[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 28 de junho de 2012



João Bénard da Costa


Aguardo com especial expectativa a homenagem ao João Bénard da Costa. O Presidente Fernando Seara é a primeira entidade pública nacional a perpetuar o nome desta grande figura das Letras, do jornalismo – certamente um dos mais brilhantes cronistas do século passado e princípio do actual - e do cinema, um finíssimo intelectual, na plenitude do conceito, que foi nosso vizinho e de quem tanto nos orgulhamos.

João Bénard da Costa é o grande homenageado mas a Câmara Municipal de Sintra, com esta atitude de respeito e preito à sua memória, também sai devidamente enobrecida. Não tenho qualquer dúvida – e faço-o com o maior gosto – em agradecer ao Prof. Fernando Seara iniciativa tão especial, que se traduz neste gesto que cala tão profundamente.

Pelas sete da tarde, junto à casa da família, na Rua Gago Coutinho, todos os que não esquecemos João Bénard da Costa, todos os que ainda hoje, tanto lhe devemos pelo estupendo magistério que desenvolveu em vários domínios, lá estaremos a partilhar e a viver um dos mais bonitos momentos da vida cultural de Sintra dos últimos tempos.

Ninguém ignora a especialíssima relação de João Bénard da Costa com Johny Guitar, o mítico western de Nicholas Ray. Com aquela fanhosa e tão característica voz ainda no ouvido, ser-vos-á possível ouvir o homenageado falar acerca do filme… À minha medida, apenas gostaria de vos deixar com esta inequívoca lembrança.

Boa audição!
 
Festival de Sintra,
Palácio da Vila, 28 de Junho


Brahms, Sonata No. 2 para Violino e Piano em Lá Maior, op. 100Três Danças Húngaras; Beethoven, Sonata No. 8 para Violino e Piano em Sol Maior, op. 30 no. 3Sonata No. 7 para Violin
o e Piano em Dó menor, op. 30 no. 2
 
Hoje, pelas 21h30, no ímpar cenário da Sala dos Cisnes do Palácio da Vila, Bruno Monteiro e João Paulo Santos interpretarão o programa supra do qual me permitiria destacar para convosco partilhar, precisamente, a primeira das peças mencionadas.

Datada de 1886, também conhecida como Thuner Sonate, por ter sido composta, aliás como outras obras de Johannes Brahms, nas margens do Lago Thun, na Suiça, para onde o compositor costumava retirar-se em férias de Verão, esta obra desenvolve-se em três andamentos, Allegro amabile, Andante tranquilo-Vivace-Andante e
Allegro gracioso (quasi Andante).
A gravação que vos proponho, do primeiro andamenbto, juntou dois perfeitos gigantes, Oistrakh e Richter, que nos concedem uma das melhores interpretações de todos os tempos.

Boa audição!



http://youtu.be/zDmyLeP9VIc
 
 
 
Parques de Sintra Monte da Lua
Palácio de Monserrate

Animação Musical de alto nível


É meu privilégio poder divulgar, acabada de receber, a informação acerca de uma série de iniciativas que reputo do maior interesse. Sem qualquer tratament...o gráfico, partilho convosco estas excelentes notícias que só não constituem novidade porque surgem na sequência de evento congénere concretizado no ano passado.

A Parques de Sintra Monte da Lua faz bem tudo aquilo em que se envolve. Coordenada pelo Prof. António Ressano Garcia Lamas, Presidente do Conselho de Administração da empresa, a multifacetada equipa de dezenas de colaboradores tem desenvolvido o mais meritório dos trabalhos que Sintra poderia esperar.

O crédito desta gente é incalculável, em especial, na salvaguarda e recuperação do sofisticado património edificado e natural à sua guarda – todas as jóias da coroa de Sintra – e também na animação cultural de espaços tão desafiantes como os Parques e Palácios de Monserrate, da Pena (incluindo o recém-recuperado Chalé da Condessa, Palácio da Vila, de Queluz, Convento dos Capuchos, Castelo dos Mouros, etc, etc.

De animação cultural se trata esta notícia para a qual me cumpre chamar a vossa atenção. Naturalmente, poderão esclarecer quaisquer dúvidas através de
www.parquesdesintra.pt ou www.facebook.com/parquesdesintra.


Eis a transcrição:


"20- 24 de Julho
 Manhattan Camerata regressa a Monserrate para concertos, palestra e jantar com o público
 - 20, 21 e 24 Julho, 19h: Concerto + Jantar
 - 23 Julho, 11h: Palestra “Stravinsky e Picasso: paralelos entre a música e as artes plásticas”

Depois do sucesso dos concertos de 2011, dois elementos dos Manhattan Camerata, Lucía Caruso e Pedro H. da Silva regressam este ano ao Palácio de Monserrate, a 20, 21, 23 e 24 de Julho, desta vez para três concertos, seguidos de jantar em Monserrate com a presença dos músicos (20, 21, 24), e uma palestra (23) sobre os paralelos entre a música e as artes plásticas, apresentada anteriormente no MoMA (Nova Iorque).

A Manhattan Camerata, de Nova Iorque, marca assim presença com os dois membros fundadores: Lucía Caruso (compositora e pianista argentina) e Pedro H. da Silva (compositor e guitarrista português). Esta é uma orquestra de câmara inovadora, que integra a orquestra de câmara ocidental clássica mas também vários instrumentos de todo o mundo (guitarra portuguesa, sitar, koto, darbuka, bandoneón, entre outros), com performances de uma ampla variedade de estilos musicais (tango, fado, música indiana e flamenco). No concerto agendado para 21 de Julho, Lucía Caruso e Pedro H. da Silva serão acompanhados por Louise Couturier no violino.

Depois dos concertos, terá lugar um jantar buffet (incluindo bebidas) no qual estarão presentes os músicos, permitindo assim ao público ter um contacto mais direto e intimista com os mesmos.

A 23 de Julho terá lugar a palestra “Stravinsky e Picasso: paralelos entre a música e as artes plásticas”, conduzida por Pedro H. da Silva. Picasso e Stravinsky, dois dos mais importantes artistas do século XX, foram notáveis pela variedade estilística das suas obras. Praticamente todos os seus períodos estilísticos estão correlacionados, apesar de nem sempre coincidirem cronologicamente. Abordar-se-ão as obras completas de cada um, nomeadamente o período pós-romântico e os períodos Azul, Rosa e Cubista de Picasso em contraponto ao períodoRusso de Stravinsky.

O nacionalismo exibido em ambas as obras constitui também testemunho de afinidade estilística dos dois artistas e reflete-se, em Picasso, no uso de símbolos universalmente reconhecidos como espanhóis, tais como os touros e as guitarras, comparáveis à simbólica nacionalista russa presente na obra de Stravinsky, nomeadamente a “Petrushka” e a "Sagração da Primavera”. O encontro das duas obras culmina na colaboração de ambos no bailado Pulcinella, de Stravinsky, para o qual Picasso desenhou o guarda-roupa e os cenários, bem como na homenagem recíproca destes dois artistas.

Sobre a Manhattan Camerata:


A Manhattan Camerata foi fundada em 2009 pela compositora e pianista argentina Lucía Caruso (Diretora Artística) e pelo compositor e guitarrista português Pedro H. da Silva (Diretor musical). Já se apresentou em vários locais de relevo por todo o mundo, nomeadamente em Nova Iorque, incluindo: a Grand Central Station, Le Poisson Rouge, Pub de Joe, o Blackbox e Teatros Frederick Loewe na New York University, a Igreja Santíssimo Sacramento, o Consulado Argentino, Consulado Português em Newark, e sobre o mais famoso navio Português alto: "Sagres". Gravaram este mês nos estúdios Abbey Road com a London Metropolitan Orchestra, e têm agendados dois concertos no Museu Louvre, com membros da Orchestre de Paris e da London Symphony Orchestra, integrados na exposição “Through my Window”, naquele museu.

Lucía Caruso graduou-se em piano clássico pelaManhattan School of Music e detém um mestrado em “Composição e música original para cinema” pela New York University. Pedro H. da Silva, doutorado em Composição pelaManhattan School of Music, toca 18 instrumentos diferentes. Atualmente é professor de composição na New York Universitye tem dirigido masterclasses e conferências internacionalmente. Em 2011, foi responsável pelo curso “Parallels between Visual Arts and Music, 1875–1965” lecionado no MoMA (Musem of Modern Art), em Nova Iorque.

www.manhattancamerata.com /www.luciacaruso.com /www.pedrodasilva.com

Bilhetes:

À venda em
www.parquesdesintra.pt, no local do espetáculo ou nos pontos comerciais habituais de venda de bilhetes.

20, 21 e 24 de Julho

Concerto (19h00) – 17 Euros
Concerto + Jantar buffet (incluindo vinhos, refrigerantes e águas) – 50 Euros

23 Julho

Palestra “Stravinsky e Picasso: paralelos entre a música e as artes plásticas” (11h00) – 10 Euros
Informações para público: 21 923 73 00 /animacao.cultural@parquesdesintra.pt"

terça-feira, 26 de junho de 2012




Baboseiras do Ronaldo


Acabo de ouvir umas declarações de Cristiano Ronaldo que, imediatamente, me determinaram à partilha convosco. Dizia o já mítico jogador de football, inegavelmente, um dos melhores do mundo, que terá começado mal a sua prestação - a televisão ia mostrando os seus falhanços no segundo jogo - nesta fase final do Europeu porque "(...) tinha uma grande responsabilidade".

Salvo melhor opinião, meus caros amigo
s, então a tal «grande responsabilidade» não é aquilo que todos os profissionais sentem seja qual for a sua actividade?

Por exemplo, os professores, na preparação dos seus trabalhos e, depois, na aula concreta, perante os grupos de alunos, em qualquer dos níveis de ensino, com problemas dificílimos para resolver, de carácter didáctico, pedagógico, gestão de conflitos, etc, etc?

Por exemplo, os pescadores, enfrentando dificuldades com risco diário da própria vida? Por exemplo, os engenheiros, cujos cálculos só podem ser irrepreensíveis. Por exemplo, os pilotos e motoristas de grandes veículos de transporte de passageiros, aviões, combóios, autocarros, com a permanente e «grande responsabilidade» da vida dos passageiros nas suas mãos...

E os músicos, os bailarinos, os actores, todos os profissionais das artes performativas, em espectáculos exigentíssimos onde «só» podem dar tudo por tudo. Os artistas plásticos, os escritores, todos os criadores que vivem a angústia da criação artística...

Mas, então, os profissionais da bola são assim tão especiais? Principescamente pagos, apaparicados por políticos, por jornalistas que jamais os põem em causa como seria de esperar, esta gente permite-se dar a entender que, devido à pressão da «grande dificuldade» pode claudicar de modo tão flagrante como um principiante qualquer?
 
 
 


Festival de Sintra,
26 de Junho

Amanhã, o programa do festival de Sintra trará ao Centro Cultural Olga Cadaval a Orquestra Gulbenkian que, sob a direcção do maestro inglês Howard Shelley, interpreta obras dos três grandes expoentes da designada Primeira Escola de Viena, Haydn, Mozart e Beethoven. Do primeiro, a “Sinfonia Nº 96 em Ré Maior O Milagre”, de Mozart, o “Concerto para Piano em Ré menor, KV 466”, tendo como solista o próprio regente e, de Beethoven, a “Sinfonia
Nº 7 em Lá Maior, op.92”.

Gostaria de vos propor a audição completa da última das peças anunciadas já que se trata de uma das obras-primas da música erudita de todos os tempos, por alguns especialistas considerada a mais bela do conjunto das nove do grande mestre. Foi estreada no dia 8 de Dezembro de 1813, na aula magna da Universidade, no âmbito de um concerto organizado por Maelzel – o inventor do metrónomo – numa atitude de benemerência a favor dos soldados austríacos e bávaros feridos na batalha de Hanau.

Dirigiu o próprio Beethoven. Tenho lidos diferentes versões quanto à presença de conhecidos músicos durante o evento. Segundo alguns, terão estado presentes, apenas presentes, na audiência mas outros dão Salieri, Schuppanzigh, Spohr e Meyerbeer como tendo participado na execução da Sinfonia que se desenvolve em quatro andamentos, ‘Poco sostenuto. Vivace’, ‘Allegretto’, ´Presto’ e ‘Allegro com brio’.

Será precisamente deste último andamento, que destacarei a nota de poderosa feira dionisíaca, frenética, paroxística, com rasgos agressivamente dissonantes, em páginas que não são a expressão de uma vulgar alegria já que nelas se mistura um grito de revolta, em especial, no momento do desenvolvimento. A estridência dos metais e a violência do ritmo são mesmo alucinantes.

Wagner pretendeu ver a apoteose da dança nesta força sensual, telúrica. É escusado pretender encontrar o reflexo de acontecimentos da vida do compositor como a ‘carta à imortal bem-amada’, datada de Julho de 1812, altura em que a surdez aumenta gravemente. Esta música está isenta de um programa, não há qualquer confissão, ideologia alguma. Será por tudo isto que tão facilmente se impôs, desde a estreia absolutamente triunfal, apesar de todas as suas ousadias.

Na gravação que vos proponho, Bernstein dirige a Orquestra Filarmónica de Viena.

Boa audição!


http://youtu.be/AZUXn40ssYw


Festival de Sintra,
24 de Junho, Quinta da Regaleira (II)



Na sequência da apresentação das peças constantes deste concerto de música de câmara que terá lugar amanhã, na Quinta da Regaleira, gostaria de vos propor esta magistral interpretação do Quateto com Piano Nº 3, op.60 de Brahms, pelo Beaux Arts.

Tenho a certeza de que, no domingo, o Mozart Piano Quartet não deixará os créditos por mãos alheias na leitura desta obra e prevejo mesmo uma estupenda tarde de música. O programa é óptimo, os músicos de excelente gabarito, o lugar, enfim, do melhor que se pode encontrar em qualquer latitude. Apareçam. Não esqueçam que só no Festival de Sintra, podem viver experiência que tal.

E, para já, boa audição!



Festival de Sintra,
bons sinais

 
De acordo com o programa oportunamente anunciado, começou hoje a 47ª edição do Festival de Sintra. Como lembrarão, na passada terça-feira, chamei a atenção para os eventos do dia de abertura, a conferência de Rui Vieira Nery e o recital de Grigory Sokolov.

Quanto à conferência, o conhecido musicólogo obedeceu ao esquema que costuma observar, ou seja, subordinando-se a um tema – neste caso, 'A Viena imperial e a matriz cosmopolita do Romantismo musical europeu' – foi ilustrando as pertinentes considerações com excertos de gravações das peças musicais que, inequivocamente, melhor se enquadravam.

Durante hora e meia, fizemos o fascinante percurso de um século de música, sensivelmente, entre 1815 e 1914, partindo de Beethoven e de Schubert, caracterizando a Viena capital imperial que, a um tempo é conservadora e cosmopolita, fervilhando numa actividade musical verdadeiramente imparável, que acolhe a ópera de Weber, de Meyerbeer, Rossini, Bellini, Verdi, mas incapaz de lidar com a modernidade wagneriana.

Assistimos ao sucesso de Brahms, à contemporaneidade finissecular da valsa, da polka e da marcha, às tentativas de afirmação de novas vozes portadoras de linguagens que vão afirmar-se através de Mahler, Hugo Wolf e Richard Strauss e também de um Bruckner, sempre numa moldura vienense nostálgica, poética, edílica que conhece e convive com as primícias da psicanálise freudiana, de consequências tão decisivas em toda a Arte e, naturalmente, também na Música.

Sem meios sofisticados de apoio, limitando-se à reprodução de CDs, Rui Vieira Nery foi, como sempre, muito eficaz, num ambiente da maior informalidade. O Presidente da Câmara Municipal de Sintra, Prof. Fernando Seara – que, tal como o próprio conferencista, está a viver um período difícil subsequente ao recente falecimento do seu pai – fez uma apresentação tão simples quanto rápida mas muito certeira.

Esta proposta de iniciar o Festival com uma conferência é coisa muito sua, modelo que começou a privilegiar, há já uns bons anos, quando, para o mesmo efeito, convidou o Prof. António Damásio. É assim que Fernando Seara pretende e também consegue demonstrar como, em tempo de grande contenção financeira, um Festival de Música pode e deve ser lugar de aprendizagens várias e cruzadas, de refrescamento e enriquecimento espiritual, convidando alguém que, à partida, garante que tais propósitos serão, de facto, alcançados para benefício de todos quantos participarem.

Claro que correu bem. Foi mesmo muito agradável. O Festival não podia ter começado com melhores sinais. Ah, é verdade, por motivos de doença, Sokolov só aqui se apresentará no dia 10 do próximo mês de Julho. Vamos esperar que o pianista recupere e que, mais uma vez, em Sintra, não só passeie a sua fabulosa classe de artista mas também continue a brindar o público com a habitual ímpar generosidade de extras.


PS:

Permitam que finalize, roubando ao Rui Vieira Nery - que, sei perfeitamente, não se importa mesmo nada - esta proposta de audição, na interpretação de Elisabeth Schwarzkopf,. Trata-se da canção com que ele finalizou a conferência. Mesmo sem terem assistido, façam o favor de imaginar o efeito de chave de ouro...


Boa audição!



http://youtu.be/x8mfu8dXTTQ


Festival de Sintra,
domingo, na Regaleira


No próximo dia 24, domingo, pelas cinco da tarde, na Quinta da Regaleira, o Mozart Piano Quartet interpretará um conjunto de três peças de compositores que, de acordo com as balizas temporais defi
nidas pelo programa geral desta 47ª edição do Festival, estão incluídos no período compreendido entre Haydn e Brahms.

De Franz Schubert, ouvir-se-á o 'Adagio e Rondó concertante para Quarteto com Piano em Lá Maior, D. 487', seguindo-se o 'Quarteto com Piano Nº 3 em Dó menor op, 60' de Johannes Brahms e, para terminar, uma 'Redução para Quarteto com Piano da Sinfonia Nº 3 em Mi bemol Maior op. 55' de Beethoven, redução da qual se encarregou Ferdinand Ries (1784-1838), aluno do mestre de Bonn.

Precisamente da última obra mencionada aqui vos proponho uma gravação do primeiro andamento, Allegro con brio, pelo Trio Ysaye e Hanna Shybayeva.

segunda-feira, 25 de junho de 2012


An den Mond
Goethe/Schubert


Mais um dos famosos poemas de Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) que Franz Schubert musicou (D296). A vossa atenção para a interpretação do barítono alemão Timothy Sharp, que trabalhou com Hans Hotter, Br...
igitte Fassbaender, Peter Schreier e Dietrich Fischer-Dieskau, portanto, só gigantes junto de quem colheu tudo o que de melhor é possível imaginar no mundo do canto lírico.

Já tenho tido oportunidade de o ouvir em recital e sempre com o maior agrado, por exemplo, no Festival Styriarte onde é habitual colaborador de Harnoncourt, outro grande senhor, que tem um dedo muito especial para descobrir novos talentos.

Quando se canta Lied, a dicção só pode ser como a dele, absolutamente irrepreensível. Um timbre muito 'redondo', voz extensa, à vontade em todos os registos, a evidente capacidade, num tempo muito limitado, de criar um ambiente, e aí temos os ingredientes para o esplêndido momento musical que, espero bem, possam partilhar comigo. Como sempre, o texto, no original Alemão e uma tradução em Inglês.


An den Mond

Füllest [wieder Busch und]1 Tal
Still mit Nebelglanz,
Lösest endlich auch einmal
Meine Seele ganz.

Breitest über mein Gefild
Lindernd deinen Blick,
Wie [des Freundes]2 Auge mild
Über mein Geschick.

[ Jeden Nachklang fühlt mein Herz
Froh und trüber Zeit,
Wandle zwischen Freud und Schmerz
In der Einsamkeit.

Fließe, fließe, lieber Fluß!
Nimmer werd ich froh;
So verrauschte Scherz und Kuß,
Und die Treue so.

Ich besaß es doch einmal,
Was so köstlich ist!
Daß man doch zu seiner Qual
Nimmer es vergißt.

Rausche, Fluß, das Tal entlang,
Ohne Rast und Ruh,
Rausche, flüstre meinem Sang
Melodien zu,]3

[Wenn du in der Winternacht
Wütend überschwillst,
Oder um die Frühlingspracht
Junger Knospen quillst.

Selig, wer sich vor der Welt
Ohne Haß verschließt,
Einen [Freund]5 am Busen hält
Und mit dem genießt,

[Was, von Menschen nicht gewußt
Oder nicht bedacht,]6
Durch das Labyrinth der Brust
Wandelt in der Nacht.
.
[Tradução para Inglês]

You fill bush and valley again
quietly with a splendid mist
and finally set loose
entirely my soul.

You spread over my domain
gently your gaze,
as mildly as a friend's eye
over my fate.

Every echo my heart feels,
of happy and troubled times;
I alternate between joy and pain
in my solitude.

Flow, flow on, dear river!
Never shall I be cheerful,
so faded away have jokes and kisses become -
and faithfulness as well.

I possessed once
something so precious,
that, to my torment,
it can never be forgotten now.

Murmur, river, beside the valley,
without rest and calm;
murmur on, whispering for my song
your melodies,

whenever you, on winter nights,
ragingly flood over,
or, in the splendor of spring,
help swell young buds.]4

Blissful is he who, away from the world,
locks himself without hate,
holding to his heart one friend
and enjoying with him

that which is unknown to most men
or never contemplated,
and which, through the labyrinth of the heart,
wanders in the night



Boa audição!

 
 
Erlkönig,
Goethe/Schubert


Não quis deixar de vos propor o estupendo momento musical que acabei de partilhar com um amigo, ao telefone. É verdade, ao telefone, muito artesanalmente... Falávamos acerca de famosos Lieder e, como não podia dei...xar de ser, logo nos ocorreu o "Erlkönig".

A interpretação deste célebre Lied, por Dietrich Fischer-Dieskau, tornou-se absolutamente paradigmática. Acontece ainda que vão ver e ouvir um registo com a feliz particularidade de apresentar legendas em Alemão e também em Inglês que facilitará o acesso ao poema a quem não dominar o idioma do texto original.

Boa audição!


http://youtu.be/i9t5VCPD8UQ
 
 

terça-feira, 19 de junho de 2012

 
Sintra,
Sokolov no Festival (III)

Ainda da gravação do Tonhalle, os "Três Intermezzi op. 117" de Brahms. Não há adjectivos que sirvam tanta capacidade ao serviço destes momentos de Brahms. Também no recital da Gulbenkian ficaram absolut...
amente memoráveis.

Apenas um aparte para pôr em comum o que, certamente, também já confirmaram. De facto, estes recitais obedecem a um esquema rígido, com poucas variantes, na maioria das vezes, obedecendo a interesses das empresas discográficas que aproveitam as oportunidades das apresentações em público dos «seus» artistas para as mais diversas promoções.

Boa audição!


http://youtu.be/ZhwQ1tLUCuQ
 
 
 
 
 
Sintra,
Sokolov no Festival (II)



Continuando a antecipação do recital de Sokolov, no primeiro dia da 47ª edição do Festival de Sintra, em 22 do corrente, pelas 22,00 horas, eis "Variações e Fuga sobre um tema de Händel, op. 24", em gravaçã...o obtida no Tonhallle de Zurich em 30 de Março passado, peça que o pianista também interpretou, irrepreeensivelmente, no seu recital de 13 de Novembro de 2011 no Grande Auditório da Gulbenkian.

Boa audição!


http://youtu.be/FfMq03MbkUk
 
 
Sintra,
Sokolov no Festival

A edição 47 do Festival de Sintra de 2012, depois da Abertura, na tarde do próximo dia 22, com uma conferência de Ruy Vieira Nery subordinada ao tema “A Viena imperial e a matriz cosmopolita do Romantismo musical europ...eu”, logo contará com um recital de Grigory Sokolov, pelas 22,00 hioras.

O conhecido pianista russo trará, também a Sintra, o mesmo programa que, nos últimos meses, vem apresentando nos grandes auditórios do continente europeu. Assim, de Jean Philippe Rameau, a “Suite em Ré Maior”, seguindo-se, de Wolfgang Amadeus Mozart, a “Sonata para Piano em Lá menor KV 310”, e, finalmente, de Johannes Brahms, “Variações sobre um tema de Händel, op.24” e “Três Intermezzi op. 117”.

Em antecipação, posso propor-vos, pelo mesmo intérprete, a sua leitura da primeira das obras referidas que tocou, num registo do passado dia 7 de Março deste ano na Herkulessaal de Munique.

Boa audição!

http://youtu.be/lJsDvXd2V0E


Salzburg, 17 de Junho, 2012
‘Tantum ergo’



Ontem, na igreja dos Franciscanos de Salzburg, logo pelas nove da manhã, como acontece em cada um dos cinquenta e dois domingos do ano, fez-se grande música. Além da “Nelson-Messe” de Franz Joseph
Haydn, também se tocou e cantou com o “Tantum ergo” KV 197 de W.A. Mozart.

Hoje, segunda-feira seguinte, gostaria de partilhar convosco a última das peças mencionadas já que se trata de obra de grande elevação espiritual, composta aos dezassete anos, por um jovem cuja maturidade pessoal e artística eram, de facto, verdadeiramente fora do comum.

Aproveito a oportunidade para esclarecer que ‘Tantum ergo’ são as duas palavras iniciais das derradeiras estrofes do ‘Pange Lingua’, hino latino medieval escrito por São Tomás de Aquino que, com a maior solenidade, se canta durante a benção do Santíssimo Sacramento.

Para comodidade do vosso acesso, a exemplo do que habitualmente acontece, seguem os textos do original em Latim e tradução para Português. A interpretação, sob a direcção de Ulrich Riehl, é da Orchester Berlin Classic Players e do Chor Berlin Classic Singers.

Boa audição!

Tantum ergo Sacramentum
Veneremur cernui:
Et antiquum documentum
Novo cedat ritui:
Praestet fides supplementum
Sensuum defectui.

Genitori, Genitoque
Laus et jubilatio,
Salus, honor, virtus quoque
Sit et benedictio:
Procedenti ab utroque
Compar sit laudatio.
Amen.


 [Tradução para Português]

 Tão sublime sacramento
Adoremos neste altar
Pois o Antigo Testamento
Deu ao Novo seu lugar.
Venha a fé, por suplemento,
Os sentidos completar.

Ao Eterno Pai cantemos
E a Jesus, o Salvador.
Ao Espírito exaltemos
na Trindade eterno amor.
Ao Deus Uno e Trino demos
Alegria do louvor.
Amen.


http://youtu.be/aOouNV7IfD8
 
Parsifal em Sintra

 
[artigo publicado na edição de 15 de Junho de 2012 do 'Jornal de Sintra]

                                                “(…) a paisagem de Sintra, na sua representação literária, absorve os traços característicos de duas categorias estéticas que o Romantismo tornou sobremaneira produtivas...
e típicas – o pitoresco e o sublime. 

                                                  (…) Quanto ao sublime, conceito estético contemporâneo do pitoresco mas, ao contrário deste, transferido da teoria literária para a história da arte, trata-se de uma designação onde estão combinadas as noções de extraordinário, atemorizante e intensamente emotivo que se aplicam para descrever certas paisagens onde predomina o belo terrível. Nas páginas dos autores oitocentistas e, de forma epigonal, nos textos dos nossos contemporâneos, encontramos nas linhas ou entrelinhas, referências dispersas ou enumerações sistemáticas dos elementos e atitudes com a experiência do sublime que as serranias de Sintra e as escarpas a pique sobre o mar oferecem ao viajante. (…)”

João ALMEIDA FLOR, A Paisagem de Sintra-Natura, Cultura e Literatura*

Recorro a esta citação – cujo autor foi meu professor há quarenta e muitos anos na Faculdade de Letras de Lisboa – como porta de acesso ao episódio da visita a Sintra do compositor germânico Richard Strauss (1864-1949), durante a qual proferiu uma sentença cuja substância nos é muito cara. Na Pena, viajado como era, comparou o que via ao que já conhecera da Itália, Sicília, Grécia ou Egipto, concluindo que nada se lhe revelara tão belo. Disse mais, que o parque era o verdadeiro jardim de Klingsor, território de tal modo místico que, lá no alto, nada mais nada menos podia estar do que o próprio castelo do Santo Graal.

Parece-me evidente a conjugação destas duas distintas situações como peças inevitáveis e indissociáveis. No entanto, pisando terreno tão proverbialmente afecto à estética romântica, conotado com uma imensa e ecléctica paleta de enquadramentos, que se desdobram, por exemplo, entre arquitectura e paisagismo ou da literatura à música, torna-se evidente a necessidade de perceber o que passava pela cabeça do grande músico bávaro, quando disse o que disse sem que, com tais palavras, apenas pretendesse ser agradável aos anfitriões.

Com o libretto de Parsifal

A propósito, contudo, tenho constatado que certas pessoas, mesmo no desempenho de funções relacionadas com o mundo da Cultura em Sintra, até são capazes de lembrar o episódio da passagem de Richard Strauss por esta terra mas, não raro, desconhecem totalmente a que Klingsor se referia o homem, embora se possa admitir que talvez já tenham ouvido falar do Graal… Por isso, este texto de hoje, que muito longe me poderia levar na despretensiosa tentativa de contribuir para o esclarecimento que se impõe.

Primeira e muito sumariamente, cumpre confirmar que Strauss não faz qualquer comparação mas, isso sim, enuncia uma dupla metáfora: assim, enquanto o parque da Pena «é» o jardim de Klingsor, o Palácio da Pena «é» o Castelo do Graal, num recurso de estilo que se limita a invocar os enquadramentos cénicos principais da ópera “Parsifal” de Richard Wagner.

Pois bem, para correcto entendimento, impõe-se que vos lembre o libretto deste drama místico para elaboração do qual o mestre de Bayreuth se inspirou nos temas de Chrétien de Troyes, trovador cátaro do Sul da França do fim do século XII, (?1135–?1191) autor de romances da cavalaria, entre os quais Perceval ou o Conto do Graal.

Inicialmente, não podemos deixar de ter em consideração que a acção se relaciona com os primeiros tempos da cristandade. Na noite em que Jesus Cristo Jesus celebrou a última ceia com os discípulos, bebeu o vinho por um cálice que, mais tarde, José de Arimateia utilizou para colher o sangue que lhe saía do ferimento provocado durante o martírio da paixão, guardando também a lança ensanguentada que fora usada para o ferir. Tais relíquias ficariam à guarda de anjos até à noite em que um enviado de Deus ordenou a Titurel, pai de Amfortas, que construísse um castelo para as acolher. Assim se explica a origem do Castelo de Monte Salvat onde os santos objectos ficaram sob a protecção de Titurel e de um grupo de cavaleiros nobres e castos.

Porém, num vale distante, vivia um mago que, não sendo casto, pretendera tornar-se Cavaleiro do Graal. Percebendo os seus baixos desígnios, o rei Titurel não o admitiu. Klingsor construiu então um castelo rodeado por um jardim mágico, povoando-o com meninas de beleza excepcional, meio donzelas meio flores, cuja missão era a de fazer perder os cavaleiros do Graal no seu caminho de ingresso ou regresso do Monte Salvat, tentando que quebrassem os votos de castidade e, efectivamente, conseguindo que muitos se tornassem prisioneiros de Klingsor.

Em determinada altura, Amfortas, que saira do castelo com a lança, é ferido às mãos do próprio mago. A partir desse momento, fica vítima de um tormento atroz pois todas as vezes que dirige o olhar para o Graal sente a ferida arder. Só um inocente casto, um puro tolo, isto é, Parsifal poderia recuperar a lança e redimir de tamanha expiação. Numa prova de evidente Iniciação, Parsifal atravessa o jardim mágico de Klingsor, resiste às tentações das donzelas sendo seduzido por Kundry, que tanto assume a condição de fiel serva do Graal como de escrava do mago. Ao beijá-la, sente os estigmas das feridas que afligiam Amfortas e, quando Klingsor tenta atingi-lo com a lança, esta dá-lhe a volta ao corpo e todo o castelo mágico é destruído. Mais tarde, os cavaleiros reconhecem nele o inocente casto que acaba por curar as feridas de Amfortas e celebrar, ele próprio, o mistério de Sexta-feira Santa.

Um subtil voto

Sujeito à ditadura do espaço definido por estas colunas do JS, muito deixei de dizer do argumento da ópera. Mas, tendo de voltar às palavras de Richard Strauss, apenas pergunto se estando ele tão convencido do que deu a entender - ou seja, que Parsifal teria andado pela Pena... - quem somos nós para não acreditar que, em 2013, quando se comemora os duzentos anos do nascimento de Richard Wagner, não teremos uma boa surpresa no nosso encantado jardim de Klingsor?...
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*in Sintra Património da Humanidade, Coordenação de José CARDIM RIBEIRO, Câmara Municipal de Sintra, 1998

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E agora, inevitavelmente, a cena da tentação de Parsifal pelas Blumenmädchen no II Acto da ópera.

Boa audição!
 

Alma ibérica!

Isto, meus amigos, na «minha» Andalucia, fia mais fino... Ah como vibra a minha alma ibérica ao ver e sentir o que a dignidade não pode esconder. Caramba! Que força! Que exemplo!
 
 


Mozart,
uma sátira musical
 
Datada de Viena, aos 14 de Junho de 1787, ‘Ein musikalischer Spass’, ou seja, uma brincadeira musical, eis como Mozart apelidou este seu “Sexteto em Fá, KV 522” para quarteto de cordas e duas trompas.

Trata-se
de uma sátira que tem como alvo tanto as composições desajeitadas como as interpretações desastradas, bem patente, entre outros exemplos, no final da peça, naquela «tosca» fuga inspirada num exercício de Thomas Attwood, um aluno de Mozart. Como verificarão, é uma obra mesmo muito bem disposta que deve ter dado grande gozo a conceber...

Boa audição!


http://youtu.be/wFPoRmsiFzc
 
Santo António e Gustav Mahler

Do ciclo "Des Knaben Wunderhorn", eis o 'Sermão de Santo António aos Peixes' na voz de Walton Groenroos. A Orquestra é a Filarmónica de Israel, sob a direcção de Leonard Bernstein. No sentido de vos facilitar o acesso, eis os textos, no original Alemão e numa tradução para Inglês, correspondentes à peça homónima do ciclo "Des Knaben Wunderhorn" de Gustav Mahler.

Antonius zur Predigt
Die Kirche findt ledig.
Er geht zu den Flüssen
und predigt den Fischen;

Sie schlagen mit den Schwänze
n,
Im Sonnenschein glänzen.

Die Karpfen mit Rogen
Sind [allhier gezogen]1,
Haben d'Mäuler aufrissen,
Sich Zuhörens beflissen;

Kein Predigt niemalen
Den Karpfen so g'fallen.

Spitzgoschete Hechte,
Die immerzu fechten,
Sind eilend herschwommen,
Zu hören den Frommen;

[ Kein Predigt niemalen
Den Hechten so g'fallen.]2

Auch jene Phantasten,
Die immerzu fasten;
Die Stockfisch ich meine,
Zur Predigt erscheinen;

Kein Predigt niemalen
Den Stockfisch so g'fallen.

Gut Aale und Hausen,
Die vornehme schmausen,
Die selbst sich bequemen,
Die Predigt vernehmen:

[Kein Predigt niemalen
den Aalen so g'fallen.]2

Auch Krebse, Schildkroten,
Sonst langsame Boten,
Steigen eilig vom Grund,
Zu hören diesen Mund:

Kein Predigt niemalen
den Krebsen so g'fallen.

Fisch große, Fisch kleine,
Vornehm und gemeine,
Erheben die Köpfe
Wie verständge Geschöpfe:

Auf Gottes Begehren
Die Predigt anhören.

Die Predigt geendet,
Ein jeder sich wendet,
Die Hechte bleiben Diebe,
Die Aale viel lieben.

Die Predigt hat g'fallen.
Sie bleiben wie alle.

Die Krebs gehn zurücke,
Die Stockfisch bleiben dicke,
Die Karpfen viel fressen,
die Predigt vergessen.

Die Predigt hat g'fallen.
Sie bleiben wie alle.

[Trad. Inglês]

St. Anthony arrives for his Sermon
and finds the church empty.
He goes to the rivers
to preach to the fishes;

They flick their tails,
which glisten in the sunshine.

The carp with roe
have all come here,
their mouths wide open,
listening attentively.

No sermon ever
pleased the carp so.

Sharp-mouthed pike
that are always fighting,
have come here, swimming hurriedly
to hear this pious one;

No sermon ever
pleased the pike so.

Also, those fantastic creatures
that are always fasting -
the stockfish, I mean -
they also appeared for the sermon;

No sermon ever
pleased the stockfish so.

Good eels and sturgens,
that banquet so elegantly -
even they took the trouble
to hear the sermon:

No sermon ever
pleased the eels so.

Crabs too, and turtles,
usually such slowpokes,
rise quickly from the bottom,
to hear this voice.

No sermon ever
pleased the crabs so.

Big fish, little fish,
noble fish, common fish,
all lift their heads
like sentient creatures:

At God's behest
they listen to the sermon.

The sermon having ended,
each turns himself around;
the pikes remain thieves,
the eels, great lovers.

The sermon has pleased them,
but they remain the same as before.

The crabs still walk backwards,
the stockfish stay rotund,
the carps still stuff themselves,
the sermon is forgotten!

The sermon has pleased them,
but they remain the same as before.
 
 
 
Haydn e Santo António

Haydn, com o seu Divertimento Nº 1 em Si bemol Maior. Trago-vos uma raríssima gravação, datada de 1956, que reúne Mason Jones (trompa), Anthony Gigliotti (clarinete), John deLancie (oboe), Sol Schoenbach (fagote), e W...
illiam Kincaid (flauta).

A peça, com quatro andamentos [1. Allegro con spirito , 2. Andante - Chorale of St. Antoni (2.03), 3. Minuetto (3:36), 4. Rondó (5:39)] é especialmente conhecida pelo Segundo que imediatamente reconhecerão.


Boa audição!


http://youtu.be/rvz1RQ_JMuE


Richard Strauss,
no seu aniversário
 


Uma preciosidade é o que hoje vos trago, na interpretação verdadeiramente histórica daquela que, de facto, é a última das canções de Richard Strauss, apenas estreada em 1985, por Kiri te Kanawa, em New York, com Martin Katz ao piano.

Esta peça já foi escrita pelo compositor depois de "As últimas quatro canções", para a cantora Maria Jeritza, soprano, a partir de um poema de Betty Wehrli-Knobel, jornalista e escritora suiça (1904-1998). Para vos facilitar o acesso à obra, segue o original em Alemão e uma tradução para Inglês.

Boa audição!

Aus Rosen, Phlox, Zinienflor,
ragen im Garten Malven empor,
duftlos und ohne des Purpurs Glut,
wie ein verweintes, blasses Gesicht
unter dem gold'nen himmlischen Licht.
Und dann verwehen leise, leise im Wind.
zärtliche Blüten Sommers Gesind.
................
Among the roses, phlox, zinnias
in the garden, mallos tower,
scentless and without a purple glow
like a tear-stained pale face
under the golden, heavenly light.
And then, solfty blowing in the wind
tender blossoms,
summer's servant
.


http://youtu.be/KpQ0lrQq2r0
 
 
Ir à Missa com Gounod

Por vezes, chego a ter vergonha da música que se ouve nas nossas igrejas como acompanhamento dos actos litúrgicos. Não consigo perceber como, dispondo de um vastíssimo repertório, da mais alta qualidade, para maior gl...
ória de Deus, a Igreja Católica se permite o escândalo de patrocinar a prática coral e instrumental das peças mais indigentes que imaginar se possa.

Para me compensar, recorro às gravações que já aqui tenho partilhado convosco. Hoje proponho este fabuloso momento do 'Sanctus' da "Missa de Santa Cecília" de Charles Gounod, peça que se inscreve num segmento de música romântica do mais alto gabarito, que julgo ser nosso dever promover com maior frequência.

Nesta gravação, Jean-Philippe Lafont, é o Tenor solista, George Prêtre dirige os Choeurs de Radio-France e a Nouvel Ochestre Philharmonique-

Boa audição!

http://youtu.be/Tgwm5ZuXWC8
 
Monteverdi,
em Veneza, no Palácio Mocenigo


“Il Combatimento di Tancredi e Clorinda” é uma cantata dramática que Claudio Monteverdi compôs a partir de libretto de Torcato Tasso, baseado nos versos 52-68 do Canto XII de “Jerusalem Libertad...
a”. Esta peça foi publicada em 1638, ou seja, quatorze anos depois de ter sido escrita para uma representação em Veneza, no palácio do seu mecenas Girolamo Mocenigo, que o compositor descreve na introdução da partitura.

Esta obra oferece-me a oportunidade de esclarecer que o referido palácio, continuando nas mãos de descendentes directos daquela família, teve como proprietária relativamente recente, nada mais nada menos do que D. Olga Maria Nicolis dei Conti di Robilant Alvares Pereira de Melo, senhora da mais alta aristocracia europeia - também parente de Frederico II da Prússia e de Catarina da Rússia, que, por casamento, se tornaria na nossa bem conhecida Marquesa de Cadaval, a quem Portugal tanto deve pelo seu desinteressado mecenato no domínio da música.

Sem entrar em quaisquer detalhes do enredo, baseando-me em indicações escritas pelo próprio Monteverdi, apenas adiantarei que enquanto o Narrador inicia o seu canto, Clorinda e Tancredi tocam ou dançam. A acção, meio bailado meio drama teatral, respeitaria escrupulosamente o ritmo imposto pelas palavras e pela música. O Narrador era suposto cantar com voz clara, firme e articular convenientemente.

No seu prefácio, admite o compositor que há três espécies principais de paixão humana: cólera [ira], a temperança [temperenza] e a humildade [humilità o supplicazione]. Escreve ele que a música representou a doçura, ‘molle’ e a temperança, mas não a excitação, ‘concitato’. Esperava ele compensar tal insuficiência através da sua invenção, o ‘tremolo’ de cordas, aplicando-o a um texto apropriado. Pela primeira vez, o novo recurso está associado ao ‘pizzicato’ que, hoje em dia, é tão vulgar como o próprio ‘tremolo’.

Só uma nota final para confirmar, sempre de acordo com o testemunho de Monteverdi que, por fim, a assistência estava perfeitamente rendida à emoção, em lágrimas, aplaudindo este novo tipo de divertimento.

A gravação que vos proponho consta de uma leitura, de excelente recorte, de Emmanuelle Haïm, na condução de Le Concert d’ Astrée, com as vozes de Patrizia Ciofi ,Topi Lehtipuu, Rolando Villazón.

Boa audição!



http://youtu.be/efNbLsLNQGw


Efeméride mozartiana

Datado de Viena, aos 8 de Junho de 1785, o Lied "Das Veilchen" KV 476 dá entrada no catálogo pessoal de Mozart. Tem poema de Goethe e, para vosso acesso mais conveniente seguem os textos do original em Alemão e uma tra...dução para Inglês.

Estupendamente, marcando um paradigma, canta Elisabeth Schwarzkopf.

Boa audição!


"Das Veilchen"

Ein Veilchen auf der Wiese stand,
gebückt in sich und unbekannt;
es war ein herzigs Veilchen.
Da kam ein' junge Schäferin
mit leichtem Schritt und munterm Sinn
daher, daher,
die Wiese her und sang.

Ach! denkt das Veilchen, wär' ich nur
die schönste Blume der Natur,
ach, nur ein kleines Weilchen,
bis mich das Liebchen abgepflückt
und an dem Busen matt gedrückt,
ach, nur, ach nur
ein Viertelstündchen lang!

Ach, aber ach! Das Mädchen kam
und nicht in acht das Veilchen nahm,
ertrat das arme Veilchen.
Es sank und starb, und freut' sich noch:
und sterb' ich denn, so sterb' ich doch
durch sie, durch sie,
zu ihren Füßen doch!

Das arme Veilchen! es war ein herzigs Veilchen.—

[Tradução]

A violet in the meadow stood,
with humble brow, demure and good,
it was the sweetes violet.
There came along a shepherdess
with youthful step and happiness,
who sang, who sang
along the way this song.

Oh! thought the violet, how I pine
for nature's beauty to be mine,
if only for a moment.
for then my love might notice me
and on her bosom fasten me,
I wish, I wish
if but a moment long.

But, cruel fate! The maiden came,
without a glance or care for him,
she trampled down the violet.
He sank and died, but happily:
and so I die then let me die
for her, for her,
beneath her darling feet.

Poor little violet! It was the sweetest violet.


http://youtu.be/89L7vd8dx-I

sexta-feira, 8 de junho de 2012





O elo mais fraco*



[Como «contínuos», já fizeram parte do «pessoal menor», foram «assistentes de acção ducativa» e, agora, são «assistentes operacionais». Para estes Trabalhadores da Educação, só a designação tem mudado…]


Sabiam que, actualmente, a direcção das escolas dos ensinos básico e secundário, pode recrutar qualquer trabalhador, por mais indiferenciado que seja, para o integrar em actividades cujo desempenho é determinante para o sucesso escolar das crianças e jovens que a comunidade entrega ao Sistema Educativo?

Em Portugal, isto é possível. E é possível, não só de facto mas também de jure, já que a legislação vigente assim o permite. Foi preciso que tal regime de recrutamento se concretizasse para desmascarar a hipocrisia das entidades ditas responsáveis. É uma vergonha. Não há outro termo, não há eufemismo que possa cobrir uma tal farsa.

Que credibilidade pode revestir esta atitude dos decisores políticos que propuseram e introduziram prática tão nociva à prossecução dos objectivos gerais e específicos do Sistema Educativo? Já repararam que, para todos os efeitos, o que o Estado acaba por dizer é que, para o desempenho das funções que lhes  estão confiadas, havendo necessidade de reforçar o número de assistentes operacionais, qualquer um serve?

E, a propósito, num rápido parêntesis, como deixar de referir o facto de os professores, desempenhando funções precisamente ao lado destes trabalhadores da Educação, jamais tenham tomado uma posição de manifesta defesa dos interesses dos seus colegas neste domínio? No local de trabalho que a Escola é, onde tudo é pedagógico e a solidariedade, como atitude cívica, devia imperar, tamanho silêncio não deixa de ser sintomático… 

Manuais escolares? Recrutamento e avaliação dos docentes? Encerramento de escolas? Obras megalómanas da Parque Escolar? Pois muito bem, sem dúvida que são  questões pertinentes. Mas alguém conhece as dificuldades que enfrentam estes trabalhadores de apoio educativo? A disciplina que é preciso assegurar, a limpeza e manutenção das instalações, o apoio logístico à acção educativa, a gestão de conflitos, a necessidade de uma atitude assertiva num contexto laboral tão sui generis e tanto, tanto mais…

 Com vencimentos degradados e degradantes, boa parte das razões que justificam a manutenção da sua situação articula-se, importa não esquecer e sublinhar, com o facto de estar atribuída, precisamente aos assistentes operacionais, a competência da limpeza das salas de aula, uma actividade cuja conotação social é extremamente desconsiderada.

Aliás, estamos convictos de que, neste domínio, nada se resolverá enquanto não se verificar uma mudança de paradigma da cultura da Escola, nos termos da qual –como  acontece noutros países da União Europeia que nos habituámos a considerar como modelos – a  limpeza das salas de aula não for repartida por professores, alunos e pessoal de apoio educativo. É um assunto basilar ainda que, com imensa frequência, não seja equacionado nos termos que merece e, inclusive, encarado como despiciendo. 

Comunicar, comunicar, comunicar

É necessário e urgente que a grande comunidade educativa nacional entenda que os problemas do Sistema Educativo em Portugal não se esgotam nas matérias que os media elegem, ao fim e ao cabo, de acordo com os interesses dos  , com todo o sentido de oportunidade, se movimentam tão adequadamente quanto julgam saber promover a divulgação dos seus objectivos.

Neste torvelinho de contradições do Sistema Educativo há um elo mais fraco, ou seja, o dos assistentes operacionais. E, afinal, fora das salas de aula, são eles quem mais acompanham as crianças e jovens, são eles os confidentes privilegiados dos filhos e educandos dos contribuintes que entregam à Escola o seu bem mais precioso, na presunção deque, efectivamente, estes Trabalhadores da Educação são tão qualificados quanto têm direito a presumir. Ora bem, nos termos em que a actual recrutamento se está a processar isto deixou de ser pertinente, é mentira.

 A verdade é que os assistentes operacionais estão e continuam sempre em perda e, simultaneamente, objecto de um inqualificável desrespeito por parte da Administração. Para que se saiba e conheça a justa dimensão da importância destes trabalhadores para o sucesso do Sistema Educativo, é absolutamente determinante que os media se interessem. É incompreensível e insuportável que, há tanto tempo, assuntos tão importantes permaneçam numa sombra que a ninguém convém.


*publicado na edição do dia 08.06.12 do 'Jornal de Sintra'






quinta-feira, 7 de junho de 2012


Haydn,
Sonata mistério



Mais uma vez, no ciclo de piano da nova temporada Gulbenkian, poderemos contar, em 18 de Outubro, com mais um recital de Evgeny Kissin que, entre outras peças, virá interpretara Sonata Nº 59 em Mi Maior, Hob. 49 u...ma das mais interessantes compostas por Joseph Haydn que bem merece o destaque de hoje.

A peça, composta entre 1789-1790, foi dedicada a Mariana von Genzinger, cantora muito dotada, mulher de um médico da corte do Príncipe Esterházy e, a atestar pela frequência e teor da correspondência trocada entre ambos, uma boa amiga do compositor.

A primeira constatação de que gostaria dar-vos conta é de que se trata de uma grande sonata, de escrita nada complicada e de recorte nitidamente mozartiano. O primeiro andamento, ‘Allegro’, que obedece ao modelo da forma sonata, é longo, muito desenvolvido, extremamente sugestivo, cheio de insinuações, de discursos que ficam em suspenso.

O ‘Adagio’ seguinte é, certamente, um dos mais belos que Haydn compôs. Curioso lembrar que, numa das suas cartas, o compositor confessou a Mariana ter este andamento teria um «misterioso significado» que explicaria à sua amiga quando tivesse ocasião. O ‘Finale: tempo di minueto’ é um natural corolário que remata a tríade ao pretender resolver o que, anteriormente, terá ficado menos evidente.

De algum modo, de facto, esta é uma obra carregada de mistério, mesmo algo patética, uma das raras composições em que Haydn se atreve à expressão dos seus próprios sentimentos. Objecto de frequentes menções na sua correspondência, sabe-se que Mariana pretendia que o amigo modificasse uma pasagem do referido ‘Adagio’ em que as mãos se cruzam, pedido que não surtiu o efeito desejado…

Tenho a certeza de que Kissin, a atravessar um excelente período de grande maturidade interpretativa, conseguirá transmitir-nos os matizes tão insinuantes desta peça. Para já, deixo-vos com esta leitura, perfeitamente paradigmática, do grande Alfred Brendel.

Muita atenção ao seu fraseado magistral, à sua capacidade de servir uma ‘história’ que o compositor verteu em páginas de um diálogo que está bem patente. Ouçam as vozes dessa conversa e, por favor, não compliquem o que é tão simples…

Boa audição!


http://youtu.be/H-nC7AeiksQ

sexta-feira, 1 de junho de 2012



Obviamente, grego*



Neste sudoeste atlântico à esquina do Mediterrâneo, sou directo herdeiro de um legado que, há milhares de anos, está colado à grega radicalidade de conceitos que se verteram em palavras inculcadas na nossa matriz comum de homens, de cidadãos nacionais e europeus. Senhor deste património, vivo dias de perplexidade, perante a desfaçatez com que são postos em causa os elos perenes que nos prendem à Grécia. E, desolado, passeio-me entre os estilhaços da nossa vinculação ao ideal da Europa unida.

Por enquanto, o que prevalece é a palavra de desqualificada dos governantes afirmando que «nós» não somos gregos. Vítima deste tremendo disparate, reconhecendo   quem nos  pretende roubar a evidente  pertença helénica, percebo-lhes  a manobra do  tirar a água do capote na tentativa de salvar a pele de um contágio de aparente praga alheia que, afinal, é bem nossa, qual endemia  que alastra e afecta tantos milhões de europeus.

Tão grego como português e espanhol  ou também francês, inglês e alemão, na profunda e sincera partilha do estupendo programa proposto  por  Maurice Schumann, Konrad Adenauer, Paul Henry Spaak, os grandes  construtores da nova Europa – que, desde muito miúdo, me habituei a admirar pela mão dos meus pais e avós – eis o meu privilégio de europeu, a braços com uma inquietação impossível de calar.

 Grego, sim, grego. Provavelmente, nunca como hoje, tenho mais que suficientes razões para me confessar, confirmar e sentir tão helénico como qualquer cidadão de Atenas ou de Tessalónica. Estou e ando por lá, plasmado naquela raiva que alastra pelas ruas para desaguar em frente ao Parlamento. Eu também atiro pedras, recuso esta fornada de humilhações impostas por quem pretende sufocar tanta indignação com as receitas da incultura e da ignorância mais gritante.

 De qualquer modo, jamais trocarei a inteireza da revolta do ‘politikós’, meu irmão helénico, que sofre o que não deve, pela ordinária moleza de uma conversa de medíocres ministros de finanças, em que a lusa e gasparina submissão se apouca perante a sobranceria tolerante de um Wolfgang Schäuble, a caminho do inevitável e já visível descalabro, sem conseguir, porém,  dobrar nem descaracterizar a dignidade de um povo.

Ao discurso da indignidade, à verborreia da ignorância, à falta de lucidez, como contrapor a honrada luta pelo ideal europeu e o caminho  em direcção à União, à Democracia, sob os auspícios da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade, a magnífica tríade cultural que nos define e que tanto deve à herança helénica? Este o desafio maior ao qual cumpre responder nos atribulados tempos que nos coube partilhar.

* texto publicado na edição de hoje do Jornal de Sintra