segunda-feira, 29 de junho de 2009
Recomendação
de alto nível
Na contracapa do Expresso do passado sábado, apareceu a confirmação pública daquilo que já toda a gente sabia, ou seja, a certeza de que, nas próximas eleições autárquicas, o Prof. Fernando Seara se recandidata à presidência da Câmara Municipal de Sintra.
Num momento em que, ao mais alto nível da São Caetano à Lapa, se conjuga o verbo rasgar em toda a sua exuberância, bom seria que o ainda presidente e futuro candidato aproveitasse a onda para dar a entender ao eleitorado local que práticas pretende rasgar do actual e precedente mandatos.
Tão somente para o caso de alguma dificuldade inicial, quanto ao levantamento das atitudes menos condicentes com as reais necessidades dos munícipes, lembrar-lhe-ia o conselho da própria Dra. Manuela Ferreira Leite, ao dar o mote para as campanhas de todos os candidatos do seu partido, exigindo-lhes que não façam promessas cujo cumprimento lhes seja impossível.
Atenção:
Podem os leitores continuar a comentar a actual edição do Festival de Sintra no sintradoavesso. Basta aceder ao texto Revisão da matéria publicado no dia 18 do corrente.
sexta-feira, 26 de junho de 2009
Os leitores podem continuar os seus comentários ao Festival de Sintra. Basta aceder ao texto Revisão da matéria publicado no dia 18 do corrente.
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Pobres bancos…*
Desde dia 18, passada quinta-feira, o conhecido terreiro da Praça D. Fernando II, onde se realiza a feira de São Pedro, ficou mais aliviado – deixem-me usar a expressão –não porque haja menor concentração de feirantes mas, muito simplesmente, como efeito da remoção e deslocação de quase todos os bancos de pedra que, em determinadas zonas, há tantos anos, faziam parte do mobiliário urbano do recinto.
Entretanto, como se depreende, o espaço não está mais descongestionado. Nesta altura, pelo contrário, é inacreditável e até eventualmente perigosa a compactação com que nos deparamos, sem lógica, à trouxe-mouxe. Qualquer leigo ficará de cabelos em pé perante a insegurança reinante. Aliás, como não ficar preocupado com tantos cabos eléctricos anarquicamente pelo ar e no pavimento, botijas de gás desprotegidas, num daqueles quadros de terceiro mundo em que Sintra costuma ser tão fértil?
Então, o que dizer daqueles bancos, deslocados ali para o meio da feira, ainda com as pedras da calçada agarradas aos pés? Como justificar o destempero? Na ausência de plausível explicação, tudo leva a crer que se deveu à necessidade de ganhar mais uns palmos de terreno, expeditamente e a qualquer preço, numa atitude que, em seu perfeito juízo, ninguém ousaria promover.
Ainda que se trate de um desacato com efeitos apenas temporários, o episódio é totalmente inadmissível em latitude civilizada. Para todos os efeitos, tanto os bancos como a própria Praça D. Fernando II, enquanto peças integrantes e indissociáveis do património de Sintra, não podem estar à mercê de tais atitudes que a empobrecem e descaracterizam.
Alegadamente, terá sido por indicação ou sob o beneplácito do Senhor Presidente da Junta de Freguesia de São Pedro, que a manobra se concretizou e, afinal, num espaço cuja posse está afecta à Câmara Municipal de Sintra que é suposto cuidar da sua preservação. Naturalmente, já ao corrente da situação, a edilidade há-de pronunciar-se rapidamente. Com natural expectativa e curiosidade, ficamos aguardando a decisão que suscitará tão exemplar caso de exorbitância de atribuições.
*publicado Jornal de Sintra 26.06.09
quinta-feira, 25 de junho de 2009
Doa a quem doer
Soube-se ontem que o Ministério Público já deduziu acusações contra Jardim Gonçalves, ex-Presidente do Conselho de Administração do BCP e mais quatro membros daquele órgão de gestão por crime de manipulação de mercado, falsificação de contabilidade e burla qualificada.
Lembro que, no dia 3 de Janeiro de 2008, a propósito do assunto, publiquei um texto neste mesmo blogue, do qual respigo as seguintes passagens:
“(…) Depois da distracção do Banco de Portugal e da CMVM, que parece só terem acordado da letargia quando os americanos começarem a meter a colherada no assunto, ainda não é previsível o desfecho do caso.
Para já, de uma vez por todas, caiu e se desfez o paradigma da competência imaculada dos administradores, gestores e directores do sector privado! (…) símbolo de uma filosofia da empresa, assumida à mistura com a diáfana imagem de impolutos patrões, muito católicos e respeitáveis (…)
A Joe Berardo, com todas as suas contradições, defeitos e virtudes, ficam a dever os portugueses a sistemática denúncia dos escabrosos negócios cuja existência, pelos vistos, não era desconhecida nos mentideiros frequentados pelas comadres antes da pública zanga. Sem a atitude do Comendador, servida pelo desabrido estilo do costume, até quando continuaria o farisaísmo do BCP a abotoar a conveniente capa de santidade? (…)”
Já naquela altura, o Banco de Portugal não saía nada bem da fotografia. Os accionistas do BCP tinham e têm toda a razão para a animosidade que demonstraram contra a alegada falta de capacidade dos supervisores. E, mais recentemente, tendo em conta o que se passou no BPN e BPP, não acham que o Senhor Governador do BP deveria assumir as falhas que, afinal, todo o mundo reconhece?
Não acham que nós, contribuintes, o remuneramos principescamente para que, de boamente, acolhamos o seu descaramento na confissão de que, provavelmente, terá havido ingenuidade dos serviços de inspecção? É que, salvo melhor opinião, vós e eu, que nada percebemos do assunto, até podemos ser ingénuos. Contudo, se pagamos a uma entidade para, com toda a competência, desenvolver um trabalho a contento, não podemos admitir que arvore a ingenuidade de uma indefesa virgem.
Que banqueiros e bancários prestem contas dos seus negócios, mais ou menos claros, mais ou menos escuros, é coisa que se saúda como prova do cuidado da comunidade, que não deixa passar em claro as manobras de certos habilidosos, venham eles ou não com capinha de santos. Todavia, tendo entrado numa atitude de pedir responsabilidades a quem prevaricou, então não deixemos que nos comam as papas na cabeça…
terça-feira, 23 de junho de 2009
mais uma achega
Aqui têm mais um texto do nosso amigo Fernando Castelo que, com a devida vénia, transferi da zona de comentários de ontem para esta primeira página.
Traz-nos, juntamente com a sua, uma série de memórias, um fabuloso património virtual que se cola ao outro, ao património visível. No caso vertente, devia andar estrada abaixo, estrada acima, alegremente, sobre carris devidamente cuidados e mantidos, para contentamento e benefício de gente que tem direito ao seu usufruto.
Enquanto os eleitos locais não souberem exercer a autoridade democrática que detêm, no sentido da defesa de um património tão expressivo como o Eléctrico de Sintra, apenas nos resta denunciar o facto e lamentar tanta incapacidade e incompetência.
"Meu caro João Cachado,
O meu amigo aborda desta vez um conjunto de sentimentos, pois o Eléctrico é um deles.
Quase ao colo do meu pai, como me deliciava ao apanhá-lo junto à estação dos "caminhos de ferro". Ainda há pouco tempo, em obras na Avenida Miguel Bombarda, lá estava o carril a desafiar-me às recordações.
Quando a recuperação das Linhas começou, para alegria de quantos por lá passassem, até sugeri algumas placas ao longo do trajecto, que poderiam ter alguma poesia. Sugeri isso e, para meu conforto, encarreguei-me de fazer uns pequenos poemas (maus, certamente) que devem ter ido ou directamente para uma gaveta ou para o lixo, pois a recepção nunca foi acusada, nem o destino dos mesmos.
Estive na re-inauguração do Eléctrico, naquele dia em que de novo pude ir até à Praia das Maçãs. Imaginarão, quantos me lerem, dos sentimentos em turbilhão que me invadiram e me levaram a voltar mais umas quantas vezes. Era o Eléctrico um dos pontos do figurino turístico de Sintra. Que alegre ilusão me foi criada, mas que rapidamente se desvaneceu, nesta Sintra que cada vez se sabe menos para onde caminha, mas que de lado bom tem pouco.
Em qualquer parte do mundo este trajecto e este meio de transporte seria das coisas mais fabulosas da visita. Falo do que sei. Aqui, já o meu amigo disse quase tudo. O ano passado, numa entrevista, ia durar só mais dois meses a recuperação, segundo foi dito por um autarca merecedor do maior crédito e que teve a coragem de dar a cara, na circunstância.
Falar em turismo para Sintra acaba por ser, infelizmente, uma quase aberração, já que este exemplo não é muito diferente de muitos outros. A vida tem destas coisas e desculpe-me o espaço do desabafo.
Fernando Castelo
22-06-2009 15:57"
segunda-feira, 22 de junho de 2009
Há poucos dias, tentando ajudar um casal de alemães que pretendia ir de eléctrico até Colares – algo que lhes tinham dito ser possível – dirigi-me à Casa do Eléctrico. Infelizmente, conforme estava prevendo, ninguém soube esclarecer quanto à razão de apenas se chegar à Ribeira e, muito menos, quando seria reposta a normalidade.
De facto, não se entende como, actualmente, a Câmara Municipal de Sintra – que, desde 2002, assumiu a exploração da linha – apenas seja capaz de fazer circular o eléctrico, em curto circuito, entre Nunes Carvalho e a Ribeira. Impondo-se chamar as coisas pelos nomes, não há que hesitar. Trata-se de um escândalo. É uma vergonha para Sintra.
Habituado que estou, nuns casos, a que ignorem as minhas palavras, e, noutros, a ser molestado por gente incapaz, nada me incomoda que, eventualmente, o responsável pelo despautério apareça por aí, com as esfarrapadas desculpas do costume, tentando iludir aquilo que não tem justificação possível. Por mais voltas que se dê, aí está mais um episódio de manifesta, desgraçada e pura cultura do desleixo.
E a verdade é apenas uma, ou seja, apesar da inequívoca facilidade dos meios a envolver para resolução da situação, nem uma dúzia de quilómetros de carris a Câmara de Sintra consegue garantir. A isto chegámos. O mais pitoresco e interessante meio de transporte de Sintra não circula – ou circula mas pouco!... – depois dos avultados investimentos dos munícipes, incluindo a compra e recuperação da Vila Alda.
Lembram-se de umas bocas acerca do prolongamento da linha do eléctrico, primeiramente, até à estação da CP e, depois, até à Vila Velha? Pois eu lembro-me muito bem. Foi mesmo uma promessa de alto nível. E, para que total fosse o engodo, até me mostraram fotografias virtuais do eléctrico atravessando a Heliodoro Salgado.
Em véspera de eleições locais, acautelem-se com a possibilidade do embarque numa destas manigâncias. É que, quando lhes dá para se candidatarem, há por aí uns turistas habilíssimos em cantos de sereia…
*Jornal de Sintra, 19.06.09
quinta-feira, 18 de junho de 2009
Ainda hoje mesmo, o texto A Favela, datado de 5 do corrente, continua a suscitar o interesse e longos comentários de leitores, em especial da Freguesia de São Pedro, que aproveitaram a circunstância da publicação, para se pronunciarem, não só especificamente acerca do caso, mas também sobre questões com ele telacionadas.
Também o ciclo de artigos dedicados ao Festival de Sintra, nomeadamente, os referentes aos dias 1,9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16 e 17 de Junho, desencadearam uma série de reacções que, sinceramente, não esperava se manifestasse com tanta vivacidade.
Nestes termos, uma vez que, só na próxima segunda-feira, dia 22, o sintradoavesso voltará a propor outro assunto, muito gostaria de, novamente, chamar a atenção de todos, tanto para os referidos textos como para os comentários decorrentes. Enfim, eis o convite à revisão da matéria dada...
quarta-feira, 17 de junho de 2009
[Ainda a propósito do Festival de Sintra, 2009]
Alcobaça, a Festa da Música
No momento em que ainda decorre a actual edição do Festival de Sintra cuja estrutura, pelo menos nas páginas do sintradoavesso, tem merecido a série de negativas críticas que alguns leitores não quiseram deixar de expressar, é com o maior prazer que gostaria de destacar o que, muito perto de nós, na vizinha zona do Oeste, está a acontecer em termos de uma proposta musical que, não tenho a menor dúvida, constitui algo do que de melhor se está a fazer em Portugal.
“(…) a décima sétima edição do Cistermúsica dedica a maior parte da programação ao universo da fascinante e inesgotável da música de câmara. Numa parceria que se quer estruturante para o futuro do festival e da música no concelho de Alcobaça, as mais variadas vertentes da música de câmara são exploradas em nove de um total de doze concertos, percorrendo seis freguesias e algumas das mais belas igrejas do concelho, com uma programação que valeu ao Cistermúsica ser classificado em primeiro lugar no concurso do Ministério da Cultura para apoios plurianuais (…)”
Estas são as palavras iniciais de Alexandre Delgado, compositor, violetista, musicólogo e director do Cistermúsica, Festival de Alcobaça, no texto de apresentação da edição deste ano e que, muito sintética mas liminarmente, sem margem para dúvidas, definem e caracterizam a identidade e a individualidade desta excepcional iniciativa cultural. Nas últimas semanas, como tenho tido o privilégio de acompanhar o Festival em questão, poderei confirmar como estes objectivos foram alcançados.
Com rara eficiência, o Cistermúsica, para além de ter comemorado as grandes efemérides musicais deste ano, relativas a Haydn, Mendelssohn e Händel, articulou as suas propostas, estritamente no domínio da música, com as de um ciclo de cinema que observou sofisticado programa, soube dar espaço digno ao interesse das crianças – ou não fosse Alexandre Delgado também um grande pedagogo – envolveu agrupamentos nacionais e estrangeiros de alto gabarito, acolheu propostas de música contemporânea, encomendou novas obras e vai rematar, no próximo domingo, com um concerto pelo galáctico Jordi Savall.
É obra, terão de admitir mesmo os mais cépticos. É obra, digo e escrevo eu. Mas não surpreende. Nada acontece por acaso. Em Alcobaça, o Presidente da Câmara é o Dr. Gonçalves Sapinho, homem desde sempre ligado à Educação e à Cultura. Em Alcobaça, houve quem soubesse confiar a direcção do Festival a Alexandre Delgado que passou a responsabilizar-se por um das mais sérias iniciativas culturais dos últimos anos em Portugal. Eu não dispenso. Lá estarei, no próximo domingo, na nave central do mosteiro. Façam como eu, ainda estão a tempo.*
E, quanto a Sintra, não se demitam, continuem a expressar a vossa opinião, a exemplo do que tem acontecido, nos últimos dias, neste blogue. Tenho esperança de que melhores dias virão para recuperação daquilo que se perdeu recentemente. Como acabam de verificar, se até mesmo o proverbialmente distraído Ministério da Cultura, quando colocado perante a excelência de uma proposta, como a de Alcobaça, é capaz de lhe conferir um primeiro prémio, destacando o paradigma de competência, porque não lutar no sentido de que algo semelhante volte a acontecer por estas bandas?
*www.cistermusica.com
terça-feira, 16 de junho de 2009
Festival de Sintra 2009,
Vengerov maestro, um equívoco
(conclusão)
Já quanto ao Concerto para Violino e Orquestra no. 3, em Sol Maior, K.216 de W. A. Mozart, o que dizer daquela direcção? Pois, nada clássica, pois nada contida, no apolíneo registo que solicitava uma obra tão carregada de lirismo e liberdade de forma, em que o rondo final inclui episódios nitidamente contrastantes com o tema principal.
Como tantas vezes acontece, por parte de maestros sem grandes exigências, Vengerov imprimiu uma interpretação romântica da peça deste seu mal entendido Mozart, facto que nada abona a favor do maestro de serviço. Não diria que esteve mal a articulação entre orquestra e solista mas, na verdade, menos bem o exagerado volume de som que solicitou.
Otto Pereira é um jovem violinista, que, desde o ano passado, passou a integrar o naipe dos doze segundos violinos da orquestra Gulbenkian. É um rapaz dotado, com bastante sensibilidade, já senhor de segura técnica. No entanto, no que a Mozart concerne, bom será que esteja atento à linguagem e aos especiais acertos que pedem as obras deste compositor. Mais uma vez volto a Vengerov, cuja direcção, sem ser desastrada, contudo, acabaria prejudicando Otto Pereira por não suscitar a tal mozartiana interpretação – deixem passar o enfático pleonasmo – que a peça exige do solista.
Enfim, um concerto vulgaríssimo, absolutamente banal. Todavia, um evento muito especial dada a concentração de equívocos, que não podia ser mais desafiante. Por isso, decidi dar um ar da minha graça, quebrando o silêncio que me tinha imposto. É um facto, não resisti e, por isso, assumo a contradição em que caí quando anunciei que me manteria em silêncio. De qualquer modo, também penso que terei feito bem não calando o que me parece óbvio dever partilhar.
Relativamente ao público, claro está que, pouco exigente e ainda menos conhecedor, aplaudiu muito. Não percebeu nada do que ali aconteceu. Pelo simples facto de entrar num auditório, para assistir a um concerto de música erudita, muita gente se sente obrigada ao aplauso final. E, como a ignorância não conhece fronteiras, era ver quem menos acertava.
PS:
Entretanto, à saída do concerto, confirmava-se, muito menos prenhe de equívocos, o resultado das eleições, ditando uma claríssima chamada de atenção ao governo da nação. Tal como acabara de acontecer lá dentro, no auditório Jorge Sampaio, também cá fora, o maestro não está à altura de fazer a leitura mais acertada da partitura…
segunda-feira, 15 de junho de 2009
Festival de Sintra 2009,
Vengerov maestro, um equívoco
Terminou, há poucos dias, a temporada de música da Fundação Calouste Gulbenkian 2008/2009 que, entre Outubro e Junho, proporcionou cerca de oitenta concertos e recitais, entre os quais trinta com a orquestra da casa. Assinante que sou de todos os ciclos – orquestra e coro, canto, piano, música de câmara, música antiga, grandes orquestras, etc – assisti a todos os espectáculos, exceptuando um ou outro caso, devido a ausência em festivais no estrangeiro. Portanto, não tenho qualquer deficit de frequência, relativamente à Orquestra Gulbenkian que me levasse a procurar o concerto do Festival de Sintra, no passado dia 7.
Aliás, gostaria de começar por referir que, em Portugal, não há mesmo orquestra que eu melhor conheça do que a da Fundação Gulbenkian. Se, de facto, em criança, no meu caso pessoal, era a da Emissora Nacional que levava a palma, o panorama mudou quando, teria eu os meus quatorze anos, portanto, no início dos anos sessenta, nasceu a outra orquestra, primeiramente, como agrupamento de câmara, para crescer e se impor nos meios musical e cultural português, já em plena década de setenta.
Bem poderei escrever que me tornei adulto ao lado desta formação musical. Passados quase cinquenta anos, ao longo de décadas de cumplicidade, vou envelhecendo com alguns dos músicos que a constituem, sendo o caso do contrabaixista Alejandro Erlich-Oliva o que tenho mais presente. As suas e as minhas barbas têm encanecido à medida que vou acompanhando o trabalho de uma orquestra que produz imenso e, invariavelmente, com enorme qualidade.
Tenho a felicidade e o privilégio de poder dizer que, entre outras, as Filarmónicas de Viena e de Berlin, logo a seguir à Gulbenkian, são as orquestras cujos concertos, ao vivo, mais vejo e ouço durante cada ano que passa. Graças a Deus, devo pertencer ao restrito grupo de melómanos que tal pode afirmar, sem margem para dúvida. Há muitos anos que estou habituado a ouvir as melhores orquestras mundiais, tendo obrigação de saber comparar e integrar a da Gulbenkian, entre as melhores da Europa.
Por agora, tudo isto para concluir que, como imaginarão, se conta por muitas as centenas de concertos a que assisti com esta excelente orquestra. E muitos, muitos os maestros, dos melhores do mundo, que vi dirigi-la. Mas, à frente da orquestra Gulbenkian, também tenho assistido a medíocres prestações de alguns bons dirigentes. Ora bem, aqui chegado, é precisamente neste contexto que me interessa introduzir o concerto em que a Gulbenkian se apresentou no CCOC no passado dia 7.
Maestro?
O evento foi anunciado com Maxim Vengerov na qualidade de maestro. Ora bem, há meses, quando soube desta curiosidade, chamemos-lhe assim, ainda pensei que o violinista dirigiria a orquestra mas como solista, solução que, aliás, não é assim tão rara como isso. Todavia, quando apareceu o programa, anunciando Otto Pereira naquela condição, logo se me colocaram algumas questões.
Maxim Vengerov, que andará pelos seus trinta e seis anos, é um violinista cuja carreira tenho acompanhado, tanto em Lisboa, na Gulbenkian, como em Sintra e no estrangeiro, inclusive assistindo a algumas das suas master classes. É um virtuoso absolutamente extraordinário, super dotado em todos os aspectos, com uma técnica inultrapassável, sensibilidade, inteireza, simpatia, empatia, carisma, tudo o que possam imaginar de positivo.
Sempre considerei e até o escrevi algures que, intérprete tão genial não precisava de, sistematicamente, cair na estafada solução de interpretar, como encore, aquilo que costumo qualificar como números de trapézio, ou seja, peças como as Czardas de Vittorio Monti, de efeito fácil e garantido, em que um artista da sua categoria não deveria incorrer. Porém, de gosto algo duvidoso, ainda que facilmente evitável, não será daí que grande mal vem ao Mundo.
Certo é que, para além da interpretação de todos os concertos do repertório, o vi e ouvi fazer coisas inesquecíveis como aquela fantástica, comovente história do touro Ferdinand, um verdadeiro achado. Vi-o, numa mesma ocasião, na Gulbenkian, partir sucessivamente, duas cordas do Stradivarius e encarar o problema com elevada dose de bonomia, como só os grandes sabem e podem fazer. E também assisti, em Salzburg, ainda no tempo em que era director artístico o maestro Cláudio Abbado, à recusa da direcção do Festival da Páscoa de lhe conceder a possibilidade de tocar qualquer extra.
Dúvidas pertinentes
Enfim, seguramente, um grande senhor do violino a nível mundial. Assim sendo, que ponderáveis razões poderiam levar a organização do Festival de Sintra a propor este fabuloso Vengerov, virtuoso do violino, como maestro, naquele particular concerto – afinal o único em que a Gulbenkian se apresenta, como tem vindo a acontecer nos últimos ano – se não era previsível, fosse qual fosse o ângulo de abordagem, que tal episódio trouxesse qualquer específica mais-valia?
Haverá alguma questão de ordem física – daquelas que, não raro e periodicamente, afectam os violinistas – de que Vengerov estivesse padecendo? Ao pretender enveredar também pela carreira de director de orquestra estaria Vengerov a beneficiar da oportunidade de tirocinar, num periférico festival de Verão, que deixou de ter eco internacional, com a previsível garantia de que qualquer eventual desaire passaria mais ou menos desapercebido?
Tudo quanto possa alvitrar não passa de conjectura, ainda que, tratando-se de quem é, seja permitido admitir até mais do que uma hipótese, na tentativa de perceber o quadro de referência em que se apresentava este curioso concerto. Agora, entrando já na apreciação do que se evidenciou, não direi que a prestação de Vengerov, como maestro, se inscreva no rol das tais medíocres prestações a que aludi uns parágrafos atrás, mas só porque, pelo menos, e por enquanto, nem de longe, ele pertence ao quadro dos tais bons maestros...
O concerto no CCOC
Em Sintra, Vengerov foi apenas uma curiosidade. Nem mais nem menos. Vá lá, com algumas reticências, a sua condução da Sinfonia no. 3 em Lá menor, op. 56 de Mendelssohn, me pareceu obedecer a uma leitura em que soube sublinhar a expressão do vigor, a força algo telúrica bem patente no quarto andamento allegro vivacíssimo, romântico até mais não poder ser, exigindo uma direcção condicente que, na realidade, aconteceu. Foi talvez o seu melhor momento.
(continua)
domingo, 14 de junho de 2009
Quarenta e quatro
(conclusão)
Contrapontos, a confusão
Ao fim e ao cabo, relativas à optimização da fruição estética do evento musical, estas considerações adquirem especial acuidade se articuladas com uma terceira vertente que a organização do Festival de Sintra decidiu introduzir, há algum tempo, com a louvável intenção de ir à conquista de novos públicos: os Contrapontos.
Já deverei ter escrito quanto baste acerca da ideia dos contrapontos para sentir que caio no pecado da repetição. Contudo, convém continuar lembrando que a lógica conceptual dos designados contrapontos – modelo concebido pelo Maestro Cláudio Abbado, enquanto director artístico do Festival da Páscoa de Salzburg – se define por uma coincidência com a composição polifónica(1).
Assim sendo, no sentido de perceber se a matriz do Festival de Sintra não é fruto do acaso, resultante de meter no mesmo saco propostas inarticuláveis e avulsas, claro é que se impõe proceder à articulação temática entre ponto e contraponto. É que, caros leitores, nem em Sintra, nem noutro sítio qualquer, é possível acolher a estratégia dos contrapontos sem que estes, ao nível do tema que os enquadra, definam em relação a que entidade do programa do festival se apresentam como contraponto…
Por outro lado, mesmo no quadro da actual proposta, para que as diferentes componentes do Festival se evidenciassem com o respectivo peso específico, igualmente imprescindível seria que, para além do quadro geral dos eventos, a organização tivesse disponibilizado três programas individuais, um referente à Música, outro à Dança e um terceiro aos Contrapontos. Como, infelizmente, assim não acontece, as soluções gráficas em presença não satisfazem este específico desejo de esclarecimento inequívoco.*
PS:
1. Monserrate e Pena, espaços dependentes da empresa de capitais públicos Parques de Sintra Monte da Lua, não foram contemplados. Que pena!
2. Claro que, não estando em causa a qualidade dos eventos, desejo o maior sucesso.
*Quando escrevi este artigo, antes do início do Festival de Sintra 2009, não estava disponível qualquer programa individual.
(1)vd. Quarenta e três, JS 06.06.08
e sintradoavesso, Quarenta e três, 30.05.2008
sábado, 13 de junho de 2009
Quarenta e quatro
(continuação)
Outra estrutura, outro conforto…
Considero-me entre aqueles que, não pondo em causa o convívio da Música e da Dança, opinam no sentido de que, provavelmente, o Festival de Sintra poderia ter lucrado com a opção de as tornar independentes. Se assim tivesse acontecido, como chegou a ser equacionado, o Festival de Sintra permaneceria apenas com uma proposta de Música, libertando a outra vertente para período diferente do calendário anual.
Naturalmente, aquela arrumação tudo facilitaria, desde logo, ao nível da concepção das respectivas grelhas de programação. Todavia, menor não seria a vantagem para os públicos destinatários e, nos difíceis tempos que correm, também para os mecenas institucionais e particulares que, cada vez mais, dispõem de verbas menos significativas para o patrocínio de eventos cuja natureza só ganha com uma clara definição de contornos.
A perspectiva de concretização de uma tal estrutura, fruto da individualização da componente musical – e, agora, apenas acerca desta me pronuncio - permitiria que o público fosse objecto de uma oferta específica mas global, no quadro de uma proposta temática, propiciando uma experiência tão mais enriquecedora quantas mais pontes de afinidades culturais lançasse.
(continua)
PS:
Na próxima segunda-feira, apresentarei as minhas notas de apreciação acerca do primeiro evento da componente musical do Festival de Sintra, mais precisamente, o concerto do passado dia 7 de Junho, com a orquestra Gulbenkian, sob direcção de Maxim Vengerov.
Pela boca morre o peixe, dirão alguns, lembrando ter eu afirmado que não me pronunciaria sobre espectáculos do Festival de Sintra. Corro o risco de ter sido apanhado na ratoeira das minhas próprias palavras porque me parece valer a pena. É que, na realidade, se tratou de uma singular ocasião, como poderão avaliar se, depois de amanhã, tiverem a curiosidade de aqui voltar.
sexta-feira, 12 de junho de 2009
Quarenta e quatro
De acordo com o que tinha anunciado, eis a primeira de três partes do artigo que, na íntegra, foi hoje publicado no Jornal de Sintra. Coincidindo com a tónica argumentativa dos textos publicados durante esta semana, constitui mais um contributo afim do debate ainda em curso neste blogue.
Numa altura em que já está a decorrer a quadragésima quarta edição do Festival de Sintra, é acerca da sua estrutura que venho propor me acompanhem numa série de reflexões. De facto, é a questão da matriz programática que se me evidencia como a mais pertinente de sucinta análise.
Nestas mesmas páginas do Jornal de Sintra*, tive oportunidade de referir como, na orgânica geral do programa de qualquer festival, a sua lógica e coerência se devem articular internamente, de tal modo que as propostas revelem a inteligência de uma interligação, por obediência a inequívoca moldura onde não caibam desgarrados.
Tal princípio será tanto mais crítico quanto mais vertentes contemplarem os programas da oferta. Não significando ser menos difícil, ou até mais fácil, conceber um festival apenas com uma componente – musical, por exemplo - mais sofisticada será a concepção da estrutura de um outro em que música, teatro, ópera e dança deverão apresentar traços de união.
Há muito tempo que, apesar de não fazerem parte de qualquer cartilha, estas considerações obedecem a práticas que, tacitamente, se transformaram em consabidas regras, cada vez mais observadas em todas as latitudes. Tanto assim é que quase se poderia afirmar não haver festival que não aspire à afirmação da sua identidade, a partir de um tema ou de uma linha dominante, permanentes ou anualmente alteráveis.
Festivais há em que muito simples foi, e continua sendo, a afirmação da sua especificidade, por exemplo, devido à relação de um compositor com determinado local. É assim que se conotam Bayreuth com Wagner, Torre del Lago com Puccini, Halle com Händel, Leipzig com Bach ou Salzburg com Mozart, cidades e compositores mutuamente indissociáveis.
Em termos nacionais, desde a primeira hora, ao conotar-se com o período do romantismo, o Festival de Sintra afirmaria uma inequívoca individualidade. E muito bem, já que, com toda a lógica, o enquadramento ambiental do património natural e edificado, assim o determinava.
Durante décadas, as mais destacadas personalidades de músicos, do mais alto nível mundial, passaram por Sintra, enriquecendo o fabuloso palmarés do seu Festival, alimentando essa tão particular relação com o romantismo cultural, através de inesquecíveis interpretações de peças criteriosamente seleccionadas e propostas através de programas de assombrosa qualidade.
(continua)
*vd. Quarenta e três, JS 06.06.08
e sintradoavesso, Quarenta e três, 30.05.2008
quinta-feira, 11 de junho de 2009
Festival de Sintra 2009,
palmarés comentado (conclusão)
Tal como eu próprio também tenho feito, o Dr. Arroz não põe em causa a qualidade. Até posso conceder que a qualidade não depende da presença de vedetas mas, quando estas são realmente excepcionais intérpretes, funcionam como marcas distintivas da capacidade de organização de um festival, constituindo irresistível desafio à procura do público, mesmo à daqueles que estão habituados a ver e a ouvir tais galáticos em grandes salas do maior prestígio mundial.
É um facto que, actualmente, o Festival de Sintra deixou de apresentar grandes nomes, circunstância que não pode deixar de ser apontada. Reparem, por exemplo, não ser despicienda a presença de um Sokolov - único grande nome do Festival de Sintra em 2008 - que, muito naturalmente, esgotou a lotação do CCOC.
E, muita atenção para o facto de a conquista de público não justificar toda e qualquer estratégia. Certamente que a última coisa desejável pela organização do Festival de Sintra seria a perda de reputação. Sintra tinha um público fidelizado que, hoje em dia, continuo a ver frequentando, por exemplo, a Gulbenkian, a Casa da Música, a Culturgest, o CCB e os festivais do Estoril, de Óbidos, de Póvoa de Varzim, de Espinho, ou de Alcobaça.
Vão a todas. Estão em todas. É que, em Portugal, o chamado meio musical é muito restrito. Invariavelmente, ao deslocar-me a qualquer dos mencionados festivais e salas, encontro e avisto, mais ou menos, sempre um núcleo duro das mesmas pessoas que, na maior parte dos casos, conheço há muitos anos, a maioria das quais coincide com o que afirma o Dr. Arroz, opinião com a qual também me identifico.
Compreenderão que só me dou ao trabalho de partilhar publicamente estas considerações porque quero o melhor para o Festival de Sintra, iniciativa que fui ao ponto de designar como melhor produto cultural de Sintra. No entanto, aquilo que, paulatinamente, tem vindo a acontecer ao Festival de Sintra é problemático e até algo preocupante.
Efectivamente, a organização tem insistido na integração de uma série de eventos - cuja qualidade, repito, não ponho em causa - que, designados como contrapontos, não se articulam com a economia geral do Festival, não obedecendo a qualquer lógica de articulação com as restantes propostas musicais, pelo que se apresentam de modo nitidamente desgarrado.
PS:
Este assunto continuará aqui sendo abordado através da transcrição do artigo subordinado ao título Quarenta e quatro, publicado na edição de amanhã, 12.06.09, no Jornal de Sintra.
quarta-feira, 10 de junho de 2009
Festival de Sintra 2009,
palmarés comentado
Tal como algumas vezes tem acontecido, também hoje resolvi dar destaque de primeira página a um comentário que acaba de me ser enviado, referente ao texto aqui ontem publicado.
Devo esclarecer que o autor, Dr. José João Arroz, é meu amigo há quarenta anos. Trata-se de um esclarecido melómano, com quem tenho feito um enorme percurso de Festivais nacionais e no estrangeiro. Trata-se de um conhecedor, em especial no mundo da ópera, a quem não deve ter escapado, desde Aix, ao Covent Garden, Met, Bayreuth, Milão, Verona, Torre del Lago, Salzburg, Viena, qualquer produção digna de registo nas últimas décadas.
Portanto, não é uma voz qualquer. É com o maior gosto que trago as suas palavras a este painel, sabendo que posso contar com o respeito dos leitores por alguém que, como soe dizer-se, sabe o que são festivais, por dentro e por fora. Eis a transcrição:
"Já noutro dia me pronunciei e mesmo no ano passado, se te lembras, dei a minha opinião acerca do actual pobre Festival de Sintra. Parece mentira. O tempo das vacas magras não justifica tudo. Se não entrasse essa coisa dos contrapontos, o festival seria pobrezinho mas digno. Assim é uma miscelânea inacreditável, não se sabendo como é que a responsabilidade do Pereira Leal e do Wellenkamp está envolvida nessa trapalhada.
Infelizmente, já descaracterizaram o festival. Se não têm dinheiro para vedetas, paciência. Mas não se compreende o que é que tem a ver o concerto para bebés com as «fronteiras longínquas». Se eu quiser até arranjo uma ligação mas será sempre um insulto à inteligência de qualquer pessoa. Até parece que se limitam a introduzie no Festival, como contrapontos, uma série de coisas que o Centro Cultural de Sintra apresentaria nesta altura mesmo que não houvesse festival...
Nós que frequentamos festivais de prestígio lá fora, sabemos quem são e quem foram aqueles grandes artistas presentes na lista que ontem publicaste no blogue. Termino na esperança de que os responsáveis do festival compreendam a tua atitude quanto ao efeito que a lista poderá ter. Espero que sejam bons entendedores...
Um grande abraço
José João M. S. Arroz
10-06-2009 10:47"
NB:
Esta é matéria que muito me interessa trazer à consideração de leitores do blogue, incluindo alguns amigos e fiéis melómanos que logo se voltam para o sintradoavesso sempre que para tal dou aso. Assim sendo, poderão contar com a abordagem deste tema ainda nos próximos dias.
terça-feira, 9 de junho de 2009
o palmarés
Comecei a frequentar o Festival de Sintra quando ele se iniciou, em 1957, ainda sob a forma de Jornadas Musicais. Lembro-me perfeitamente, não só de ter assistido ao primeiro evento, Ballet em Seteais com o grupo de Margarida d'Abreu, mas também, passados poucos dias, de ter vindo ao então Carlos Manuel para um concerto da Orquestra da Emissora Nacional dirigido por Pedro de Freitas Branco.
Na realidade, tive o enorme privilégio de meu pai, para além de pertencer a uma família de gente com belíssima preparação musical - ele e uma das minhas tias tinham feito o curso superior de violino e ainda outra sua irmã o de piano e harpa, o avô tocava excelentemente piano e a avó cantava - ser um frequentador de festivais cá e no estrangeiro que, desde muito cedo, me iniciou nesta vida.
Sintra, ia eu nos meus nove anos de calção, foi o meu primeiro festival e rampa de lançamento para, jovem adulto, ir à descoberta do que se passava em Salzburg, Luzern, Verona, Bayreuth, etc, onde me tenho perdido, encontrado e reencontrado com tudo o que conheço de melhor, ao nível da Beleza, da Música e da grande Arte em geral.
Claro que, a uma tal distância no tempo, embora tivesse algumas ressonâncias, não me recordava de pormenores dos programas mas, recentemente, no âmbito de um trabalho que me ocupou durante umas semanas, tive oportunidade de confirmar como, desde o início, houve a enormr preocupação de trazer a Sintra os melhores intérpretes, primeiramente a nível nacional e, pouco depois, nomeadamente devido à interferência da Senhora Marquesa de Cadaval, os melhores do Mundo.
Para que os mais interessados tenham uma ainda que pálida ideia acerca do fabuloso palmarés do Festival de Sintra, eis uma abreviada lista de intérpretes que, portanto, de modo algum, se poderá considerar exaustiva:
Piano
Aldo Ciccolini, Alexander Uninsky, Andre Tchaikovsky, Andrea Luchesini, Anna Tomasik, António Rosado, António Vitorino de Almeida, Artur Pizarro, Bruno Leonardo Gelber, Christopher Ross, Cristina Ortiz, Elena Bashkirowa, François René Duchable, Georges Pludermacher, Gleb Aksselrod, Gyorgy Cziffra, Grygory Sokolov, Helena de Sá e Costa, Helène Grimaud, Imogen Cooper, Jean-Yves Thibaudet, Julius Katchen, Katia Labèque, Leif Ove Andsness, Maria Antoinette Levèque de Freitas Branco, Maria João Pires, Marielle Labèque, Mário Laginha, Martha Argerich,Michael Beroff, Mikhail Rudy, Nella Maissa, Nelson Freire, Nikita Magaloff, Nicolai Lugansky, Olga Pratts, Paul Badura-Skoda, Pedro Burmester, Peter Donohe, Rafael Orozco, Robert Szidon, Sequeira Costa, Sérgio Varella Cid, Stephen Kovacevitch, Stanislav Bunin, Tania Ashot, Vladimir Krainev, Wilhelm von Grunellius, Yuri Egorov, Yuri Boukoff.
Violino
Alberto Lysy, Antonino David, Augustin Dumay, Christian Ferras, Eivind Aadland, Gerardo Ribeiro, Henri Mouton, Ygor Oistrakh, Yuri Gitlis, Jean-René Gravoin, Leonor de Sousa Prado, Max Rabinovitsj, Maxim Vengerov, Michel Chauveton, Régis Pasquier, Robert Gendré, Salvatore Accardo, Sandor Végh, Stoika Milanova, Thomas Zehetmair, Vadim Gluzman, Vasco Barbosa, Vasco Broco.
Maestros
Álvaro Cassuto, András Kórodin, Arild Remmereit, Camargo Guarnieri, Claudio Scimone, Daniel Stirn, David Zinman, Eduardo Fischer, Fernando Eldoro, Filipe de Sousa, Frederico de Freitas, Gerard Oskamp, Gianfranco Rivoli, Helmut Froschauer, Ivo Cruz, Jaime Silva, Joly Braga Santos, Jorge Matta, Lawrence Foster, Mario Benzecry, Michael Zilm, Michel Corboz, Paul Daniels, Paul Polivnick, Pedro de Freitas Branco, Pierre Colombo, Pierre Salzmann, Rudolph Barshai, Rudolph Schwarz, Shlomo Mintz, Silva Pereira.
Violoncelo
Amaryllis Fleming, André Navarra, António Meneses, Heinrich Schiff, Janos Starker, Karen Georgian, Ludwig Hoelscher, Madalena de Sá e Costa, Maria José Falcão, Mário Brunello, Mário Camerini, Maud Martin Tortelier, Maurice Eisenberg, Maurice Gendron, Mstislav Rostropovitch, Paul Tortelier, Pedro Corostola, Pierre Fournier, Truls Mork, Yvan Chiffoleau.
Clarinete
Artur Moreira, Ian Scott, Keith Puddy, Paul Meyer, Sabine Mayer.
Orquestras e Cojuntos de Música de Câmara
Academia de Instrumentistas da Emissora Nacional, Academia dos Instrumentistas de Música de Câmara, Orquestra Filarmónica de Budapeste, Conjunto de Instrumentistas de Sopro da Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional, Conjunto de Música de Câmara de Lisboa, Coro de João Sebastião Bach, Endellion String Quartet, Ensemble Baroque de Paris, Ensemble Instrumental Andrée Colson, Ensemble Instrumental de France, Orquestra de Câmara da Comunidade Europeia, European Soloists Chamber Ensemble, Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, Israel Chamber Orchestra, Kammermusik di Napoli, New York Philarmonic Orchestra Soloists, Octeto da Orquestra Filarmónica de Berlin, Opus Ensemble, Orquestra de Câmara da Emissora Nacional de Radiodifusão, Orquestra Gulbenkian, Orquestra Sinfónica Nacional, Quarteto de Lisboa, Quarteto de Madrigalistas de Madrid, Quarteto de Sopros Amadeus, Trio Da Vinci, Trio Paganini, Trio Tortelier, Trio Wanderer, Orquestra Sinfónica de Zurique.
Como poderão verificar este é outro património de Sintra. O fiel depositário de tão brilhante memória é o Festival. Cada ano que passa, a sua organização vai dando prova de estar ou não à altura do passado que, para sempre, definiu os contornos de um sofisticado produto cultural.
Assim como, hoje mesmo, me foi possível apresentar-vos este rol de maravilha, também dentro de cinquenta anos haverá distanciamento bastante para perceber se as linhas de força actuais honram aquele passado. Naturalmente, sem pressas, a Música e o Tempo farão o seu trabalho.
sexta-feira, 5 de junho de 2009
A favela*
Há anos, em pleno centro histórico, junto ao Museu Anjos Teixeira, perante a passividade das designadas autoridades responsáveis, os auto-caravanistas permitem-se estacionar, abancar e amesendar, pernoitar, pendurar roupa, fazer a sua higiene e, enfim, tudo o que é costume a quem se transporta em veículos que tais.
Aquilo que se passa em Sintra é, mais uma vez, coisa de terceiro mundo, que há muito tempo venho denunciando, em especial no JS, por exº, Cenas de Verão, 1 de Setembro de 2006, com fotografias bem ilustrativas. Sem qualquer resultado.
De facto, é lamentável a situação de falta de oferta de espaços afectos ao campismo e caravanismo, com o caso da Praia Grande ainda por decidir. Por um lado, contudo, não faltam notícias destabilizadoras, anunciando o PIN do Pego, enquanto que, por outro, se descarta essa coisa bem simples que seria a resolução de problema tão concreto.
Mas, providencialmente, há quem proponha um ponto final. Reparem nesta pérola do Relatório de Gestão e Contas Ano 2009 da Soc. União 1º.Dezembro:
"(…) A fim de rentabilizar a infra-estrutura [estádio] nos meses de Verão, em que não há actividade de competição, a Direcção decidiu avançar em 2009 (Julho e Agosto) numa fase experimental, com a constituição de um parque de Auto Caravanas, com investimento reduzido, e com o programa de Campos de Férias durante as ferias da Pascoa e as Férias Grandes (…)".
Claro que se prevê investimento reduzido. Para quem é… Nem sei como não foi proposta a possibilidade de os miúdos dos campos de férias aprenderem idiomas estrangeiros com os caravanistas. Sempre aproveitavam as sinergias. E, então, com umas queijadas da Piriquita, facilitando a aprendizagem, ainda mais garantido estaria o sucesso da favela em perspectiva, em pleno Parque Natural Sintra Cascais e zona de Protecção do Plano de De Gröer…
Quem deve estar muito grato pelo projecto é o Prof. Fernando Seara, ou melhor, o Nandinho, carinhoso diminutivo com que o Presidente do Clube de São Pedro e também Presidente da Junta trata o Presidente da Câmara Municipal de Sintra. Adivinha-se-lhe o alívio. Transferida pelo seu amigo, para o campo de futebol, acaba com a situação do Rio do Porto que dava muito nas vistas. Ficarão as ruínas e os trapos pendurados…
*publicado no JS, 05.06.09
quarta-feira, 3 de junho de 2009
Os Jardins de Queluz
No Verão de 2004, mais precisamente, a partir de 30 de Julho, no Jornal de Sintra, denunciei o lamentável estado de degradação a que tinham chegado os Jardins do Palácio de Queluz. Contribuindo para o esclarecimento da situação, mantive com Ana Flores, então directora do Palácio, uma curta polémica nas páginas do mesmo jornal que, naturalmente, também contribuiu para o esclarecimento da situação.
Passados que são cinco anos, foi iniciada e está em curso uma grande campanha de recuperação que, não só contempla os jardins históricos mas também todos os equipamentos decorativos e de lazer que integram o soberbo conjunto adjacente ao palácio.
Longas alamedas de bucho, fontes e lagos, grupos escultóricos, a grande Cascata, estão sofrendo indispensáveis intervenções cuja necessidade, durante décadas, se foi fazendo notar. Reparem que a simples limpeza de ervas daninhas, em algumas das áreas ajardinadas, certamente constituiu tarefa gigantesca. Não esqueçam que, conforme testemunhei, há cinco anos, saltaram-me coelhos bravos aos pés…
Ainda há muito que fazer. Será trabalho para anos de continuados esforços de reabilitação, por exemplo, de toda uma componente técnica de maquinaria hidráulica que, a montante, alimenta interessantíssimos jogos de água, por enquanto, secos. Há extensíssimas superfícies azulejares carecendo de atenção, em especial as do canal, cujas comportas permitirão voltar a represar a água da ribeira do Jamor para usufruto de um dispositivo único.
Com fundos nacionais e internacionais em jogo, há esperança de que as coisas sejam levadas a bom termo. Aconselho vivamente que visitem o espaço e, como eu, se tiveram o desgosto de outrora, agora não deixarão de sentir, com acrescidos argumentos, a alegria que se imagina.
segunda-feira, 1 de junho de 2009
Festival de Música do Estoril
É com muito gosto que, utilizando as páginas deste blogue, passo à divulgação do Festival de Música do Estoril, cujo programa, do maior interesse, qualidade e coerência de matriz, os meus amigos e habituais leitores terão acesso no seu sítio oficial. Bem pode dizer-se que, aqui tão perto, e em pleno Verão, é o grande evento da música erudita na grande Lisboa.
Adquiriu uma invejável visibilidade nacional e internacional que os melómanos da capital e arredores não dispensam. Está de regresso à Costa do Estoril, entre 13 de Julho e 5 de Agosto, com o objectivo de reforçar e estimular as mais variadas formas de expressão artística.
Passo a citar alguns parágrafos do anúncio da iniciativa:
"(...) Tendo como palco vários espaços culturais da região da Costa do Estoril, este evento proporciona o cruzamento de experiências entre artistas portugueses e estrangeiros consagrados e ainda com jovens talentos.
À semelhança das edições anteriores, o Festival reúne várias iniciativas artísticas, como as Semanas de Música do Estoril, os Cursos Internacionais de Música e o Concurso de Interpretação. O programa de animação conta, também, com a realização de concertos dedicados aos mais variados tipos de música, nomeadamente, tradicional, de câmara, sinfónica, coral e de jazz, bem como peças de teatro e bailado.
Em paralelo, terão ainda lugar vários debates e conferências que pretendem proporcionar espaços de reflexão sobre as mais variadas questões ligadas ao mundo do espectáculo. Este festival tem, por outro lado, contribuído em muito para o lançamento dos mais promissores talentos artísticos da actualidade nacional (...)".
Bem posso acrescentar que, ao longo dos anos, o Festival do Estoril sempre se afirmou num crescendo de gabarito, em todas as suas vertentes, razão pela qual tem constituído invariável fonte de prazer, sem jamais decepcionar. Estando por aqui, não falho um evento.
Por outro lado, ao contrário de outros lugares bem nossos conhecidos, em Estoril e Cascais tudo é propício e civilizado, nomeadamente no que respeita ao estacionamento nas cercanias de qualquer dos excelentes auditórios onde decorrem os recitais, concertos, tertúlias, palestras, encontros, concursos, etc. Enfim, trata-se de uma óptima festa à volta da Música, cujo programa se afirma e recomenda, repito, sem cedências a manifestações de duvidoso gosto, e com uma grande lógica de concepção interna.
É um Mare Nostrum que vale mesmo a pena.