[sempre de acordo com a antiga ortografia]

domingo, 31 de agosto de 2014



Ontem
Jornal "Público"

Duas curtas referências.

A primeira, para a crónica 'O Islão e nós', de Vasco Pulido Valente. Nem sempre consegue mas, desta vez, é de evidente lucidez. Apenas um excerto:

"(...)
Nem os milhares de funcionários que na América tentaram convencer Bush que não era uma boa ideia invadir o Iraque, nem os conselhos de fora, nem sequer a própria evidência das coisas conseguira...
m impedir o desastre da invasão. Bush passou por cima de tudo e, de caminho, arrasou o equilíbrio precário que a Inglaterra e a França tinham imperialmente estabelecido na região depois da I Guerra Mundial. No fim, quando se retiraram as tropas do Ocidente, ficou o que devia ficar: uma guerra civil étnica e religiosa, que pouco a pouco alastrou a uma boa parte do mundo muçulmano, com o apoio e a colaboração das colónias de refugiados nos países mais tolerantes da Europa. Como se viu agora com a morte de James Fowley, o 'Londanistão' realmente existia e colaborava com os militantes no terreno. (...)"

A segunda, em contexto muito diferente, para uma justa saudação a
Pedro Macieira, na coluna 'Ainda ontem', subscrita por Miguel esteve Cardoso, o mais famoso recém-chegado, rendido às maravilhas de Colares:

"(...) Delicie-se a habituar-se a ler e ver o blogue Rio das Maçãs de Pedro Macieira para saber das maravilhas (e das monstruosidades) da freguesia de Colares (...)".

Finalmente, MEC, referindo uma evidência que, para nós, já tem oito anos de belíssima, limpa, competente e empenhada intervenção cívica



Efeméride musical
30 de Agosto de 1585
Morte de Andrea Gabrieli (n. 1532)
Foi um dos mais famosos Mestres da Capela Coral de São Marcos de Veneza, aliás, tal como seu célebre sobrinho Giovanni Gabrieli. Por ocasião da efeméride, gostaria de dedicar esta sua "Battaglia a 8" aos meus amigos António Luís Lopes , um dos mais acérrimos lutadores pelo melhor de Sintra, e ao Maestro Massimo Mazzeo , cujos aniversário hoje se comemoram, com os mais sinceros e amigos votos de felicidade.

Boa audição!
http://youtu.be/Zr6LjzBtyi4



Uma questão de carapuça

[facebook, 29.08.2014]
 
Conversando com algumas pessoas acerca do texto que ontem aqui publiquei, colhi a ideia de que o último parágrafo revestiria especial pertinência na nossa comunidade sintrense. Se assim for, apesar de não ter pensado em alguém concretamente, enfie a carapuça quem se sentir atingido. Enfim, permitam que reproduza o excerto em apreço:

"Finalmente, [no que à intervenção cícívica diz respeito] tenhamos em consideração que esta atitude de partilha generosa, com amigos, companheiros e 'cúmplices' de lutas comuns, é totalmente incompatível com realidades outras, nos antípodas desta maneira de ser e de estar. Refiro-me à mesquinhez, à maldadezinha com que, não raro, sob a aparência das cívicas virtudes, mascarados de cordeiros, alguns agentes das trevas se comprazem em azedar a vida dos demais.".vica diz respeito] tenhamos em consideração que esta atitude de partilha generosa, com amigos, companheiros e 'cúmplices' de lutas comuns, é totalmente incompatível com realidades outras, nos antípodas desta maneira de ser e de estar. Refiro-me à mesquinhez, à maldadezinha com que, não raro, sob a aparência das cívicas virtudes, mascarados de cordeiros, alguns agentes das trevas se comprazem em azedar a vida dos demais."

 



29 de Agosto de 1780

Efeméride mozartiana

Sinfonia No. 34

Nesta KV 338, Mozart adequa-se ao modelo característico das festivas sinfonias austríacas em Dó Maior, recorrendo a uma orquestra de maiores dimensões do que a das obras imediatamente anteriores já abordadas – ao fim e ao cabo, por analogia com a designada ‘Sinfonia Paris’ de 1778 – com 2 oboes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, timbales e cordas.
O ‘Allegro vivace’ inicial coincide com a forma da sinfonia precedente, KV. 319, em Si bemol Maior, ainda que se tenha desvanecido a tentativa de colagem ao estilo francês. De facto, em vez disso, deparamos com um ambiente enérgico, com mudanças constantes de Dó Maior para Mi menor ou Lá bemol Maior.

O andamento seguinte ‘Andante di molto più tosto allegretto’ apenas se sustenta nos fagotes como solução para os sopros solistas, terminando já em ‘Presto’, numa expressão de grande espírito.
No derradeiro ‘Allegro vivace’ evidenciam-se as secções que adivinhamos terem sido particularmente destinadas aos virtuosísticos sopros vienenses.

Jaap Ter Linden dirige a Mozart Akademie Amsterdam.

Boa audição!


 


A Cidade, a Política,
a intervenção cívica


[facebook, 28.08.2014]

[Ao Fernando Cunha]

Não raro, a etimologia pode ajudar-nos na tentativa de melhor entender os meandros em que nos movemos. É perante tal evidência que dela me socorrerei ao reflectir acerca da atitude que nos leva a intervir, activamente, no seio da comunidade em que nos enquadramos com o objectivo de melhorar a sua qualidade de vida. Convido-vos, portanto, a uma pequena reflexão acerca dos conceitos de cidadania e participação.

Detenhamo-nos numa pequena história à volta das palavras. Consideremos, em primeiro lugar, a ideia de CIDADANIA. Como, imediatamente, verificarão, é uma palavra que deriva de ‘cidade,’ do lat. ‘civitatem’, isto é, «o conjunto dos ‘cidadãos’ que constituem uma cidade, um estado; cidade, estado; os direitos dos cidadãos, o direito de cidade». Quanto ao destaque na palavra ‘cidadão’, importa que vos conte um episódio. Passa-se em Outubro de 1774, relaciona-se com o aparecimento do conceito e da palavra, tendo Beaumarchais (1732-99) como protagonista.

Tendo sido processado por um conselheiro de Paris, resolveu ele advogar a sua própria causa, defendendo-se perante o Parlamento, fazendo um apelo à opinião pública. Eis as suas palavras: “Sou um ‘cidadão’; não sou banqueiro, nem abade, nem cortesão, nem protegido seja de quem for. Eu sou um ‘cidadão’, isto é, alguma coisa de novo, alguma coisa de imprevisto e de desconhecido em França. Sou um ‘cidadão’, quer dizer, aquilo que já devíeis ser há duzentos anos e que sereis dentro de vinte.”

Tenha-se em consideração que a Revolução Francesa vai acontecer em 1789, passados apenas quinze anos, marcando a mais significativa fronteira entre um tempo antigo, o ancien régime, e os novos tempos de estrito respeito pela Declaração dos Direitos do Homem do Cidadão que, imediatamente, é proclamada com base na tríade revolucionária de Liberdade, Igualdade, Fraternidade, a matriz da Idade Moderna e do Estado Democrático de Direito.

O discurso de Beaumarchais teve enorme retumbância. A partir daquele momento, a designação de ‘cidadão’ foi adoptada por todos os espíritos liberais, por todos os homens de iniciativa preocupados com o interesse social. Reclamava ele os direitos civis e políticos garantidos pelo Estado, dispondo-se ao desempenho dos deveres impostos pela condição de membro do Estado.


Nestes termos, a ‘cidadania’, mais não é do que a qualidade ou condição de cidadão ou, ainda mais especificamente, a condição da pessoa que, como membro de um Estado, se acha no gozo de direitos que lhe permitem participar da vida política. A ‘cidadania’ exerce-se, só existe se for exercida.

É um exercício de atitudes cívicas com o objectivo de tornar a política possível, no respeito pelos direitos e na exigência do cumprimento dos deveres, direitos e deveres de todos os cidadãos, para que seja possível a política, a vida em comum,o viver em sociedade. E não deixa de ser curioso que o conceito de ‘política’, [do gr. Politiké] derive de polis, «cidade-estado na Grécia antiga; estado ou sociedade, especialmente quando caracterizado por um sentido de comunidade».

A ‘política’ é, portanto, o governo da cidade, do Estado, a ciência dos negócios do Estado. É o governo do ‘politikós’, isto é, do homem da cidade, do cidadão, de tudo o que é do domínio público. Daqui se conclui que, por via das nossas heranças latina e grega estes são conceitos imprescindíveis que, desde a antiguidade greco-romana, se impuseram para facilitar a concretização da vida dos cidadãos em comum.

As considerações que nos ocorrem, à volta do conceito de PARTICIPAÇÃO decorrem, invariavelmente, de tudo quanto acabámos de analisar e concluir. Trata-se, agora, das noções de partilha, da acção de participar, de ser parte de, ter parte em, tomar parte, partilhar, compartilhar.

Na realidade, reparem, só aquele que é ‘cidadão’ – cidadão entre cidadãos – animado pela necessidade de contribuir com a sua parte em projectos elaborados para benefício comum, portanto, para o bem da comunidade, só o cidadão – não o homem considerado individualmente – entra no jogo da ‘participação’, no qual não deixa de se enriquecer também como indivíduo. No entanto, a sua quota parte individual, vai juntar-se aos contributos de cada um dos outros indivíduos e, assim, resultar em atitude ou obra colectiva.

Assim sendo, CIDADANIA e PARTICIPAÇÂO são conceitos indissociáveis, ou seja, um não tem expressão sem o outro. Por outras palavras, o exercício da cidadania é inconcebível sem a participação. Todavia, impõe-se que conjuguemos estes dois conceitos enquanto elementos ou componentes de um percurso a caminho do CIVISMO. E, para que tudo fique claro, entenda-se civismo enquanto dedicação e fidelidade ao interesse público e, de modo conclusivo, afirmando-o como forma do verdadeiro patriotismo.

Chegados ao termo desta pequena reflexão, partilhemos o que está em jogo na plataforma em que conjugamos tão nobres conceitos, sentimentos tão elevados e a herança cultural que manifestamos cada vez que temos uma presença interveniente nas reuniões públicas da Assembleia de Freguesia, da Assembleia Municipal e da Câmara Municipal. E, naturalmente, tão importante e decisiva quanto aquelas presenças física e pessoal, também quando decidimos testemunhar na primeira pessoa, escrevendo acerca de qualquer assunto que nos preocupa, sempre pensando no bem comum.

Finalmente, tenhamos em consideração que esta atitude de partilha generosa, com amigos, companheiros e 'cúmplices' de lutas comuns, é totalmente incompatível com realidades outras, nos antípodas desta maneira de ser e de estar. Refiro-me à mesquinhez, à maldadezinha com que, não raro, sob a aparência das cívicas virtudes, mascarados de cordeiros, alguns agentes das trevas se comprazem em azedar a vida dos demais.



Os bilhetes já chegaram!
[facebook, 27.08.2014]

Por correio expresso, acabo de receber todos os bilhetes - encomendados em 27 de Janeiro, pagos no passado dia 15 deste mês - da minha assinatura geral e mais alguns eventos da próxima Mozartwoche, que se concretizará na segunda quinzena de Janeiro e primeiros dias de Fevereiro de 2015. Vai ser mais uma longa estada em Salzburg, desta vez com um aliciante especialíssimo.
Logo no primeiro dia do Festival, uma proposta da Oratoria "Davide Penitente", KV 469, entracto de "Thamos, König in Ägypten", KV 345 e "Maurerische Trauermusik" KV 477 - no auditório da Felsenreitschule, a todos os títulos fabuloso - em que, para além da prestação musical, vocal e coral, a cargo de Les Musiciens du Louvtre Grenoble e do Salzburger Bachchor, solisatas Christiane Karg, soprano, Marianne Crebassa, mezzo, e Stanislas de Barbeyrac, tenor, sob a direcção de Marc Minkowski, ainda contaremos com a evolução de parelhas de cavalos e respectivos cavaleiros da Académie Équestre de Versailles, numa coreografia do genial Bartabas.
Tenho acompanhado a preparação deste evento excepcional que, como oportunamente informei, começou a ser trabalhado no dia seguinte ao encerramento da Mozartwoche de 2014, no passado mês de Fevereiro... Ainda em pleno Verão, os meus amigos não podem estar mais entusiasmados. De acordo com o seu testemunho, e, por aquilo que eu próprio vou sabendo, prevejo a concretização de um momento histórico do Festival que já vai na 59ª edição.

Não poderia deixar de partilhar convosco "Davide Penitente". Como sabem, sem  tempo suficiente para corresponder à encomenda da Sociedade Vienense para a Protecção das Viúvas e Orfãos, Mozart propôs esta peça, entretanto designada como 'cantata', a partir da sua Missa Grande, em Dó menor, adaptando-lhe um texto em Italiano, arias e duetos.

A gravação que vos proponho conta com Sylvia Greenberg, soprano, Arleen Auger, soprano e Aldo Baldín, tenor, como solistas, a Rundfunkorchester de Hannover, coros da NDR, sob a direcção de Peter Schreier.

Boa audição!


BBC PROMS

 [Facebook, 27.08.2014]

Hoje, pelas 19,30 locais, no Royal Albert Hall, teremos a Seoul Philharmonic Orchestra, sob a direcção de Myung-Whun Chung, para a interpretação de um programa que inclui "La mer" de Debussy, a Sinfonia No. 6, 'Patética' de Tchaikovsky e "Šu" de Unsuk Chin.
É precisamente acerca daquela última peça da compositora sul-coreana - que conheço de Salzburg no contexto do seu trabalho com Ligetti - que gostaria de introduzir alguma informação. "Šu" pressupõe uma orquestração de concerto para instrumento solo, o 'Sheng', o mais antigo dos instrumentos tradicionais chineses, que vai soar em interpretação de Wu Wei.
Com o objectivo de vos propiciar uma descrição do instrumento, passo a transcrever, em Inglês, informação colhida no anexo a uma gravação de demonstração, em que o instrumento é tocado, precisamente, por Wu Wei:

"Sheng is one of the oldest Chinese musical instruments. The instrument existed as far back as 3,000 years ago. By virtue of its construction, this is the only unique Chinese musical instrument in the Chinese orchestra capable of playing up to six notes simultaneously. It is therefore commonly called as the "Chinese mouth organ" by western people.

Sheng consists of 13-17 bamboo pipes with different lengths that are mounted together onto a base. Each bamboo pipe has a free reed made of brass. Music is produced by blowing and sucking the air through a metal tube connected to the base. From the base the air then rushes through the other pipes. A player determines the notes to play by allowing the air to rush through selected pipes while pressing on selected keys near the base. By covering two or more holes on various pipes, chords can be played. Its warm mellow sound expresses lyrical melodies well, while its ability to play chords makes it a highly prized accompaniment instrument."

Eis "Šu", de Unsuk Chin, peça de acentuado lirismo, em antecipação do concerto de logo à tarde. Curiosamente, também foi colhida em Londres, no Barbican Center, em 2012, pela London Sinfonieta, sob a direcção de Ilan Volkov, na altura da sua estreia no Reino Unido. Chamo a vossa atenção para uns quatro minutos de muito boa introdução à obra.

terça-feira, 26 de agosto de 2014



Jeanne d'Arc


Como já terão reparado pelas periódicas referências, para mim, Jeanne d'Arc é figura tutelar que cultivo em todos os suportes, desde o cinema, à ópera, à banda desenhada, romance histórico, Lied, etc. Personagem histórica fascinante que continua a desafiar os mais diferentes criadores, Jeanne d'Arc mantém-me afecto, preso, a alguns compositores que se deixaram prender pelo seu sortilégio.

Tal é o caso de Franz Liszt. Em 2015 contaremos 140 anos sobre a data de composição da segunda versão de "Jeanne d'Arc au bûcher", a partir do poema homónimo de Alexandre Dumas. Peça que, pela primeira vez, trabalhou em 1845, é repegada trinta anos mais tarde, concedendo-lhe requintes de expressão cuja eficácia é preciso articular com a das peças que compõe na segunda metade da década de setenta.
 
Trata-se de obra que mantenho em memória viva, numa interpretação que continua a ser considerada um paradigma, pela cantora americana Marian Anderson, fabulosa voz de contralto, que gostaria de partilhar convosco. Dirigindo a San Francisco Symphony, o lendário Pierre Monteux. Para que possam acompanhar devidamente, uma transcrição do poema de Dumas.


Boa audição!


Jeanne d'Arc au bûcher


Mon Dieu! J'étais une bergère
Quand vous m'avez prise au hameau
Pour chasser la race étrangère
Comme je chassais mon troupeau.
Dans la nuit de mon ignorance
Votre Esprit m'est venu chercher.
Je vais monter sur le bûcher,
Et pourtant j'ai sauvé la France.

Seigneur mon Dieu! je suis heureuse
En sacrifice de m'offrir,
Mais on la dit bien douloureuse
Cette mort que je vais souffrir.
Au dernier combat qui s'avance
Marcherai-je sans trébucher?
Je vais monter sur le bûcher,
Et pourtant j'ai sauvé la France.

Allez me chercher ma bannière
Où pour la victoire bénie,
De Jésus Christ et de sa mère
Les deux saints noms sont réunis.
Sur ce symbole d'espérance
Mon oeil mourant veut s'attacher.
Je vais monter sur le bûcher,
Et pourtant j'ai sauvé la France.


[Alexandre Dumas - (1802-1870)]


http://youtu.be/ckNzmV3YHN0





Duas histórias verdadeiras [nem por isso muito singulares]

 

I. Na terceira pessoa [do singular]

 

Separou-se da mulher poucos meses depois de o filho ter nascido. A partir dos seis anos e até a criança fazer dez ou onze, não se lembra exactamente, vi-a uma tarde por ano. Sempre por altura das férias grandes, uma tia do miúdo trazia-o até à estação dos comboios. Umas vezes, ao Rossio, para irem até Sintra, outras, ao Cais-do-Sodré, para seguirem até Cascais. Comprava-lhe um gelado, perguntava como iam as coisas na escola e pronto, não sentia qualquer curiosidade, não tinha saudades, nenhuma afinidade. Ser ou não ser seu filho, era absolutamente indiferente. Pediu que não o trouxessem mais. Deixou de o ver. Pura e simplesmente, até das feições do rapaz se foi esquecendo, daquela cara que, reconhecia-o, era muito parecida com a sua. Passaram vinte e tal anos. Noutro dia, a tal tia veio-lhe com a notícia de que já era avô de uma menina. Como era possível se, replicou, nunca fora pai.

 

II. Na primeira pessoa [do singular]

 

Meu caro, sou um homem muito duro. Num almoço de família, zanguei-me com o meu filho. Proíbi-o de voltar a pôr os pés na minha casa, proibi-o de voltar a dirigir-me qualquer palavra e disse à minha mulher que a deixava, a ela e à casa, se desse algum passo para falar com o filho  ou com as netas – foi por discordar da educação delas que cortei relações – e, lá vão dez anos, sem nunca mais ter visto semelhante gente. Veja bem como eu sou. Dei aquele passo e foi definitivo. Nos primeiros tempos custou-me um bocado mas, como tenho razão, ainda sinto mais força pela decisão. Meu caro, em questões de princípios não podemos vergar. Perante os filhos, perante seja quem for. Por isso, ando de cabeça direita em todo o lado. A mulher chora, mas, para arrumar com o assunto, só lhe pergunto se quer que me vá embora. É remédio santo para vivermos em paz e sossego.
 
 

segunda-feira, 25 de agosto de 2014



24 de Agosto de 1787
- efeméride mozartiana

[facebook, 24.08.2014]

Viena: composição da Sonata para Violino em Lá Maaior KV 526

Partilho-a convosco através da melhor interpretação disponível, uma verdadeira pérola, por Grumiaux e Haskill. Para acederem aos três andamentos farão o favor de acionar sucessivamente os respectivos comandos. É, de facto, esplêndida.

Boa audição!


http://youtu.be/YffZjUz1xUs [I]
http://youtu.be/A943YXT-nko [II]
http://youtu.be/W0fgCKsYW_4 [III]
 
 



25 de Agosto de 1784
- efeméride mozartiana


Mozart completa um conjunto de 10 Variações sobre um tema de Gluck, mais precisamente da sua ópera "Die Pilgrime von Mekka".

 Procurei e encontrei esta interpretação, por Ronald Brautigam. É que me lembrei de ter assistido à sua excelente prestação no Palácio de Queluz, no contexto de um dos maravilhosos serões do primeiro ciclo de concertos subordinados ao mote 'Tempestade e Galanterie', ocasião em que tocou esta peça.

Boa audição!



http://youtu.be/EgD2CE6Hsb8
 
 

domingo, 24 de agosto de 2014



Os pontos nos ii
 
[facebook, 23.08.2014]

O comentário subscrito pela minha cara Margarida de Lemos, serve de epígrafe ao texto que me suscitou. Para todos os efeitos, ainda continuamos subordinados à peça "Contar com o «anormal ou quando o extraordinário se institucionaliza" que publiquei esta manhã.

Passo a citar:

"
Já estou como o outro dizia: não gostam deste País têm bom remédio. Estou mais de acordo com a Dina po...
is tanta gente diz que havia outras soluções mas nunca as concretizam ou então as alternativas apresentadas são para rir e chorar da "idiotice" sem qualquer tipo de viabilidade. Hoje é sábado e amanhã é domingo" [Margarida de Lemos]

E, agora, com argumentos mais que gastos, passo a responder:

Posso gostar muito de Salzburg, da Áustria em geral, imenso, imenso da Baviera mas, por favor, o que eu adoro é o meu país. O que eu não gosto, santo Deus, é do Governo do meu país! O meu país não merece um governo destes e, aliás, tal como o escrevi durante anos, também não mereceu ter um governo liderado por Sócrates que o trouxe à bancarrota, à mistura com uma data de negociatas infectas. E farei tudo o que estiver ao meu alcance - significando isto que não me limito a pôr o voto na urna de quatro em quatro anos - para alterar a situação.

Enquanto os mais fragilizados estão a passar o que não devem, no limite da dignidade que qualquer indivíduo tem direito, há imensa gente no meu país que passa muito bem, até melhor do que nunca. É isto que não pode continuar a acontecer. O actual governo não tocou nos interesses dos mais poderosos, juntamente com o Banco Central deixa-os em roda livre até rebentarem estrondosamente, como os ES, ou aumentando as fortunas como os Amorim, Soares dos Santos e Azevedo, sem os taxar proporcionalmente àquilo que, tão habilmente, tem feito com quem não pode defender-se. Então, ou há moralidade...

Digo e escrevo isto mesmo mas não me iludo. Sozinho, sou um zero à esquerda. Animo-me quando sociólogos, economistas de outras áreas, militares, padres e hierarcas da Igreja Católica denunciam estas mesmas coisas, com outra capacidade de intervenção.

Hoje é sábado, amanhã é domingo, escreve a minha amiga. Contudo, neste momento, em desespero e aguentando o que não deve, há gente a passar fome em Portugal e isso, sendo um escândalo em qualquer lado ainda maior é na nossa latitude europeia. E podia não ser assim. Não tinha de ser assim.

É assim porque o Primeiro Ministro, que afirmou ser capaz de recuperar da lamentável situação em que o precedente deixara o país, não só não foi capaz como agravou o quadro. A dívida aumentou, a economia afundou e não consegue progredir, o desemprego é o horror que se sabe, a sangria das saídas de trabalhadores do país [repare que não designo esse movimento como emigração porque só o é quando os destinos correspondem a países fora da União Europeia] compromete o futuro a um ponto de não retorno.

Podia não ser assim. E nunca Governo anterior teve tanta possibilidade de remediar o mal feito. De facto, foi preciso serem inábeis, incompetentes e, repito, cruéis. Escusadamente.
 
 


A duas [excelentes] mãos!
 
[facebook, 23.08.2014]


Este 'Tema de Paganini', tem dado pana para mangas a não sei quantos compositores. Lutoslwski, assim, de repente, dentre todos os que me lembro, é dos que mais longe se libertou das asas da inspiração inicial do «
diabólico» violinista. Esta peça é de uma dinâmica avassaladora, assumida medularmente pelas duas pianistas.

Martha e Gabriela, respectivamente, a grande mentora e a pupila, entendem-se às mil maravilhas. É nestes «preparos» que gosto de ver Gabriela Montero, que tem estado entre nós, na Gulbenkian e no Festival de Sintra, por exemplo, também assumindo uma vertente de improvisação que nem sempre resultou tão bem quanto ela própria desejaria.

«Aqui», de facto, sem razões de queixa. É uma festa!
 

sábado, 23 de agosto de 2014



Contar com «o anormal»
ou quando o extraordinário se institucionaliza


Não é notícia. No entanto, aqui trago a matéria para melhor partilha. Na Alemanha e noutros Estados Democráticos de Direito que se pautam pelo princípio da confiança, só pode ser deste modo que o artigo esclarece. Infelizmente, nem sempre é assim...

A propósito, gostaria de vos contar o perfeito escândalo de alguns dos meus amigos austríacos quando, com papéis nas mãos, lhes demonstrei e confirmei o que, a este respeito nos aconteceu, a mim, a minha mulher e a todos os aposentados portugueses.

Senti-me na obrigação de o fazer porque percebi que alguns se tinham manifestado mais ou menos incrédulos com um meu anterior testemunho. Perante os documentos, naturalmente estupefactos, olhavam-me com benevolência transmitindo uma simpatia que era um misto de comiseração. De facto, o que dizer de um Estado que deixou de ser pessoa de bem?
 
De facto, coloquei-os perante as provas de um roubo institucionalizado. Não é normal mas, como todos bem sabemos, acontece mesmo...

 


Mozarteum,
minha casa


É uma ideia forte e comum entre os meus bons amigos de Salzburg. De facto, é aqui, no edifício do Mozarteum, que mais nos encontramos, onde mais horas passamos, partilhando leituras na Biblioteca Mozartiana, assistind...
o a concertos e recitais na Grosse Saal ou na Wiener Saal, acedendo às varandas e ao jardim das traseiras, circulando, simplesmente circulando pelos átrios e corredores tão carregados de História, em silêncio ou conversando a nossa paixão pelo lugar, cultivando a tradição, desejando a vanguarda.

Aí têm umas imagens simples, descomprometidas, não só do Mozarteum mas também das casas de Mozart. Reconhecerão maestros, alguns solistas, figuras acerca de quem já vos tenho escrito. Eu reconheço amigos, alguns de longa data, que me fazem uma falta enorme durante os meses em que estamos longe. Salzburg, Fundação Internacional do Mozarteum, o ambiente, as luzes, os cheiros. Em especial, os sons. Da minha casa, sons de uma vida.
 
 


Salzburg, um estupendo dia
... e uma efeméride mozartiana!


Tal como confirma uma das minhas amigas do Mozarteum, com quem acabo de contactar, hoje está um dia maravilhoso em Salzburg! O azul do céu não engana. Mas permitam que vos situe. Para o efeito, socorro-me do transeunte que caminha pelo meio da rua, mesmo sob o parapeito desta janela que, tenho quase a certeza, será a de uma das da agência local do Vontobel Bank.

A verdade é que este peão não está no meio da rua ma...
s sim de pequena praça, a Hagenauerplatz [Hagenauer é o nome da família proprietária da casa onde nasceu Mozart]. Tanto à esquerda como à direita, há lojas comerciais e, mesmo em frente, duas fachadas de edifícios da famosa Getreidegasse, a mais conhecida e fascinante rua pedonal da cidade e uma das mais famosas da Europa.

Reparem no canto superior direito. A cúpula que se adivinha é a da esplêndida Kollegienkirche, jóia do barroco austro-germânico, projecto de Johann Bernard Fischer von Erlach. E, nesse edifício ocre, precisamente, a referida casa onde Wolfgang nasceu e viveu até que os pais se mudaram para a Tanzmeisterhaus, na actual Makartplatz. Como calculam, é uma romaria infernal de milhares de pessoas pretendendo visitar o 'sagrado' local.

Graças a Deus, como membro do Mozarteum, acedo sem qualquer problema, gratuitamente, em qualquer altura do ano. E vale mesmo a pena porque ali acontecem exposições concebidas por grandes encenadores de reputação mundial que interpretam o espaço, sempre surpreendentes.

Finalmente, gostaria de aproveitar a oportunidade também para comemorar uma efeméride mozartiana. Em 22 de Agosto de 1781, Amadé dá por terminado o Acto I de "Die Entführung aus dem Serail". Do primeiro acto desse Singspiel, partilharei convosco aquela que é uma das mais extraordinárias interpretações da Aria de Constanze, "Ach ich liebte", por Edita Gruberova, numa gravação que remonta a 1980. Dirige Karl Böhm.
 
 
 
Heute ist ein wunderbarer Tag in Salzburg!
A wonderful day in Salzburg - Have a nice weekend!
 
Foto: Heute ist ein wunderbarer Tag in Salzburg! A wonderful day in Salzburg - Have a nice weekend!


Homogéneo / heterogéneo


Nestas situações, factor muito importante a equacionar é o das classes heterogéneas. Não raro, tenho assistido à defesa inquestionável da ideia segundo a qual as classes homogéneas são as que garantem a qualidade do binómio ensino/aprendizagem de acordo com os parâmetros de maior qualidade, portanto, mais convenientes ao aluno do primeiro ciclo do ensino básico.

Para que não haja confusão, por homogénea, se entende a classe que integra apenas alunos de cada um dos quatro anos do ciclo, enquanto que heterogénea, será a que acolhe alunos de dois ou mais anos do ciclo, sendo mais comum a que inclui meninos e meninas dos primeiro, segundo, terceiro e quarto anos.

Pois bem, em temos pedagógicos, nem há qualquer inconveniente na adopção de uma solução afim da turma heterogénea nem conveniente relativamente à homogénea, exigindo cada situação uma metodologia que o professor adequará ao grupo em presença já que tem formação para o efeito.

Porém, no caso de decisão política pelas classes heterogéneas, logo se ganha a mais-valia inequívoca de as crianças poderem permanecer no seio da comunidade onde residem e mantêm laços de proximidade, desde os de vizinhança aos familiares. E, naturalmente, tal vantagem é absolutamente determinante quanto ao equilíbrio psicológico, ritmos de vida e rendimento escolar.

Enquanto técnico de Educação, em estágios e visitas de trabalho em alguns países europeus,  normalmente apontados como exemplares em termos das práticas pedagógicas nos diferentes graus dos respectivos sistemas educativos, tive oportunidade de observar detidamente turmas heterogéneas consideradas de rendimento geral e global superior à das homogéneas.
 
Permitam um parêntesis para partilhar convosco que mais constatei, um pouco por todo o lado, em países considerados ricos, um recurso muito «frugal», mesmo parcimonioso aos meios tecnológicos, incomparável com a bacoca rendição aos computadores, aos data shows, aos quadros interactivos, etc, que entre nós acontece. Ao contrário, «por lá», a prática prevalecente é, isso sim, a de preparar a cabeça dos meninos para o acolhimento desses auxiliares tecnológicos, meras ferramentas de trabalho que, em Portugal, são endeusadas e tidas como indispensáveis para o sucesso escolar. Enfim, sinais de provincianismo que, como calcularão, dão um jeitão às empresas fornecedoras de tais equipamentos, propiciando excelentes negociatas, chorudas comissões, o costume…

Concluindo, não se tenha a ideia de que, agrupando os meninos numa escola central, privilegiando turmas homogéneas, com muitos meios e recursos tecnológicos, é «a» solução mais adequada. Na realidade, muitas vezes, até nem é, na medida em que pressupõe a deslocação da criança, nem sempre cómoda e segura, praticando horários que lhe são totalmente inconvenientes, isolando-o da comunidade de origem, dificultando o convívio com os adultos de referência.

Eis um assunto escaldante que os cidadãos, nomeadamente pais e encarregados de educação assim como autarcas devem dominar tão bem quanto possível no sentido de poderem defender os interesses em presença, em especial, os das crianças.



quinta-feira, 21 de agosto de 2014



Federico García Lorca, 1898 - 1936
 - assassinado em 19 de Agosto


[facebook, 19.08.2014]


Nos tempos de estudante, Lorca aproximou-me da Ana, minha colega, mais tarde, minha mulher. Maria de Lourdes Belchior, saudosa catedrática da Faculdade de Letras, professora de Literatura e  Cultura Espanhola, não podia ter sido nossa melhor cicerone, não só de alguma da obra do poeta que, na altura, me faltava conhecer, mas também da outra que, com o atrevimento dos dezoito anos, eu julgava ter entendido em todos os cambiantes...

Senhor de obra fascinante, sob todos os pontos de vista, Lorca pede constante atenção. Cultivo-o desde a adolescência. E, de vez em quando, lá tenho de ir à casa onde nasceu, em Fuente Vaqueros, arredores de Granada, que conheço de cor, também a ouvir o canto da Argentinita, numa gravação com ele ao piano, como sucedeu num dia 19 de Agosto, faz hoje um ror de anos! 

Mas, precisamente hoje, celebrar o poeta, mistura-se com o almoço de há pouco. Estupendo, simplicíssimo, um gaspacho «com todos», acabados de chegar do Alentejo, cheiros da nossa lavra, outros ingredientes de uma boa amiga. Só a água e o gelo não vieram de lá. Lorca, o integral andaluz, connosco, à mesa...

Lorca, a voz das vozes mais sofisticadas da Andalucia, voz telúrica, voz essencial da minha Ibéria. Peguei no "Lorca", por André Belamich, numa edição da Arcádia, sem indicação de data, mas dos anos sessenta. E, ainda à mesa, bebericando um tinto particular, também do Alentejo, releio passagens que a Ana tinha sublinhado, na sua primeira leitura, em 1968.

Meu Deus, que sugestivo manancial! Por exemplo, acerca de Sevilla e Granada, Lorca escreve imperdíveis pensamentos, como este, tão certeiro:

"(...) Aquele que queira sentir, junto ao bafo ruidoso do touro, o doce tic-tac do sangue nos lábios, misture-se ao tumulto barroco da universal Sevilla. Aquele que queira juntar-se à teoria dos fantasmas e descobrir, quiçá nas mais pequenas veredas do seu coração, um velho anel maravilhoso, encerre-se na intimidade da Granada-a-Secreta (...)". ["A Semana Santa em Granada, t. VII, pág. 280]

Porventura, quem não tiver prejuízos com a cultura do touro - que a tourada celebra e vivifica de modo tão especial - melhor coincidirá com a proposta do poeta. Na realidade, faz parte da minha cultura de ibérico saber o que é isso do 'bafo ruidoso do touro'. Felizmente, entendo-o, até à medula, faz parte do meu código genético, descendente que sou de uma família ligada a esse mundo dos touros, dos cavalos, da afición.

Também sei que partilho aquele e outros quejandos saberes, com bons amigos, como o João Trindade Duro, a quem dedico este texto e o seguinte momento musical. Das '"Canciones españolas antiguas" de Lorca, 'La Maja de Goya', com música de Enrique Granados, que vai interpretada por duas queridíssimas e grandes, grandes artistas da grande Espanha, Pilar Lorengar (1928-1996) e Alicia de Larrocha (1923-2009) que, tantas vezes, tive o gosto de escutar.

Pois é, em Espanha, tudo em grande. Se soubessem a dificuldade que tive na escolha desta peça... É que outra grande, também muito grande artista espanhola, Teresa Berganza, por quem tenho um carinho enorme, canta Lorca de modo incomparável. Assim sendo, que dificuldade até na adjectivação!... Ah, não fosse esta tão evidente afinidade com a grande Espanha, na minha Ibéria, como suportaria eu a lusa mesquinhez?!...


Boa audição!

http://youtu.be/b0eYrmZxVhQ

PILAR LORENGAR & ALICIA LARROCHA. LA MAJA DE GOYA. E. GRANADOS.
OLEOS DE RUBEN DE LUIS.


Sintra,
a melhor novidade estival

 
 
[facebook, 20.08.2014]


O Sintra-te só não é um movimento cívico 'em embrião' porque já aí está, ainda que dando os primeiros passos. Surge no momento crucial em que vários «pendentes» carecem de empenhada intervenção cívica.

É altura de se nos juntarem todos quantos têm lutado isoladamente por Sintra. Sintra merece que «nos sintremos», em grupo, com a coesão como marca de água A carta de intenções não podia ser mais simples e directa. Aliás, creio eu, como se pretende que seja a actuação.

Claro que «me sintro». Com muita esperança e cheio de ânimo!
 
 
 
Sintra tem coisas lindas e todas as coisas lindas são importantes. E Sintra tem coisas feias e as coisas feias também são importantes.
Mas o que é realmente importante é não deixarmos que as coisas lindas se tornem feias e lutarmos para que as coisas feias se tornem bonitas.
E depois há o outro lado de Sintra que é muito mais para se sentir do que para falar dele. É por isso este apelo transmissível, que se deseja contagioso: Sintra-Te e junta-te a nós.


O desassossego da guerra





 Hoje, pelas 17.30, no Royal Albert Hall, uma grande obra contemporânea cujas circunstâncias ultrapassam os limites temporais da celebração pretendida pelo próprio compositor. Trata-se de "War Requiem", de Benjamin Britten, numa interpretação a cargo de Susan Gritton (soprano), Toby Spence (tenor), Hanno Müller-Brachmann (barítono), BBC Proms Youth Choir, City of Birmingham Symphony Orchestra, sob a direcção de Andris Nelsons.

Datado de 1962, este
... "War Requiem", op. 66, tal como" Ein Deutsches Requiem" de Johannes Brahms, é uma obra não-litúrgica que, portanto, não segue o Ordinário da Missa de Defuntos. No suporte textual, poemas de Wilfred Owen servindo uma obra para as vozes solistas de soprano, tenor e barítono, coro, órgão e duas orquestras, uma das quais de câmara.

Oxalá possam ouvir os Proms, em directo, daqui a pouco. Entretanto, para quem não consiga ou não possa, aqui tem uma gravação colhida, ao vivo, no concerto de encerramento do Festival Schleswuig-Holstein, em 1992. A interpretação do Coro e Orquestra Sinfónica da Rádio do Norte da Alemanha, sob direcção de Sir John Elliot Gardiner é, provavelmente, a melhor que conheço. Como verificarão, trata-se de uma sucessão de momentos inolvidáveis.

Por favor, reservem-se o mais possível, com o tempo e ambiente necessários. A guerra. Infelizmente, permanente. Ainda ontem, hoje mesmo. Tal como o nosso querido Padre António Vieira no-lo lembra no famosíssimo excerto do “Sermão Histórico e Panegírico nos Anos da Rainha D. Maria Francisca de Sabóia”:


“(...) É a guerra aquele monstro que se sustenta das fazendas, do sangue, das vidas, e quanto mais come e consome, tanto menos se farta. É a guerra aquela tempestade terrestre, que leva os campos, as casas, as vilas, os castelos, as cidades, e talvez em um momento sorve os reinos e monarquias inteiras. É a guerra aquela calamidade composta de todas as calamidades, em que não há mal algum que, ou se não padeça, ou se não tema, nem bem que seja próprio e seguro. O pai não tem seguro o filho, o rico não tem segura a fazenda, o pobre não tem seguro o seu suor, o nobre não tem segura a honra, o eclesiástico não tem segura a imunidade, o religioso não tem segura a sua cela; e até Deus nos templos e nos sacrários não está seguro”.



Boa audição!
http://youtu.be/GHNgfF19CTY

Benjamin Britten - War Requiem



Sintra,
mágoas evitáveis


"Trânsito caótico na Vila de Sintra, do nascer ao pôr-do-sol. E são tantas as soluções que me surgem na mente. Haja vontade, amor ao património e decisões corajosas. Aqui fica uma imagem do Centro Histórico sem carros, só para fazer sonhar, é claro."

[Sintra-te]

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Meus caros amigos, acabando de ler este desabafo, tenho de vos confessar que, se fosse "(...) só para sonhar (...)", (des)sintrava-me imediatamente. Na realidade, para Sintra, é uma questão de sobrevivência aquilo que, por enquanto, não passa de sonho.

Naturalmente, que coragem não é necessária!... De qualquer modo, questão de sobrevivência que é, nada exige que, há dezenas de anos, não esteja em vigor em locais congéneres, em todas as latitudes. Sabemos que o trânsito tem de ser condicionado, que o regime de cargas e descargas só pode ser exigentíssimo, que não há a mínima possibilidade de continuar a cultivar o desleixo.

Pois é. São os tais parques dissuasores, os silos de proximidade, uma rede de transportes públicos totalmente renovada, em articulação com o estacionamento, integrada no sistema de acesso aos pontos altos da serra, tanto, tanto que fazer. Porém, enquanto tudo isto se prepara, Sintra não pode deixar de dar sinais inequívocos de que é lugar onde prevalecem atitudes cívicas que preservam o interesse da comunidade.

APENAS CASOS DE POLÍCIA!

Há iniciativas e atitudes que, imediatamente, podem - e devem! - ser tomadas. Meus senhores, trata-se de matéria para actuação das diferentes forças policiais, nomeadamente, Polícia Municipal e Guarda Nacional Republicana. Naturalmente, como detentores do poder e da autoridade democrática que lhes foram conferidos pelos eleitores, ao autarcas têm de demonstrar-nos que exigem o seu cumprimento, 'de facto' e 'de jure'.

Assim não acontecendo, até parece que, pelo contrário, as forças da autoridade receberiam sugestões no sentido de não actuarem... Para fecharem os olhos aos autocaravanistas que, despudoradamente, acampam no Rio do Porto ou no Parque de estacionamento do Departamento do Urbanismo; não se ralarem com os camions pesados que, empatando a circulação, fazem descargas de bidons de cerveja, às onze da manhã, em pleno centro histórico; ignorarem o facto de zonas pedonais se terem transformado em parque de estacionamento, etc, etc.

No "Sintra-te", movimento cívico, impõe-se que estejamos à altura deste 'programa'. Tenho a certeza de que, em grupo, coesos, saberemos exigir, na Assembleia Municipal - lugar por excelência onde tais questões se dirimem - que a Câmara Municipal de Sintra e as diferentes polícias, actuem de tal modo que os cidadãos sintam como vale a pena ter esperança.
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Trânsito caótico na Vila de Sintra, do nascer ao pôr-do-sol. E são tantas as soluções que me surgem na mente. Haja vontade, amor ao património e decisões corajosas. Aqui fica uma imagem do Centro Histórico sem carros, só para fazer sonhar, é claro.
 
 

Foto: Trânsito caótico na Vila de Sintra, do nascer ao pôr-do-sol. E são tantas as soluções que me surgem na mente. Haja vontade, amor ao património e decisões corajosas. Aqui fica uma imagem do Centro Histórico sem carros, só para fazer sonhar, é claro.
 

 


SINTRA

PARQUES DE SINTRA
PALÁCIO DE QUELUZ



É com o maior gosto que, finalmente, passo a poder divulgar a informação a que tive acesso, durante a reunião do Concelho Científico da Parques de Sintra, órgão a que pertenço, no dia 14 do passado mês de Julho.

Preparem-se para a novidade que é mesmo fascinante. Conheço alguns contemporâneos palácios da Baviera onde esta solução cromática foi adoptada e se tem mantido desde a origem. Tal não aconteceu em Queluz mas estamos muito a tempo de recuperar.

Dir-vos-ei ainda que mais notícias terão no próximo futuro sobre Queluz «e arredores». Tal como aconteceu em relação a esta notícia, também quanto às outras é necessário manter uma certa reserva na medida em que há interesses em presença que não podem ser prejudicados.

Mantenham-se atentos. Como sabem, da Parques de Sintra só podem ter excelentes notícias. Ali, de facto, cultiva-se a excelência.

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Palácio de Queluz vai voltar a ser azul

- Análise aprofundada das fachadas e caixilharias fundamentará o restauro
- Andaime permitirá acesso para levantamento do estado de conservação
- Ensaio de novo esquema de cores, incluindo a tonalidade azul
- Tela de proteção do andaime permite visualizar efeito final pretendido

Imagens: http://62.28.132.233/1408634418.zip

Sintra, 21 de agosto de 2014 – A Parques de Sintra colocou, no troço central da fachada principal sobre o Jardim Pênsil do Palácio Nacional de Queluz, um andaime protegido por uma tela que mostra uma antevisão do que, de acordo com as investigações feitas, se pensa ser a decoração original do Palácio.

Por detrás desta tela decorre o estudo mais aprofundado dos vários elementos que compõem as fachadas do Palácio de Queluz (cantarias, esculturas, gradeamentos de varandas, caixilhos, portadas e rebocos), que se encontram muito degradadas e que ao longo dos tempos foram sendo pintadas com cores e tons diferentes. De seguida, o troço em estudo será restaurado integralmente, nele ensaiando materiais, técnicas e composições decorativas (molduras e fingimentos) que serão depois avaliados para aplicação nos restantes.

A cor azul resulta de um aprofundado estudo e discussão entre todos os que ao longo de mais de 20 anos se debruçaram sobre esta questão. Análises laboratoriais de amostras de rebocos, investigação documental e desenhos e fotografias antigas, não deixam dúvidas: o Palácio de Queluz, pelo menos nas suas fachadas viradas aos Jardins, era azul.

Um desenho aguarelado datado de 1836, existente na Torre do Tombo, mostra claramente a coloração do Palácio em tons de azul e ocre; análises conduzidas no Laboratório Nacional de Engenharia Civil, pelo Professor José Aguiar, sobre um pedaço de reboco original encontrado em 1987 por detrás de um dos bustos adossados às fachadas sobre os Jardins, revelaram a presença de vidro moído de cor azul; durante trabalhos de restauro, em 1997, foi encontrada mais uma amostra acinzentada (cor resultante da ação da água no pigmento azul) por trás de outro busto; mais recentemente, a Parques de Sintra encontrou, em zona de mais difícil acesso, vestígios de cor azul. Acresce que a presença de azul cobalto (proveniente de vidro moído nas duas amostras) foi confirmada por análises recentes realizadas no Laboratório Hércules da Universidade de Évora.

O diagnóstico do estado de conservação do Palácio e Jardins efetuado logo após a Parques de Sintra ter recebido a gestão do Palácio Nacional de Queluz, nos finais de 2012, confirmou o elevado estado geral de degradação do conjunto, devido à carência de investimentos (com exceção do restauro da estatuária realizado com o apoio do World Monuments Fund).

Queluz é o mais importante exemplo português da arquitetura barroca da segunda metade do século XVIII mas, embora situado a curta distância de Lisboa e com bons acessos, é pouco conhecido de visitantes nacionais e estrangeiros, muito devido a esse estado de degradação, situação que importa inverter.

São diversas as intervenções programadas para requalificar este negligenciado monumento, mas a recuperação das fachadas (progressiva, dada a sua dimensão, mas integral, isto é, abordando todos os aspetos) espera-se que tenha um impacto muito positivo, e a alteração da cor induzirá certamente um novo interesse do público por este monumento.