nas cartas, em testemunhos de amor. (...)"

Basta de citações. Sigam a sugestão, leiam o artigo de Maria Alzira Seixo e, a propósito, entreguem-se ao privilégio de uma nova leitura de Amor de Perdição. Entre outros benefícios, voltem a sentir como flui, esplendoroso, aquele Português de referência absoluta.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Um desperdício

Embora se trate de uma cena déja vue, dificilmente se entende que o Partido Socialista de Sintra tenha relegado Domingos Quintas para número dois na lista dos candidatos à Câmara Municipal, atrás de Ana Gomes.

Recentemente, não fosse o caso de ainda subsistir qualquer dúvida, a candidata a presidente - cuja convicção e determinação assim ficam bem patentes... - já afirmou que, se não ganhar, vai de armas e bagagens até ao Parlamento Europeu, para onde, à cautela, também concorreu.

O Partido Socialista não hesitou. Para além de avançar com o princípio da polivalência da candidata que, nos termos da lógica partidária proponente, tão eficiente seria na presidência da Câmara Municipal de Sintra como no PE, insiste na estafada solução de apresentar uma figura que aparece na televisão, sem qualquer relação conhecida na defesa dos intereses do concelho, na mira da conquista de votos da massa acrítica.

Apesar da analogia, o caso de Sintra não é coincidente com o do Porto já que Elisa Ferreira tem uma forte ligação com os interesses da região. Aqui, os conhecidos e manifestos atributos de Domingos Quintas - homem honesto, credível, inatacável pelas provas dadas em Sintra - não terão pesado o suficiente para que o PS o apresentasse na cabeça da lista. Ou muito me engano ou talvez lhe saia o tiro pela culatra.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Conselho pascal

Já em plena Semana Santa, começo por vos convidar para Seteais. Primeiramente, com especial agrado, hão-de acolher o positivo aspecto da recuperação do palácio e, finalmente, a tão reclamada reabertura do terreiro de que vos dei oportuna conta, com a possibilidade de acesso ao Penedo da Saudade que, não sendo o que outrora foi, melhor está do que encerrado…

O pior é o que se passa na Quinta do Vale dos Anjos, mesmo em frente. Não percam a oportunidade de subir as poucas dezenas de metros da azinhaga à esquerda, para se escandalizarem com a construção da grande residência que, como verificarão, entre outros desmandos, vai ficar a uma cota mais alta que o monumento vizinho, fruto de um duvidoso processo de licenciamento que o Tribunal Administrativo de Sintra analisa.

Depois, sempre a pé, vão seguir no sentido de Monserrate. Naturalmente, logo têm de passar pela casa de máquinas, cuja construção pressupôs a destruição do tanque que o IGESPAR autorizou, no contexto de um atentado ao património que não me canso de continuar a denunciar.

Por ali abaixo, palmilham um dos percursos onde mais gente me vê, nas minhas diárias andanças dos tais seis quilómetros à hora. Até ao mirante, junto à Capela, sobre a Quinta da Piedade, à nossa esquerda, são três quilómetros bem medidos pelo que, com o adicional do trajecto em sentido inverso, perfazem a minha medida quotidiana.

Não me vou armar aqui em guia turístico. Muito teria que contar sobre as quintas que ladeiam a velha estrada de Colares. Nesse sentido, José Alfredo fez um trabalho extremamente meritório cuja leitura e releitura muito vos beneficiará. Quem, de algum modo, também sempre me acompanha é o meu querido Agostinho da Silva. Não resisto, de vez em quando, ao registo da sua memória.

Fomos amigos, mesmo muito amigos, uma amizade que nem sequer partilho em termos públicos, de tão reservada que era. Mas posso confirmar como contei com a sua companhia, por esta estrada fora, onde, por exemplo, ouvi o seu sonho de fundar um Instituto do Oriente, na Quinta da Penha Verde, por onde vão passar, propriedade que foi do Vice-Rei da Índia, D. João de Castro.

No entanto, o que hoje fundamentalmente pretendo é chamar a vossa atenção para outros monumentos. É que, como resultado do trabalho de desbaste florestal em curso, agora é possível ver e observar, detalhadamente, inúmeras e fantásticas árvores, de porte magnífico, que estavam escondidas no perigoso e emaranhado matagal que, durante décadas, cresceu e se multiplicou perante a incapacidade de muita gente.

Confiem no meu testemunho. Conheço estas vistas, muito de perto, para poder sublinhar como, apenas a pé, tudo isto é possível. Verdade é que atravessamos a Semana Santa, período dos maiores jejuns e abstinências… Privem-se de tudo menos do acesso a esta Beleza. E, se vos sobrar tempo, entrem no Parque de Monserrate. Vão e, depois, não esqueçam: cá espero o agradecimento.


PS:


Estarei ausente durante uns dias. Para onde vou, terei música a toda a hora. Uma das peças que ouvirei, a Paixão segundo São Mateus BWV 244, de J.S. Bach, é obrigatória por estes dias. Não é preciso deslocarem-se a Leipzig para o privilégio de uma obra máxima da cultura universal. Para aqueles que não disponham ainda de alguma gravação, aconselharia, em tempo de crise, uma muito acessível.

É da etiqueta Brilliant, com os solistas, Rogers Covey-Crump, Michael George, Emma Kirkby, Michael Chance, Martyn Hill, David Thomas, coros do King’s Colledge e do Jesus Colledge de Cambridge, os músicos do Brandenburg Consort, sob a direcção de Stephen Cleobury. São três CD, com livrinho de acompanhamento de audição, num total de duas horas e três quartos da melhor música.

Boa Páscoa.


segunda-feira, 6 de abril de 2009




O estadista…


No âmbito da Cimeira G-20 da passada semana, vieram à baila certas considerações de alguns intervenientes que, mais ou menos laterais, não deixam de fornecer pistas sobre quem as produziu.

Durão Barroso, rapaz muito perspicaz e de prolixo discurso, afirmou que uma das chaves para o sucesso da Conferência fora a humildade com que o Presidente Obama se apresentara na Europa.

Pessoalmente, fiquei perfeitamente siderado com tanta sagacidade. E não pude deixar de articular tal opinião com a do então Primeiro Ministro de Portugal que, há cinco anos – apesar de tantos e evidentes sinais da gigantesca e galopante asneira que se avizinhava – não foi capaz de discernir a sobranceria do anterior presidente americano.

Aliás, com a sua atitude de reles mordomo, ao acolher Bush e Blair nos Açores, acabou por ligar indissociavelmente o governo e a diplomacia de Portugal a uma das mais negras páginas da História recente, colaborando na farsa de quem jurava possuir provas indesmentíveis de que o ditador iraquiano dispunha de armas de destruição massiva.

Passados uns meses, Barroso seguiu o exemplo do predecessor Guterres. Pôs-se ao fresco e fugiu para outras águas mais serenas e rentáveis. Hoje em dia, não passa de mais um desses homens sem chama, figurantes da cena política internacional que apenas sabem navegar à vista.

Aqueles que somos do tempo de Charles De Gaulle, Maurice Schumann, Paul Henry Spaak, Konrad Adenauer, Harold Mac Millan, Harold Wilson, Aldo Moro, Amitore Fanfani, Olaf Palme, Willy Brandt ou John Kennedy, ilustre plêiade que terá terminado com Jacques Dellors, sabemos que, para ser estadista, não basta ocupar um lugar de Estado… É preciso muito mais.

Desaparecida esta fantástica gente que tanto nos ajudou a crescer, como homens e mulheres da geração de sessenta, não surpreende que os pequenos barrosos desta Europa envelhecida e causticada, fiquem embasbacados com a luz de Barack Obama que, finalmente, se perfila como
O estadista dos nossos dias.


sexta-feira, 3 de abril de 2009

Na Serra, o descanso




Como sabem os leitores que acedem a estas páginas, já houve quem me atribuísse o epíteto de protector da Parques de Sintra Monte da Lua. Porque me tenho atrevido a evidenciar o excelente trabalho concretizado pela empresa, passei a ser distinguido, ganhei este curioso estatuto local. Se querem que vos confesse, não me causa qualquer mossa e até me convém já que, com ou sem ironia à mistura, a minha protegida* merece totalmente a minha protecção.


Se querem um bom conselho para estes dias de Primavera, não hesitem. Aceitem a minha sugestão e, primeiramente, dirijam-se à rampa da Pena. Lá em cima, na bifurcação, voltem à esquerda, a caminho dos Capuchos. Quem, como vós, conheceu aquela estrada, ladeada por arvoredo, bosques, matagais completamente desleixados, que constituiam permanente preocupação pela possibilidade de indução de incêndios, vai surpreender-se.


Hoje em dia, embora ainda haja muito que fazer, as tapadas começam a estar civilizadamente limpas, na sequência de trabalhos de limpeza e desbaste que atingiram uma escala que já classifiquei como dramática, no sentido teatral, de uma cena que, apesar de continuar no mesmo palco, no mesmo espaço, mudou radicalmente. Trata-se de uma grande campanha de operações que só tem paralelo nas obras de recuperação do património histórico edificado, igualmente confiado aos cuidados da mesma empresa.


No caso vertente, ou a cena mudava mesmo, nos termos em que veio a acontecer, ou a perpetuação do statu quo equivaleria a um crime em que todos acabaríamos por ser cúmplices. Todavia, preparem-se. Quem não está habituado a acompanhar as periódicas manobras de manutenção de uma floresta bem gerida - caso da maioria dos leitores - vai apanhar um murro no estômago.


Foi tudo por bem. O que, de uma vez por todas foi feito, tinha de ser feito e tornava-se tão inadiável como imprescindível. As infestantes estão sob controlo. Está em curso uma campanha de plantação de espécies florestais, ecologicamente adequadas, e foram postas em execução todas as medidas tendentes à preservação de um património que tem de evoluir saudavelmente e com toda a segurança.


Cumpre-me esclarecer que a minha protegida tem sido tão ingrata que não me passou qualquer procuração... Por isso mesmo, a mensagem que aqui expresso, surge, tão somente, na sequência de várias deslocações aos lugares, numa das ocasiões, com dois silvicultores - um deles meu amigo austríaco, de passagem por Sintra - portanto, sem a mínima relação com a PSML, que me transmitiram o resultado da sua observação sumária, opinião que, com tanto gosto, partilho convosco.


Quando, já vai para dois anos, a propósito de cortes e desbastes, em terrenos então impenetráveis, onde hoje funciona a quintinha pedagógica, escrevi que o barulho das motosserras era melopeia para os meus ouvidos de inveterado melómano, estava a PSML na primeira fase da campanha que, paulatinamente, tem vindo a alargar, contemplando o património natural incluído no território que está sob a sua custódia. Enfim, até agora, todos os indícios me levam à conclusão de que não me terá faltado lucidez à minha protecção...


Finalmente, a segunda parte do conselho. Depois de refeitos da surpresa, que vos prenuncia o descansado gozo daquelas paragens, pelas futuras gerações, sugiro o regresso à Pena. Visitem o Parque. Não vos chamarei a atenção para isto ou aquilo. Concedam-se as horas necessárias e apercebam-se das melhorias introduzidas. Uma das zonas que mais curiosidade suscita pelo que, entretanto, já está a acontecer em termos da sua recuperação, é o Chalet da Condessa. Vão numa altura em que possam bisbilhotar o centro de interpretação e apreciar os trabalhos à volta.


Mais tarde, se quiserem, voltem aqui, ao sintradoavesso, para pormos em comum as nossas impressões.

* Comentário de Rui Silva, publicado em 24 de Março pºpº