[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 30 de setembro de 2009


No Beco das Laranjeiras

Não queira saber como tudo me correu mal. Tive as férias completamente estragadas. A minha Carminho tinha-me gravado uma data de episódios da telenovela, que aqui não consigo dar vencimento, pra ir vendo, que sempre tenho um bocadinho mais de tempo quando vou pró Algarve. Pois não me deixaram sossegada.

Veja bem. Uma manhã bem cedo toca-me o telemóvel. Era a D. Zefa. Que a D. Necas, ali do 7 da Travessa, andava a dizer no Beco que me tinha ouvido a falar com a D. Ivone, acerca da filha do Senhor Barros, que tinha ido pró hotel da Parede com o filho da Berta, aquele que anda na faculdade, a marcar passo há uma data de anos.

Ó D. Nelinha, eu não digo que não tive a tal conversa com a D. Ivone. Até lhe digo mais. Se calhar tive. Mas o que se passa na casa de cada um é sagrado. E, se a D. Necas ouviu, é porque escutou à janela da minha casa que dá mesmo prá rua. Tá a ver? Não pode uma pessoa estar descansada em sua casa que se ouve tudo.

Com aquele telefonema, a D. Zefa estragou-me as férias. Palavra de honra. Olhe, nem tive mais gosto para ver as telenovelas, nem nada. Já disse ao meu marido que, quando formos de férias, desliga-se o telemóvel e falamos prá família a horas combinadas. E, com respeito à janela que dá prá rua, já mandei pôr vidro duplo. Olhe, D. Nelinha, não é barato, mas fico descansada.


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Sintra – Eleições Autárquicas

MANIFESTO DE APOIO A ANA GOMES

Através da nossa frequente intervenção cívica, quer em sessões de Assembleia Municipal e de Reunião Pública de Câmara, quer em artigos publicados em jornais e revistas regionais, blogues, etc., estaremos entre os sintrenses que mais frequentemente se manifestam pela defesa dos interesses da causa pública.

Neste contexto, quando se justificou, não regateámos apoio ao actual Presidente da Câmara, sempre no sentido de que o concelho desse passos rápidos para o desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida dos seus habitantes.

Confiámos que, tanto o Património Histórico como as outras componentes Culturais e o Turismo sintrenses beneficiariam do anunciado desenvolvimento sustentado, aproximando-os das sociedades mais evoluídas, em condições ideais à recuperação do tempo perdido.

Ao longo de oito anos, sendo os últimos quatro com maioria absoluta, esperámos pela concretização de novos projectos em que Sintra pudesse ser mais do que metáfora utilizada em estéreis discursos políticos, antes um território de bem-estar colectivo, com manifesta evolução qualitativa.

Ainda que não se deixe de valorizar a desistência de construção do parque de estacionamento subterrâneo na Volta do Duche, ou a não concretização do famigerado Parque Temático Sintralândia, bem como a rejeição de um desadequado projecto para o Vale da Raposa, não podemos salientar outros actos particularmente relevantes.

Infelizmente, também não assistimos à concretização de estruturas determinantes da qualidade de vida, tais como parques periféricos de estacionamento, recuperação do Centro Histórico, matrizes incentivadoras do comércio de proximidade, uma nova rede de transportes públicos estratégicos, higiene urbana e turismo qualificado.

Esgotaram-se as nossas ambições de índole colectiva. Não obtivemos resultados compatíveis com a vontade expressa pelos munícipes, ao passo que elevados recursos financeiros foram canalizados para entidades cujos projectos não respondem às necessidades em presença.

Nestes termos, após detida análise, decidimos apoiar a candidatura da sintrense Ana Gomes, prestigiada figura da vida política nacional e internacional, porque se nos afigura como reunindo os meios e as condições bastantes para liderar o processo que conduzirá Sintra à fase de evolução positiva que merece

Na nossa qualidade de cidadãos independentes, gostaríamos de salientar que este inequívoco apoio à candidatura de Ana Gomes, nas eleições autárquicas, não deve ser entendido como extensível a qualquer das candidaturas envolvidas nas Eleições Legislativas.


Em Sintra, aos 23 de Setembro de 2009-09


João Cachado
Fernando Castelo

segunda-feira, 28 de setembro de 2009


A não esquecer

A manipulação do texto de Fernando Castelo pela directora do Jornal de Sintra* é um facto demasiado importante para que, passada que é uma semana, apesar do destaque neste mesmo blogue, se considere assunto encerrado. Muito menos, aliás, seria de aceitar que a voragem dos dias que passam possa contribuir para o branqueamento da questão, agora preocupados que estamos com as eleições locais e, portanto, na luta pela mudança em Sintra.

Gostaria não esquecessem os leitores que, por tal coisa se ter passado, em solidariedade com alguém que, pelo menos tanto como eu, através da sua intervenção cívica, se tem batido pelo bem estar e progresso de Sintra, decidi deixar de enviar os meus textos para o Jornal de Sintra enquanto a sua direcção não passar para as mãos de alguém insusceptível de procedimentos que tais.

Reparem que não se tratava de um qualquer escrito de somenos. Para que tudo devidamente se esclareça, importa recordar que, há quase um ano, no próprio JS, na fortíssima denúncia inicial da construção da residência de Pais do Amaral na Quinta do Vale dos Anjos,** não senti a mínima pressão por parte da directora para que atenuasse o verbo.

Já naquela altura se tratava de chamar a atenção para as ofensas em curso num local particularmente característico e sensível em termos do património natural e edificado. Já na altura acusei o hoteleiro concessionário, o grupo Espírito Santo, de ter destruído o tanque da Quinta de Seteais com a conivência da Igespar e da Câmara de Sintra. Também dava a entender que uma série de entidades, desde o Parque Natural de Sintra-Cascais, ao Igespar e à mesma Câmara de Sintra estariam a montante do despacho favorável à construção da residência, a uma cota mais alta do que o Palácio.

Então, porquê e agora a actuação da directora do Jornal de Sintra? Outra coisa não se pode pensar que não fosse o facto de, a propósito do mesmo assunto, Fernando Castelo se ter permitido incomodar o Prof. Fernando Seara, ironizando com o factor dedicação, motivo condutor da sua campanha eleitoral, à conquista da reeleição na presidência da Câmara Municipal de Sintra.

O escrito de Fernando Castelo insere-se, isso sim, num contexto de pré campanha eleitoral e foi precisamente nesse quadro, tão especialmente sensível, que a directora do jornal se permitiu manipular título e último parágrafo no sentido de o descaracterizar como já fazendo parte da tal pré campanha, reduzindo-o à inócua expressão de um artigozito de opinião, nos termos em que qualquer leitor se pode manifestar, contra qualquer coisa que aconteça por aí, suscitando mais ou menos reparos.

Ora bem, caros amigos, é contra isto que me insurjo. É inadmissível que num jornal onde nada do género aconteceu durante 75 anos, actualmente se assista a tão grosseira manobra de manipulação. E, muito sinceramente, porque se trata de um sério caso, gostaria de sentir como este incómodo que por aqui perpassa também vos atinge tal como a mim próprio e, naturalmente, ao Fernando Castelo.

Estamos a entrar na campanha eleitoral para as autárquicas em Sintra. Estamos a jogar aquilo que podemos porque pretendemos a mudança, todos o afirmamos. A mudança, insisto. Então, se assim é, nem sequer vamos dizer ao Jornal de Sintra como a atitude da sua directora constitui um sintoma muito perturbador dos tempos que passam? Porque é um sinal de retrocesso a um tempo durante o qual alguns de nós lutámos para que tais práticas jamais voltassem?

Se querem que vos diga, se a campanha eleitoral também não passar pela afirmação da Liberdade – contra este e outros sinais tão perturbadores da vida da nossa comunidade, através do uso e abuso de órgãos da comunicação social – então ficaremos aquém do momento que fomos chamados a viver, como cidadãos munícipes e fregueses de lugares que merecem o melhor de nós.

E o melhor de nós passa por não calar nem deixar andar…






PS:



Se conhecerem leitores do JS que, pelas razões do costume, não acedam a este blogue, contem-lhes das minhas razões. Digam-lhes que é por respeito por eles que os meus textos deixaram de aparecer no Jornal de Sintra.


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* texto publicado neste blogue em 21.09.09;
** textos publicados neste blogue em 2o.10.08 e 21.10.08.


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Sintra – Eleições Autárquicas

MANIFESTO DE APOIO A ANA GOMES


Através da nossa frequente intervenção cívica, quer em sessões de Assembleia Municipal e de Reunião Pública de Câmara, quer em artigos publicados em jornais e revistas regionais, blogues, etc., estaremos entre os sintrenses que mais frequentemente se manifestam pela defesa dos interesses da causa pública.

Neste contexto, quando se justificou, não regateámos apoio ao actual Presidente da Câmara, sempre no sentido de que o concelho desse passos rápidos para o desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida dos seus habitantes.

Confiámos que, tanto o Património Histórico como as outras componentes Culturais e o Turismo sintrenses beneficiariam do anunciado desenvolvimento sustentado, aproximando-os das sociedades mais evoluídas, em condições ideais à recuperação do tempo perdido.

Ao longo de oito anos, sendo os últimos quatro com maioria absoluta, esperámos pela concretização de novos projectos em que Sintra pudesse ser mais do que metáfora utilizada em estéreis discursos políticos, antes um território de bem-estar colectivo, com manifesta evolução qualitativa.

Ainda que não se deixe de valorizar a desistência de construção do parque de estacionamento subterrâneo na Volta do Duche, ou a não concretização do famigerado Parque Temático Sintralândia, bem como a rejeição de um desadequado projecto para o Vale da Raposa, não podemos salientar outros actos particularmente relevantes.

Infelizmente, também não assistimos à concretização de estruturas determinantes da qualidade de vida, tais como parques periféricos de estacionamento, recuperação do Centro Histórico, matrizes incentivadoras do comércio de proximidade, uma nova rede de transportes públicos estratégicos, higiene urbana e turismo qualificado.

Esgotaram-se as nossas ambições de índole colectiva. Não obtivemos resultados compatíveis com a vontade expressa pelos munícipes, ao passo que elevados recursos financeiros foram canalizados para entidades cujos projectos não respondem às necessidades em presença.

Nestes termos, após detida análise, decidimos apoiar a candidatura da sintrense Ana Gomes, prestigiada figura da vida política nacional e internacional, porque se nos afigura como reunindo os meios e as condições bastantes para liderar o processo que conduzirá Sintra à fase de evolução positiva que merece

Na nossa qualidade de cidadãos independentes, gostaríamos de salientar que este inequívoco apoio à candidatura de Ana Gomes, nas eleições autárquicas, não deve ser entendido como extensível a qualquer das candidaturas envolvidas nas Eleições Legislativas.


Em Sintra, aos 23 de Setembro de 2009-09


João Cachado
Fernando Castelo


quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Apelo às mulheres de Sintra

[Texto submetido sob a forma de comentário ao Manifesto de Apoio à candidatura de Ana Gomes]


Senhores,

Leio o vosso blogue várias vezes mas o meu marido é frequente e chama-me a atenção para muita coisa aqui debatida. Foi o que se passou com este manifesto.

Permitam-me que aqui APELE ÀS MULHERES DESTE CONCELHO para que meditem na candidatura da senhora embaixadora Ana Gomes e possam definir que ela é a esperança no fundo de um túnel por onde temos passado nos últimos anos.

Muitas pessoas, que não critico e que até compreendo, especialmente homens que se dedicam mais ao desporto, deixaram-se levar pela hábil campanha daquele que se auto-intitulou "o careca do Benfica" porque sabe que muita gente tem essa opção clubista. E foram na onda, como muitas vezes se diz.

As nossa crianças ou estão em casa ou andam na rua quase perdidas e as conversas têm sido sempre as mesmas com a desculpa da falta de dinheiro quando nunca em Sintra houve tanto dinheiro em receitas.

Apelo às mulheres sintrenses que meditem e procurem estudar com os seus maridos e os seus filhos aquilo que tão pouco foi feito por todos nós nestes 8 anos para que não sejamos castigados por mais 4.

Mulheres de Sintra pensem no futuro e que a senhora embaixadora Ana Gomes é uma das últimas esperanças que nos restam.

Muito grata pela atenção,

Maria Elisa Gomes da Silva




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Sintra – Eleições Autárquicas
2009
MANIFESTO
DE APOIO A ANA GOMES

Através da nossa frequente intervenção cívica, quer em sessões de Assembleia Municipal e de Reunião Pública de Câmara, quer em artigos publicados em jornais e revistas regionais, blogues, etc., estaremos entre os sintrenses que mais frequentemente se manifestam pela defesa dos interesses da causa pública.
Neste contexto, quando se justificou, não regateámos apoio ao actual Presidente da Câmara, sempre no sentido de que o concelho desse passos rápidos para o desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida dos seus habitantes.
Confiámos que, tanto o Património Histórico como as outras componentes Culturais e o Turismo sintrenses beneficiariam do anunciado desenvolvimento sustentado, aproximando-os das sociedades mais evoluídas, em condições ideais à recuperação do tempo perdido.
Ao longo de oito anos, sendo os últimos quatro com maioria absoluta, esperámos pela concretização de novos projectos em que Sintra pudesse ser mais do que metáfora utilizada em estéreis discursos políticos, antes um território de bem-estar colectivo, com manifesta evolução qualitativa.
Ainda que não se deixe de valorizar a desistência de construção do parque de estacionamento subterrâneo na Volta do Duche, ou a não concretização do famigerado Parque Temático Sintralândia, bem como a rejeição de um desadequado projecto para o Vale da Raposa, não podemos salientar outros actos particularmente relevantes.
Infelizmente, também não assistimos à concretização de estruturas determinantes da qualidade de vida, tais como parques periféricos de estacionamento, recuperação do Centro Histórico, matrizes incentivadoras do comércio de proximidade, uma nova rede de transportes públicos estratégicos, higiene urbana e turismo qualificado.
Esgotaram-se as nossas ambições de índole colectiva. Não obtivemos resultados compatíveis com a vontade expressa pelos munícipes, ao passo que elevados recursos financeiros foram canalizados para entidades cujos projectos não respondem às necessidades em presença.
Nestes termos, após detida análise, decidimos apoiar a candidatura da sintrense Ana Gomes, prestigiada figura da vida política nacional e internacional, porque se nos afigura como reunindo os meios e as condições bastantes para liderar o processo que conduzirá Sintra à fase de evolução positiva que merece.
Na nossa qualidade de cidadãos independentes, gostaríamos de salientar que este inequívoco apoio à candidatura de Ana Gomes, nas eleições autárquicas, não deve ser entendido como extensível a qualquer das candidaturas envolvidas nas Eleições Legislativas.



Em Sintra, aos 23 de Setembro de 2009
João Cachado
Fernando Castelo
Paula Rego, Cascais.
Bartolomeu, Sintra…


Continuo a vida, aparentemente normal, nesta semana seguinte à inauguração da Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais. Contudo - eis a normalidade quebrada - por mais familiarizado com a obra da pintora, tão impressivas são as imagens que a habitam, que não passam umas horas sem que, recorrentemente, me visite uma daquelas personagens.

Por favor, não deixem de programar a vossa vida sem uma deslocação à exposição temporária de obras concebidas nos últimos vinte anos. Há uma série de outros pontos de interesse e o próprio edifício do Eduardo Souto Moura que é preciso gozar convenientemente.

Quando, há umas semanas, neste mesmo blogue, fazia uma comparação entre Sintra e Cascais, nomeadamente no domínio da vida cultural – exercício que, infelizmente, deixa Sintra muito mal colocada – anunciava a inauguração deste interessantíssimo e invejável equipamento, que tem todas as vantagens em relação a Sintra e ainda o factor proximidade…

Já que, em Sintra, nada de semelhante se faz, fique-nos, pelo menos, o consolo de apenas termos de fazer uma dúzia de quilómetros para gozar este benefício. De facto, Cascais é outra coisa. Ainda por cima tem um Presidente de Câmara que, sendo do mesmo partido que o de Sintra, parece provir doutra galáxia. Isto mesmo, aliás, deu a entender a própria Paula Rego, em entrevista a Paula Moura Pinheiro, do Câmara Clara, no passado domingo.

Disse a pintora que tudo se processou com uma rapidez e uma eficiência absolutamente de aplaudir. Naturalmente, António Capucho deve estar muito orgulhoso. Regozijo-me com ele, e cada vez tenho mais orgulho e uma boa inveja de Cascais. Enquanto aqui, ao nosso lado, se honra uma grande artista desta maneira, não posso deixar de lembrar que, oportunamente, em reunião de Assembleia Municipal de Sintra, solicitei se fizesse justiça à memória do meu querido e saudoso amigo Bartolomeu Cid dos Santos* e, até hoje, nada!

Paula Rego, na pintura, sim senhores. Mas Bartolomeu, na gravura, é um portento, também a nível mundial. Reconheceram-no como tal, por toda a parte. Em Portugal, apenas honra pode ser feita à Fundação Gulbenkian. Sintra, onde tinha casa de família, ignora-o. Aliás, como ignora Mily Possoz, uma sua vizinha, na casa onde morreu em 1967, hoje em ruínas. Tantas vezes, me disse ele do seu voto no sentido de que a Câmara recuperasse aquela casa…

Hei-de voltar a este tema.

*vd. textos publicados dias 26.05.08 e 03.07.08 neste blogue

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Até ao dia 11 de Outubro permanecerá patente neste blogue o Manifesto de Apoio à Candidatura de Ana Gomes por nós anunciado em 23 de Setembro. Chamo a atenção de todos para os comentários que, entretanto, vão sendo publicados acerca deste documento.



Sintra – Eleições Autárquicas
2009
MANIFESTO
DE APOIO A ANA GOMES


Através da nossa frequente intervenção cívica, quer em sessões de Assembleia Municipal e de Reunião Pública de Câmara, quer em artigos publicados em jornais e revistas regionais, blogues, etc., estaremos entre os sintrenses que mais frequentemente se manifestam pela defesa dos interesses da causa pública.
Neste contexto, quando se justificou, não regateámos apoio ao actual Presidente da Câmara, sempre no sentido de que o concelho desse passos rápidos
para o desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida dos seus habitantes.
Confiámos que, tanto o Património Histórico como as outras componentes Culturais e o Turismo sintrenses beneficiariam do anunciado desenvolvimento sustentado, aproximando-os das sociedades mais evoluídas, em condições ideais à recuperação do tempo perdido.
Ao longo de oito anos, sendo os últimos quatro com maioria absoluta, esperámos pela concretização de novos projectos em que Sintra pudesse ser mais do que metáfora utilizada em estéreis discursos políticos, antes um território de bem-estar colectivo, com manifesta evolução qualitativa.
Ainda que não se deixe de valorizar a desistência de construção do parque de estacionamento subterrâneo na Volta do Duche, ou a não concretização do famigerado Parque Temático Sintralândia, bem como a rejeição de um desadequado projecto para o Vale da Raposa, não podemos salientar outros actos particularmente relevantes.
Infelizmente, também não assistimos à concretização de estruturas determinantes da qualidade de vida, tais como parques periféricos de estacionamento, recuperação do Centro Histórico, matrizes incentivadoras do comércio de proximidade, uma nova rede de transportes públicos estratégicos, higiene urbana e turismo qualificado.
Esgotaram-se as nossas ambições de índole colectiva. Não obtivemos resultados compatíveis com a vontade expressa pelos munícipes, ao passo que elevados recursos financeiros foram canalizados para entidades cujos projectos não respondem às necessidades em presença.
Nestes termos, após detida análise, decidimos apoiar a candidatura da sintrense Ana Gomes, prestigiada figura da vida política nacional e internacional, porque se nos afigura como reunindo os meios e as condições bastantes para liderar o processo que conduzirá Sintra à fase de evolução positiva que merece.
Na nossa qualidade de cidadãos independentes, gostaríamos de salientar que este inequívoco apoio à candidatura de Ana Gomes, nas eleições autárquicas, não deve ser entendido como extensível a qualquer das candidaturas envolvidas nas Eleições Legislativas.


Em Sintra, aos 23 de Setembro de 2009

João Cachado
Fernando Castelo


quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Sintra – Eleições Autárquicas
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MANIFESTO
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Através da nossa frequente intervenção cívica, quer em sessões de Assembleia Municipal e de Reunião Pública de Câmara, quer em artigos publicados em jornais e revistas regionais, blogues, etc., estaremos entre os sintrenses que mais frequentemente se manifestam pela defesa dos interesses da causa pública.

Neste contexto, quando se justificou, não regateámos apoio ao actual Presidente da Câmara, sempre no sentido de que o concelho desse passos rápidos para o desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida dos seus habitantes.

Confiámos que, tanto o Património Histórico como as outras componentes Culturais e o Turismo sintrenses beneficiariam do anunciado desenvolvimento sustentado, aproximando-os das sociedades mais evoluídas, em condições ideais à recuperação do tempo perdido.

Ao longo de oito anos, sendo os últimos quatro com maioria absoluta, esperámos pela concretização de novos projectos em que Sintra pudesse ser mais do que metáfora utilizada em estéreis discursos políticos, antes um território de bem-estar colectivo, com manifesta evolução qualitativa.

Ainda que não se deixe de valorizar a desistência de construção do parque de estacionamento subterrâneo na Volta do Duche, ou a não concretização do famigerado Parque Temático Sintralândia, bem como a rejeição de um desadequado projecto para o Vale da Raposa, não podemos salientar outros actos particularmente relevantes.

Infelizmente, também não assistimos à concretização de estruturas determinantes da qualidade de vida, tais como parques periféricos de estacionamento, recuperação do Centro Histórico, matrizes incentivadoras do comércio de proximidade, uma nova rede de transportes públicos estratégicos, higiene urbana e turismo qualificado.

Esgotaram-se as nossas ambições de índole colectiva. Não obtivemos resultados compatíveis com a vontade expressa pelos munícipes, ao passo que elevados recursos financeiros foram canalizados para entidades cujos projectos não respondem às necessidades em presença.

Nestes termos, após detida análise, decidimos apoiar a candidatura da sintrense Ana Gomes, prestigiada figura da vida política nacional e internacional, porque se nos afigura como reunindo os meios e as condições bastantes para liderar o processo que conduzirá Sintra à fase de evolução positiva que merece

Na nossa qualidade de cidadãos independentes, gostaríamos de salientar que este inequívoco apoio à candidatura de Ana Gomes, nas eleições autárquicas, não deve ser entendido como extensível a qualquer das candidaturas envolvidas nas Eleições Legislativas.


Em Sintra, aos 23 de Setembro de 2009
João Cachado
Fernando Castelo

segunda-feira, 21 de setembro de 2009


Truncar & manipular


Não dou qualquer novidade ao considerar o nosso amigo Fernando Castelo como o mais interventor de todos os sintrenses leitores do sintradoavesso, algo que está bem patente nas suas quase quotidianas intervenções, contribuindo para alargar o leque de pontos de vista, exercendo o direito de cidadania, expressando com toda a liberdade aquilo que a Liberdade permite dizer e escrever às claras, sem subterfúgios, sem se acoitar a pseudónimos ou heterónimos.

Tal como eu, aproveita este meio de comunicação para, sistematicamente, fazer a sua intervenção cívica em Sintra que, aliás, se concretiza alargando-se a outros blogues da regiãoe também a determinados periódicos como, por exemplo, o Cidade Viva ou o Jornal de Sintra.


Acontece que, precisamente no último número do JS da passada 6ª feira, 18 do corrente, um artigo do Fernando Castelo saiu com alterações em relação ao original, de acordo com pormenores que o próprio autor me solicitou acolhesse neste blogue – o que faço com o maior gosto – nos termos do seu mail, que acabo de receber e passo a transcrever:


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Meu caro João Cachado,

Como já fui abordado por alguns amigos que estranharam o artigo publicado em meu nome no JORNAL DE SINTRA de 18 do corrente, venho abusar do seu blogue para um ESCLARECIMENTO:

A peça de Opinião enviada para o JS foi alterada e amputada sem meu conhecimento, apesar de o meu nome aparecer como o autor.

Aos estimados leitores, que muito respeito, as minhas desculpas, embora seja alheio ao sucedido.
Para um melhor enquadramento, explicitarei as mais relevantes alterações ao texto disponibilizado:


O TÍTULO DO MEU DOCUMENTO "MISTÉRIOS DA DEDICAÇÃO" foi alterado para "A construção em Vale dos Anjos gera polémica"

3º. PARÁGRAFO: escrevi "associação que anda por aí" - Foi substituído por "de Sintra". Tinha mais um período que foi eliminado "Até hoje, que terá feito para a defesa desse património Cultural?"

4. PARÁGRAFO: escrevi "Façamos o filme" - substituído por "Façamos o resumo"


NO ÚLTIMO PARÁGRAFO ESCREVI: "Espera-se que, desta vez, Paris nos devolva a resposta para tão grande mistério, ou seja, como é possível que, de tanta dedicação, tenha resultado tamanha ofensa ao Património Cultural de Sintra..." - Foi substituído por : "Espera-se que, desta vez, Paris nos responda". Tudo o mais foi eliminado.

Fico grato pela divulgação que, estou certo, ajudará a compreender o sucedido.

Com um abraço,

Fernando Castelo
(21.09.09)


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As palavras, para além de testemunharem uma enxuta e digna mágoa, são inequívocas. O original do texto que Fernando Castelo enviou para o Jornal de Sintra, foi objecto de intervenção que o descaracterizou ao ponto de se perder o principal objectivo do autor que, embora me não tenha passado procuração para o efeito, passo a esclarecer e, portanto, também a defender.

Vejamos. Em primeiro lugar o título. Ao propor o substantivo
grafado em itálico, FC pretendia que qualquer leitor, imediatamente, conotasse o termo com o da mensagem do Prof. Fernando Seara, da Coligação Mais Sintra que, como todos estão lembrados, joga forte na campanha publicitária Dedicação Total.

Quando o JS substitui MISTÉRIOS DA DEDICAÇÂO por “A construção em Vale dos Anjos gera polémica”, procede a uma total subversão. Aniquila o aludido propósito do autor e até gera confusão. É que, se bem lembrados estão, a polémica foi gerada, isso sim, quando, há cerca de um ano, eu próprio denunciei a situação – precisamente no JS – suscitando um movimento de opinião que atingiu outros órgãos de comunicação social, entre os quais o jornal Público que, logo se interessou pelo assunto, com foto a meia página.

No entanto, esta autêntica manipulação atinge o cúmulo da desfaçatez quando, no último parágrafo, e, a confirmar como não fora inocente a mexida no título, o JS se permitiu omitir tantas quantas são vinte e cinco importantes palavras que, intencionalmente, a fechar a peça, de novo apareciam a articular com a ideia da dedicação.

Mas que problema terá o JS com esta mensagem? Está visto que é com a Dedicação. De quem? Do actual presidente, pois claro. Pois é, tanto se dedicou que deixou escapar a tão volumosa, evidente e contundente construção de Vale dos Anjos, ou seja, a residência do Engº Pais do Amaral. É isto que lá está implícito? Pois é.

Claro que a direcção do JS interpreta isto na perfeição. Mas assim sendo, que motivo a determina ao escamoteamento da cívica contundência que o autor do texto pretendia propor? Deve ser por atingir o actual Presidente da Câmara e, simultaneamente, cabeça de lista da nova candidatura. Só pode ser.

Enfim, se julgo conhecer suficientemente o Prof. Fernando Seara, tenho a certeza de que, ao tomar conhecimento do caso, preferiria que o não tivesse concretizado uma atitude que o apouca, como se ele não tivesse arcaboiço para acolher e aguentar a ironia de alguém que ele bem conhece e, tanto quanto julgo saber, muito estima. A direcção do JS, como soe dizer-se, foi mais papista do que o Papa…


E, como se não bastasse, não ficou por aqui. O que se passou com a referência à associação que anda por aí também não deixa de ser sintomático. Que anda por aí, foi substituído por de Sintra. Se bem julgo entender, aquele andar por aí, na pena do Fernando Castelo, tinha uma inequívoca conotação pejorativa. Andar por aí é equivalente a um andar um tanto ou quanto à deriva, sem programa, sem objectivos bem definidos. Sintomática, igualmente, a supressão do último período do mesmo parágrafo, que põe em causa o próprio cerne da actividade da dita associação.

Como só houve uma associação que pode subscrever a atitude que Fernando Castelo refere, se o autor não a nomeia e admitindo que viesse a sentir-se atingida, apenas era suposto que reagiria à sua pronta conveniência. Tão simples como isto. O Fernando Castelo, que não é um desconhecido qualquer – e, mais uma vez repito, se bem julgo conhecê-lo – saberia defender o seu escrito em qualquer instância e circunstância.

Então, que alcance tem a atitude do JS? Receio de atingir, de algum modo, menos explícito, ou mais implícito, uma associação de Sintra? Mas o autor não tem direito a partilhar com os leitores do JS uma opinião responsável e subscrita?


Finalmente, para que não reste qualquer dúvida, parece-me importante devolver a todos os leitores, o texto de Fernando Castelo na íntegra. A vermelho, estão grafadas as palavras da lavra do JS. A azul, as que o JS se permitiu suprimir.

Aí têm um sintrense episódio que não deixa de constituir um sinal dos tempos. Infelizmente, não é particularmente dignificante de quem o protagoniza.



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[Texto assinado por Fernando Castelo, publicado no dia 18 do corrente, em que, devido às alterações introduzidas pela direcção do Jornal de Sintra, o autor não se revê]


MISTÉRIOS DA DEDICAÇÃO
[Construção em Vale dos Anjos gera polémica]

Está a fazer um ano que se iniciou aquela monstruosa construção em Vale dos Anjos, a coberto do Alvará nº. 405/2008, que teve a graça dos Projectos de Arquitectura e de Especialidade serem aprovados por Despacho do mesmo dia – 28 de Janeiro de 2008.

No local, em 21 de Outubro de 2008, um Aviso indicava 872,81 metros quadrados de Área de Construção. Dois dias depois, a Área foi drasticamente reduzida para 522,70 metros. Por uma qualquer magia, a área da garagem não foi contabilizada como “área coberta”, regra que habitualmente a Câmara aplica em qualquer moradia.


Dizia uma notícia da época que uma associação que anda por aí [de Sintra] esteve no local “a investigar o estado da obra”, condicionando a sua posição à “consulta ao registo predial de Sintra”. Até hoje, que terá feito para a defesa desse património Cultural?

Façamos o filme [o resumo]: - O Parque Natural Sintra Cascais autorizou o aproveitamento de ruínas agrícolas com base no Plano que definiu como reconstrução as obras “subsequentes à demolição total”. O Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade deu parecer favorável à reconstrução. A Câmara emitiu o Alvará.


Foram dirigidas cartas à Delegação da UNESCO em Lisboa e posteriormente à Sede em Paris, alertando para o atentado em marcha, sem qualquer resposta.


Em Outubro de 2008 o Ministério Público terá pedido o processo para averiguações.
Como publicamente não surgem esclarecimentos, somos levados a admitir que estamos perante uma situação complexa a exigir medidas adequadas à preservação da Paisagem Cultural onde a construção está inserida.


A obra continua e atinge proporções preocupantes, se compararmos a foto de satélite anterior às obras com as agora tiradas. Na primeira, ao cimo, vê-se um largo espaço até à Azinhaga de Vale dos Anjos, agora desaparecida porque a construção foi até esse limite com a amplitude que as outras duas fotos ajudam a perceber.

A situação merece que os cidadãos dediquem 10 minutos da sua vida e subam 100 metros da Azinhaga, onde encontrarão a mesma ladeada pela elevada empena de um imóvel onde dantes era o muro tradicional do local.

Continua o silêncio inacreditável sobre a construção em curso numa zona tão sensível como esta, que deveria ter merecido as maiores cautelas por parte da Câmara Municipal de Sintra e de outras entidades responsáveis pela zona protegida.


Voltámos a dar conhecimento da evolução da obra à UNESCO. Espera-se que, desta vez, Paris nos devolva a resposta para tão grande mistério, ou seja, como é possível que, de tanta dedicação, tenha resultado tamanha ofensa ao Património Cultural de Sintra... [responda].


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PS:

Relacionei-me com todos os directores do Jornal de Sintra, desde o Sr. Medina, à Maria Almira – a quem, todos sabem, me ligam laços familiares – até à Idalina Grácio. Posso afirmar que, no meu palmarés, se contam centenas de artigos, de índole cultural, mais especificamente, no âmbito da crítica musical, e de intervenção cívica, em centenas de páginas inteiras do jornal, que nunca foi propriamente pacífica…


Pois a verdade é que nunca tive conhecimento de qualquer problema semelhante ao que, neste momento, foi objecto o texto de um colaborador. E eu próprio, aliás, sempre recebi provas de apreço por parte dos sucessivos directores e pessoal da redacção, até ao advento de Idalina Grácio com quem, como é público e manifesto – até nas próprias páginas do JS – tenho tido alguns problemas de relação.

O JS não é um jornaleco qualquer. Tem um passado de setenta e cinco anos que é preciso comemorar, sim senhor, e honrar cada dia que passa, concretamente, com a maior transparência e independência, princípios que, na minha opinião, estiveram ausentes ou na sombra das decisões da direcção que trago à consideração de todos.


Este caso em que um texto de Fernando Castelo foi tão mal tratado, é grave. É tão lamentável que, por solidariedade e por respeito à liberdade de expressão, me leva a deixar de colaborar no JS enquanto Idalina Grácio se mantiver nas funções de directora. Em tempo oportuno, os leitores do JS serão informados desta minha atitude.




sábado, 19 de setembro de 2009


...E zás!

O texto que se segue, subordinado a este título, é o que Fernando Castelo subscreveu, como comentário, ao que ontem publiquei, aqui no sintradoavesso, e que também apareceu na 6ª Coluna do JS. Para perfeito entendimento da peça que se segue, bom seria que tivessem lido o CV, visto a reportagem da SIC e olhado para a primeira página do referido JS de ontem.

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...E zás!


Não tivesse acabado de ler o CidadeVIVA e saber que, naquela Gala, os profissionais da informação não podiam tirar fotografias e teria ficado calado.

Não tivesse, ainda ontem, assistido a uma peça na SIC (Nós por Cá) sobre um carro caído numa ribeira há vários meses e as palavras do Senhor Presidente da Câmara, e descansaria.

Mas confesso que ainda não recuperei do medo da Brigada de Reacção Rápida ter ocupado Sintra (era a imagem passada pelo Jornal de Sintra). Que coisa tão estranha em época eleitoral.

Vivemos numa terra que era tão pacífica, que podia servir apenas para os media dizerem bem, onde a RTP poderia brilhar de vez em quando sem dar muito nas vistas, sem asfixias e zás, acontecem destas coisas.

No fundo, todos nós vivemos condicionados, dependentes de eruditos da democracia, que é entremeada com laivos alimentares. Dizes mal de mim? Toma lá umas queijadas e estás arrumado. Não fazes uma propagandazinha? Vai mas é comer uns travesseiros. Queres ter força para jogar à bola? Só comendo um bom leitão à maneira. E chegámos a isto, à política do paladar, isto é, resposta consoante o paladar. Se disseres bem só pode ser feita justiça e escolherás a comida "à la carte". Sem asfixia.

Voltando ao princípio, aquela jornada que podia ser de boa propaganda terá falhado em quê? Os jornalistas não poderem tirar fotografias terá sido por não estar lá alguma vedeta a homenagear por nada ter feito de importante na época anterior? Ou estaria alguém que não pudesse ser reproduzido em jornais de circulação extra portas?

Pois é, meu amigo, há cada história em Sintra.

Fernando Castelo
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Sabem o que me ocorre e ainda a propósito dos «protagonistas» dos escritos de ontem e de hoje deste blogue? Família tão distinta... [canta-se, com música do tango A media luz]...



sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Asfixia*


Na passada terça-feira, dia 15, no programa da manhã da SIC conduzido por Rita Ferro Rodrigues, dava a entender Judite de Sousa (JS) que, provavelmente, um dia mais tarde, há-de publicar um livro através do qual virá a saber-se aquilo que não escreveu no que acaba de dar à estampa. Porque, segundo a locutora, agora não revelou tudo porque precisa de trabalhar.

Portanto, sem margem para qualquer dúvida, poderá concluir-se que, para continuar a trabalhar na empresa onde exerce a sua profissão, JS se obriga a uma limitação do direito de expressão. Ou, melhor, que, por enquanto, se considerará inibida do exercício de um direito fundamental. Pois bem, isto que pode ser entendível das palavras de JS, é coisa grave e geradora de polémica.

Primeiramente, porque não só põe em causa o próprio Estado de Direito mas também coloca em posição muito desconfortável o patrão de JS, nem mais nem menos do que a Rádio e Televisão de Portugal. Tanto mais - e importa ressalvar - que a aludida e implícita inibição não se refere ao exercício das quotidianas funções de jornalista mas, isso sim, às da autora de outras prosas, que também é, numa actividade exterior à empresa.

Em segundo lugar, na medida em que, em idêntico enquadramento, outros profissionais continuam a actuar diferentemente. Não será preciso recuar antes do 25 de Abril, em que a liberdade de expressão era espezinhada a todo instante, para que, nos nossos dias, em pleno regime democrático, encontremos exemplos de colegas de JS que não guardam para amanhã o que podem escrever hoje…

Naturalmente, ficamos preocupados com a declaração de alguém que, na comunicação social portuguesa ocupa lugar de tanto destaque. É que, não tendo razão para duvidar do testemunho de JS, então temos de admitir que dá nítido sinal de um certo grau de asfixia democrática. Se a sua intenção era a de se integrar nessa campanha, parece que não podia ter sido mais eficaz.



*Publicado no Jornal de Sintra, 6ª Coluna, 18.09.09



quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Europa,
ao que chegaste...

Com mais de sessenta anos, tenho idade bastante para lembrar que, nos meus tempos de criança, tivesse crescido a ouvir os meus pais, avós, tios e amigos da casa conversando acerca do que acontecia em Portugal - com cuidado porque as paredes tinham ouvidos [tantas vezes ouvi esta expressão...] - e por esse mundo fora, na década de cinquenta e seguintes do século passado.

Já o escrevi neste blogue, mas não me recordo a propósito de que assunto, que me habituei a respeitar muito aquelas ilustres pessoas cujos nomes só me eram familiares porque os ouvia pelo meio das conversas, durante os almoços e jantares, em que nós, miúdos, não tínhamos mesmo nenhum voto na matéria. Naqueles tempos, nas casas que se prezavam de fazer alguma educação dos mais pequenos, ouvíamos e calávamos, sem qualquer licença para intervir. E, enfim, não consta que tivéssemos ficado particularmente traumatizados...

Nomes sonantes como os de Maurice Schumann, Paul Henry SpaaK, Konrad Adenauer, Charles De Gaulle faziam parte de uma realidade que só era distante porque correspondia a um conjunto de verdadeiros estadistas de países europeus, que aprendi a considerar como desenvolvidos, donde chegava a música, os jornais e os livros que iam entrando em casa, tão naturalmente, como tudo o mais. De resto, eram gente familiar, muito lá de casa, como diria o saudoso e querido João Bénard...

Vem tudo isto a propósito de uma notícia que encheu os telejornais de hoje. O português Durão Barroso foi reeleito, por maioria absoluta, para presidir à Comissão Europeia. Sinais dos tempos, não há dúvida e, pelo menos, desde os tempos em que a mesma Comissão deixou de contar com Jacques Dellors como seu presidente, talvez o último estadista com estatura verdadeiramente digna de ocupar um lugar que tal.

Quando a CE permite ser dirigida por um qualquer Durão Barroso, está tudo dito. Não direi que é a mediocridade abjecta no poder mas não será mais do que uma mediania muito comum, numa altura em que a Europa precisa de homens de grande rasgo, do mais alto gabarito, que suscitem a mobilização para as causas que valem a pena ser vividas por todos os cidadãos deste velho continente tão acomodado. Comparando com os referidos gigantes, o que só temos tido é direito a um pigmeu...

Não deixou de ser caricato ouvir Paulo Rangel afirmar que o cidadão comum nem imagina a importância que tem o facto de ser um português naquela posição. Tem-se visto a mais-valia... Aliás deve ser vantagem idêntica à que os italianos tiveram pelo facto de Romano Prodi ter presidido aos destinos da Comunidade Europeia durante vários anos. Estes tipos não têm mesmo noção do ridículo de tais opiniões. Muito provincianos, coitados, muito poucochinho...

segunda-feira, 14 de setembro de 2009


Debate a quatro

Não tive oportunidade de assistir ao debate que, na TVI-24, juntou os candidatos à Câmara de Sintra no passado dia 10. Infelizmente, obrigado ao visionamento de uma gravação de duvidosa qualidade via internet, terei perdido uma série de detalhes cruciais relativos às outras linguagens comunicacionais dos intervenientes que muito ultrapassam a simples emissão de mensagens verbais.

Não entrarei na análise dos conteúdos já que, nesta primeira prestação a quatro, me interessou particularmente entender os sinais mais evidentes da forma que serviu os objectivos do discurso e da atitude de cada candidato. De qualquer modo, não foi difícil concluir como, exceptuando o caso do Prof. Fernando Seara, nitidamente em grande estado de enervamento, os outros candidatos estiveram à altura do que era previsível.

Salientou-se a eficácia dos três discursos ao serviço de propósitos que, desde o início, eram legíveis. Gostaria de pôr em realce a atitude da Dra. Ana Gomes que, extremamente económica, elegeu como estratégia a ridicularização dos truques do Prof. Seara na denúncia de uma série de situações criticáveis da gestão autárquica.

Fê-lo com mestria, por diversas vezes, pondo-o em causa, obrigando-o a entrar em zonas de evidente desconforto e, já com ele em desespero de causa – agindo como a criança apanhada em fraqueza, saltando para um outro assunto que, aparentemente, lhe seria mais conveniente – não lhe dava descanso e, também aí, novamente o fragilizava e ridicularizava, entre alhos e bugalhos.

Como era de esperar, numa reunião a quatro, e sabendo que a Dra. Ana Gomes é a protagonista da candidatura que lhe vai fazer a vida negra, o Prof. Fernando Seara não regateou a saliência decorrente, mas tendo de emendar a mão, mais do que uma vez, para alargar aos restantes as réplicas ou considerações que, tão somente, eram dirigidas àquela candidata.

Às tantas, visivelmente descontrolado, o Prof. Seara já não conversava, já não dialogava mas vociferava, enquanto a Dra. Ana Gomes mantinha a atitude de um sábio distanciamento sorridente, irónico qb, que continuava a desarmar o candidato da Coligação Mais Sintra. E resultou, suscitando mesmo uma reacção de real enervamento, nada que, da parte do Prof. Seara, se pudesse confundir com a ideia de que, ali, o senhor presidente era vítima da gratuita crítica alheia, reagindo como o faz quem sente e é filho de boa gente.

Também André Beja não se deixou impressionar com uma certa atitude paternalista e, ainda menos, com a capacidade histriónica que todos conhecemos e reconhecemos como uma das mais evidentes qualidades do Prof Seara.

Quanto ao candidato da CDU, apesar de envolvido na gestão do município há vários mandatos, o Engº Baptista Alves soube demarcar-se perfeitamente do percurso do actual presidente, saindo-se muito bem do objectivo de se mostrar nada chamuscado pelo convívio

Ainda vai correr muita água debaixo da ponte. Vamos esperar que a campanha decorra sem achincalhamentos, sem baixar o nível de comunicação entre candidatos cujo nível de educação e de urbanidade é mesmo superior à média. Num país em que o analfabetismo e a iliteracia ainda apresentam níveis tão preocupantes, uma campanha eleitoral, como a que se perspectiva neste concelho tão compósito e díspar, pode constituir um período que, em vários domínios, deve primar pela elevação.




sexta-feira, 11 de setembro de 2009


O crédito do desassombro*


A Dra Ana Gomes, diplomata de carreira, embaixadora com folha de serviços absolutamente brilhante, cidadã condecorada pelo Presidente da República em reconhecimento do seu envolvimento nas causas que todos sabemos, não teve qualquer problema em classificar a presença em Tripoli do Dr. Luís Amado, por ocasião da comemoração dos quarenta anos de implantação do actual regime pelo Coronel Khadafi.
Atitude nojenta, disse ela.

Aquilo que sempre seria uma declaração de grande coragem, adquire contornos de absolutamente excepcional perante o inqualificável grau de mediocridade, não só da classe política portuguesa mas também de alguma europeia. De facto, a atitude de subserviência do MNE de Portugal perante o tirano líbio, não é caso único no velho continente. Veja-se a decisão do Governo da Escócia de conceder a liberdade ao condenado a prisão perpétua Al Megrahi, o operacional do atentado que resultou na tragédia de Lockerbie, por razões humanitárias, ou seja, em leitura corrente, como moeda de troca para negociatas com o petróleo líbio protagonizadas pelo governo de Sua Majestade…

A propósito, conviria lembrar que, ao contrário do que determinada escola de farisaísmo pretende, a condição de diplomata em nada diminui o estatuto de dignidade do cidadão e, para todos os efeitos, também não pressupõe qualquer limitação ao exercício do seu direito à indignação. Por outro lado, como é bem sabido, os diplomatas que se limitam a não levantar ondas e a proceder de acordo com o politicamente correcto nunca passaram nem passarão de medíocres mangas de alpaca.

Neste contexto, só quem não quiser é que não percebe o que, efectivamente, significa aquele violento adjectivo, dirigido ao MNE que, precisamente, é o responsável de topo pela diplomacia do país. Por outro lado, particularmente em Sintra, só quem estiver muito desatento não entenderá o valor de tanto desassombro, a crédito de quem sabe estar à altura das circunstâncias.



*Publicado no JS 11.09.09




quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Oito de Setembro

Ontem, numa fila de hora e meia de espera à porta do Centro de Saúde de Sintra, foi possível confirmar, através das suas conversas, como, tão perto da capital, tantos cidadãos ainda estão impedidos do exercício pleno dos seus direitos e deveres, em função dos acentuados índices de analfabetismo - cerca de 10% da população - e de iliteracia, numa percentagem substancialmente superior.

A propósito, não deixa de ser curioso que, ontem mesmo, oito de Setembro, se celebrava o Dia Internacional da Alfabetização. Durante muitos anos, como Técnico de Educação, estive envolvido no estudo de questões afins da Educação de Base de Adultos, matéria que continua a suscitar a minha maior atenção. Não surpreende, portanto, que aproveite todas as oportunidades para, embora empiricamente, ir aferindo o que se passa no terreno.

Não colocarei a iliteracia de lado mas, por uns momentos, lembro apenas que a taxa de analfabetismo equivale à confirmação da existência de cerca de um milhão de analfabetos em Portugal, quantidade de gente absolutamente inacreditável, no fim da primeira década do século vinte e um, num país deste continente europeu onde não existe outro caso com expressão tão negativa.

E tal como, não sei quantas vezes, tenho dito e escrito, é precisamente por ainda estar condicionado por matriz tão limitativa, que o país continua a evidenciar resultados tão negativos, em domínios que só os ignorantes ou mais distraídos não conotam com esta realidade tão preocupante.

Pois é. Se, por exemplo, quisermos perceber que razões aparentemente ocultas, estão a montante do estacionamento caótico, da taxa tão significativa de acidentes rodoviários, de toda a cultura de desleixo que desgraça o viver nacional, não deixemos de procurar a razão neste domínio.

Agravando tal quadro de referência, deverá considerar-se que o milhão de cidadãos que ainda permanece nestas condições não constitui uma ilha mas, isso sim, um arquipélago de subdesenvolvimento, espantosamente disseminado no tecido social. Reparem também que cada analfabeto tem um universo próximo de mais duas/três pessoas que, de algum modo – mesmo apesar de, eventualmente, até se terem licenciado – também foram atingidas pelo fenómeno.

Por outro lado, se muitas franjas de pobreza endémica estão afectadas pelo analfabetismo e pela iliteracia, não poderá cair-se na ratoeira da fácil conclusão de que correspondem a uma geracional e flagrante falta de meios. Quem estuda estes fenómenos sabe perfeitamente que, muitos desses cidadãos, até dispõem de recursos materiais acima da média.

Aliás, muito do nacional chico espertismo nasceu em berços de analfabetismo. Basta aceder às biografias de algumas notáveis figuras da classe política e financeira para entender como, não tendo sido bem entendidas e deixando de ser orgulhosamente assumidas pelos próprios, aquelas origens passaram a constituir fonte de provincianismo, de tacanhismo bacoco e de arrivismo.


Finalmente, gostaria de lembrar que, a meio da década de oitenta do século passado, Portugal deixou de investir, como era inequivocamente necessário, nos termos do Plano Nacional de Alfabetização e de Educação de Base de Adultos - que, datado de 1979, previa a irradicação do analfabetismo no prazo de dez anos - comprometendo todo o trabalho concretizado previamente, na sequência do Vinte e Cinco de Abril.

Sabem, houve vergonha de escancarar, à devassa europeia, as entranhas de um país atrasado, impreparado mas ávido de aceder às benesses e aos subsídios que se perfilavam no horizonte. Tão caricatos foram alguns episódios que, na Direcção-Geral da Educação de Adultos do Ministério da Educação, circulavam instruções verbais no sentido de não se conceber materiais didácticos com imagens de subdesenvolvimento, tais como fotografias ou filmes em que aparecessem mulheres vestidas de negro, burros, carroças e similares...

Como, durante quase trinta anos, não foi continuado e, muito menos, terminado todo um trabalho de Educação de Base de Adultos, houve milhões de pessoas que perderam oportunidades, milhões e milhões de contos desperdiçados porque não se concretizou a mudança de mentalidades que formataram a existência e permanência do anterior regime autoritário.

Passou-se para um regime de Liberdade, impedindo os cidadãos de adquirirem as competências que os habilitariam à vida em Democracia, com especial acuidade para a intervenção cívica. Comprometeu-se todo um programa de desenvolvimento sustentado (na mudança de mentalidades) e o resultado, enfim, está à vista.

Pelos vistos, a situação convém a alguns...


terça-feira, 8 de setembro de 2009

Que saudade!...

Afinal, a possibilidade do acesso ao Penedo da Saudade em Seteais que, tão efusivamente, saudei depois da reabertura do terreiro subsequente à realização das obras de recuperação do palácio-hotel, foi Sol de pouca dura.

Passo a explicar. Como tantas vezes faço, mais uma vez fui em demanda do belvedere para, a meio da descida, desfrutar a visão daquela paisagem que alarga e cresce, cresce para subir, esplendorosamente, desde o limite do relvado até à encosta em frente, terminando na dourada cúpula da Pena. Conheço de cor a descrição do Eça em Os Maias que, naturalmente, ali sempre me acompanha.

Entretanto, um pouco antes de começar a descer, olhando à esquerda, reparei no cadeado colocado na cancela de acesso ao Penedo. Confirmei que estava mesmo encerrado. De facto, nada surpreendido com a medida, habituado que estou aos intempestivos encerramentos de Sua Excelência o concessionário hoteleiro, ainda me dei ao trabalho de perguntar ao pessoal da recepção se havia alguma razão justificativa. Que não senhor e, tão somente, passara a ser área de acesso restrito aos hóspedes do hotel.

Perante mais esta arbitrariedade que, julgo, poderá ser facilmente remediável, muito gostaria de solicitar os bons ofícios do meu amigo Prof. António Lamas, Presidente do Conselho de Administração da Parques de Sintra Monte da Lua, empresa representante do Estado no contrato de concessão atrás aludido.


Enfim, não se trata de um desespero de causa que pressuponha bater à porta de não sei quantas entidades. De qualquer modo, está mais que demonstrado nem sequer valer a pena contar com a Câmara Municipal de Sintra uma vez que, neste e noutros assuntos que tais, deles foge como o diabo da Cruz…



segunda-feira, 7 de setembro de 2009


Sintra,
estacionamento zero

Em Sintra, Património e Turismo conjugam-se num binómio muito rico e abrangente de sugestões, susceptível de uma infinidade de abordagens, que me levam a restringir as considerações seguintes apenas à questão do estacionamento, cuja resolução tão escandalosamente tarda.

A propósito, lembraria que, em 2001, quando, juntamente com tantos sintrenses, me envolvi no movimento cívico que lutou contra a instalação de um parque de estacionamento subterrâneo na Volta do Duche, fi-lo com uma esperança enorme, convicto da possibilidade de contribuir para equacionar e concretizar as alternativas que se impunham como perfeitamente inadiáveis.

Na realidade, como era nosso objectivo, o referido parque acabou por não ir avante. E, por muito que possa custar aceitar por quem tinha e, eventualmente, ainda possa ter posição diametralmente oposta, ouso afirmar e repetir: ainda bem que assim aconteceu! Tratava-se, estarão recordados, de um projecto de Fernando Távora, um dos mais notáveis arquitectos portugueses do século vinte. Contudo, a obra que se perspectivava era extremamente polémica e controversa, na medida em que, em vez de impedir, promovia, isso sim, o acesso de viaturas particulares ao centro histórico, com a sua consequente devassa e decorrentes ofensas ao património edificado, comprometendo a qualidade de vida local, as actividades turísticas, o comércio, etc.

Entretanto, como as soluções alternativas não aconteceram, a situação geral do estacionamento em Sintra, quase no fim desta primeira década do século vinte e um, é a verdadeira calamidade que hoje todos podem avaliar. O nosso é um concelho cuja sede, constituída pelas três freguesias de Santa Maria e São Miguel, São Martinho e São Pedro, está perigosamente armadilhada, com inúmeros problemas de segurança também por resolver, e sem que a edilidade, ao longo de dois mandatos, tivesse dado quaisquer sinais de pretender acudir a um quadro tão preocupante, limitando-se a entreter os cidadãos mais intervenientes, através de manobras dilatórias, que arrastaram o problema até ao limite do suportável.

Como tantas vezes tem sido afirmado e confirmado, não é preciso inventar seja o que for. Tão somente, cumpre adaptar à nossa realidade a solução dos parques periféricos, estrategicamente posicionados, dissuasores da entrada de viaturas particulares no coração do concelho, a partir dos quais funcionarão as carreiras de diversos tipos de transporte público – autocarros e mini autocarros, eventualmente de trolleys, automóveis de aluguer, funiculares de acesso aos pontos turísticos no alto da serra, hipomóveis, etc – cujo bilhete inclua a tarifa de estacionamento.*

Naturalmente, esta solução não exclui a da requalificação de pequenas e médias bolsas de estacionamento, já existentes na urbe, e carece de uma inequívoca estratégia integrada e articulada, com a adopção de um regime civilizado de cargas e descargas, da instalação de um sistema expedito de estacionamento preferencial para residentes e comerciantes, bem como a restrita circulação aos transportes públicos e veículos prioritários em determinadas vias.

O próprio modo como, numa terra como a nossa, se acede ao bem patrimonial natural ou edificado a visitar já faz parte de uma atitude eminentemente cultural. Como é possível querer conhecer a Regaleira e deixar o carro, à trouxe-mouxe, em cima do passeio, ou ir a um concerto no Olga Cadaval, atravancando uma zona crítica do bairro da Estefânea?

É, aliás, neste contexto que se me afigura imprescindível promover medidas muito corajosas como sejam, por exemplo, a de proibir totalmente, o acesso de viaturas particulares à Pena, lugar de absoluto privilégio, cuja visita é preciso merecer, como dizia o meu saudoso amigo Manuel Rio Carvalho, ele que, reparem, sendo manifestamente coxo, não encarava a chegada à Pena, senão a pé, e depois de penosa subida…

Em determinadas áreas da serra, só deveria poder aceder-se a pé, ou em veículos hipomóveis, de médio e grande porte, como as galeras, tiradas por animais de características adequadas [penso na abegoaria do Parque da Pena como ponto de apoio logístico desta solução] que tanto sucesso têm, em zonas de relevo semelhante ao de Sintra, como os castelos da Baviera de Hohenschwangau e Neuschwanstein.

Nada disto terá qualquer viabilidade se, mesmo antes da concretização, não se fizer uso da autoridade democrática com que o governo local está mandatado pelo voto popular. Há que, muito simplesmente, cumprir e fazer cumprir a Lei de tal modo que, de imediato, os condutores não sejam induzidos à cultura do desleixo que, entre nós, perversamente, toma a designação de tolerância, fomentada pelo próprio município…



*Eis uma lista, por ordem cronológica, de artigos publicados no sintradoavesso, em que a questão do estacionamento em Sintra é tema forte:

2007: 14.09, 17.09, 24.09; 05.10, 07.10, 23.10, 24.10; 14.11, 26.11; 04.12, 07.12, 11.12; 2008: 11.01; 12.02, 29.02; 15.04; 12.08; 07.11; 04.12, 17.12; 2009: 12.02, 22.02; 02.03, 04.03; 23.04; 29.05; 09.07, 10.07, 14.07, 22.07; 14.08, 17.08, 24.08; 01.09.

Para aceder automática e imediatamente a estes textos, basta introduzir o tema [estacionamento em Sintra] no rectângulo mais à esquerda, barra superior, junto à instrução pesquisar no blogue.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009


Incoerência


Volto a Sintra, capital do Romantismo, campanha do município que teria o mínimo de plausibilidade, não fora a incoerente atitude da própria Câmara Municipal, precisamente nalguns dos sintrenses locais de mais evidente conotação romântica, ao demitir-se da defesa do património, e passando até a ofendê-lo.

Durante dois mandatos, férteis foram os casos de demissão e de omissão da edilidade. Aliás, no domínio da defesa do património, não fosse a correcta actuação da actual direcção da Parques de Sintra Monte da Lua, Sintra ainda ficaria pior no retrato. Mas deixai que, de imediato, passe à revisão da matéria já que, em véspera de eleições locais, não convém esquecer certos casos paradigmáticos, bastando não sair da zona de Seteais.

Primeiramente, o terreiro fronteiro ao palácio que, com o beneplácito do Igespar, foi intempestivamente encerrado pelo hoteleiro, invocando pretensas razões de segurança. Durante um ano, como não soube opor-se ao desacato, a Câmara foi conivente no impedimento de acesso a um espaço de manifesto pendor romântico e, há mais de duzentos anos, de usufruto público. Sem o empenho que seria de esperar, o executivo municipal prejudicou milhares de visitantes, especialmente de inúmeros estudantes e professores de todo o país.

Em segundo lugar, por obra e graça do (Ricardo) Espírito Santo – ou seja, por ordem do banqueiro e concessionário de Seteais … – com o aval do inenarrável Igespar e inequívoca cobertura da Câmara, foi destruído o edílico tanque, parte do dispositivo de lazer da quinta, prontamente transformado numa lamentável casa de máquinas.

Finalmente, o caso da Quinta do Vale dos Anjos. É do outro lado da estrada, frente ao palácio. A uma cota mais alta, está em construção a residência de mil e trezentos metros quadrados de Miguel Pais do Amaral. Claro que, entre outras entidades, também foi autorizada pela Câmara Municipal de Sintra. Provavelmente, no âmbito de Sintra, capital da incoerência, a permanente campanha do nosso desassossego…
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*Publicado na 6ª Coluna edição de 04.09.09 do Jornal de Sintra




quinta-feira, 3 de setembro de 2009



A santinha

Depois de ter lido a lista de candidatos à Assembleia Municipal da Coligação Mais Sintra, fez-se-me luz. Ou melhor, para usar uma terminologia de pendor ainda mais religioso que, inevitavelmente, não deixará de marcar este texto, tive uma verdadeira epifania. É que, do mencionado rol, faz parte aquela que ficou conhecida como a nossa senhora de sintra.

Passo a explicar. Trata-se de uma militante laranja que, colocada em cargo de chefia de certa estrutura afecta à Câmara Municipal de Sintra, aparecia tantas ou tão poucas vezes no serviço onde recebia o vencimento mensal que os funcionários não tardaram em dizer que, de vez em quando, se dignava fazer o milagre de umas aparições. Enfim, estão a ver a conotação…

Este engraçado episódio não podia deixar de me manter num registo de caricatura que, aliás, de vez em quando, convém cultivar para que tudo isto não se resuma ao vale de lágrimas em cuja construção tantos estão apostados. Foi nesse contexto que me ocorreu entender os eventuais patrocínios alternativos de que estarão beneficiando os partidos da referida coligação.

Será na esfera da comunicação à distância que procuram intercessão de uma qualquer outra santinha para se darem ao luxo de terem consigo e de poderem servir-se das miraculosas figuras de futebolistas, cantores populares e comediantes que entram nas casas dos eleitores através do sagrado ecrã, embora com o inestimável contributo do cabeça da lista candidata ao executivo camarário?

Seja como for, pois que se cuidem todas as outras candidaturas. Para além do dever de atenção aos outros milagres que estarão na calha, impõe-se ir descobrindo a careca de quem tão altos recursos utiliza no sentido de preparar a procissão de acesso ao altar do poder local.


quarta-feira, 2 de setembro de 2009



Incorrecções & omissões...

Muita coisa se tem dito e escrito em relação às deficiências de expressão dos políticos. Neste domínio, quem tenha o mínimo de sensibilidade quanto à qualidade dos discursos individuais, desde os simples anónimos aos cidadãos mais conhecidos, encontra um manancial inesgotável de matéria de análise que, aliás, pode proporcionar interessantíssimas surpresas.

Vem isto a propósito de, apenas em vinte e quatro horas, todos termos sido brindados com incorrecções verbais proferidas pelo ainda primeiro ministro e, igualmente, pela sua adversária, dirigente do maior partido da oposição.

Anteontem, José Sócrates inventou um verbo [caricaturizar]. Por seu lado, Manuela Ferreira Leite disse rebeliamos, ao pretender conjugar o verbo reflexo rebelar-se, na primeira pessoa do plural do presente do indicativo ou, já não me recordo do contexto, talvez do presente do conjuntivo, sucedendo que, em ambas as circunstâncias, a senhora sempre erraria.

Aparentemente, em relação às pobres mensagens que um e outro têm transmitido, dali não virá mal pior. Então, perguntar-se-á, se ao debitarem as vulgaridades habituais, tanto faz que sejam mais ou menos correctos. Sem grande margem para erro, julgo, apesar de tudo, que a correcção faz toda a diferença. Como qualquer falante, também esta gente está obrigada ao respeito das regras gramaticais, independentemente do conteúdo da comunicação.

Muitas podem ser as razões que estão a montante destes lapsos dos protagonistas da tão desqualificada classe de dirigentes políticos portugueses. Desde o berço em que nasceram, às pessoas que foram importantes na sua educação, aos companheiros e amigos com quem se relacionam, imensos são os factores circunstanciais que determinam a forma como cada um se expressa.

Sem pretender pôr à prova as minhas capacidades divinatórias, permitir-me-ia, no entanto, supor que algo problemática será a sua relação com a leitura, tanto a nível da quantidade como da qualidade. Esta gente lê pouco ensaio, ficção, poesia ou não lê mesmo, senão as parangonas dos jornais e as notícias mastigadas pelos assessores de imprensa. E, quanto muito, alinhavam umas citações de certos pensadores que, tantas vezes, à trouxe-mouxe, mas para causarem boa impressão, introduzem nos seus discursos. E lá se vão safando.

Por outro lado, como não sabem gerir o tempo de que dispõem em função do consumo de bens culturais, praticamente não vão ao cinema, nem teatro, nem ao ballet ou às salas de concerto, nem à ópera, nem a exposições. Em suma, a exemplo da generalidade dos cidadãos que lhe entregou o poder através do voto, a maioria da classe política, pura e simplesmente, não tem vida cultural. Claro que ninguém deve admirar-se se o investimento no sector da Cultura é tão inexpressivo. Pudera!

Claro que, subsequentemente, bem lhes podemos detectar a vacuidade, a falta de substância das propostas e, ainda por cima, incorrecções como as apontadas e outras, umas vezes mais e outras menos graves. Sabem os leitores que não exagero ou a generalizo maldosamente, embora apenas me tivesse reportado aos dois partidos do designado centrão. É mesmo assim. Infelizmente e para nossa desgraça…

A terminar, só gostaria de vos lembrar duas anedotas, relativas a dois ex-primeiros ministros que, com maior ou menor notoriedade, continuam a andar por aí, e que bem corroboram o que venho de escrever. Não me digam que já se esqueceram de um, cujo currículo insere a descoberta dos concertos para violino de Chopin e do outro, para quem o número de cantos de Os Lusíadas continuava a ser uma incógnita…


terça-feira, 1 de setembro de 2009

Capital do quê?


Por se tratar de coisa ainda muito recente, não haverá quem possa já ter esquecido que o executivo municipal lançou um programa, talvez enquadrável no âmbito da promoção turística, designado Sintra, Capital do Romantismo, no sentido de cativar forasteiros para estadas mais prolongadas. Mesmo os de mais curta memória, se lembrarão de que aquela pérola carnavalesca foi apresentada na Quinta da Regaleira, lugar ao qual ninguém negará conotações tardo-românticas.

Muito provavelmente, o que a maioria das pessoas já não recorda, é que, uns meses antes, o mesmo executivo camarário anunciou concordar com a instalação de um parque de estacionamento dentro da mesmíssima Quinta da Regaleira e que, na desajeitada tentativa de limitar os contornos do dislate, o Senhor Vereador do pelouro da Cultura tenha justificado tratar-se de um parque para cerca de trinta automóveis…

Não haja dúvida, tão preclaros e doutos edis, já asseguraram destacado lugar no anedotário sintrense das propostas desmioladas. Na realidade, dificilmente se faria pior. De uma penada, contrariam tudo quanto está adquirido, não só relativamente à necessidade de não induzir a circulação de viaturas particulares no centro histórico, mas também no propósito de defender os monumentos classificados de agressões várias como as causadas pela entrada, saída e permanência de automóveis no espaço afecto a um monumento classificado.

Por um lado, a Câmara Municipal promove uma alegre campanha, convidando os visitantes à romântica dormida em Sintra [houve logo quem aludisse à cintura periférica com vários motéis profusamente publicitados…] e, por outro, não hesita em colaborar na ofensa a um património de feição, perfil e afinidades românticas, num lugar cuja defesa a deveria posicionar em primeira linha absoluta.

Enfim, num texto em que, mais do que uma vez, aludi às capacidades de memória, não poderia deixar de rematar fazendo votos no sentido de que, dentro de umas semanas, os eleitores não se esqueçam deste e doutros episódios que radicam em marcas de incultura que, embora risíveis, pressupõem uma avaliação de inequívoco sinal.