[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Rua dos Arcos,
pela enésima vez

Raro é o dia em que, nas minhas andanças, não passo pelo centro histórico deparando-me com aquele conhecido quadro de desleixo e consequente degradação, que atinge ruas inteiras e edifícios, de modo perfeitamente intolerável, que, ao longo de anos, me tem levado à denúncia da situação através da escrita de dezenas de artigos no Jornal de Sintra e também no sintradoavesso.

Em princípio, quando faço esta volta, o meu percurso é sempre o mesmo. Da Volta do Duche, passo à Misericórdia, atravesso o largo e, pela Consiglieri Pedroso, passo aos Pizões, Regaleira e Relógio para descer o Caminho dos Frades, continuando pelo tão desprezado mas lindíssimo Caminho dos Castanhais. Finalmente, para regressar ao largo, acedo à Pendoa para, logo de seguida, percorrer aqueles tenebrosos metros da Rua dos Arcos.

Esta rua, mesmo aos pés dos Cafés Paris e Central, antiga Rua do Açougue [as-soq], do mercado, falando um tempo árabe que se nos cola à pele, apesar de via curiosíssima que poderia constituir um dos mais interessantes pólos de animação da mouraria sintrense, está transformada numa verdadeira cloaca.

Paredes esburacadas, azulejos arrancados, teias de aranha, canos e fios de electricidade pendurados, garrafas partidas, lixo e água putrefacta ou a escorrer pelos nos interstícios das pedras, à porta baixa e quase secreta dos mencionados estabelecimentos de restauração, eis os ingredientes de porcaria onde, um ou dois metros acima, os turistas nem sonham que alicerçam a sua refeição.

Praticamente nas trevas, é um espaço de indignidade, de ignomínia, lugar geométrico e paradigma de incompetência de gente que, assim, se permite mostrar, tão sem vergonha, o produto acabado da falta de capacidade de gestão de uma urbe que merece outra atenção e dedicação.

Para ser digno daquele espaço não é preciso esperar pela operacionalidade do costume (?!) de uma qualquer empresa de reabilitação urbana. Estamos fartos, tão fartos de dilatórios alibis...




sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Sintra – Timor – Sintra

Como tem sido patente e manifesto, no quadro da pré-campanha para a presidência da Câmara Municipal de Sintra, o candidato pela coligação Mais Sintra não dá um passo cujo alcance não seja medido, analisado à lupa e manipulado com luvas e pinças de vidro, especialmente no sentido de não desperdiçar o mínimo efeito que os media possam proporcionar. Bem poderia dizer-se que conduz uma estratégia de mestre.

Por isso, naquele contexto, cumpre estar muito atento à actuação da sua grande adversária, para avaliar que recursos explícitos e implícitos ela vai usando e se, para além do que é normal e lícito, também incorrerá nos pecadilhos em que, tão flagrantemente e oferecendo o generoso flanco, o seu opositor tem sido useiro e vezeiro...

Naturalmente, nos últimos dias, sobressai o facto de a Dra. Ana Gomes se ter deslocado e permanecer em Timor para as comemorações dos dez anos de independência do país cuja génese ficou indissociavelmente ligada à sua actuação em tempo oportuno e que tanta repercussão teve a nível nacional e internacional.

Tenhamos então em consideração o que, a propósito da sua deslocação, afirmou a candidata que possa articular-se com a pré-campanha eleitoral em Sintra e se reproduz na Nota de Imprensa No. 7, da qual destaquei:

- "Oficialmente convidada como amiga de Timor Leste e do povo timorense”,
- “Vou num pé e volto noutro”,
- “só Timor Leste e uma celebração tão especial como esta me arrancavam agora à campanha por Sintra”,
- “na política para ajudar a fazer a diferença pelas pessoas”,
- (dará o seu melhor) “
para cumprir os compromissos assumidos com os sintrenses”,
- “Satisfação de dever cumprido
”,
- “Nenhum povo nasce ensinado para viver em democracia - ela aprende-se, praticando-a”,
- “Porque não hei-de agora dedicar-me ao serviço da minha comunidade sintrense?

Como se verifica, são frases que, na realidade e manifestamente, não fazem parte de um discurso oportunista, que poderia ter feito, a puxar a brasa à sua sardinha. Considero que faz muito bem, não se deixando embalar pela facilidade do aproveitamento de tal circunstância, por muita vantagem que pudesse proporcionar-lhe.

E, finalmente, a propósito deste mesmo assunto, darei a palavra ao amigo Fernando Castelo que deixou um comentário – pouco mais do que telegráfico mas certeiro e oportuníssimo – ao texto ontem aqui publicado, do qual transcreverei a parte útil:

“(…) Pelo que acabo de ler no CidadeVIVA, a Sra. Dra. Ana Gomes está em Timor, oficialmente convidada e pelas vias dipomáticas, para assistir às comemorações oficiais do 10º aniversário da Independência de Timor.


Não é qualquer coisa, é uma figura internacional, diplomata de prestígio, que não anda pelos meandros da política ao sabor das conveniências.

É, por sua vez, uma sintrense, que acaba de se candidatar à Câmara Munciipal, não tendo ainda escutado uma palavra sua de colagem ao que quer que seja, sem camisolas ou TVs encomendadas por perto.

Não sei o que Sintra lhe reservará, mas marca pontos pela sua estatura política e pelo respeito que merece lá fora”.

Como a biografia e o currículo de cada um são constituídos por elementos indissociáveis e indescartáveis, é perfeitamente natural que os eleitores de Sintra, ao votarem no dia 11 de Outubro, não deixem de ter em consideração que a Dra. Ana Gomes, referência nacional na defesa dos Direitos do Homem, será capaz de trabalhar a favor de uma comunidade onde os anseios criados aos munícipes foram e tantas vezes têm sido sistematicamente esquecidos.



quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Às fontes, às fontes,
numa pressa...


Uma nota muito breve para me congratular com a recentíssima limpeza das fontes de Sintra, em especial na freguesia de São Martinho. É um consolo para quem faz o caminho entre a Vila Velha e, por exemplo, a Quinta da Piedade, verificar o benefício de que foram objecto ainda que, lamentável e paradoxalmente, água seja coisa que não corre.

Infelizmente, depois deste registo tão positivo, não poderia deixar de me associar ao comentário de alguns conhecidos e amigos que chamam a atenção para o facto desta obra estar a realizar-se, precisamente, a poucos dias das eleições. E, se o efeito geral é satisfatório, não sei o que poderei escrever se generalizar a todas as fontes aquilo que presenciei numa delas.

De facto, tive oportunidade de me deter uns minutos observando, com o detalhe possível, o trabalho de dois operários na fonte dos Pizões. E o que vi, na verdade, não me deixou nada tranquilo. A sujidade residual, os líquenes, as escorrências de humidade não foram sistematicamente removidas e, tão somente, disfarçadas com a aplicação de uma lambuzadela de cor enquanto os azulejos levavam uma ligeiríssima lavadela.

Assim sendo, é Sol de pouca dura. Como não existem equipas de manutenção que, mais amiúde, procedam aos trabalhos que só se concretizam no fim de dois mandatos municipais, já se sabe que, nos próximos anos, estas fontes vão permanecer com o desolador aspecto do costume. Portanto, se quiserem vê-las ainda bonitas, durante umas semanas, mesmo sem água, façam o favor de se despacharem.

PS:

Para que conste, a Fonte da Sabuga ainda não foi limpa e está a precisar, coitada. Lembraria que, aqui há uns anos, sem qualquer competência, houve quem tivesse feito um escarcéu dos diabos porque foram retirados uns azulejos horríveis, que lá tinham sido colocados na década de cinquenta do século passado. Mais afirmavam as mesmas pessoas que, a curto prazo, os muros da fonte, enfim, nus como tinham vindo ao mundo, iriam ficar cheios de grafitos, às mãos de energúmenos.

O tempo se encarregou de desmentir a previsão de tão patuscos profetas da desgraça. Contudo, apareceram uns sinais nos muros da Sabuga, sinais de humidade de que é preciso cuidar. Aproveitaria a oportunidade para pedir, a quem se aprestar à concretização da obra em apreço, que, por favor, não tenha pressa e, por outro lado, de modo algum, siga o modelo do que acaba de ser feito nos Pizões...



quarta-feira, 26 de agosto de 2009


Belas,
desastres, culpas e eleições


Na semana passada, precisamente no dia do incêndio em Belas, passou mais ou menos desapercebida a intervenção de um popular que, perante as câmaras da televisão, dava a entender que o ataque ao sinistro estava a decorrer com os meios necessários, criticando, no entanto, o facto de nem a Câmara Municipal nem a Junta de Freguesia procederem às limpezas indispensáveis à prevenção destas ocorrências.

Aparentemente, o Presidente da Câmara de Sintra, presente, não terá prestado atenção esta denúncia tão pertinente. Muito bom teria sido se tivesse reagido para se perceber o inequívoco significado da sua presença ali. Na verdade, em tempo pré-eleitoral, mesmo que a reportagem televisiva seja de um incêndio de grandes proporções, todo o cuidado não é demasiado para definir as atitudes de quem pretende protagonizar uma campanha.

Já toda a gente percebeu, mas convém não deixar de continuar assinalando, que todos os candidatos pretendem aproveitar a presença das câmaras de televisão (embora haja quem tenha mais sorte que os outros...) e pela subsequente perspectiva de aparecerem no pequeno ecrã em horário nobre. Não há pretextos maus e, em situação de desgraça, funciona como ouro sobre azul, a possibilidade de, ao incauto telespectador, poderem transmitir aquilo que mostre uma emoção sincera, apesar de, tantas vezes, não passar de máscara afivelada a um rosto habituado a todos os cenários.

Se, de facto, ninguém põe em questão e, pelo contrário, só pode reconhecer positivamente o facto de o edil, sempre que há fogo no concelho, se dirigir ao local no sentido de acompanhar as operações de ataque e de mostrar a sua solidariedade a quem está perante um desastre sempre lamentável, cumpre, no entanto, perceber se esse mesmo autarca, directa ou indirectamente, implícita ou explicitamente, tudo terá feito no sentido de evitar o sinistro.

A propósito, deixem-me lembrar que vai para cerca de cinquenta anos o meu conhecimento directo da zona de matos serranos de Belas e da vizinha freguesia de Almargem. Sei como Belas é terra massacrada pelos incêndios e, efectivamente, como tantas e tantas vezes, eles são consequência da incúria e do desleixo dos proprietários dos terrenos e das autoridades que não actuam ou que, devido à sua omissão, induzem comportamentos análogos naqueles em quem delegam competência.


Casos concretos são, por um lado, os fogos e, por outro, não esqueçam, as cheias. De vez em quando, tudo parece estar contra Belas. Não será preciso recuar tanto quanto mais de quarenta anos para recordar enxurradas e lamentar mortes. Em 18 de Fevereiro de 2008, na sequência de uma intempérie, lá tivemos Belas no seu pior, mais duas mortes na fatídica estrada 117 que poderiam não ter acontecido se, a montante, tivessem sido concretizadas todas as medidas que impedissem a ocorrência de tal desastre.*

Dessa vez, o mesmo autarca Presidente, para que não restasse a mínima hipótese de confusão, logo teve o cuidado de afirmar, alto e bom som, que aquela específica via, onde ocorrera o acidente, não era caminho municipal mas nacional… Portanto, se alguma entidade queixosa tivesse o topete de pedir a responsabilidade para apontar um culpado, imediatamente saberia que a Câmara de Sintra nada teria a ver com o caso. Portanto, lá se fez o minuto de silêncio da praxe na reunião da Câmara, lá se chorou as lágrimas de crocodilo da ordem e tudo acabou, com a culpa a morrer solteira.

Há um incêndio, uma enxurrada? Pois muito bem, lá vai o Presidente, facilmente apanhado pelos microfones e câmaras dos media, até aparecendo em directo no noticiário de maior audiência. O resto? É cor local, uns bombeiros, umas mangueiras, muitos tanques e autotanques, fumo, labaredas, sirenes, o trânsito desviado e uma seta virtual a apontar para as eleições que não tardam…


* sintradoavesso, Em Belas? – o que o luto não cala, 22.02.08


terça-feira, 25 de agosto de 2009


Cascais,
tão perto, tão longe…

Se outros elementos nos faltassem para concluir como Sintra passa mal, bastaria pensar na grande quantidade de munícipes sintrenses que procura outras paragens, em especial Cascais, para satisfação de prazeres tão comezinhos como passar umas horas agradáveis numa esplanada de praia, acompanhar os netos a um bom parque infantil, ou simplesmente passear à beira mar, mas sem a agressão do desleixo que Sintra deixou se instalasse por toda a parte.

Por exemplo, fazer o Paredão, entre a Azarujinha e Cascais é um verdadeiro assombro, comparável e mesmo melhor do que pode encontrar-se em muitos países estrangeiros. São três quilómetros de arranjo quase sempre irrepreensível, com boas zonas de ajardinamento, belas e sossegadas esplanadas, praias seguras e civilizadas, limpas, com excelentes instalações sanitárias de apoio, onde a Câmara Municipal de Cascais não deixa o crédito por mãos alheias.

Em Cascais não há trânsito caótico e os transportes urbanos satisfazem as necessidades sem razões de queixa. O cosmopolitismo de Estoril-Cascais vem de longe e nenhum mal lhe causou. Pelo menos, ao nível das consequências nos mais novos, não consta que, por ali, as criancinhas sejam menos felizes do que as de Sintra…

Cada vez mais, encontro pessoas que, em conversa informal, no café, na rua, afirmam isto mesmo que aqui dou conta. Cascais é melhor, muito melhor, é um concelho bem gerido, onde se notam marcas insuspeitas de desenvolvimento e de qualidade de vida. Por exemplo, as estruturas desportivas, para todos os gostos e bolsas, falam por si, desde o golfe, e hipódromos, aos clubes de vela e de outros desportos aquáticos, bem como ciclovias bem concretas, se é que me faço entender….

No campo cultural, confrange a comparação com Sintra. Em tempo oportuno, foi determinante a acção de José Jorge Letria como Vereador da Cultura. Com ele, multifacetado homem de cultura, Cascais mudou, avançou para onde devia uma terra com as suas características, perto da metrópole, em íntima articulação com a metrópole, enquanto Sintra estagnou. De Sintra, nem será bom lembrar a quem tem estado entregue a Cultura...

Faz-se em Cascais do melhor teatro do país. A novel Orquestra de Câmara de Cascais está alcançando um nível que não escapa ao interesse e curiosidade dos melómanos. Por outro lado, mas em domínio afim, enquanto entre nós, definha e já está em estertor o Festival de Sintra, em Cascais cada vez maior é o sucesso do Festival de Música do Estoril e, inclusive, multiplicam-se as provas de reconhecimento internacional como a mais recente, da União Europeia, para já não falar do conceituadíssimo Festival de Jazz.

No que respeita os museus e animação cultural, lembremos apenas o Centro Cultural de Cascais, a Casa Verdades de Faria (Museu da Música Portuguesa), Fábrica da Pólvora, Espaço Memória de Exílios, Museu dos Condes Castro Guimarães, Museu do Mar, Museu do automóvel Antigo, para além de todo o dispositivo de espectáculos e actividades culturais dependentes do Casino, do Centro de Congressos, de grandes hotéis que promovem eventos culturais, etc, etc..

E, agora, para que a inveja ainda seja maior, então não é que vão inaugurar, já em Setembro, a Casa das Histórias, ou seja, o Museu Paula Rego, com projecto do Arq. Souto Moura e que, indubitavelmente, vai constituir um pólo de atracção cultural de primeiríssima ordem e categoria, tanto a nível nacional como internacional? Pois ainda bem! E, melhor ainda, porque Cascais fica tão perto…

António d’Orey Capucho, Presidente da Câmara Municipal de Cascais e Conselheiro de Estado, com a sua postura de elegante descrição, vai acrescentando obra atrás de obra, sem alarido e sem a mínima transigência ao mau gosto, sem qualquer ponta de evidência ou notoriedade popularucha. É um homem respeitado, cuja futebolística preferência desconheço e que, tanto quanto me parece, é coisa que nem sequer faz parte do seu currículo oculto.

Pelas nossas bandas, como é sabido, outros são os modelos e estilo de actuação. Para o caso de subsistirem quaisquer dúvidas, aconselharia a elucidativa leitura da entrevista que o Presidente da Câmara Municipal de Sintra concedeu ao jornal 24 Horas, no passado dia 16 do corrente. Na verdade, só lido, em directo e a cores. A bem dizer, para rematar o ramalhete das sugestões de popularidade, só falta mesmo o apoio do mediático casal Castelo Branco…

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Entrevista para entrever*


A cerca de mês e meio das eleições autárquicas, a pré-campanha que parece estar a suscitar menos interesse aos eleitores é a da coligação que, durante os últimos oito anos, tem gerido este concelho de Sintra, apesar do foguetório quase diário, traduzido pelo anúncio de convites a figuras que aparecem na televisão, vindas do futebol e da canção popular.

Enfim, uma certa apatia, um desinteresse com que, certamente, estariam contando os partidos da referida coligação já que se trata de reacção bem comum à maior parte dos políticos que, sem obra, pretendem prolongar o poder. E, no caso vertente, sem nada de especial a assinalar que marcasse a diferença relativamente a anteriores vereações.

Aliás, outra coisa não seria de esperar. Ao fim de dois mandatos, quaisquer munícipes, por muito desatentos que possam parecer, passaram a conhecer razoavelmente bem o presidente, a equipa de vereadores, e até mesmo alguns técnicos, administrativos e pessoal auxiliar dos respectivos gabinetes… Sabe-se e respeita-se-lhes as virtudes, desgosta-se dos defeitos, esperam-se os truques, não surpreendem os tiques.

Como calculam, por via desta janela escancarada que é o sintradoavesso, e também através de reacções aos artigos que publico no Jornal de Sintra, continuo a contactar com muitas pessoas que, malgrado o desencanto e a falta de oportunidade para a intervenção cívica que gostariam de protagonizar, não baixam os braços. Neste tempo de defeso e de expectativa, os meus cúmplices estão em trabalho de sapa, acompanhando as várias pré-campanhas, a separar o essencial do acessório, à cata de tudo o que possa aproveitar-se e induza o ânimo indispensável à possibilidade de alterar e melhorar o statu quo.

Num dos últimos dias da semana passada, no afã de nada perder de importante, alguns amigos e eu próprio teremos visto acender uma luzinha neste sintrense túnel que já parecia não ter fundo. Refiro-me à entrevista que a Dra. Ana Gomes, cabeça de lista do PS, deu ao Diário de Notícias do dia 20 do corrente. Vale a pena transcrever – e, com a devida vénia o faço – entre outras, as palavras que tanto nos arrebitaram:

“(…) O trânsito há muito tempo que devia estar condicionado através de parques periféricos e de transportes gratuitos. Temos de recuperar os planos dos funiculares para levar os turistas à Pena e ao Castelo dos Mouros (…)”

Neste momento, se o quisesse fazer, gastaria umas boas linhas só para fazer a citação da data dos textos que publiquei em jornais, revistas e neste blogue, a batalhar pela concretização deste sumário de ideias que a Dra. Ana Gomes refere. Não menos difícil seria mencionar todos os encontros em que, individualmente ou em grupo, ao longo de anos, mantive em vários serviços camarários, bem como a correspondência trocada, sem qualquer resultado prático, acerca destes assuntos afins da mobilidade dos cidadãos, do fluxo de trânsito, transportes individuais e colectivos, estacionamento e similares.

E, de repente, com a naturalidade de alguém que muito pensou acerca de gravíssimos problemas que têm afectado a qualidade de vida de centenas de milhar de sintrenses e forasteiros, eis que uma candidata a Presidente da Câmara, vem expressar a revolta que nos consome e, liminarmente, numa espantosa economia de palavras, aponta as soluções que urge concretizar. Sem ambiguidades. E, muito menos, sem os grosseiros erros que todos nos lembramos de ter visto incorrerem alguns autarcas, quando, por exemplo, desconhecendo o que seja um funicular, falavam do teleférico

Mais à frente, inquirida quanto ao resultado das audições públicas que fez nas vinte freguesias: “(…) Além da saúde, as questões da educação surgem de forma recorrente porque há 5000 crianças em lista de espera para jardim infantil, escolas sem refeitório (…) faltam 600 salas para assegurar a escola a tempo inteiro. É uma realidade muito pior do que imaginava e implica um plano de emergência (…)”.

A isto se chama saber pôr o dedo na ferida. Bem pode o actual executivo, por exemplo, insistir na ideia de que alimenta e mata a fome a não sei quantos milhares de criancinhas (na verdade, apenas contribui com uma quota parte de vinte e tal por cento na despesa da refeição…) quando a realidade geral do concelho no domínio da educação é extremamente preocupante. Por estas (palavras) e por outras, cumpre estar atento aos sinais que a Dra. Ana Gomes dá ao eleitorado ao seleccionar os exemplos que privilegiou.

Finalmente, gostaria de afirmar que estou perfeitamente à vontade para a expressão deste meu comentário tão encomiástico em relação à Dra. Ana Gomes, tanto mais quanto é sabido quão crítica foi a minha reacção à sua escolha para encabeçar a lista do Partido Socialista**. Entretanto, perante a evidência de uma posição que tão correcta se me está revelando, iria eu calar o positivo efeito que me causou? Só se fosse hipócrita ou tivesse algum impedimento que me toldasse o entendimento e prejudicasse o independente exercício da liberdade de expressão que tanto prezo.

_________________________


*entrever - avistar, descobrir, descortinar, distinguir, divisar, encontrar, enxergar, lobrigar, perceber, vislumbar;

**vd. sintradoavesso, textos datados de 14 e, em especial, de 16 de Abril de 2009.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009



De medalha em medalha...


Não me recordo se já foi durante este último ou se ainda no seu primeiro mandato, que o Presidente da Câmara Municipal de Sintra surpreendeu a generalidade dos munícipes com a atribuição de medalhas do concelho a uma série de pessoas, figuras mais ou menos mediáticas, da canção popular, da televisão, etc, cujo mérito ou demérito e enquadramentos artísticos me passam completamente ao lado.

Quanto muito, relativamente a tais pessoas, ter-me-ia interessado, isso sim, entender que empenho a favor de Sintra terá sido o seu para que o Município os tivesse distinguido de modo tão singular. Receoso de que, por parte dos artistas em questão, alguma obra de benemerência, por exemplo, tivesse escapado à minha atenção, ainda inquiri - numa razoável amostragem - junto de amigos que, normalmente, estão muito mais ao corrente acerca do que se passa nos bastidores da cena municipal. Em vão. Não sabiam.

Neste contexto, apenas me restava concluir que, em prol de Sintra, terão cometido a suprema ousadia de… residir no concelho. Tão somente isto. Enfim, naturalmente, terá pesado o pertinente factor da sua efémera popularidade já que, por via da televisão, entram tais figuras também em casa dos permissivos cidadãos sintrenses, inclusive nas daqueles que, como eu, nem sempre se dão ao incómodo de mudar de canal.

A surpresa, até uma certa perplexidade, relativamente à condecoração teriam razão de ser? Ora bem, em período pré-eleitoral das autárquicas, quem impedirá o eleitor de pensar que o corropio de medalhas e espectáculos cobertos pelo erário público, em determinadas alturas, podem ter um valor facial facilmente associável ao momento da cobrança, ou seja, o seu aproveitamento em campanha eleitoral?

Limitamo-nos a falar de política e, nesse sentido, já não há quem não entenda a estratégia. Mas, santo Deus, este já não foi chão que deu todas as uvas? Em pleno terceiro milénio, depois de dezenas de anos de campanhas eleitorais, durante as quais se vendeu todo o género de produtos, uns mais outros menos ordinários, ainda estamos neste pé, de caça ao voto através de figuras sem valor acrescentado ao desenvolvimento local, conhecidas porque aparecem no pequeno ecrã?

Se querem a minha opinião, recuso-me aceitar que o eleitor médio do meu concelho se deixe apanhar por manhas e artimanhas que tais. E parece que não estarei mal acompanhado já que, pelo menos por enquanto, a maioria das candidaturas tem recusado o recurso a tais intermediários.



quarta-feira, 19 de agosto de 2009


Capcioso convite

Percebe-se o convite a Marco Caneira como uma pouco interessante tentativa de captar votos fáceis, através do recurso à mediática figura de um grande desportista. Porém, em termos meramente políticos, configura duplamente censurável a atitude do Dr. Fernando Seara, na medida em que também é uma passagem de atestado de menoridade ao eleitorado sintrense em geral e aos fregueses de Almargem do Bispo em particular.

De qualquer modo, cumpre esclarecer que, à partida, nenhum profissional do futebol está diminuído na sua capacidade de intervenção cívica. De facto, nada o impede de se apresentar a sufrágio, no quadro de um programa autárquico que se proponha concretizar durante o mandato para o qual se candidata.

Contudo, no caso vertente e na eventualidade de ser eleito, o que se perfila é a imediata suspensão do mandato do atleta, cuja idoneidade,aliás, não está em causa. No entanto, de tal modo instantes e exigentes são as solicitações trabalho de um Presidente de Junta de Freguesia, que não se vê como compatibilizar a presença quotidiana e o trabalho quotidianos com as obrigações de um profissional do futebol no activo que, para todos os efeitos, é um atleta de alta competição cujo rendimento não pode ser posto em causa perante a massa associativa e o clube, sua entidade patronal.

O Presidente da Câmara Municipal de Sintra deixa a imagem de estar empenhado no êxito eleitoral a qualquer custo e, segundo se sabe por aí, terá mesmo passado por cima das estruturas locais do seu partido, onde algumas decisões e nomes eram diferentes dos seus. Em simultâneo, desconsidera os interesses do clube e, paradoxalmente, acaba por comprometer o eventual futuro político do jogador se nisso estiver interessado no fim da carreira desportiva.

Na hipótese de sucesso no acto eleitoral, caberia perguntar onde iriam os fregueses contactar Marco Caneira para tratar de questões pendentes, tais como a Casa das Selecções ou a Cinelândia. Na Academia de Alcochete? Ou, previsivelmente, em função do impedimento, isso sim, na sede da Junta, com o seu substituto?

Finalmente, no meio de tudo isto, está em causa a impoluta seriedade de um atleta prestes a comprometer o nome, como uma bandeira desfraldada que, depois do desafio, se enrola, ou seja, que depois da contenda eleitoral, não podendo assumir a presidência, será obrigado a pedir a suspensão do mandato.

Enfim, política de nível muito duvidoso. Mesmo assim, ainda haverá quem vá ao engano? Veremos se Almargem go Bispo se deixa ludibriar, de maneira tão primária, perante esta cartada, jogada com tanta visibilidade, ao serviço de uma estratégia de segunda ou terceira categoria…


segunda-feira, 17 de agosto de 2009


Sintra,
pérolas a porcos?


Muito recentemente, o actual executivo camarário inventou uma marca comercial que designou como Sintra, capital do romantismo, com o intuito de cativar, para estadas mais prolongadas, os turistas que por aqui passam como cão por vinha vindimada.

Mais uma vez, aplicou o estafado truque de invocar a inegável beleza e o pendor romântico do lugar cantado por ilustres visitantes – que até qualquer analfabeto já está farto de ouvir citar – e, para começar a vender o produto «com a dignidade do costume», armou ao pingarelho na Regaleira, numa festa de duvidoso gosto. Claro que é uma estratégia que cai imediatamente pela base.

Infelizmente, na actual circunstância, e, em especial nas três freguesias da sede do concelho, Sintra continua terra descuidada, onde está instalado uma perverso conceito de tolerância que tudo mina, atafulhada de automóveis que não deveriam entrar, desprovida de eficazes dispositivos de estacionamento, sem transportes adequados aos diferentes destinos turísticos e de outra índole, um lugar onde não existe um programa de reabilitação urbana nem qualquer política cultural.

Neste contexto, promover a tal Sintra, capital do romantismo, é vender gato por lebre. E assim sempre continuará, enquanto não houver a nobreza de dignificar o lugar, aplicando todas as consabidas medidas que a restituirão ao patamar de beleza, de serenidade, estendendo-lhe o tapete de acesso ao fulcro de um certo tipo de compósito revivalismo europeu, onde tão pertinente é a componente romântica, com direito a lugar de destaque.

No entanto, tão ambicioso propósito não está ao alcance de autarcas que já tiveram oportunidade de provar a dimensão do seu engenho, enfim, da sua capacidade. São óptimos a inventar slóganes mas péssimos a concretizar atitudes que contrariem a cultura de desleixo que, essa sim, tão bem cultivam ou permitem que se cultive adrede.

Finalmente, muito bom seria que os eleitos locais, actuais e futuros, ao invocarem os aristocratas viajantes ingleses que passaram por Sintra no princípio e meados do século dezanove, não esquecessem que alguns desses nobres, por exemplo, William Bekford e Lord Southey, manifestaram uma flagrante antipatia pela população local, chegando o último destes a escrever que “(…) Cintra is too good a place for the Portuguese; it is only fit for us Goths, for Germans or English (...)”.*
O que não escreveriam eles se por aqui se aventurassem já em pleno terceiro milénio…

* vd. texto aqui publicado em 08.11.08

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Sintra,
o eléctrico e o mecenas

Antes do início do Verão do ano passado, o Vereador Marco Almeida, num programa de TV que me pareceu em directo do local, dava a entender que, no prazo de dois meses, a linha do eléctrico de Sintra estaria definitivamente operacional, com os carros a rodar sobre os carris. Ao dizer o que disse, mais não fez, afinal, do que afirmar a condição da Câmara Municipal de Sintra como concessionária da referida linha, entidade à qual está confiada a exploração do circuito, depois de investimento tão avultado no fim do século passado e princípio do actual.

Claro que não passou de promessa, mais uma de tantas em que o actual
executivo autárquico tão pródigo tem sido. Aliás, em relação ao eléctrico de Sintra, eu próprio ouvi falar acerca dos mais promissores projectos, como o do atravessamento da Heliodoro Salgado, primeiro a caminho da estação terminal da CP e, posteriormente, até à Vila Velha, repondo o trajecto que, os mais velhos de nós ainda nos lembramos.

Provavelmente, nos arquivos da Câmara, ainda existirão as três ou quatro montagens fotográficas, com as nítidas mas virtuais imagens dos carris e do eléctrico através da avenida pedonal, com esplanadas à direita e à esquerda. Para todos os efeitos, era coisa que estava tão prestes a acontecer… E, não senhor, não foi em tempos recentes, de promessas ainda mais retumbantes como o SATU e o protocolo com o polémico presidente da CM de Oeiras, pois tudo se passou no primeiro dos dois últimos mandatos.

A última notícia relativa à reposição da circulação do eléctrico, dentro dos carris e sob a catenária – equipamentos e materiais que a Câmara Municipal de Sintra terá deixado deteriorar, por manifesta falta de manutenção – envolve um contrato de doação em espécie, num montante de dois milhões e meio de euros, para reabilitação e manutenção da linha entre Sintra e Praia das Maçãs, obras que decorrerão no prazo de dois anos. Cabe perguntar com que base se permitiu o Dr. Marco Almeida prometer obras de dois meses… Na altura, seria só para atamancar?

É a Multi Development Portugal-Promotora Imobiliária, SA, que tem em construção 2200 lugares de estacionamento no Forum Sintra, num total de 55.000m2, a empresa que, generosa e mecenaticamente, se propõe doar tão avultada soma de dinheiro (já incluindo as despesas com a catenária que serão debitadas à CMS com mais 15%), cobrindo os encargos de recuperação de um património que a Câmara não terá sabido cuidar, como se poderá inferir dos termos da doação objecto do protocolo.

O Sr.Bernardus Van Veggel, presidente do conselho de administração da Multi, é o promotor de uma obra em curso em Sintra, o tal parque de estacionamento de cinco hectares e meio adjacente a um centro comercial. Ponto final? Parece que não. A história só acabaria por aqui se, em tempo de tão mitigadas verbas para qualquer patrocínio, não se impusesse perceber o que o levará a esta magnanimidade que, como não podia deixar de ser, tanto nos comove.

E, em sentido complementar, ao aceitar a doação, a Câmara Municipal de Sintra, sempre em nome dos superiores interesses dos munícipes, também deveria explicar se haverá alguma contrapartida. Tudo em nome da tão apregoada transparência, coisa tão cara que é fonte da dignidade pessoal e da própria vida democrática.


quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Sintra,
de olhos bem abertos

Os leitores destas páginas que não dispensam o JL, certamente se lembram de uma rubrica que, em tempos mais recentes, costuma ocupar a coluna mais à esquerda da antepenúltima página, subordinada ao título Os lugares de, onde, quinzenalmente, certos escritores, jornalistas, actores, chefes cozinheiros, músicos, etc, mais ou menos conhecidos, se limitam a indicar os pessoais lugares de eleição.

Fica-se a saber, por exemplo, quais são os seus restaurantes, cafés, cidades, monumentos, museus, teatros, cinemas, livrarias, praias e outros sítios que, de algum modo, por um lado, ajudam a entender quem assim opina e, por outro, poderão constituir lembretes de lugares a visitar, revisitar ou, tão somente lembrar, coincidir na escolha.

Aquelas pessoas também se pronunciam quanto a um passeio em especial. No número 1010 de 17-30 de Junho, o jornalista e escritor Domingos Amaral indica "(...) pela Serra de Sintra, um local belíssimo e com muita riqueza de horizontes e de locais a visitar" e, no número 1013 de 29 de Julho-13 de Agosto, o chefe de cozinha Henrique Sá Pessoa também vai no mesmo sentido quando, muito mais telegraficamente, refere "Sintra".

Este é apenas um exemplo, de uma entre outras publicações que, com idênticos figurino e propósito, solicitam este tipo de participação. Pois, tão frequentemente quanto se adivinha - até porque Sintra é um desafio de beleza perante o qual não há quem não se renda - esta terra é apontada e, sem qualquer sombra de dúvida, não há a menor razão para pôr em causa tão sábia selecção.

O que eu coloco em dúvida é a circunstância de, invariavelmente, tais pessoas fazerem os comentários mais encomiásticos a Sintra, ao centro histórico de Sintra, à Vila de Sintra, a São Pedro de Sintra, à serra, aos caminhos românticos, etc, etc, como se não vissem, observassem e reparassem nas mesmas ofensas que, no desgraçado quotidiano eu vejo, observo, reparo e, constantemente, denuncio.

A demonstrar que, efectivamente, não sou caso único, aí está a transcrição do comentário ao Para meditar, hoje publicado pelo nosso amigo Fernando Castelo, coincidindo neste preciso registo:

"(...)
Por vezes pergunto-me se vivemos na mesma Sintra, a que corresponde às frases bonitas da época em que por cá passaram Lord Byron e outros, pois não há referências a caravanismos no Parque Histórico, a contentores de lixo junto à paragem onde os visitantes aguardam transporte.

Terão Strauss ou Garrett convivido com aquela casa de queijadas, junto à CP, que ostenta ferros ferrujentos e cobertura ondulada de plástico? Ou pelas casas tão sujas com pátios horríveis como se podem ver do alto da rua Miguel Bombarda? Andersen passeou por debaixo da Rua dos Arcos?

Esses visitantes ilustres, que fizeram frases tão bonitas que agora se lhes agarram como lapas às citações, chegavam ao Ramalhão - A ENTRADA NOBRE DE SINTRA - e encontravam uma estrutura tubular com um pano, a anunciar a "Festa da Espuma"?

Talvez fosse bom primeiro lavar-se a cara disto tudo, aplicar os dinheiros na melhoria da qualidade de vida, desenvolver hotéis em vez de motéis (estes sim, têm sido aprovados), limpeza adequada. Depois publicitar o turismo. (...)"

Enfim, em tempo de campanha eleitoral, bom será que as várias candidaturas lavem os olhos, limpem as ramelas e nos devolvam Sintra tal como está, na realidade, propondo as mudanças que se impõem. Naturalmente, uma delas há-de ir no sentido de que se passe a andar muito mais a pé. É verdade e simples pois, caso contrário, continuando o peão a passear-se de automóvel onde não pode nem deve, não vê nem um décimo das misérias que por aí vão, coisa que só interessa aos conhecidos defensores do statu quo.





quarta-feira, 12 de agosto de 2009


Para meditar

"(...)
Hoje fui até à Vila e, como de costume, fiquei arrependido, porque só faz sofrer. As auto-caravanas lá estavam. Um militar da GNR disse-me que era complicado.... O trânsito engarrafado. As pessoas, em vez de passearem pela História, estavam ao monte a esperar autocarros para a Pena, para uns entrarem e outros ficarem à espera mais uns tantos tempos. Depois o carro chega e "enlata" os visitantes de Sintra, numa indiferença aos perigos que me envergonha.

Com tanta gente, o comércio não deve estar em crise, pois quis comprar uns livritos antigos e a loja estava fechada. Que raio de negócio, este de Sintra. Os caixotes do lixo lá estavam junto à Igreja. Tudo demasiado mau, meu Amigo. (...) mais 4 anos disto é uma tragédia. (...)"

Acabam de ler a transcrição da parte útil de um mail que ontem me enviou um amigo que, residente nos arredores, costuma acompanhar com interesse o que se passa em Sintra, tantas vezes coincidindo com as impressões que vou deixando nos textos publicados neste blogue.

Na realidade, mais quatro anos disto seria uma tragédia que, quero acreditar, os eleitores - num estado de apatia menos evidente do que se supõe - não vão deixar que aconteça. Por outro lado, felizmente, a hipótese de alternativa ao governo local é bem mais estimulante do que ao nível central...


segunda-feira, 10 de agosto de 2009


Humor e Amor


É coisa nada frequente que um dos mais conhecidos portugueses tenha sido uma excelente pessoa, ao ponto de estar no coração de todos, sem que se lhe aponte algo que desmereça a geral estima e o grande carinho que todos lhe manifestam. A circunstância de ter morrido há apenas dois dias propicia a lembrança. Porém, é a sua condição de membro da Maçonaria que pretendo evidenciar, ao partilhar convosco considerações tão pertinentes quanto aplicáveis a outros maçons, a maior parte dos quais ilustres mas anónimos.

Começando a ler estas linhas, e ao chegar à conclusão de que só posso estar a referir-me a Raúl Solnado, tenho a certeza de que poucos leitores saberiam da sua filiação. E, por outro lado, rarissimamente, a morte de alguém, tão querido, tão chegado que mais parece parente muito próximo, terá sido encarada de modo tão desdramatizado, tão natural.

A propósito, aproveitaria o ensejo para lembrar como Wolfgang Amadeus Mozart, em carta datada de 4 de Abril de 1787, partilhava com o pai Leopold o que ambos, católicos fervorosos e igualmente maçons, tinham aprendido na Maçonaria, ou seja, que “(…) a morte é o grande objectivo da nossa vida. (…) familiarizei-me com esta verdadeira e melhor amiga da humanidade, de tal modo que não só a encaro sem terror como inclusive se me revela apaziguadora e reconfortante (…)”

De algum modo, foi à luz desta mesma ideia, que também o próprio Raúl Solnado foi preparando a cena. Discretamente. Apercebendo-se do fim, deixou cair, aqui e ali, as palavras indispensáveis ao entendimento da mensagem. Mas não foi preciso chegar a este momento da passagem ao oriente eterno, para perceber como os grandes princípios e valores da Maçonaria – Liberdade, Igualdade e Fraternidade, a famosa tríade que é matriz dos tempos modernos – nortearam os passos daquele homem.

Inteligente, paradigma de bondade, solidariedade, de cidadania activa, de lutador pelos grandes valores da humanidade, Raúl Solnado a todos nos marcou, tornando-nos melhores. Como verdadeiro maçon, ele era a simbólica pedra bruta cujo constante aperfeiçoamento é indispensável à construção do templo individual e colectivo, obra de e pelo Amor.

Gostaria de aproveitar este momento para sublinhar que o objectivo máximo da Maçonaria universal é o conhecimento e, nesse sentido, trabalham em comum os seus membros, para o aperfeiçoamento intelectual e moral da sociedade. Fundamentalmente para acabar com os preconceitos que impedem o diálogo e a harmonia. Entre outras coisas, o maçon é um homem que nasceu livre, precisamente porque, através da Iniciação, morreu para os preconceitos.

Infelizmente, nem sempre é pelas melhores razões que, na maior parte dos casos, a Augusta Ordem Maçónica e certos maçons ocupam espaço nos media. A partir de agora, quando tal voltar a acontecer, lembrem-se de Raúl Solnado. Sempre que vos apontarem um traste, que se aproveitou da condição de maçon em proveito próprio, não tomem a árvore pela floresta...



sexta-feira, 7 de agosto de 2009


Grandes festivais

Por acaso, na mesma data de hoje, calhou que tivesse tratado dos bilhetes para dois dos festivais que costumo frequentar há muitos anos. Porque se trata de uma realidade a que, de todo em todo, não há qualquer analogia em Portugal, talvez seja curioso e interessante partilhar convosco o procedimento habitual, por exemplo, em relação a Salzburg e Bayreuth, no sentido de garantir os lugares que tão cobiçados são a nível mundial

No que respeita a Salzburg – onde há oito festivais anuais! – sempre me desloco, pelo menos, aos de Inverno e da Páscoa. Cada um depende de diferente entidade e de distinta organização, apesar de haver articulação entre si. Dispensar-vos-ia dos detalhes do da Páscoa já que em tudo são semelhantes aos do primeiro referido, apenas diferindo o calendário.

Como princípio geral, tudo começa a tratar-se com um ano de antecedência, altura em que sai o programa detalhado. Assim sendo, para a Mozartwoche de 2010 que, como todos os anos, se realizará durante a última semana de Janeiro e primeira de Fevereiro, fiz a encomenda dos meus bilhetes no dia 27 de Janeiro de 2009, recebi a factura correspondente no dia 3 de Agosto e hoje procedi à definitiva liquidação do montante que me comunicaram. E dentro de dias terei os bilhetes em meu poder.

Para além da Catedral e igrejas, são cinco as salas onde os concertos, recitais e óperas sempre acontecem, ou seja, a Grosser Saal(Grande Auditório) e a Wiener Saal, ambos da Fundação Internacional Mozarteum, o Grosses Festspielhaus, o maior da cidade e dos maiores do mundo, bem como nos mais recentes Solitär (Grande Auditório) da Universidade Mozarteum e Haus für Mozart. À excepção da Wiener Saal, onde não há lugares marcados, em todos os outros, mantenho o mesmo ao longo dos anos.

O caso de Bayreuth, festival de ópera de Wagner, ainda é mais crítico. É mesmo muito, muito bicudo. Diz-se que a lista de espera actual é de doze anos, de dez para os mais optimistas. Desde sempre, por todo o lado, se moveram grandes empenhos, nos meios governamentais e diplomáticos de todos os países civilizados, para obter os mais cobiçados bilhetes do mundo. Actualmente, é inimaginável pretender aceder, com regularidade, ao Festival de Bayreuth sem ser membro de um dos Círculos Richard Wagner.

Há quarenta anos que vou a este festival. Tal como em Salzburg, conheço-lhe os truques. Todos e, em especial, quanto ao modo de fazer estadas longas sem gastar muito dinheiro. A propósito, estou à disposição para passar toda a informação de modo a facilitar a vida aos interessados. Isto não é blabla e, a comprová-lo, há gente em Sintra que pode confirmar como os meus conselhos facilitaram a vida em determinados destinos onde, para além destes dois, há famosos festivais de música, casos de Lucerna, Viena, Edimburgo, Aix-en-Provence, Verona, Schleswig-Holstein, Leipzig e outros.

Continuando com Bayreuth, informei hoje o Círculo Richard Wagner a que pertenço acerca do meu interesse para 2010. Pretendo assistir a três óperas, uma nova encenação de Lohengrin, Mestres Cantores de Nuremberga e Parsifal já que, no ano passado, vi a produção da nova Tetralogia que ainda se manterá por mais uns anos. Até ao fim deste ano tudo ficará regularizado, com os bilhetes pagos e o meu nome neles impresso, pela própria organização do Festival, para evitar o mercado negro. E, em Agosto de 2010, lá estarei na cidade bávara, para mais uma peregrinação wagneriana.

A capacidade de organização, a sofisticada gestão que estes festivais germânicos evidenciam, emparelham com os índices socio-culturais e económicos dos países e cidades que os promovem. Constituem invejáveis paradigmas, são objecto de estudo e não podem ser considerados ilhas de excelência – como a Gulbenkian* entre nós – porque, naquelas latitudes, tudo funcionando impecavelmente, não existe uma perniciosa cultura de desleixo que mine os melhores projectos. Basta pensar em Sintra e no saudoso Festival de Sintra…

*vd.
sintradoavesso, Outras músicas, 02.07.09


PS:

Se quiserem ter uma agradável surpresa, acedam ao sítio da Internationale Stiftung Mozarteum [Fundação Internacional do Mozarteum de Salzburg, da qual sou membro efectivo], servido por textos em Alemão e tradução inglesa, cuja ligação está aí ao vosso lado direito do painel.

Fiquem sabendo que, no dia 2 do corrente, a ISM apresentou duas peças inéditas de Mozart. Para além de poderem aprender alguns curiosos apontamentos inerentes ao seu enquadramento, é possível escutá-las imediatamente, embora a primeira apresentação em espectáculo público só aconteça, precisamente, na próxima Mozartwoche, portanto, em Janeiro de 2010. Boa audição!




quarta-feira, 5 de agosto de 2009



Política e politiquice

Brada aos céus este caso do Presidente da Câmara que, olimpicamente, se afirma nas tintas para a Justiça que o condenou a uma data de anos de prisão efectiva, e reitera a intenção de, novamente, se apresentar a sufrágio nas próximas eleições autárquicas. Brada aos céus, escandaliza mas, infelizmente, como todos sabemos, está longe de ser caso único.

Tanto quanto parece, este é, tão só, mais um sinal dos tempos que correm. Qual mancha de óleo, alastra o efeito de berlusconização de certo modo de fazer política. Em vez de irrepreensíveis e exemplares, certos cidadãos, candidatos a parlamentares ou autarcas, fazem gala em espezinhar valores ortodoxamente considerados como respeitáveis, recorrendo a todos os truques de mediatização para cativarem o favor das massas desoladoramente ignaras.

Pelo que se tem visto e confirmado, correm de feição os tempos para esta perigosa fauna de auto denominados animais políticos. A galope nas garantias dos ultra civilizados códigos de Direito em que radicam os Sistemas de Justiça dos nossos países de cultura e civilização ocidental judaico-cristã, estes sílvios e izaltinos, valentins e quejandos - pedindo meças ou em santa aliança com ultra-farisaicos banqueiros que a Obra de Deus acolhe e beatifica - não conhecem obstáculos à sua voracidade.

Para consumação de programa tão florescente, estão esses próceres conluiados com bem oleadas máquinas de comunicação social, que também controlam, servidas por péssima classe de maus escreventes alcandorados à condição de jornalistas. Às suas mãos o quarto poder soçobrou, praticamente definhou.

Negro quadro, é verdade. Este é mais um daqueles momentos em que parece ter chegado a besta do Apocalipse. Tenho a impressão de que, afinal, apenas se trata de uma máscara. Toda poderosa, a ignorância travestiu-se de personagem indispensável, não à política - que é coisa nobre e afim da vida na polis - mas, isso sim, à ordinária e rasteira politiquice.

No entanto, apesar de cada vez mais inermes, há braços que resistem. Por isso, muito errado está quem se convencer de que este é um terreno definitivamente conquistado.


sábado, 1 de agosto de 2009


Em campanha


Já em tempo de pré campanha eleitoral autárquica em Sintra, Ana Gomes acaba de dar um excelente sinal acerca do modo como será de esperar que se pautem todos os candidatos das forças partidárias que vão apresentar-se a sufrágio no fim do próximo mês de Setembro.

Refiro-me ao caso do SATU – Sistema Automático de Transporte Urbano – de Oeiras que é hoje objecto de notícia no jornal Público. Com inequívoco sentido de oportunidade, ontem mesmo, a candidatura de Ana Gomes fez distribuir uma nota de imprensa cuja leitura me permito aconselhar.

É um documento que, com exemplar correcção, responde a uma tomada de posição e contraria determinada iniciativa de outro candidato que, na circunstância em apreço, é quem, actualmente, também detém o poder executivo. Fá-lo sem a mínima acrimónia mas põe todos os dedos na ferida, inclusive apresentando as alternativas que mais ajustadas se lhe afiguram.

Julgo, repito, que assim deveriam actuar os outros candidatos, evitando baixar o nível de comunicação e, pelo contrário, aproveitando a oportunidade no sentido de evidenciar como se podem dirimir argumentos com elevação, apesar da contundência que certos momentos da campanha não deixarão de suscitar.

Leiam que vale a pena. Quanto ao conteúdo, não poderia estar mais de acordo. Estou farto de protocolos pour épater le bourgeois. Como sabem, não é coisa de agora, já há muito que se me esgotou a paciência. A propósito deste assunto, aliás, lembrar-se-ão de que, ainda recentemente, escrevi sobre a ligação preferencial que urge concretizar, com o objectivo de ligar Sintra ao Estoril e a Cascais, através de uma linha de metro ligeiro de superfície ou trolley.


Claro que é preciso discutir estas propostas muito seriamente. Finalmente, por favor, não entendam o que aqui não está. Sou independente e ainda não dei o meu apoio a ninguém...