[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009


Llansol,
homenagem que ainda falta

Além do patrocínio que tem concretizado em relação ao denominado Espaço Llansol, sedeado naquela que foi a sua última residência, resolveu a Câmara Municipal de Sintra homenagear a escritora através de uma discreta placa circular, implantada nas pedras do passeio de calçada à portuguesa, junto a um dos grandes plátanos da Volta do Duche que Gabriela Llansol imortalizou.

Quem acompanhou as minhas chamadas de atenção, tanto na Assembleia Municipal, como no saudoso Jornal de Sintra e nas páginas deste mesmo blogue,* facilmente entenderá que as referidas atitudes da autarquia muito me satisfazem. Todavia, se igualmente bem se lembram, sempre considerei que a devida celebração pública deveria assumir uma inequívoca forma de aproximar a sua memória do cidadão comum.

Ora bem, apesar de tão boa vontade, parece que, de facto, a Câmara ainda não terá acertado. Se quiserem continuar a partilhar as minhas impressões acerca do assunto, terão de lembrar como Gabriela Llansol estava e ficou indissociavelmente ligada à Volta do Duche. E, como todos sabemos, se tal aconteceu, não só foi porque nalguns momentos da sua obra refere o lugar mas também porque tal trecho de Sintra a levou a protagonizar um acto de intervenção cívica que nunca será demais recordar.

A força do civismo

O texto que vão (re)ler, foi publicado no Público em 8 de Dezembro de 2001. Antes de o enviar ao jornal, a Maria Gabriela quis ter a gentileza de mo ler. Para mim, o inesperado, duplo e comovido privilégio das palavras escritas, ditas na voz empenhada da primeira pessoa-autora. Concordarão, estou certo, que tratando-se de um dos mais veementes testemunhos em defesa de Sintra, consegue ultrapassar tal dimensão, para funcionar como labéu contra todos quantos se permitem ofender a dignidade, a memória e o espírito dos lugares.



"Não haverá diálogo entre mortos

(A propósito do projecto de “parking” subterrâneo na Volta do Duche de Sintra)

Começo pelos factos. Domingo à tarde fui ao encontro de informação organizado, no terreiro do Palácio de Sintra, por algumas associações ambientalistas. Estávamos umas 200 pessoas. Foi então que percebi o que o executivo camarário planeava, com o acordo do programa Polis II, para a Volta do Duche. Isto: construir, exactamente por baixo da estrada que serpenteia a colina, um parque de estacionamento subterrâneo. Vista do palácio a ideia é simplesmente aberrante. Que espécie de humanos foi capaz de sequer imaginar uma coisa daquelas? Foi-me então explicado que o projecto iria criar uns 300 lugares de estacionamento, iria custar (para começar!) mais de um milhão de contos, poria em risco as árvores que sobrevivessem, além das que seriam abatidas. Ouvi ler extractos de um relatório do Instituto Português do Património Arquitectónico emitindo críticas severas ao projecto. Ouvi dizer que não fora feito nenhum estudo geológico, nem de impacto ambiental. Ouvi dizer que não fora organizada nenhuma consulta pública. Ouvi dizer que os lugares de estacionamento, além de caríssimos, ainda seriam menos dos que actualmente existentes.

Ouvi dizer. Ouvi dizer. Projecto inútil, faraónico, destruidor. Praticamente infantil. Na realidade, a informação era escassa. Fora obtida à revelia da edilidade instituída. Que esta se recusava a colocar à disposição da população os elementos necessários a uma aprovação (ou desaprovação) informada. Não ouvi nenhum “slogan”. Nenhum partido político foi aplaudido, nem, aliás, apupado. Apenas foi pedido aos presentes (e ausentes) que assinassem um abaixo-assinado a exigir uma discussão pública sobre a questão. O que assinei.

Saí dali com o sentimento de que, na minha “cidade”, onde se desenrolam tantos dos meus livros, eleitos, estranhamente afastados do vivo e do belo, decidiam e devastavam. De que era prudentemente fundada a desconfiança generalizada pelos políticos. De que estes eram um perigo. Que não deixavam sangue nas ruas, mas ferida mortais nos lugares, nas paisagens, nas sensibilidades, na simples e antiquíssima boa-fé. Que interpretavam o voto que lhes fora transitoriamente concedido como um direito a desprezar a inteligência e a estima dos seus concidadãos.

Não vou discutir com ninguém o que não pode ser objecto de discussão. Não vou aceitar a morte de árvores, em troco da precária sobrevivência de outras. Não aceito que se anule uma paisagem que não fez mal a ninguém, excepto o dom quotidiano que nos faz de uma beleza de que os paisagistas (assim chamados!) perderam o segredo. Não quero ouvir dizer que o homem pode destruir o que os outros edificaram, sobretudo quando os que assim falam são mentes sem lampejo. Não aceito promessas a troco de atentados irrecuperáveis. Discutir isso seria discutir entre mortos. Repito: só os mortos poderão ter imaginado que as suas ambições desvairadas não teriam consequências.

Quando me sentar na Volta do Duche, como tantas vezes faço, que vou dizer às árvores, aos arbustos, aos pássaros, às estações, à vida? Que vos vou dizer? Que não tive forças para respeitar um simples pacto de bondade? Que, mais uma vez, a minha espécie planificou friamente o desastre? Que, juntos, somos mais frágeis do que um punhado de edis, de paisagistas, de construtores civis, sem alma para sentir a santidade da paisagem?

E, desta vez, não me serve de consolo constatar o que sempre soube: onde os interesses materiais vingarem como fim, o homem não será. É aterrador pensar, mas é a realidade: sem o dom poético, sem a simples capacidade de sermos maravilhados pelo vivo, a liberdade de consciência está condenada a definhar. Por mim e por vós, foi essa liberdade que fui defender no terreiro do Palácio de Sintra.

Maria Gabriela Llansol"

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In memoriam

Não é de poético espanto, a força destas palavras? Que assombro! E que desassombro!


Considero conveniente recordar em que enquadramento surgiu o texto supra, que terá constituído a machadada final e decisiva no propósito da recandidatura de Edite Estrela à presidência da Câmara Municipal de Sintra. As eleições locais realizaram-se uma semana depois da publicação do artigo de opinião de Maria Gabriela Llansol que teve um impacto enorme.

Como sabem, MGL é um dos mais notáveis nomes das Letras portuguesas, não só dos nossos dias mas também, ouso dizê-lo, de todos os tempos, e estou muito bem acompanhado, por exemplo, pelo Prof. João Barrento. Pois, como se verifica, através de um discurso do maior alcance, com toda a acutilância, sem qualquer eufemismo, acabou a escritora por desmascarar quem, apesar do escândalo do projecto, se perfilava para permanecer no poder.

Por exemplo, na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, dezenas e dezenas de conhecidos académicos subscreveram o abaixo-assinado de que fala a autora do artigo que, com a sua pública tomada de posição –verdadeiro manifesto de Cultura contra a barbárie – induziu muita gente a segui-la, num dos mais interessantes movimentos de cidadãos que Sintra conheceu.

Não é muito frequente que intelectuais da craveira de Maria Gabriela Llansol se exponham desta maneira. Subscrever um abaixo-assinado, a favor de uma causa nobre e elevada, é uma coisa. Em idênticas circunstâncias, outra coisa é subscrever um texto com esta força.

Definitiva homenagem

Pois é, meus amigos, Maria Gabriela Llansol é, na realidade, para todos os efeitos e para sempre, a grande senhora da Volta do Duche. Como ela, ninguém se bateu para que aquele lugar permanecesse como ainda hoje se apresenta. Não era do género de pessoa receosa que se refugiasse atrás de atávicos e perenes medos para colher louros, já que não buscava a ribalta videirinha - Maria Gabriela denunciava e subscrevia.

É por tudo isto que me permito insistir. A homenagem pública que merece ainda não aconteceu. Na minha opinião, é a própria Volta do Duche que tem de ficar indissociavelmente ligada à escritora. Trata-se de uma questão de toponímia mas sem que tenha de se alterar seja o que for no sentido da substituição e, muito menos, da supressão de qualquer elemento. Muito pelo contrário e, em suma, proponho que, muito simplesmente, sejam acrescentadas duas palavras nas actuais placas que passariam a indicar:
Volta do Duche - Caminho Llansol.

Noutros lugares, certo é que em latitudes mais beneficiadas, coisas que tais merecem placas explicativas. Não percebo como, por cá, não afirmamos a história das pessoas e das coisas, das casas, por exemplo, que lhes ficaram presas à memória. A casa que habitou, a história da sua luta pela Volta do Duche, não podem, não devem estar escondidas. Por ali passa a dimensão da escritora e cidadã que soube intervir quando foi importante que interviesse.

Se e quando tal acontecer – provavelmente, na altura em que o pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Sintra tiver sido atribuído a alguém que, efectivamente, mereça a distinção de tão especial serviço à comunidade – bom será que os estafados discursos de ocasião não metam tanto os pés pelas mãos nas excelências, a que Maria Gabriela tão pouco ligava.


* Neste mesmo blogue, ler: Llansol, palavra certa, 02.03.09; Uma questão de homenagem, 03.07.08; Maria Gabriela Llansol, voz contundente, 02.04.08.
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Aproveito a oportunidade para desejar a todos um Bom Ano Novo.




terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Fernando Castelo - Sintra

Por estas e noutras paragens


Meus caros amigos,

Regressado há dias da Alemanha, tenho evitado manifestar-me sobre a realidade cultural e de vivência naquele País de que sou tão amigo.

No entanto, duas situações me levam a escrever estas palavras.

A primeira, por ter recebido uma mensagem do Centro de Turismo Alemão, do seguinte teor:

2010: ALEMANHA CRIATIVA

2009 foi um ano de grandes acontecimentos na Alemanha. Comemorámos os 20 anos da Queda do Muro de Berlin e, com ele, o fim de tempos muito difíceis para o país.

Mas, até hoje, mesmo em tempos difíceis, temos motivos suficientes para continuarmos optimistas! Graças à sua parceria e ao seu apoio, 2009 termina com excelentes perspectivas para o próximo ano!

Em 2010 iremos falar muito da Alemanha criativa. A Alemanha criativa na moda, no design, na arquitectura e na arte.

Especialmente na arte! O Vale do Ruhr será a capital cultural da Europa em 2010, com as suas 53 cidades ansiosas por recebê-lo em alguns dos eventos programados para a região.

A Oktoberfest comemorará o seu 200º aniversário! Muito mais alegria na maior festa popular da Alemanha. Meissen festeja os 300 anos da mais fina porcelana ocidental. De Maio a Outubro, em Oberammergau, a famosa encenação da Paixão de Cristo, que se celebra de dez em dez anos, também acontecerá em 2010.

Não é à toa que um país que se reinventa sempre, em 2010 estará ainda mais criativo.

A Alemanha espera-vos em 2010!

Abraços


A segunda, prende-se com crianças portuguesas que, na sua actividade escolar em Munique, fizeram uma riquíssima pintura num túnel pedonal ao lado do rio Isar - do outro lado do Deutsches Museum - nela escrevendo: "O futuro é uma astronave que tentamos pilotar, não tem tempo, nem piedade, nem tem hora de chegar".


Esta é a garra de gente, de quem olha para a frente sem rodeios, sem tagarelices disformes.

Nós por cá parece que desenvolvemos o turismo do quarto alugado, a cultura serôdia, do deixa andar, reservando para os finais de mandatos (ou agora será a meio?) anúncios de acções que não se sabe quando surgirão.

Lá, vive-se! E nós por cá?



quinta-feira, 17 de dezembro de 2009


João Cachado - Sintra

A cultura cá no burgo

A reflexão que vos proponho parte de matéria recentemente tratada, cujo desenvolvimento subsequente pretendo não passe desapercebido. De qualquer modo, para enquadrar estas considerações, forçoso é que releiam o texto aqui publicado, no dia 30 do passado mês de Novembro, o qual, como terão oportunidade de verificar, se relacionava com um episódio de desrespeito do direito geral ao sossego durante o período nocturno, protegido pela lei vigente.

Através de um comentário, datado de 10 do corrente, sob o pseudónimo de Miss M, os promotores do desacato responderam, nos termos que, para conhecimento de todos os interessados, passo a transcrever:

"Boa tarde, quer-me cá parecer que estamos a exagerar um pouco nesta questão particular do Ginásio do Sintrense.A minha perspectiva, e não descorando do direito ao silêncio e do respeito pelo próximo, leva-me a ter a noção de que os ditos "prevaricadores" apenas pretenderam trazer cultura e arte a um local tão nobre de Sintra como a Estefânia e a um espaço lamentavelmente abandonado como o Ginásio Ernesto Neves.

As actividades culturais que ali decorreram durante 12 meses mensalmente deram a conhecer diversas artes e culturas, artesanato, produtos biológicos, teatro infantil e bandas locais, numa tentativa de repor alguma da vida cultural perdida neste canto de Sintra.

É de facto verdade que são inúmeros os casos de desrespeito, ultraje e manipulação dos direitos que assistem a eventos do género, mas parece-me importante sublinhar a sempre presente atenção e cuidado desta Associação em avisar os vizinhos e manter o diálogo com os mesmos.

Toda a burocracia necessária para a realização destes eventos foi condignamente concedida, sem meios caminhos ou corta matos, depois de detalhada análise por parte da direcção do Sport União Sintrense, da Junta de Freguesia local e da Câmara Municipal de Sintra.Os eventos desta Associação terminaram ali no passado mês de Novembro e é lamentável que fique esta má impressão depois de um esforço enorme dos responsáveis para que a cultura prevaleça e chegue a todos. 10/12/09 15:25"

Independentemente dos evidentes atropelos do discurso – certo é que nada adequados ao estatuto de quem se arroga a condição de agente cultural local – que logo me desmobilizaram quanto à necessidade de resposta subsequente, não havia dúvidas de que o texto previamente publicado no sintradoavesso, não atingira os objectivos que me propusera, razão pela qual me vi na circunstância de, mais e melhor, esclarecer para que não sobrassem quaisquer dúvidas.
Eis o que se me ofereceu sublinhar:

"Escrevi, confirmo e reafirmo: prevaricadores! Assim mesmo, com ponto de exclamação e tudo.

Aqueles que, ao longo de doze meses, se permitiram incomodar dezenas e dezenas de pacatos cidadãos, vizinhos de uma zona inequivocamente residencial, através de inusitados manifestos de barulheira - agora atrevidamente qualificados como eventos culturais - são inequívocos perturbadores da ordem, prevaricadores cujas atitudes, actividades e actuações, a autoridade democrática não poderá deixar de controlar e sancionar devidamente.

Ao remeterem-me [-nos] um comentário tão a despropósito, tais indivíduos ou não estão bons da cabeça ou pretendem atirar com areia para os olhos de quem, como eu, ainda tem o topete de se mostrar incomodado... Mas será que alguém, no seu perfeito juízo, admitirá que um facto ou artefacto cultural seja suposto ofender, sequer beliscar, os direitos e interesses de terceiros para se afirmar como tal?

Pode, isso sim, ferir a susceptibilidade estética, desafiar e abalar ícones estabelecidos, contribuir para rasgar preconceitos, mas sempre acrescentando conhecimento e, eventualmente, até transmitindo novas perspectivas de abordagem de mais ou menos conhecidos fenómenos.

Todavia, cai imediatamente pela base o argumentário do promotor de um evento dito cultural, se e quando alguma das iniciativas afins incorrer no prejuízo de potenciais destinatários. Tal é, manifestamente, o caso dos residentes nas imediações do velho ginásio da Heliodoro Salgado que, impotentes, nada mais puderam fazer, já que a própria autoridade policial local seria ultrapassada pela autarquia que concedeu licença ao despautério.

A situação vertente, que não deixa de ser paradigmática, é perfeitamente entendível se tivermos em consideração o baixo nível de quem, nos serviços respectivos, tem de analisar, avaliar, provavelmente subsidiar e, finalmente, autorizar a pública concretização de propostas que, afinal, acabam por colidir com a tranquilidade da comunidade, em horário que a Lei vigente considera vedado a práticas que tais.

De facto, em Sintra, o prevaricador foi ao encontro do autarca cujo gabarito cultural correspondia ao baixo nível em que tudo se enquadrou, pelo que, com a maior facilidade, se terá obtido autorização bastante para a prevaricação que, repetidamente, se processou.

Há muitos anos, toda a gente me conhece como grande consumidor de bens culturais de toda a ordem, de todas as origens, mais ou menos selectos, eruditos ou populares, sejam quais forem as vertentes e suportes, desde a música à literatura, às artes plásticas, ao cinema, ao teatro, ao artesanato, etc.

No entanto, a minha avidez cultural, aliás como a de qualquer normal cidadão,* tem os contornos e limites dos direitos dos outros, razão pela qual não frequento e desconsidero qualquer programa que desrespeite a mínima conveniência de alguém.Naturalmente, pessoas como eu - e, felizmente, vão sendo cada vez mais - jamais frequentaram ou se permitirão colaborar nas investidas culturais (?!?) nocturnas do Bairro Alto e quejandos, que transformaram num inferno absolutamente insuportável a vida dos desgraçados residentes.

Para todos os efeitos, apesar de me ver contemplado com escritos deste calibre e destempero, ainda não desisti de me considerar a viver num país civilizado, razão pela qual, ao longo do ano, fui recorrendo à intervenção da Guarda Nacional Republicana que, cumpre assinalar, sempre correspondeu como seria de esperar."

Posteriormente, uma entidade cultural denominada Cyntia voando propôs-me um encontro pessoal para esclarecer ainda o que, em definitiva resposta, considerei não ter mais qualquer cabimento. Não previra eu que, finalmente, uma outra mensagem (cujo anonimato se justifica pelas considerações aduzidas pelo autor) ainda traria maior substância às minhas razões. Ora reparem:

"Eu também vivo com a poluição sonora provocada pelo dono do bar S'pontaneo - Diogo Pessoa Lopes, desde 1999, e que tem, sem dúvidas, boas relações na CMS (a começar pelo seu primo, o [ex-] Vereador Dr. João Lacerda Tavares) exactamente com o mesmo tipo de discurso de MissM a que João Cachado tão brilhantemente respondeu: - "(...)Alguém no seu perfeito juízo, admitirá que um facto ou artefacto cultural seja suposto ofender, sequer beliscar, os direitos e interesses de terceiros(...)"

Pois é! E acredito que muitos dos artistas participantes não tenham a menor ideia do prejuízo que provocaram a terceiros! (...) Escondo-me atrás do anonimato pois tenho medo, coisa que já percebi que João Cachado não tem. Houvesse mais como ele! Obrigada 11/12/09 16:02"

Conheço muito bem a situação até porque, infelizmente, tenho familiares que residem no local, também altamente prejudicados. Apesar da intervenção pessoal do próprio Presidente da Câmara, os moradores e comerciantes da Praceta Dr. Arnaldo Sampaio, nas traseiras do Centro Cultural Olga Cadaval, continuam a viver sem direito ao merecido sossego.

E tudo porque certos prevaricadores se arvoram em agentes culturais. Lamentável, isso sim, que os conceitos de Arte, Cultura e Beleza sejam conjugados nas linhas e entrelinhas de discursos argumentativos como os de Miss M e dos defensores do S’pontâneo. E ainda, tão ou mais lamentável é que, tal como lembra o comentário anterior, os intervenientes nos tais eventos culturais nem se apercebam das lesivas consequências do seu envolvimento.

E daqui não sairemos enquanto, na Câmara Municipal de Sintra, se persistir nos erros e enganos actuais. É que as licenças para a concretização de iniciativas como as de café-concerto ou atitudes de intervenção urbana citadas por Miss M têm diferente enquadramento mas sempre no respeito pelos direitos de terceiros.

* na acepção consagrada pelo dicionário Houaiss da língua portuguesa que, no verbete inerente ao conceito, propõe indivíduo que goza de direitos constitucionais e respeita as liberdades democráticas.

NB.
Os textos citados diferem, pontualmente, dos originais consultáveis no espaço destinado a comentários.


quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Fernando Castelo - Sintra

Cultura e dedicação total*

A nossa crise, tem dois patamares (continuo a gostar desta dos patamares...) determinantes: o da cada vez mais deficiente moral pública e outro relacionado com a facilidade com que se alcunham de culturais certos actos que lhe são ofensivos.

Incomoda-se o bem-estar de dezenas ou centenas de pessoas e...zás, passa a ser uma virtuosa peça cultural, aprovada por quem não mora lá e se exibe com poderes decisórios.

CONFESSO QUE, NESTES CASOS, OS RESPONSÁVEIS PELA ELABORAÇÃO DOS PARECERES E OS DECISORES, DEVIAM SER OBRIGADOS A ESTAR PRESENTES NOS LOCAIS ATÉ AO FINAL DESSES ACTOS "CULTURAIS".

Naturalmente que, quem aprova coisas deste tipo, não sabe o que é a cultura de um povo, os costumes e as suas raízes sociais. Nesta fase pós-DEDICAÇÃO TOTAL (desculpem mas é bom não esquecermos) as minhas esperanças culturais desvaneceram-se, tanto mais que actores militantes, não sei se comissários de qualquer coisas ou comissionistas, parecem ter desertado para o poscénio, por uns tempos, até terem mais uns livritos para distribuir às famintas crianças ou uns espectáculos bem remunerados para uns tantos privilegiados. Sintra não merecia disto.

* Embora o Fernando Castelo tivesse enviado esta mensagem enquadrada em comentários, considerei muito apropriada a sua publicação na primeira página. E os leitores, não concordam comigo? (João Cachado)


sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Fernando Castelo - Sintra


Funcionalidade?


Com a mais elevada preocupação, transcrevo uma informação que, há mais de 24 horas, consta do site da Câmara Municipal de Sintra: "A Reunião Pública de Câmara, a realizar no dia 16 de Dezembro, não terá lugar por razões de funcionalidade." (sic)

Que coisa tão estranha! As reuniões de Câmara, públicas e privadas, obedecem a um calendário estabelecido no ano anterior e, certamente, só motivos graves e de grande preocupação podem interferir com a sua realização.

Que terá sucedido, assim de tão grave, que "cortou" a palavra a quantos munícipes tivessem - eventualmente - a intenção de nela participar, nem que fosse para apresentarem votos de Bom Natal e desejarem muita democracia em 2010, com prestação alargada de informações?

Chegado a este ponto, acabo de receber uma nova informação. Por Edital datado de 10.12.09, o Presidente da Câmara marcou uma Reunião Privada Extraordinária de Câmara para o dia 14 do corrente. Até agora, o site da CMS não fez a divulgação. Isto é, de Pública, a sessão foi alterada para Privada, sendo fácil de concluir que, para a devida funcionalidade, a ausência de público será determinante!

Isto vivendo-se em dita democracia, e com o virtuosismo republicano.


quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

João Cachado - Sintra


Ruas, Seara & Cª
(cont.)

Elegância e informalidade


Noutro dia, enquanto os maridos tinham ficado pelos civilizados Estoris e Cascais, em grandes manobras de gestão global ibero-americana, vieram as senhoras de visita a Sintra, para olharem o Atlântico a partir do Cabo da Roca, almoçarem em Seteais e darem uma volta pelo centro histórico. Naturalmente, o Presidente da Câmara teria de fazer as honras da casa. Mas o que me foi dado observar através da reportagem da SIC foi algo de inimaginável.

Pois o Presidente da Câmara Municipal de Sintra, ele que, importa não esquecer, também é Vereador da Cultura, a quem sempre fiz a justiça de reconhecer a elegância que, quando quer, sabe cultivar, desceu a uma vulgaridade tal que roçou a boçalidade, com diálogos pouco adequados para as circunstâncias, num suporte linguístico que não sei se era portinhol ou espanholês.


E chegou ao ponto de se assumir como o regularizador do trânsito (a televisão estava por perto...), pois outra conclusão não se pode tirar perante o "olha...olha...corta...corta" dirigido ao militar da GNR que, de imediato, fez parar o normal fluxo de carros para que a comitiva pudesse aceder comodamente.

Em casos que tais, tratando com Chefes de Estado ou suas mulheres, todos sabemos como a informalidade admissível não pode ultrapassar os limites de uma elegância que deve estar presente em todos os mais pequenos detalhes. É a altura em que fica bem ser majestático, demonstrando como se está bem inter pares. Pois, infelizmente, pelo menos no que a reportagem do canal televisivo mostrou, nada disso aconteceu.

Deixem que, a propósito, finalmente vos interpele com uma questão que me parece pertinente. Alguma vez vos passaria pela cabeça ver, em tais preparos, António Capucho, Presidente da Câmara Municipal de Cascais? Enfim, a cada um o seu estilo mas, nestas coisas de representação do poder, seja ele local ou nacional, há que estar total e inequivocamente à altura, sem quaisquer transigências.




terça-feira, 8 de dezembro de 2009

João Cachado - Sintra


Ruas, Seara & Cª


No texto antecedente, o Fernando Castelo pôs-nos ao corrente de uma iniciativa do maior alcance para o bem estar e melhoria da qualidade de vida dos munícipes e visitantes de Viseu, que bem atesta da capacidade do Presidente da Câmara Municipal daquela cidade, ao decidir instalar um estratégico funicular cujos benefícios já se confirmam e avaliam em diversos sectores.

Fernando Ruas, conhecido pela sua longevidade autárquica e pelo que tem feito no seu concelho, também tem os seus deslizes, bastando recordar aquela sessão em que sugeriu o famoso "corram-nos à pedrada" referindo-se aos Vigilantes da Natureza do Ministério do Ambiente.

Agora, no recente Congresso da Associação dos Municípios Portugueses, acabaria por mostrar pouca sensibilidade relativamente às questões ambientais, nomeadamente quanto à preservação de determinadas espécies animais. Deu a entender que quaisquer manobras de defesa de determinadas espécies animais, como pequenos roedores ou o lobo, não devem avançar se puserem em causa os interesses afins da preservação da espécie humana.

Dificilmente se poderá debitar maior disparate. Hoje em dia, graças a Deus, qualquer miúdo do primeiro ciclo do básico sabe que a ameaça de extinção de qualquer espécie animal ou vegetal põe em causa um equilíbrio global nos termos do qual o homem é apenas um elemento indissociável…

Enfim, o mínimo que poderia dizer-se é que se tratou de um incrível deslize, a manifestar uma falta de jeito que brada aos céus, numa altura em que não pode estar mais ao rubro a problemática do respeito pelo ambiente e todo o património com ele relacionado.

A colherada de Seara

Na reunião magna em apreço – ah! como resistir à presença da televisão… – o Presidente da Câmara Municipal de Sintra também interveio, certo é que sem grande destaque, chamando a atenção para o facto de a corrupção não ser um exclusivo dos municípios. Claro que não é, diremos nós que também o sabemos, bastando para o efeito abrir as páginas dos jornais e estar atento aos outros media.

Infelizmente, tanto os exemplos que vão surgindo um pouco por todo o país como os referidos à boca pequena, têm emporcalhado o poder local, num imenso lodaçal, em consequência dum imparável vórtice corruptivo, avultando os loteamentos à trouxe-mouxe, uma gestão do território que é uma chaga insuportável.

De qualquer modo, ainda não constituem argumentos que bastem à mórbida avidez dos grandes promotores turísticos e imobiliários, que vão contando com a compreensão dos autarcas para a concretização de negociatas, mais PIN menos PIN, que comprometem a qualidade de vida no presente e no futuro.

Na realidade, o Dr. Fernando Seara podia não ter focado as suas palavras na desajeitada tentativa de branqueamento de tão nocivas actuações de autarcas que, implícita ou explicitamente, têm facilitado o alastramento pelo território nacional dessa horrorosa mancha. Ultimamente, de facto, o nosso Presidente ou não acerta ou desacerta mesmo, nas atitudes públicas de que vamos tendo conhecimento. Como poderão verificar nos próximos parágrafos.



(continua)




sexta-feira, 4 de dezembro de 2009


Fernando Castelo - Sintra

Viseu,
exemplo para Sintra

No passado dia 10 de Novembro, o Diário de Notícias dava à estampa uma notícia sobre o funcionamento do funicular de Viseu, com utilização gratuita e que, em cerca de três semanas, transportou à volta de sete (7) mil pessoas. Segundo a notícia, aumentou a afluência ao centro histórico, o comércio passou a contar com mais clientela e os visitantes permaneceram mais tempo, enquanto que as viaturas ficaram lá longe arrumadinhas.

Claro que por lá, tal como cá, também existiram resistências de pacotilha, com críticas que acabam de ser desmistificadas. Um alfarrabista com loja aberta no centro histórico (de seu nome Rui Macário) reconhece vantagens nas medidas tomadas pela Câmara Municipal de Viseu, pois “já se vêem mais pessoas”, dizendo que caberá aos viseenses “aproveitar e ganhar este hábito de vir à cidade velha”.

Antes de se sugerir a requisição do edil Fernando Ruas para Sintra, ou mesmo uma permuta ao mais alto nível, não vamos deixar cair no esquecimento (tão útil a certos políticos) as aventuras de um “teleférico” que foi noticiado para Sintra.Em Dezembro de 2007, por certo com a emoção natalícia, um dirigente desportivo anunciou a construção do “teleférico para a Pena”, cujo cais de embarque seria no seu clube, ocupação que justificaria uma “renda” a pagar pela Câmara Municipal.

Houve quem acreditasse que o Senhor Presidente da Câmara não deixaria de convocar a imprensa habitual, mostrando os Projectos e promovendo as celebrações protocolares. Reinou um silêncio pouco conforme com o ideário republicano.Passado um ano, o divulgador do “teleférico”, dessa vez como autarca, acabaria por dizer que o “projecto de ligar São Pedro de Sintra ao Palácio da Pena através de um teleférico” estava “enterrado”. Dessa forma, mais um grandioso Projecto se arquivou.

Viseu tem outro encanto

Claro está que Fernando Ruas não se deixa levar por balelas ou cantos de sereia que só levam os navegantes para o fundo. E as ninfas do imobilismo por lá não vingam, digam ou não que Viseu é “única” e que não há outra igual em toda a Terra.Vai daí, através do programa Polis, Ruas investiu pouco mais que cinco milhões de euros e resolveu uma situação que era sentida pela grande maioria da população.

Claro que não se comprometeu a enterrar linhas de alta tensão da REN... Por outro lado, em vez de embrulhar casas degradadas no Centro Histórico, passou a dedicar uma atenção muito especial aos casos em que os proprietários não têm posses para reabilitação, adquirindo os edifícios para a devida recuperação, com o posterior aluguer. Prevê-se, ainda, que alguns serviços camarários sejam transferidos para esta zona, como forma de incentivar o desenvolvimento.

Sendo Fernando Ruas credor de muito apreço pela sua vida de autarca, como seria sempre positiva uma passagem por Sintra, não para promover queijadas ou travesseiros mas para umas pinceladas de desenvolvimento estruturante.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009



João Cachado - Sintra


Honra e lealdade,
apesar de tudo…

Há uma instituição que funciona correcta e decentemente. Aquilo que, em qualquer país civilizado e razoavelmente decente seria coisa corrente, nada de extraordinário, em Portugal logo ganha foros de excepcionalidade. Certamente, outras haverá que não nos envergonhem mas hoje, inevitavelmente, teria de estar a pensar na actuação do Tribunal de Contas e, muito particularmente, em quem dá a cara pela instituição, o Dr. Guilherme de Oliveira Martins.*

Sistematicamente, como sabem, através do seu indispensável visto, o Tribunal de Contas tem chumbado os contratos de concessão entre a Estradas de Portugal e as empresas que se propuseram concretizar uma série de auto-estradas com que, tão controversamente, o anterior governo resolveu dotar o território nacional, já tão encharcado por auto-estradas muito pouco frequentadas ou quase desertas.

E, não há quem consiga contestar, tem-no feito, sem apelo nem agravo, na permanente defesa do interesse nacional, considerando os contratos não conformes com o bem comum. Apenas e tão somente o bem comum. Sejam quais forem as considerações aduzidas pelos juízes do Tribunal, não passa pela cabeça de ninguém que não seja aquela a razão fundamental sobre a qual ergueram todo o seu dispositivo de justificação dos sucessivos chumbos.

Naturalmente, o patrão de uma das tais empresas, a Mota-Engil, não está a gostar. Igualmente pouco satisfeito deverá andar Jorge Coelho, cujo recrutamento para a gestão da empresa terá passado pela presunção de que, à partida, acidentes de percurso como os do caso vertente, estariam ultrapassados porquanto a socialista afinidade, entre o dito administrador (ex número dois do Partido e do Governo) e o actual executivo seria argumento de peso bastante para atenuar eventuais desentendimentos.

Ao mesmo tempo que, por alguns, a actuação de Oliveira Martins é saudada com os maiores encómios, o patrão da Mota-Engil e o Presidente do Conselho de Administração da Estradas de Portugal permitem-se aproveitar a janela aberta da comunicação social para ameaçar que, a não vingarem os termos do que entre si contrataram, aí está à porta o cataclismo sem precedentes de milhares de postos de trabalho em risco. Se não me engano, a isto se chama chantagem…

Mas, afinal, para que julgam tão destacadas personagens desta comédia de enganos que serve o Tribunal de Contas? Até dão a entender que o seu visto seria apenas um pró-forma… O Estado Democrático de Direito que Portugal continua a afirmar não considera indispensável esta instância de avaliação e controlo da actividade económica e financeira? Alguma entidade contraente pode considerar como favas contadas o resultado da intervenção do TC?

Naturalmente, as interrogações que coloco não são mais do que a expressão da vox populi. E, com toda a razão, o povo mais atento também se interroga quanto à circunstância de o visto aparecer com um ano de dilação. Se não há condições para encurtar tal período, como se permitem as empresas iniciar as obras, sob risco tão manifesto?

Pois é. Não há dúvida de que saíram as contas furadas à Mota-Engil, não só nas auto-estradas mas também, ainda por exemplo, no vergonhoso contrato entre o Estado e a Liscont, empresa do grupo adjudicatária do terminal de contentores de Alcântara. Não terá contado com a verticalidade e dignidade de alguém que, de facto, leva a sério o juramento que presta quando toma posse das funções que a República o tem chamado a desempenhar.

Afirmo solenemente pela minha honra que cumprirei com lealdade as funções em que sou investido”. São estas as palavras. Palavra de honra, na afirmação de lealdade perante o povo, cuja vontade, expressa através do sufrágio universal, permite e sanciona que determinada pessoa assuma o exercício de determinadas funções durante um certo período.

Infelizmente, não há muitos, como Guilherme de Oliveira Martins, que se empenhem nas tarefas que o povo lhes comete, com a honra e lealdade que o animam. Aliás, e bem a propósito, nem é preciso invocar infelizes e tão recentes exemplos para ilustrar o modo vil, indecente e escandaloso com que, em altos patamares do poder económico e político, certos senhores se têm permitido mal tratar e desbaratar os mais nobres valores.

Não é por acaso que Oliveira Martins é um inequívoco homem de Cultura. E, na moldura deste substantivo que, bem à alemã, escrevo com maiúscula, vejo na personalidade do Presidente do Centro Nacional de Cultura, o cristão profundamente empenhado na resolução das difíceis questões de desigualdades que mais preocupam o país e o mundo.


É Oliveira Martins o socialista exemplar que, sem qualquer risco de incoerência, bem pode apregoar os princípios e os valores da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, tão caros a uma doutrina que, diariamente, outros conspurcam com a face oculta ou bem a descoberto.

* Neste mesmo blogue, ler Que comparação!, 24.97.09 e O túnel adiado, 22.10.07.




segunda-feira, 30 de novembro de 2009

João Cachado - Sintra

Dedicação total?
Mais um episódio

No passado sábado, pelas onze e meia da noite, havia tremendo barulho no velho e desactivado ginásio da Av. Heliodoro Salgado. A escassos metros, na Rua Câmara Pestana, as traseiras do prédio onde, afinal em plena zona residencial, vivem de dezenas de famílias, entre as quais a minha. Por isso, conto este lamentável episódio na primeira pessoa.

Não sendo a primeira vez que tal acontece e, prevendo que o desmando se prolongasse pela madrugada fora, telefonei para a GNR. Pois, com a maior gentileza, pouco passava da meia-noite, e depois de, entretanto, já ter feito deslocar uma patrulha ao local, me informava nada poder fazer porque, lamentavelmente, os promotores do manifesto desacato sonoro estavam munidos de licença para o efeito E até às duas da manhã!...

O agente da autoridade que me atendeu, sempre com a máxima correcção e amabilidade, mais me esclareceu que, perante a incapacidade de actuação – uma vez que, ufanamente, os prevaricadores exibiram documento bastante à continuação da atitude tão lesiva dos direitos dos residentes na área – os seus colegas teriam apenas solicitado que, enfim, na medida do possível, tivessem em consideração a possibilidade de baixar um pouco o exagerado volume do som.

Não deixa de ser importante registar que, ao fim e ao cabo, pretendendo actuar a contento, a própria GNR se viu manietada e impedida de agir. Quantas e quantas vezes situações análogas sucederão em Sintra e um pouco por todo o país? Quantas e quantas vezes os infractores, na realidade, infringem mesmo, mas a coberto de autorizações conseguidas sabe-se lá como?

Apenas um pormenor da história. Infelizmente, também no caso vertente, os promotores do batuque não foram sensíveis ao pedido da polícia local, razão pela qual tivemos de aguentar a desagradável barulheira até cerca da referida hora limite. Em suma, através da controversa emissão de uma licença, o poder local impediu que a força policial exercesse a autoridade democrática de que está investida. Perverso? Não, em Sintra, coisa naturalíssima…

Ou seja, a Câmara Municipal de Sintra, entidade que, em princípio, seria a mais interessada em cumprir e fazer cumprir a Lei da República no concelho sob sua jurisdição, não teve a menor hesitação em autorizar que um grupo de pessoas se permitisse ofender quem, pacata e ingenuamente, confia na atenção dos serviços autárquicos. Como entender?

Não, não são sinais dos tempos, muito menos de novos tempos. Apenas se trata do seguimento dum programa que, antes e depois das recentes eleições, não conheceu qualquer pausa. Se alguns sinais haverá, não vale a pena grande esforço das meninges. É mais um manifesto da prometida dedicação total. Não tenham que eu também não tenho a mínima dúvida. Por mim, já estou à espera do próximo episódio. Convençam-se, este é um programa sem interrupções…






sexta-feira, 27 de novembro de 2009

João Cachado - Sintra

Stuart, Bartolomeu & etc


Tanto quanto já me informei, terá sido de excelente recorte a intervenção de José Jorge Letria, sobre Stuart Carvalhais, na última Assembleia Municipal de Sintra. O destino da casa do artista atesta bem do escandaloso desinteresse da Câmara Municipal de Sintra relativamente ao património imobiliário local por onde passaram figuras da cultura nacional e regional.

Enfim nada que me espante porque há muito tempo sei o que a casa gasta. A propósito, gostaria de lembrar o caso de um grande nome da Cultura Portuguesa dos nossos dias, falecido o ano passado, Bartolomeu Cid dos Santos, acerca de quem escrevi alguns textos na imprensa da terra e neste mesmo blogue. Era meu amigo, era um grande amigo de Sintra, comigo comungava o profundíssimo desgosto por ver Sintra chegar ao escandaloso estado de abandono que temos verificado nos últimos anos.

Sintra ainda não fez justiça à sua memória. Nada, absolutamente nada, nem sequer aquela coisa corriqueira que é dar o nome a uma rua. A CDU propô-lo como patrono para o Casa da Cultura de Mira Sintra, precisamente no mesmo dia em que, eu próprio, na Assembleia Municipal, chamava a atenção para a necessidade da homenagem que tardava.

Entretanto, como o homem era comunista, a Junta de Freguesia local, que ainda não se deve ter apercebido que o Bartolomeu era um dos mais notáveis gravadores, mesmo a nível mundial, não deu seguimento à proposta. Sintomático, não é?... Não percebem que Bartolomeu, como grande artista plástico, que os ingleses consideraram emérito, está para a gravura como, por exemplo, Paula Rego está para a pintura.

A diferença é que, em Cascais, a Cultura é encarada como coisa séria e logo se fez um museu para acolher a obra da artista. Em Sintra, onde a ignorância é proverbial, mesmo ao mais alto nível, um dia mais tarde, talvez só quando José Jorge Letria for Vereador da Cultura, se faça justiça a Stuart, Bartolomeu e a outros que, nos últimos oito anos, foram parar ao rol dos esquecidos da maioria que mantém o poder no executivo local.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

João Cachado - Sintra

Luminárias 2009


Na passada sexta-feira, dia 20, houve apagão no bairro da Estefânea, na freguesia de Santa Maria. Naturalmente, a exemplo do que tem acontecido nos anos anteriores, sabe-se que tais cortes, causadores de tanto prejuízo em determinado tipo de electrodomésticos e em equipamento informático, apenas acontecem quando entra em fase de operacionalidade a instalação das iluminações da época natalícia, a cargo da empresa à qual a Câmara Municipal de Sintra tem adjudicado tal obra.

Há três anos que, devido a ocorrências análogas, venho reclamando junto da autarquia. Em 2008, o Chefe do gabinete do Senhor Presidente da Câmara teve a amabilidade de me responder que, futuramente, teria em conta a lamentável experiência de factos inequivocamente atribuíveis nos termos do parágrafo anterior. Como se demonstra pelo sucedido na semana passada, o propósito anunciado foi ultrapassado pelas circunstâncias.

Naturalmente, este não passa de apenas mais um episódio a confirmar o lamentável estado de coisas decorrente da cultura do desleixo tão enraizada entre nós e, em especial, nas três freguesias da sede do concelho. Ninguém duvida de que, neste território restrito onde se situa o mais prestigiado e significativo património natural e edificado de Sintra, a jóia da coroa, infeliz e paradoxalmente, é uma das zonas mais desprezados do concelho.

No entanto, as luminárias nesta altura montadas, adquirem um particular significado. Se quiserem, analisemo-lo em três vertentes. Em primeiro lugar, porque o barulho das luzes contribui para a atenuação dos efeitos mais evidentes do descuido que, tão flagrantemente, atinge estas zonas. Por analogia, logo ocorre o anedótico exemplo da dona de casa badalhoca que atira para debaixo do tapete o lixo do qual não consegue libertar-se.

Por outro lado, no que concerne ao investimento em causa, dificilmente se admite que, em tempo de tanta restrição, a Câmara se permita despender, para efeito de efémera decoração urbana, significativas verbas com as quais poderia acudir a sectores tão carenciados como o social, que o Senhor Presidente da Câmara constantemente reclama, na medida em que tem de matar a fome a tanta criancinh. A dedicação total a isto também obriga...

Ninguém duvida de que, com muitíssimo menos dinheiro, é possível apresentar discretas iluminações que não deixariam de sublinhar o especial carácter do tempo de Natal cristão. Também por esta via, a Câmara Municipal de Sintra poderia fazer uma certa pedagogia junto dos cidadãos, demonstrando como, ao privilegiar uma certa contenção, que deverá acontecer em todas as áreas de intervenção, é possível dignificar a administração que compete exercer por mandato popular.

Finalmente, há a considerar o factor estético. Infelizmente, em Sintra, ainda há quem aprecie este tipo de decorações, à laia de arraial minhoto, com que o centro de Sintra é sobrecarregado nesta altura do ano. Enfim, é um sintoma do gosto prevalecente numa significativa percentagem de cidadãos que ainda levará muito tempo a alterar. De facto, trata-se de uma proposta extremamente agressiva que, afinal, somos obrigados a suportar em acumulação com as nefastas consequências destes
incidentes.

NB: A propósito, ler neste blogue os textos publicados em 29.11.07, 22.11.08 e 23.11.08.





terça-feira, 24 de novembro de 2009

João Cachado - Sintra

Já vale tudo?

Ou muito me engano ou a comunidade portuguesa estará a viver um dos momentos de maior perplexidade que já lhe foi dado atravessar depois do 25 de Abril. E assim será porque, na realidade, não é fácil ser governado por um Primeiro Ministro, cujo polémico currículo pessoal e inerentes atitudes algo controversas, no-lo apresenta como alguém que não é habitual considerar no desempenho de tão altas funções.

Primeiramente, foi a assinatura de uns projectos de duvidoso enquadramento legal e de horrorosa arquitectura na Câmara da Covilhã. Depois, o ziguezaguear entre institutos e universidades à procura da boleia mais eficaz para alcançar um canudo de licenciado. Seguidamente, o eventual envolvimento num processo de licenciamento de um aterro na Cova da Beira, em que se cruza com um técnico, que acabaria por ser o professor que mais cadeiras lhe certificou, no tal curso de engenharia, terminado num santo domingo do Senhor.

Posteriormente, ainda nos apareceu referido numa complicadíssima rede de contactos providenciais, afins da concretização do processo Freeport. E, agora, foi apanhado em escutas telefónicas com Armando Vara, arguido este num processo de corrupção, cujo principal protagonista, preventivamente preso, é um sucateiro de Aveiro de quem há suspeitas de ter recebido verbas para, através de tráfico de influências, desbloquear circuitos e favorecer concursos em empresas públicas.

Por seu turno, o mesmo Vara, oportunamente despedido pelo Presidente da República Jorge Sampaio, por indecente e má figura, como mentor da entretanto extinta Fundação para a Segurança Rodoviária, é alguém cuja licenciatura e pós- graduação serão, pelo menos, tão controversas como o diploma do actual PM, de quem, aliás, foi colega num governo de Guterres.

E, como poderão verificar, não estou a ser exaustivo. Pois, mais recentemente, muito agastados com o desconforto de que foi vítima o PM, Vieira da Silva e Santos Silva, respectivamente, Ministros da Economia e da Defesa, permitiram-se afirmar que as escutas telefónicas faziam parte de um processo de espionagem contra o Chefe do Governo. Todavia, no desgraçado estado em que este país se encontra, isto que é gravíssimo, aparentemente, não tem consequências.

Estou em crer que, apesar da natureza dos deveres decorrentes do seu específico estatuto, nada impede que os juízes venham a terreiro reclamar o ressarcimento por uma ofensa de que, eventualmente, se sintam objecto. Tal é a situação em que se encontra o juiz de Aveiro que terá encontrado matéria susceptível de enquadrar na figura de um crime contra o Estado de Direito, no conteúdo da escuta telefónica em que o PM foi apanhado.

Então, tendo actuado em conformidade com esta interpretação – e independentemente do resultado das diligências que promoveu – subsequentemente, sendo alvo do desrespeito consubstanciado na acusação de agente de espionagem contra o PM, não assiste ao magistrado o direito de reacção, em defesa da honra, do seu bom nome e da própria Justiça?

Os referidos senhores Ministros da Economia e da Defesa, membros de um órgão executivo, num Estado democrático de Direito, cuja origem decorre do resultado de um processo eleitoral, permitiram-se afirmar uma tal enormidade, contra um qualificado agente da Justiça, e não sofrem as consequências de tal atitude de ofensa? Estarão acima do comum dos mortais? Ninguém se insurge? O próprio Presidente da República, precisamente na sua condição de mais alto magistrado da Nação, nada terá a dizer? Em Portugal, até isto já vale?



sábado, 21 de novembro de 2009

João Cachado - Sintra


Exposição muito mista


Em dia de chuva, sair de casa é algo que tem de ser muito bem justificado. Assim sendo, se me permito vir desassossegar-vos para irem até ao Maggie´s Tea Spot é porque, de facto, vale a pena.

Com materiais tradicionais tais como lãs, algodões, sedas, pedras, metais, papel, barro e outros produzidos pelas próprias artistas, Ana d’Oliveira, Emília Reis e Anna Westerlund propõem articulações extremamente originais em que o bordado é comum traço de união.

Não me compete e, aliás, nem sei como faria a promoção da exposição que, sendo hoje inaugurada, pelas quatro da tarde, vai permanecer até dia 29, naquele espaço tão interessante, à Rua da Costa do Castelo, 1 em pleno casco do centro histórico de Sintra. Todavia, julgo saber onde pára o bom gosto e a sofisticação de uma Arte que, cada vez mais, conquista adeptos rendidos aos encantos da mistura de suportes.

É nesta linha das técnicas mistas que estas três amigas trazem propostas estéticas cuja sinceridade é tão discreta como surpreendente. Trata-se de coisa séria, Arte mesmo, que não pode confundir-se com certas coisas que para aí se vendem, fingindo algo que, na verdade, não são. É uma Arte que se consome, que, nuns casos, se veste sobre o corpo, noutros se escreve, noutros serve de adorno a lugares que, sem eles, não têm graça nenhuma.

Vão. Mas não confundam. Apesar de se anunciar como afim do tipo de venda de Natal, não esperem um vulgar comércio de ocasião, assim como coisa expedita em época tão propensa ao rápido negócio de vão de escada. Vão até lá, em busca de um presente para gente especial ou, então, concedam-se o privilégio de uma daquelas peças.

Ah, é verdade, verão como os preços até ficam muito aquém do perfil dos artefactos cujo anúncio aqui vos trouxe. E, vamos lá, como as autoras de todas aquelas peças absolutamente únicas, convidam para um bom chá, hoje mesmo ou numa das próximas tardes outonais, parvos seríamos se não aproveitássemos o ensejo.



PS:
Só um pormenor. Não ficaram curiosos, por exemplo, quanto à proposta da sintrense Emília Reis? Sendo ela a mais acérrima defensora da causa da Condessa d’Edla, talvez não se enganem se imaginarem que, por ali, ainda andará a mão da senhora…



sexta-feira, 20 de novembro de 2009

João Cachado - Sintra

Na pasta das dúvidas


Foi hoje, cerca da uma da tarde, no café e pequeno restaurante da minha rua. Logo na primeira mesa, a pouca distância do balcão onde bebia o meu café, almoçava um casal com a filha, miúda dos seus doze anos. Conheço-os aqui da vizinhança, cumprimentamo-nos e pouco mais.

Na televisão, uma locutora debitava não sei o quê sobre o processo Face oculta. Agora, com um filão destes sob as garras, a comunicação social não larga a presa. E, não raro, até nos vemos envolvidos em diálogo com desconhecidos que emitem a sua opinião e pedem a de quem se encontra por perto. Foi o que aconteceu durante a cena que passo a partilhar convosco.

Manifestamente tentando que eu metesse a colherada, dizia a senhora que tudo isto já cheira mal. Tanta corrupção, tantos maus exemplos para a gente mais nova. Seguiu-se o marido, alto e bom som, arengando uma daquelas habituais sentenças em circunstâncias que tais. Segundo ele, isto é a vida dos políticos que estão lá para isso mesmo, para se encherem eles e aos partidos.

E continuou. Que o Sócrates e o Vara por um lado, que o Dias Loureiro e o Oliveira Costa por outro e esse Nunes qualquer coisa que até foi cá vereador com a Edite… Aqui parou. Então, ostensivamente para mim voltado e de garfo em riste, quis saber, na sequência de tão definitiva acusação, o que achava eu da sua razão.

Todavia, a minha opinião não era para aquele contexto. Perante tanto azedume, à mistura com tanta confusão, olhando eu a miúda que também esperava a minha resposta ao pai, consegui dizer que o melhor era pôr a questão na pasta das dúvidas. Tal era a frase com que o meu avô rematava cenas análogas, sempre que ouvia dizer mal de alguém ausente.

Ainda lembrei, quanto mais não fosse por respeito à criança, cuja presença pura e simplesmente ignoravam, que se impunha um certo cuidado. Falar acerca de corrupção, na presença de infantes, não é coisa proibida mas exige especial atenção.
E, muito especialmente, num momento em que urge que os corruptos sejam de facto acusados e punidos.

Felizmente, tinha dinheiro trocado. Não esperando pela réplica, acenei uma despedida estratégica e pus-me ao fresco.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

João Cachado - Sintra

Significado
das insignificâncias



Para que se tenha uma pequena ideia da lamentável negligência dos serviços camarários que vai por esta terra, trago hoje duas situações exemplares. Por acaso, são ambas em São Martinho. Enfim, umas insignificâncias. Todavia, a natureza das mesmas leva-nos a admitir, com toda a probabilidade de certeza que, neste preciso momento, e, simultaneamente, em todas as outras freguesias do concelho estarão a ocorrer coisas perfeitamente idênticas.

Em primeiro lugar, na estrada que bordeja Seteais, a uns metros do portão central de acesso ao relvado, permanece um orifício no pavimento donde borbulha uma água, cuja natureza e origem desconheço, que se vai perdendo sem que ninguém acuda. Pelo menos, há cerca de dois meses. Uma dor de alma! Difícil não é imaginar que, em lugar tão impróprio, com as obras de construção da polémica mansão de Miguel Pais do Amaral, em curso na Quinta do Vale do Anjo, alguma canalização teria de ceder não aguentado tanta pressão…

Outro caso é o que, também há várias semanas, acontece na íngreme descida do Caminho dos Frades, muito perto da entrada da Quinta do Castanheiro. Mais um buraco, mais líquido escorrendo, talvez de esgoto, pois o fedor assim o dará a entender. Nesta situação, maior é o escândalo porque, muito recentemente, não sei que entidade se terá entretido a lançar uns lambiscos de alcatrão, sem qualquer lógica que não fosse a do proverbial serviço à trouxe-mouxe, não cuidando sequer de remediar o que era evidente.

Por estes dias, com as chuvadas que têm caído, menos fácil é dar com os buracos e respectivos líquidos emergentes. Julgo que competirá aos SMAS remediar. Julgo, escrevi eu, pouco me interessando a atribuição da culpa por descuido tão grande. A face oculta, sabem, tem muitas facetas e, não tenho a mais pequena dúvida, o desleixo é uma delas.

Não, o problema é geral e, afinal, estes são apenas dois episódios da reinante, permanente e endémica cultura do desleixo. Passará pela cabeça que ninguém se mexa? Há tanto tempo?! Passa, sim senhor. Em Sintra, é assim. Sempre. As insignificâncias com significado são aos milhares. Minam o ânimo, desmobilizam qualquer movimento de cidadania porque os responsáveis encaram a denúncia cívica como incómodo e manifesto de pessimismo militante. O contrário é apenas a excepção que confirma a regra.




domingo, 15 de novembro de 2009

"DEDICAÇÃO TOTAL"
CHUMBA PROPOSTA DO PS
PARA REDUÇÃO DO IMI

É bom recordar que Ferreira Leite, quando ministra, foi a madrinha do CIMI (Código do Imposto Municipal sobre Imóveis) elaborado com o recurso à onerosa colaboração de Paulo Macedo, agora administrador bancário.

A aplicação do Imposto Municipal Sobre Imóveis tem sido uma das maiores fontes de injustiça entre contribuintes proprietários, originando elevadas contribuições pars uns e baixas para outros, consoante são aplicados os princípios de actualização.

Digamos, então, que os compradores ou os que estiveram envolvidos em transmissões mais recentes, pagam impostos muitas vezes incomportáveis. Admitindo a existência de divergência, a Lei dá a faculdade dos municípios aprovarem reduções, se estiverem realmente preocupados com a situação existente nos seus territórios.

Sabe-se que, com conhecimento da realidade sintrense, o Partido Socialista apresentou na última Sessão Camarária uma proposta para a redução do IMI em 3% e Isenção da Derrama para pequenas empresas. A Coligação Mais Sintra, que todos recordamos pela "Dedicação Total" prometida, VOTOU CONTRA.

Se tivermos em conta a facilidade com que, por tudo e por nada, se alude ao "apoio social" e se envergonham muitos pais com a sistemática invocação das refeições garantidas nas escolas, o voto contra para a redução do IMI é uma pedrada no charco.

Ainda recentemente Fernando Seara dizia em Pero Pinheiro "Não me peçam obras (...) peçam todo o dinheiro disponível para ajudar aqueles que mais necessitam (...) este é o tempo de sermos suficientemente sagazes para sermos totalmente solidários".

Tudo leva a crer que a sagacidade da "Dedicação Total" ainda não conseguiu avaliar a incidência do elevado IMI nas finanças de muitos pais de crianças...que depois são usadas como beneficiárias da comida escolar.

Fernando Castelo



quinta-feira, 12 de novembro de 2009

João Cachado - Sintra

Vai um prato de lentilhas?


Já lá vão uns bons anos, era presidente da Câmara Municipal de Lisboa o Dr. Jorge Sampaio, quando vieram a público alguns indícios de que a Epul teria incorrido na prática de lamentáveis actos de corrupção. Não vem ao caso sequer esboçar aqui os contornos e muito menos esmiuçar detalhes das actividades menos recomendáveis que levaram o futuro Presidente da República a demitir liminarmente o conselho de administração daquela empresa pública.

Uns tempos mais tarde, já no exercício de funções de supremo magistrado, não esteve com demasias e, perante o que se soubera da irregular actuação da Fundação para a Prevenção Rodoviária, exigiu ao Primeiro Ministro António Guterres o imediato afastamento de Armando Vara do Governo.

Num país em que impera a famosa cultura do desleixo, que o mesmo Jorge Sampaio tão bem tem sabido caracterizar e alertar para o seu combate, não admira que, em ambos os casos aludidos, nada tivesse impedido que os membros do órgão de gestão e o multifacetado e talentoso rapaz, continuassem a merecer o crédito da classe política para o desempenho de outros cargos.

O problema é que a classe política é de péssima qualidade e, salvo raríssimas excepções, de baixo estrato. Abundam os casos em que uns pobres diabos, balconistas ou obscuros técnicos de autarquias de segunda, se muniram do providencial cartãozinho para – depois do laborioso e devido trabalho de base lá pelas berças, e de rapidíssimas e tortuosas passagens por faculdades de terceira, para obtenção de duvidosas qualificações universitárias – demandarem a capital, colhendo o fruto de tanto empenho nos mais variados enquadramentos institucionais. Trata-se de indivíduos que abastardam a nobre noção de serviço público, de serviço à República. Nada de confusões, só a estes me refiro.


Mesmo em Portugal, em circunstâncias mais propícias, e apesar de eventuais motivações pessoais menos recomendáveis, não teriam oportunidade de aparecer na ribalta do poder. Não passariam de obscuros mas digníssimos amanuenses mangas de alpaca, quando muito, de chefes de secretaria, ou de incógnitos mas diligentes mestres de criancinhas. No entanto, como as cicunstâncias não são as mais propícias, conseguem alcandorar-se aos mais altos cargos do poder central e local, da banca, das empresas públicas, satisfazendo a avidez da sua patológica ambição, em sórdidas gamelas, designadas por famosas siglas que o povo, enojado, já conhece de ginjeira, no âmbito dos processos de investigação que enchem as páginas da comunicação social.

Os rígidos valores da dignidade subsumidos no da honestidade, são liminarmente postergados, em detrimento da sui generis protecção da abóbada tão conveniente da dura lex… Os tão apregoados princípios da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, que sustentam os modernos Estados Democráticos de Direito, são atropelados, a toda a hora e momento, sem que o escândalo geral baste para suster a sua sangria.

Hoje em dia, se a Lei sancionar aquilo que o legislador propôs como correcto – tantas vezes, por ínvia encomenda do poder executivo, vd. caso Casa Pia e alterações legislativas de 2007… – tudo se apresenta como liso e susceptível de descansar as consciências. Parece ser tão grave este caldo de sofisticado desleixo que, provavelmente, vivendo sob a capa de um regime democrático, estaremos a assistir ao espectáculo da mais nociva inversão de valores que já desafiou as sociedades modernas desde a Revolução Francesa.

Afinal, o que faz falta?

Volto ao parágrafo inicial. Com a legislação vigente na altura, Jorge Sampaio não teve dúvidas. Numa situação, independentemente dos subsequentes apelos e agravos, demitiu quem considerou conveniente e na outra, igualmente cortando a direito, deixou de patrocinar a presença de um governante que fazia parte de um executivo a que ele próprio dera posse. A isto se chama estar à altura das funções.

Devem ser raríssimos os casos em que os dispositivos legais vigentes não estão servidos por mecanismos de operacionalidade que permitam, a quem de direito, actuar perante estes e outros prevaricadores institucionais. Todavia, não tenho a menor dúvida de que, enquanto imperar a dominante cultura do desleixo, sempre faltará, a tal vírgula que, quanto mais não seja, facilita o contorno da interpretação mais conveniente da Lei.

Mas quem sou eu, anónimo filólogo, para me arrogar meter a foice na seara alheia da legislação? Pois vos direi que a discreta mas permanente intervenção cívica em que estou envolvido foi especialmente desafiada pelas oportunas e sempre tão certeiras palavras da minha amiga Ana Gomes, no seu blogue Causa nossa, ela que também é mulher de Direito, habituada a dirimir causas à luz e com base no império da Lei.

Lembra Ana Gomes impor-se a retoma das propostas do Engº João Cravinho, que tanto se bateu pela necessidade de um combate sério e sem tréguas à corrupção. É aqui que me rendo. Se, efectivamente, falta preencher algum buraco da Lei, por exemplo, no respeitante ao enriquecimento ilícito, pois que actue o Parlamento, no exercício do poder que outorgámos aos seus membros, no sentido de nos defenderem contra as invectivas desses indecentes que, muito raramente, deparam com um Jorge Sampaio pela frente.

E assim finalizo, na boa companhia desta tríade em que Sampaio, Cravinho e Gomes me concedem a esperança de prever que, apesar de sinais tão desanimadores, o prato de lentilhas dos corruptos não vai transformar-se em mais Mercedes topo de gama… Urge dar sinais diferentes aos miúdos, aos nossos filhos, netos e alunos. Especialmente eles, não merecem este lodaçal.



segunda-feira, 9 de novembro de 2009

João Cachado - Sintra

O melhor de Sintra

É natural que alguns dos habituais leitores ainda desconheçam que a Parques da Sintra Monte da Lua (PSML) aumentou recentemente o seu património, através da incorporação de três novas propriedades que, tal como todas as restantes parcelas, se incluem na zona classificada como Paisagem Cultural.

Lembremos que Convento dos Capuchos, Tapada D. Fernando II, Parque de Monserrate, Tapada de Monserrate, Tapada do Mouco, Parque da Pena, Tapada dos Bichos, Castelo dos Mouros e Quinta de Seteais somam 361 hectares, um conjunto cujos contornos e respectiva toponímia tão grato nos é registar por saber como tudo tem estado tão bem entregue.

Pois, a partir de agora, a PSML passa a responder por um total de mais de quatrocentos hectares de terras naquela zona, uma vez que, à área precedente, foram acrescentadas a Tapada das Roças (43 ha), a Mata da Trindade (1,9 ha) e a Tapada da Quinta do Ramalhão (4,75 ha). No caso em apreço, aquilo que, para outra empresa não passaria de um saudável aumento de propriedade, foi oportunidade para uma atitude que saúdo com o maior apreço.

Ora vejamos o que me leva a este encómio. É que, desta vez, a PSML veio ao encontro de alvitres que apontavam no sentido de privilegiar uma estratégia de comunicação com os cidadãos de Sintra, na tentativa de esclarecer inequivocamente o que, por exemplo, estava a montante das decisões que levaram às manobras de limpeza e desbaste florestal nas tapadas sob sua alçada.

Ainda não há muito tempo, estarão lembrados, armou-se para aí uma controvérsia dos diabos a propósito de tal actividade. Meia dúzia de pseudo defensores do ambiente, autênticos ecologistas da treta, implícita ou explicitamente, na peugada de um grupo – (infelizmente) sem dimensão que, volta não volta, aparece à luz do dia como arauto da defesa do património sintrense – insinuou ou acusou mesmo aquela empresa de crimes cuja existência apenas tem cabimento na sua incomensurável ignorância.

Afinal, como tive reiterada oportunidade de confirmar, esclarecer e justificar,** tratou-se de concretizar atitudes radicais de gestão florestal, absolutamente fundamentais e indispensáveis à saúde e segurança das espécies em presença, que foi desempenhada com o maior cuidado e inexcedível competência por parte de quem a tarefa foi cometida, sob coordenação do Engº Jaime Ferreira, um amigo de Sintra que apraz aplaudir.

Faltava fazer alguma coisa? Faltava sim senhor. Faltava mostrar, à saciedade, a razão que assiste à PSML para fazer e continuar a fazer aquilo que tem feito, e tão capazmente, no âmbito da gestão da floresta, nos terrenos em que não pode deixar de intervir. É neste contexto, portanto, que acabou por ser colmatada a falta a que me refiro.

Com a avisada descrição que o caracteriza, o seu Presidente convidou quem lhe aprouve, para mostrar e demonstrar, perante a obra por fazer na Tapada das Roças, em comparação com a que já foi realizada, por exemplo, na Tapada de Monserrate, como está certo o caminho traçado. Lá diz o povo, na sua proverbial sabedoria, que não há nada como realmente… É a atitude de São Tomé, ou seja, ver para crer. E assim se fez.

Das trevas para a luz

O Prof. Lamas concentrou as dezenas de convidados no topo da Tapada das Roças e, acompanhado da sua equipa de técnicos, conduziu toda aquela boa gente através de um matagal praticamente intransitável, com uma perigosíssima carga de biomassa, onde a luz do Sol mal chega, até à vizinha Tapada de Monserrate onde idêntico cenário ao que acabei de aludir, tão pela rama, foi devidamente corrigido.

Depois de uma experiência tão esclarecedora, pelo caótico inferno da Tapada das Roças, o que a vista alcançou, uns hectares mais à frente, na Tapada de Monserrate, claro que não sendo o céu, é um inequívoco descanso que, ao contrário do que alguns incautos poderiam ser levados a julgar, não dá tréguas seja a quem for. Para assim se manter, não se pode parar pois, caso contrário, repetir-se-á o dantesco ambiente tão caro aos tais apressados ambientalistas.

Para que todos pudéssemos ficar perfeita e totalmente identificados com as questões que fomos levados a partilhar naquela tarde, foram distribuídos dois mapas esclarecedores. Um primeiro, que fornece todas as coordenadas relativas às propriedades da PSML. O outro refere-se ao loteamento da Tapada do Saldanha que, para quem não se lembre, fica exactamente do outro lado da estrada, em frente à Tapada das Roças, servida esta pelo portão que dá acesso à Quinta das Sequóias, na estrada entre a Pena e os Capuchos.

Milagres em Sintra

Basta olhar, cá de fora, para a Tapada do Saldanha para perceber porque razão se lhe chama a mãe do fogos da Serra de Sintra… Aquilo, tal como a Tapada das Roças, é um paiol de autêntica pólvora. Enfim, oxalá (passe a ecuménica evocação a Alá, nesta companhia com a Santa Mãe de Jesus…) que Nossa Senhora de Fátima não se distraia. Se calhar, já terá sido por sua intercessão que, na sequência do 25 de Abril, ao loteamento não se seguiu a concomitante construção. Nesta coisa de milagres, preciso é respeitar uma certa reserva, não vá dar-se o caso de acabarmos por meter a foice em seara alheia…

De qualquer modo, a divisão daquela propriedade, em tão pequenas parcelas, tem inviabilizado a intervenção que se impõe no sentido da salvaguarda de uma zona crítica que, durante tantos anos foi descurada. Vale-nos a certeza de que, de facto, o Prof. António Lamas está atento a tudo quanto se passa ali à volta, pelo que tudo estará fazendo com o objectivo de que a questão se resolva a contento da comunidade.

Na realidade, o advento do Conselho de Administração presidido por este homem providencial, foi determinante para Sintra. É por esta e por outras que não me canso de salientar como o Prof. António Lamas e a sua equipa fazem tanta diferença dos gestores de pacotilha e de cartãozinho, tão medíocres na forma como, sem excepção, dirigem as empresas municipais de Sintra e a própria Câmara Municipal, sem um rasgo de originalidade, sem definidas estratégias. De facto, os milagres de Sintra não estão ao alcance de quem se move sob a fasquia da vulgaridade… De facto, o melhor de Sintra está na Parques de Sintra Monte da Lua!

Amizade iniciática

Mas voltemos à tarde daquele dia 4, durante a qual ainda foi possível constatar quanto valem o companheirismo militante e a amizade de gente como Ema Gilbert, da Associação dos Amigos de Monserrate, Maria José Rau, da Associação dos Proprietários de Quintas da Serra de Sintra, de José Manuel Carneiro, director do Palácio da Pena, do Fernando Castelo, senhor de tantas lides e lutas, e de muitos outros que, tão gostosamente, continuo a encontrar nas periódicas cenas edificantes patrocinadas pelas iniciativas da PSML que, elas sim, nos animam e compensam do destempero da Sintra que sobra e soçobra.

Falta registar que, naquela vespertina caminhada, muito contei com o profundo conhecimento do jubilado e célebre biólogo, Prof. Doutor Fernando Catarino, outro amigo do Prof. António Lamas que, ao meu lado, ia caucionando, em amena conversa, todo o trabalho que por ali se processou e vai continuar. Era o Mestre que, seguro, ia conduzindo à Sabedoria o Aprendiz, beneficiando eu daquele percurso iniciático, através das trevas e dificuldades da Tapada das Roças para, finalmente, ver a Luz da Tapada de Monserrate.*

Não há dúvida, se preciso fosse, era o contraponto da descabelada ignorância dos mentores da campanha de desinformação que, pasmemos todos, apesar de radicar em tão frágeis bases, não deixa de ter quem lhe dê ouvidos e crédito. Exagero da minha parte? Mas, então, assim não sendo, acham que a imprensa local perderia tempo procurando colher a opinião do tal grupúsculo, cuja inactividade é prova cabal da sua falta de qualificação e só proporcional, aliás, à fraquíssima penetração numa comunidade, como a de Sintra, que se depara com tão bicudos problemas de defesa do património natural e edificado?

Aqui chegados, entraríamos já noutra questão, relacionada com certos meandros do quarto poder em Sintra. Todavia, sendo este mesmo o derradeiro parágrafo – embora a funcionar como um epílogo entre parêntesis – apenas me limitarei a remeter os meus leitores, eventualmente interessados na matéria, para um breve exercício de análise e interpretação da última página dos jornais locais, de há uns meses a esta parte. Verão como o patrocínio é deveras concludente…
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*Vão deixar que aqui introduza a componente musical que ali faltou. Nem mais nem menos do que, em A Criação, de Joseph Haydn, o momento em que, logo na introdução, do caos inicial, Deus fez a Luz. Neste ano jubilar do ducentésimo aniversário da morte do compositor, ouvir esta obra máxima da Cultura ocidental é a melhor homenagem que se lhe pode prestar.

**A propósito, ler neste blogue: Incoerência, 04.09.09; Na Serra, o descanso, 03.04.09; Monserrate, o cinco de Março, 06.03.09; Tomar a árvore pela floresta, 06.02.09; Monserrate, o castigo do sucesso; Paisagem Cultural, 09.10.08; À Cruz Alta, a pé, 25.07.08. Entre muitos outros que tenho escrito sobre a actuação do presente Conselho de Administração da PSML, nestes textos aludo à actividade relacionada com os desbastes florestais.



terça-feira, 3 de novembro de 2009

João Cachado - Sintra

Uma aventura

com Isabel Alçada

Hoje, para falar de Isabel Alçada, tenho de recuar cerca de vinte anos, lembrando que, no âmbito das minhas atribuições como Técnico Superior do Ministério da Educação, estava afecto aos Serviços de Ensino de Português no Estrangeiro onde, entre outras tarefas, também me competia a concepção de materiais didácticos e a formação dos professores em actividade junto das comunidades portuguesas emigradas por esse mundo fora.

Não é fácil imaginar como, naquela altura, eram escassos os materiais disponíveis de suporte à actividade pedagógica em questão. Se, actualmente, a situação não é brilhante, então era de quase indigência. Na maior parte dos casos, acrescia a dificuldade de comunicação e, tantas vezes, a resposta dos serviços era lenta e burocratizada.

Nestes termos, o preenchimento de tal lacuna evidenciava-se, não só como o cumprimento de um assumido objectivo institucional mas também, para quem como eu tinha o privilégio de trabalhar em tal enquadramento, um desafio pessoal que procurava corresponder o melhor possível.

Um dos projectos que consegui concretizar, radicava na utilização de alguns livros da Colecção Uma Aventura, cujas bem conhecidas autoras, Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada, me concediam a rara oportunidade de trabalhar tais obras, com objectivos muito específicos, pela circunstância de proporem conhecidos lugares de Portugal como cenário dos enredos das suas histórias.

De facto, para além do inequívoco sucesso de uma obra que conta com várias dezenas de títulos, as referidas autoras, que também são professoras, produziram um enorme manancial de situações de ficção, sempre em lugares do maior interesse, cujos protagonistas, sabiamente caracterizados, tomam conta do leitor alvo através de uma cumplicidade fácil, que sintoniza na idade, no espírito de aventura, na necessidade de alcançar a autonomia possível.

Reparem, no entanto, que os destinatários do trabalho que me propus concretizar eram, em primeira instância, os professores de um universo especial alunos-leitores que constituem um grupo extremamente heterogéneo. Os miúdos com quem trabalham estão longe, muitos já não nasceram em Portugal, fazem parte de segunda e terceira gerações de portugueses instalados em determinadas comunidades estrangeiras, em diferentes continentes. Alguns desses potenciais e reais leitores são bilingues, para outros o Português é ensinado como língua estrangeira ou ainda como língua segunda.

Pensemos num exemplo muito concreto. Para eles, a Sintra e o Palácio da Pena de Uma Aventura no Palácio da Pena são coisa bem diferente daquela que conhecem (ou não) os miúdos portugueses que estão e permanecem em Portugal. Portanto, havia que ajudar os professores a facilitar um diferente acesso a Sintra por parte dos seus alunos.

O que se me impunha – se a essa gente eu queria chegar – era aproveitar a oportunidade da existência daquela obra bem concreta e, para além da componente lúdica suscitada pela sua leitura, propô-la aos referidos docentes numa mala pedagógica cujo conteúdo incluiria, não só o próprio livro mas também um diversificado conjunto de materiais conotados com o lugar. Mas, cumpre esclarecer, foram trabalhados outros títulos da mesma colecção.

Era suposto que, longe de Portugal, pudessem trabalhar o lugar Sintra em termos pedagógicos. Para tanto, concebi um kit de materiais que iam desde folhetos originais de índole turística à fotocópia de notícias de jornal acerca de concretos e preocupantes problemas de Sintra, também sobre projectos relativos ao Palácio e Parque da Pena que se perspectivavam na altura, plantas e mapas, receitas de doçaria regional, um videograma da autoria da Editorial Caminho de promoção de Uma Aventura no Palácio da Pena, um vasto conjunto de diapositivos sobre Sintra, cassete áudio com várias hipóteses de música de fundo, etc.

Naturalmente, pedi às autoras que subscrevessem uma carta, muito informal, dirigida a todos os colegas que iriam receber as tais malas pedagógicas, de estímulo à actividade tão desgastante em que estavam empenhados. Pois a carta veio praticamente na volta do correio, sob a forma de manuscrito, qual diálogo entre gente do mesmo ofício que, como calculam, constituía um forte elemento afim do sucesso de utilização daquele dispositivo de animação da leitura, pretexto para a abordagem de um lugar em termos relativamente abrangentes.

Sob os auspícios da amizade

Sei que Isabel Alçada me considera seu amigo. E não se engana, eu retribuo. De facto, temos em comum o mais intenso desejo de aplicar todas as nossas capacidades ao serviço das crianças e jovens deste país, com particular destaque para a promoção do gosto pela leitura, eu de forma muito modesta como Técnico de Educação, actualmente aposentado, ela não só como autora mas também no desempenho de funções tão importantes como as de Comissária do auspicioso Plano Nacional de Leitura.

A música leva-nos quer à Gulbenkian quer ao Grosses Festspielhaus de Salzburg, à volta da obra dos grandes compositores, sempre interpretada pelos melhores entre os melhores do mundo. É uma grande mulher, determinada, competente, discreta e – factor absolutamente determinante nesta avaliação de amigo – sempre de uma irrepreensível elegância.

Quando, recentemente, se começou a falar no seu nome para substituir Maria de Lurdes Rodrigues, achei perfeitamente natural. A competência e dignidade que têm pautado o seu percurso continuarão a prevalecer no desempenho destas funções de Ministra da Educação. Mas entendam que, igualmente, fiquei apreensivo e com imensa preocupação por ela. Aquilo não é coisa que se deseje a ninguém e, muito menos, a um amigo…

Vão deixar que faça um parêntesis para lembrar que, há precisamente trinta anos, fiz parte do Gabinete do Secretário de Estado dos Ensinos Básico e Secundário de uma outra grande mulher da Educação deste país, Maria Alice Gouveia, também uma amiga, infelizmente já falecida, a quem o Sistema Educativo ficou a dever serviços inestimáveis em períodos críticos, antes, durante e na sequência do 25 de Abril. Pude aperceber-me da violência quotidiana que é estar naquele lugar do poder executivo, da exigência ética de fazer política àquele nível. Fecho o parêntesis.

Como, à minha limitada medida, sei o que é, o que já estará a viver e o que espera esta amiga, maior não pode ser a expressão da estima e consideração que aqui registo. Por isso mesmo, recebo muito mal os sinais que certa imprensa não se coibiu de manifestar sobre Isabel Alçada, desde o Público ao Expresso que, enfim, não sendo uns quaisquer pasquins, por vezes, até parecem…

Como se mais nada de interessante houvesse para dar notícia, mesmo num registo ligeiro, já se entretiveram na investigação e subsequente publicação dos seus rendimentos, destacando os cinquenta mil euros de direitos de autor, com comentários de duvidoso nível ou interesse sobre os proventos do casal Vilar. Noutra oportunidade, o destaque para a caneta Montblanc com que assinou o termo de posse…

Que indigência, meu Deus! Será que tão doutos jornalistas (??) conseguirão perceber que, por muito significativos que possam ser os valores em questão, não há qualquer interesse jornalístico na sua divulgação porquanto se referem a rendimentos de inequívoco trabalho? Será que tal espécie de escrevinhadores terá feito coisa idêntica quando, por exemplo, o tão célebre quanto lamentável Dr (?) Armando Vara tomou posse e deixou os cargos de Secretário de Estado e de Ministro?

Quanto às Monblanc, o que dizer? Como eu a compreendo. Adoro. Porque são óptimas, refinadíssimas e fazem a diferença. Não por se terem transformado em ícones de prestígio mas, isso sim, porque até permitem distinguir quem as merece dos ordinários que, desde locutores a comentadores, políticos, etc, não perdem a oportunidade de as exibirem, rolando-as entre os dedos, perante as câmaras… De facto, um piroso será sempre um piroso, mesmo armado de Montblanc.

Não. Jamais verão Isabel Alçada em cenas que tais. E não a macem para além do que é suposto aguentar. Senão acaba por se fartar deixando o lugar a uma qualquer Lurdinhas, que para aí ande à espera de uma oportunidade para atacar na 5 de Outubro…

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

João Cachado - Sintra

Problema crónico,
Estefânea (I)

Há cerca de quinze dias, solicitei a intervenção, não só da Junta de Freguesia de Santa Maria e São Miguel mas também da Câmara Municipal de Sintra, no sentido de resolver a questão da instalação de um sistema de protecção aos peões, nomeadamente crianças e jovens estudantes, que se deslocam entre o Largo Nunes de Carvalho e a escola D. Carlos I.

Através dos textos que, acerca do assunto, publiquei neste blogue, puderam acompanhar o modo como, até ao momento, ambas as autarquias responderam ao pedido em apreço. Como, mais uma vez, ficaram a saber o que a casa gasta, não estranharão que, acerca da matéria que hoje vos proponho, tenha resolvido, pura e simplesmente, deixar de consultar a Junta de Freguesia para, tão somente, lhe dar conhecimento do contacto com a CMS.

Então, vamos ao caso. Tudo se passa no bairro da Estefânea e já estão a calcular que é um problema de estacionamento. Pois não só já acertaram como, inclusive, também terão previsto que, especificamente, se trata de velha questão. É verdade. E, como tem três vertentes, aqui fica a promessa de que, para além de hoje, ainda aqui virá em mais duas oportunidades.

Naturalmente, importa não esquecer ser esta é uma zona onde, estando instalados inúmeros serviços, o estacionamento não abunda mas, ao contrário do que muita gente pensa, até é capaz de chegar para as necessidades. Por hoje, não pretendo que pensem no que acontece em dias e noites de eventos no CC Olga Cadaval, caso que, pela enésima vez, abordarei num dos próximos dias.

Portanto, apesar de tudo, raro não é haver o estacionamento efectivamente necessário. Talvez em dias de mercado, às terças e sextas feiras, a coisa seja mais difícil mas, se fosse observado o estrito cumprimento da lei, não estaríamos em presença de um caso gerador de questões muito preocupantes que, sistematicamente, põem em causa a circulação em segurança de transeuntes e veículos.

Tenham em consideração a Praça Dr. Francisco Sá Carneiro, ou seja, a do Centro Cultural Olga Cadaval. Considerem também a Rua Câmara Pestana que, entre a Heliodoro Salgado e a Adriano Coelho (que segue para a igreja de São Miguel e Bairro das Flores), apresenta os dois sentidos de circulação. Pois essa curta distância está constantemente impedida por veículos estacionados, de todos os tamanhos e feitios, incluindo, pasme-se, os mais compridos TIR.

Com o objectivo de impedir o estacionamento selvagem, no primeiro segmento da referida Rua Câmara Pestana, entre o quarteirão onde está instalada a própria Junta de Freguesia e, umas dezenas de metros mais à frente, a Conservatória do Registo Predial, impõe-se voltar a pintar o pavimento com as riscas oblíquas amarelas que, há alguns anos, já lá estiveram cumprido cabalmente o objectivo enunciado. Como era coisa civilizada, foi removida. Enfim, o costume…

Portanto, caros leitores, é isto que vou solicitar à Divisão de Trânsito da Câmara Municipal de Sintra. Mais uma vez, depois de, não sei quantas diligências e perante a inoperância da Junta de Freguesia local. Que sinalizem convenientemente aquele segmento da via, de tal modo que seja absolutamente inequívoca a informação quanto à circulação nos dois sentidos e também, sem margem para erros de interpretação, a proibição do estacionamento.

Olhem, provavelmente, se não obtiver a resposta que será de esperar, terei de contactar um bom grupo de pintores de grafitti que, em vez dos desmandos que para aí andam a fazer por tudo quanto é parede, se disponham a colaborar num projecto com tanto alcance cívico…