[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013



Borboletas no estômago...


Imaginam o que será sentir borboletas no estômago? Talvez entendam depois do visionamento deste documento. Claro que conheço o projecto exemplar. Aliás, nenhum melómano deveria desconhecer este comovente testemunho. 


A propósito, também me ocorre a lengalenga dos nossos tempos de infância "(...) do meu rabo fiz navalha, da navalha fiz farinha, da farinha fiz menina e da menina fiz viola…(...)" Pois, há uma especialíssima gente que, do lixo, faz violino, faz violoncelo e, com eles, faz Arte, Arte de ir às lágrimas.





Mozart,
Sinfonia No. 14


No penúltimo dia do ano, recupero um dos textos que escrevi sobre todas as sinfonias de Mozart, referindo-me àquela que o compositor, então com quinze anos, dava por terminada aos 30 de Dezembro de 1771, a primeira que Wolfgang Mozart compôs depois da morte do Príncipe Arcebispo Sigismund Christoph [Conde] von Schrattenbach que ocorrera quinze dias antes. Tal não significa que, oficialmente, seja esta a primeira que escreve ao serviço do novo Príncipe Arcebispo Hieronymus Joseph Franz de Paula [Conde] Colloredo von Wallsee und Melz, já que a sua eleição apenas será reconhecida em 14 de Março do ano seguinte.

Impõe-se ter presente que, independentemente do modo como as coisas evoluiriam, até conhecerem o desfecho de 1781 que todos sabemos, a relação inicial entre o compositor e o seu novo patrono não podiam ter sido mais promissora. E tanto assim foi que, apenas em oito meses, portanto, até Agosto de 1772, altura em que deixa Salzburg para se dirigir novamente a Itália, à capital da Lombardia, para se concentrar na sua nova ópera Lucio Silla, Mozart compõe para Colloredo nada mais nada menos do que oito sinfonias e, tão impressionado este ficou, que anunciou ao jovem compositor novas e melhoradas condições salariais.

A obra, muito sofisticada, evidenciando um particular encanto, estrutura-se nos habituais quatro andamentos, 1. Allegro moderato, 2. Andante, 3. Menuetto/ Trio e 4. Molto allegro, para uma instrumentação que compreende 2 flautas, 2 oboés, 2 trompas, além dos habituais naipes de cordas.

A interpretação que vos proponho é a da Mozart Akademie Amsterdam sob a direcção de Jaap Ter Linden.

Boa audição!


http://youtu.be/-GlYCO5TI7o
 
 
 

sábado, 28 de dezembro de 2013




Igreja Católica Apostólica Romana,
estratégia discreta


No que respeita à Igreja Católica está para breve a revelação total do que foi a atitude do Papa Pio XII durante a Segunda Grande Guerra. Afinal, quantas batalhas de salvação de judeus não foram protagonizadas pela própria Igreja através dos seus canais diplomáticos das Nunciaturas que actuavam discreta mas eficientemente? Em breve se saberá.

Quanto ao IOR, (vd. texto abaixo transcrito) até parece que Francisco não é o Papa e, portanto, o chefe máximo da Igreja, que está a fazer tudo o que deve e pode fazer tanto a nível da denúncia como do directo ataque aos grandes e poderosos... Assim fizessem todos os decisores políticos e detentores de qualquer poder...

Antes de emitir opinião, há que ler os textos que responsabilizam Francisco e Bento XVI, apenas para referir os dois últimos Papas, nas suas denúncias do capitalismo desalmado e desregulado, por exemplo, Bento XVI, Encíclica "Caridade na Verdade" e, há dias, Francisco na exortação apostólica. Mas não são apenas textos. Palavras, sim senhor, por um lado, obras, por outro.

Só dependentes das estruturas de apoio da Igreja Portuguesa - Caritas, obras diocesanas, conferências como a de São Vicente de Paulo, Santas Casa da Misericórdia, etc, diariamente - repito, diariamente - são apoiadas quase um milhão de pessoas, 418.000 das quais, em grande parte subsidiárias da estupenda obra que é o Banco Alimentar contra a Fome (20 unidades a nível nacional).

Se não fosse a obra diária e concreta da Igreja Católica Portuguesa, o Estado Português estaria confrontado com uma ruptura abissal, ainda mais dolorosa do que aquela que se sente seja para onde for que nos voltemos. Portanto, um pouco mais de contenção e de água na fervura da emotividade que sobe, sobe, das tripas e do coração a caminho da cabeça, sem que a mão direita refreie, na garganta, o destempero que pode soltar-se...


 

"Ontem, assassinavam-se pessoas pelos métodos mais desumanos e brutais, com aconteceu em Auschwitz, sem qualquer respeito pela vida humana. Hoje, com métodos actuais, assassinam-se seres humanos com a mesma crueldade, com políticas de criatu...ras com a aparência de gente. Não há diferenças, nem de discurso, nem de processo. Estamos, de facto em guerra com essa gente que parece ter saído das tumbas dos antigos assassinos, com a mentira na língua e a acção criminosa. Não é despropositado relembrar a vergonha da história nesta quadra festiva. Que é, pelos seus agentes, a vergonha dos tempos que correm.
Quando se refere a unificação do sistema bancário, admira-me que não se fale de Judeus e de Protestantes ou da Igreja Católica, que se silenciou quando milhões de pessoas eram assassinadas. Não fosse o Papa Francisco actuar sob o Banco Ambroziano, a instituição religiosa passaria despercebida uma vez mais."
 
 


sexta-feira, 27 de dezembro de 2013


Mozart, uma famosa ária de concerto

 
- Salzburg, jubileu de 2006,
  Bartoli e Fleming e um episódio de «conforto» vocal



Em 27 de Dezembro de 1786, há precisamente, 227 anos, no mesmo dia em que considerava a hipótese de se estabelecer em Inglaterra, (re)compunh
a Mozart a Ária de Concerto Ch'io mi scordi di te? ... Non temer, amato bene para soprano com piano obbligato, KV. 505 que, inicialmente, se enquadra na ópera Idomeneo, (versão de Viena)* cantada por Idamante. Pelo próprio punho, escrevia Amadé no seu catálogo: “(…) den 27: Scena con Rondò mit klavier Solo. für Mad:selle storace und mich. begleitung. 2 violini, 2 viole, 2 clarinetti, 2 fagotti, 2 corni e Ba (…)”

Mesmo os que não sabem Alemão entendem que se trata de uma peça que o compositor escreveu para (Nina) Storace, a grande voz da actualidade por aqueles dias vienenses, “und mich” i.e., e para mim, indicando que ele próprio também a estreou. A propósito desta obra que exige irrepreensíveis dotes vocais, gostaria de vos contar o episódio absolutamente verídico, cujos meandros, como privilegiado membro do Mozarteum de Salzburg, acompanhei em 2006, ano do jubileu mozartiano, por altura do seu 250º aniversário.

Para o concerto de gala do dia 27 de Janeiro, no Grosses Festspielhaus, a Fundação do Mozarteum tinha convidado René Fleming que interpretaria esta peça acompanhada ao piano, nem mais nem menos do que por Mitzuko Ushida. Portanto, como se depreende, tudo ao mais alto nível mundial. Pois bem, praticamente sem qualquer hipótese de substituição, o agente de René Fleming informou o Mozarteum de que a diva não se sentia particularmente «confortável» para a interpretação da ária, sugerindo que fosse apresentada uma alternativa…

Garanto a veracidade deste documento. Eu li-o. Se bem entendem, nas entrelinhas, e, por outras palavras, preto no branco, o que René Fleming dava a entender era que, pelo menos, naquela altura, o seu gabarito não chegava para cantar Ch’io mi scordi di te. E, com indisfarçável sobranceria, ainda pedia que tratassem, isso sim, de lhe apresentar uma outra proposta, enfim, mais acessível…

Bem, com quem ela se meteu! Se lhe passou pela cabeça que o Mozarteum alteraria uma vírgula ao convite inicial, deve ter ficado siderada quando leu a resposta inequívoca – à qual eu também tive acesso – em que a Fundação reiterava o que havia proposto, esclarecendo mesmo o seu objectivo de apresentar uma obra de grande dificuldade em que, também naquela especialíssima gala, mais uma vez, o génio de Mozart estaria bem patente.

Resumindo e concluindo, a Fleming «borregou». E, para a substituir, servindo-se de meios que mais nenhuma casa em todo o Mundo se poderá gabar, o Mozarteum conseguiu que, em cima da hora, Cecilia Bartoli assegurasse a interpretação da obra que Mozart compusera para a Storace duzentos e vinte anos antes. Com um profissionalismo a toda a prova, a Bartoli foi excelente, mal tendo tempo para se preparar.

Tendo tido oportunidade de assistir, até posso confirmar, como então escrevi numa crítica, que a Bartoli cantou a ária evidenciando uma coloratura um tanto ou quanto mais floreada que o exigível, fugindo algo ao classicismo da peça, e propondo contornos mais barrocos, registo em que é exímia.

Pois bem, em primeiro lugar, gostaria de vos propor um registo dessa interpretação em que, além do famoso mezzo, se juntam os prodígios da Filarmónica de Viena sob a direcção de Mutti e Mitsuko Uchida. [I] E, seguidamente, uma gravação em que a mesma peça é interpretada, nem mais nem menos do que por uma estupenda René Fleming e Christoph Eschenbach, no piano obbligato e na direcção da orquestra. [II] A gravação foi obtida num concerto ao vivo em Paris, em 2002, portanto, quatro anos antes do convite do Mozarteum, altura em que Fleming estaria mais «confortável» para a abordagem da ária. Comparem e tirem as vossas conclusões.


Boa audição!



(*) A versão inicial de Idomeneo, rè di Creta foi estreada em 29 de Janeiro de 1781 no Residenz Theater (actualmente, Cuvilliées) em Munique. Data de cinco anos mais tarde, a versão que Mozart prepara para a estreia em Viena, que ocorre em 13 de Março de 1786, versão esta que compreende Non temer, amato bene a ária de Adamante com que inicia o II Acto. Interessante lembrar que o acompanhamento «obbligato» era assegurado por violino e não pelo piano, como na ária de concerto. 


http://youtu.be/oPOn4sphnL0 [I]
http://youtu.be/xVE5qHn8deE [II]
Ver mais

 

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013




Pedro Tamen,
Natal, nata do tempo



Pedro Tamen dá cabo de mim... Deste soneto vos digo que ficará na História da Poesia Portuguesa como um dos mais belos poemas de Natal de todos os tempos. Se puderem, leiam Memória Indescritível, o livr
o onde, além deste, outros desafios lindíssimos esperam a devassa.

Eis dois excertos do longo poema final: "(...) Cheguei ao fim. Andei de pé descalço/ sobre os calhaus do rio, senti/ a água fria, as vozes de outro/ lado. Ergui-me na cisterna, ouvi/ pelo tabique o toque do relógio/ e desci noutra casa, ao longe,/ a escada estreita. Mas sempre/ Em tudo isso sentei-me na cadeira. (...) Por sobre o ombro (dói!) lobrigo/ tantas confusas coisas, falo delas./ .../o peso, o contrapeso, a palavra que digo. Sufoco o medo a medo, e olho a esteira/ remudo e quedo, sentado na cadeira."

Pedro Tamen, que formidável oficina, a sua. Que estupenda escola!


 
Não digo do Natal – digo da nata
do tempo que se coalha com o frio
e nos fica branquíssima e exacta
nas mãos que não sabem de que cio

nasceu esta semente; mas que invade...

esses tempos relíquidos e pardos
e faz assim que o coração se agrade
de terrenos de pedras e de cardos

por dezembros cobertos. Só então
é que descobre dias de brancura
esta nova pupila, outra visão,

e as cores da terra são feroz loucura
moídas numa só, e feitas pão
com que a vida resiste, e anda, e dura.
 


 


Efeméride mozartiana

25 Dezembro 1777

Aos vinte e um anos, na sua segunda deslocação a caminho de Paris - naquela que, como sabem, a vários títulos, se revelaria a desastrosa viagem em que, por exemplo, faleceria a mãe já durante a estada na capital francesa - ao passar por Mannheim, Mozart compõe a peça que hoje vos proponho, o Quarteto com flauta em Ré, KV. 285.

E, meu Deus, como poderia eu propor-vos melhor interpretação? Reparem
JEAN-PIERRE RAMPAL, flauta, ISAAC STERN, violino, SALVATORE ACCARDO, viola e MSTISLAV ROSTROPOVICH, violoncelo. Para tão ilustres artistas, só maiúsculas.

Trata-se de uma gravação realizada no Studio Clé d' Ut, em Paris, há já vinte e sete anos, contudo, inultrapassável. A peça em questão é a primeira de um conjunto de quatro que ficam à vossa disposição para enriquecerem o feliz Dia de Natal que vos desejo.


Boa audição!

 
 
 



Ontem, em casa dos Mozart
[preços de lá, preços de cá]


Eis um convite para ouvir histórias da infância do compositor, «contadas pela Senhora Mozart», na casa onde a família viveu. Atenção, trata-se não da Geburtshaus, na famosíssima Getreidegasse 9, a casa onde nasceu o compositor, mas da “Tanzmeisterhaus”, na Makartplatz, para onde se mudaram, em 1773, quando Amadé ia nos seus dezassete anos.

Um sugestivo parêntesis.

[Reparem no preço do bilhete para o evento. Dava para um adulto e 1/2 crianças. A propósito, façam as vossas comparações. Quando se ouve dizer que são muito caros os bilhetes para visitar os lugares afectos à administração da Parques de Sintra Monte da Lua, lembrem-se de que 90% dos visitantes são estrangeiros com poder de compra muito superior ao dos nacionais.

Como «truques», há que saber explorar as designadas 'happy hours', com substanciais reduções, além de que os felizardos munícipes de Sintra gozam de entrada livre ao domingo. E, enfim, em 2013, como os jardins, palácios e museus geridos pela PSML vão ter cerca de um milhão e meio de visitantes, os 10% portugueses não devem ter grande razão de queixa... Como em tudo, é uma questão de opções.]

 
 
 
 
 

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013



Ortografia como gente



Ultimamente, os defensores da necessidade de concretizar um acordo ortográfico, têm abusado, com o maior despudor – diria mesmo que têm manipulado – ultrajado a memória de Fernando Pessoa, no constante afã de citar A
minha pátria é a língua portuguesa. Pois bem, se assim o escrevo é porque não acredito que tais pessoas desconheçam o parágrafo que, da mesma página de O Livro do Desassossego, passo a reproduzir:

“(…) Sim, porque a ortografia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-ma do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha.”

Eis a confissão do poeta que, deleitado, se roja rendido à grandeza, à magnificência da or-to-gra-fi-a, a concreta e visível substância da língua em que comunicamos.

Como não perceber a omissão dos «citadores oficiantes»? Convém-lhes, naturalmente. Convém-lhes que permaneça obscura, na sombra e reserva das estantes e do silêncio, a opinião de um dos maiores ícones da Arte Literária em Língua Portuguesa de todos os tempos, cuja opinião, como acabo de lembrar através da transcrição supra, sempre seria frontalmente contrária a revisões ortográficas que escondessem a herança linguística que usamos a toda a hora e momento
.

 



Citação a torto e a direito,
ou sempre a torto, nunca a direito



[Pontos nos ii a propósito de uma citação rarissimamente bem aplicada. Neste texto, também, a inevitável articulação da ira de Fernando Pessoa/Bernardo Soares com a impressão estética que lhe havia suscitado a leitura de uma página do Padre António Vieira.]


Na realidade, para quem mais não domina do que a descartável cartilha de umas citações, que, para o que der e vier, dá um jeitão ter à mão, deve ser difícil passar ao lado de Pessoa, em especial, da famosa tirada "(...) Minha Pátria é a língua portuguesa (...)".

Com aquela citação, pretende-se dar a ideia de que a língua portuguesa é uma pátria comum – a um tempo virtual mas, de qualquer modo, bem real – de duzentos e não sei quantos milhões de falantes (e muito menos escreventes, porquanto, entre os espalhados pelos vários continentes, há um incrível contingente de analfabetos…) cidadãos proprietários desse inestimável património.

E,  fortiori, se o poeta – e que poeta!... – o afirmou, quem se atreve a contestá-lo? Ora bem, ninguém está aqui para o contestar mas, tão somente, para enquadrar as suas citadas palavras, e na presunção de considerar que são redutoramente aplicadas por quem, tão amiúde, a propósito e a despropósito, as cita e continua a citar. Eis-me, portanto, vindo a terreiro, com o pedido de que me acompanhem na tentativa de esclarecimento.

Pátria estética

As seis palavras em apreço constituem um inteiro período, uma ideia que, na sua inequívoca autonomia, não deixa de se articular com todo o parágrafo em que se insere, isto é, com as ideias precedentes e com as subsequentes. O melhor é mesmo transcrever todo o parágrafo:

“(…) Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incomodassem pessoalmente. Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o único ódio que sinto, não quem escreve mal português, não quem não sabe sintaxe, não quem escreve em ortografia simplificada, mas a página mal escrita, como pessoa própria, a sintaxe errada como gente em que se bata, a ortografia sem ípsilon, como o escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse. (…)”

Ora aqui está parte do contexto em que a famosa tirada não pode deixar de ser enquadrada, reinserida e reintegrada, para se articular, como imperioso se torna, com os discursos circunstantes. Se bem compreendem, a pátria de Pessoa (Bernardo Soares) nada tem a ver com um território de contornos definidos mas, isso sim, é o lugar geométrico de uma estética. De uma estética, repito. Nada de confusões!

Essa pátria é um lugar de tal modo definido, e exigente no contorno das suas fronteiras, que o poeta, recorrendo à sua máxima capacidade de expressivo convencimento do outro, não hesita em fazer uso de um discurso da maior virulência, sem papas na língua, para que dúvidas não restem quanto aos seus sentimentos. E então evidencia a revolta das entranhas, do artista que se ofende e sofre perante o produto defeituoso e degradado que não pode mas devia ser um artefacto.

Quando, nos discursos de circunstância, um qualquer oficiante de serviço se permite citar; quando em qualquer folheca ordinária, um ensaísta de segunda ou terceira classe se permite epigrafar o seu discurso com estas seis palavras de "O Livro do Desassossego", pois não sei o que vos confesse em relação à revolta das minhas próprias tripas…

Ortografia como gente

Ultimamente, então, os defensores da necessidade de concretizar um acordo ortográfico, têm abusado, com o maior despudor – diria mesmo que têm manipulado – ultrajado a memória do poeta, no constante afã de trazer à colação a referida sentença. E, se assim o escrevo é porque não acredito que desconheçam o parágrafo imediatamente seguinte ao que acima transcrevi, que passo a reproduzir, para completa satisfação dos que, eventualmente, o desconheçam:

“(…) Sim, porque a ortografia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-ma do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha.”

Deixem-me adivinhar. Aqueles que já não se lembram e os outros, que desconheciam de todo este remate, estão agora atónitos perante esta confissão do poeta que se roja, deleitado, rendido à grandeza, à magnificência da ortografia, a visível vertente da língua em que comunicamos.

Como não perceber a omissão dos tais oficiantes e pseudo-ensaístas? Convém-lhes, naturalmente. Convém-lhes que permaneça obscura, na sombra e reserva das estantes e do silêncio, a opinião de um dos maiores ícones da Arte Literária em Língua Portuguesa de todos os tempos, o nosso querido Fernando, cuja opinião, como acabo de lembrar através da transcrição supra, sempre seria frontalmente contrária a revisões ortográficas que escondessem a herança linguística que usamos a toda a hora e momento.

Certeza sinfónica

Finalmente, não vos deixaria sem que ficassem descansados quanto aos precedentes textuais daquela torrente de indignação de Pessoa-Bernardo Soares. A razão remota e imediata é fruto de fortíssima impressão estética, suscitada pela leitura de uma página de Vieira. Melhor será que, novamente, demos voz ao poeta, transcrevendo, portanto, o parágrafo anterior àquele em que está plasmada a citação em questão:

”(…) Não choro por nada que a vida traga ou leve. Há porém páginas de prosa que me têm feito chorar. Lembro-me, como do que estou vendo, da noite em que, ainda criança, li pela primeira vez numa selecta, o passo célebre de Vieira sobre o Rei Salomão. «Fabricou Salomão um palácio…» E fui lendo, até ao fim, trémulo, confuso; depois rompi em lágrimas felizes, como nenhuma felicidade real me fará chorar, como nenhuma tristeza da vida me fará imitar. Aquele movimento hierático da nossa clara língua majestosa, aquele exprimir das ideias nas palavras inevitáveis, correr de água porque há declive, aquele assombroso vocálico em que os sons são cores ideais – tudo isso me toldou de instinto como uma grande emoção política. E, disse, chorei; hoje, relembrando, ainda choro. Não é – não – a saudade da infância, de que não tenho saudades; é a saudade da emoção daquele momento, a mágoa de já não poder ler pela primeira vez aquela grande certeza sinfónica(…)”

O trecho de Vieira, que tanto emocionou o desassossegado, é pura melopeia, na realidade, é o melhor português de todos os tempos, vertido em páginas que só permanecem mortas, que não se fazem ouvir em toda a sua riqueza e grande certeza sinfónica, nas nossas casas, nas nossas escolas, em todos os locais onde seria suposto enriquecerem-nos, porque andamos todos muito preocupados com assuntos de lana caprina e, enfim, muito distraídos do que é essencial.

Logo que vos for possível, do Livro do Desassossego de Bernardo Soares*, leiam o texto completo do qual extraí os três parágrafos. E quando vos sugiro a completa leitura, apenas vos peço o tempo bastante para uma, só uma página, a tanto se reduz a peça de Arte que, saboreada à mesa onde o trecho de Vieira certamente não faltará, vos concederá, estou certo, um dos máximos gozos estéticos que se podem dar ao luxo.

Verão a razão que assiste quando me insurjo contra esses videirinhos das citações…

domingo, 22 de dezembro de 2013



Em Sintra,
Parques de Sintra Monte da Lua,
um consolo, tanto orgulho



 [Transcrição do artigo publicado na edição de 20 de Dezembro de 2013 do 'Jornal de Sintra']

 

Chegados ao fim de 2013, em pleno Advento, na perspectiva do Natal e do início de um Novo Ano, estamos naquele segmento de tempo propício, não só ao balanço da vida anual de cada um, às contas do pessoalíssimo ter e haver, mas também adequado a acolher, tão calorosamente quanto possível, aqueles que mais merecem a nossa estima por contribuírem para que a qualidade da nossa vida seja diferente porque melhor.

No saldo resultante, como não incluir, porém, os dias tão difíceis que vivemos? E, de facto, por muito que, a nível pessoal, possamos não ter razões de queixa relativamente à satisfação das necessidades mais prementes, a verdade é que, à nossa volta, se multiplicam situações de carências tais que nos coartar a simples hipótese de manifestar qualquer satisfação geral.

É por demais evidente que o país e o concelho sofrem o desespero, a pobreza, o desemprego, quando não a fome, em consequência de políticas desumanas, às mãos de decisores que apenas leram a tal cartilha da «economia que mata», na tão expressiva formulação do Papa Francisco.

É neste preocupante contexto de que, na íntima galeria das nossas mais evidentes afinidades, desfilam os familiares, os amigos, as instituições e, afinal, todos os que fazem de nós melhores pessoas e, de uma ou outra forma, que nos enriquecem os dias que nos cabem, cada vez mais problemáticos e exigentes.

Pois bem, quanto a Sintra, não tenho a mínima dificuldade em destacar a Parques de Sintra Monte da Lua como a entidade que, tanto neste 2013 como há uma série de anos consecutivos, mais tem beneficiado esta terra com a criteriosa gestão dos seus administradores e, em geral, com a actividade eficientíssima dos técnicos e colaboradores nos mais diferentes domínios.

Hoje em dia, na realidade, à excepção de muito esporádicos e bem conhecidos casos, a única parcela daquilo que, em Sintra, poderemos considerar como confirmado e constante sucesso, apenas se verifica naquela portuguesa empresa de capitais públicos que, dia sim dia sim – deixem-me usar esta cómoda expressão – recebe prémios provenientes de todas as latitudes, distinguindo-a, frequentemente, como a melhor entre as melhores.

Pois, escrevo acerca da tão rara excelência, para a qual não há encómios que bastem. E, não tenho a menor dúvida de que, ao seu fabuloso palmarés de públicos êxitos, a PSML vai acrescentar o inequívoco sucesso a que está «condenada» a sua mais recente iniciativa, ou seja a Temporada de Música – Tempestade e Galenterie que, no Palácio de Queluz, a partir de 2014, se concretizará em dois ciclos, um de Carnaval e o outro de Outono, contando com alguns dos mais famosos intérpretes, a nível mundial, da música setecentista.

Parques de Sintra Monte da Lua, na verdade, um reduto de consolo. E de tanto orgulho!

Orgulho, em nota final, também dos meus habituais leitores, a quem remeto os votos de Santo Natal e de Bom Novo Ano.

[João Cachado escreve de acordo com a antiga ortografia]
 
 

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013



Artur Rubinstein

20 de Dezembro de 1982 (n.1887)


Je suis unique. Je suis singulier!

Um grande músico, talentoso pianista cujos concertos e recitais alguns de nós tivemos o privilégio de assistir. O seu grande legado ficou-nos disponível em gravações de referência, absolutamente antológicas. Como saberão, na sua biografia, há a particularidade de ter contado com a Senhora Marquesa de Cadaval como uma das suas grandes amigas.

Recordemo-lo, nesta efeméride da morte, através de um documentário - Arthur Rubinstein um filme de Marie-Claire Margossian, também intitulado Rubinstein by The Rubinsteins - através do qual também poderemos aceder a alguns momentos de excelente música por ele interpretados. Entre outras passagens de grande impacto, reparem no seu testemunho acerca de Mozart, a partir dos 17' e 25".
 


          http://youtu.be/xvijRKj3WGI

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013


 
Vitorino Nemésio 


19 de Dezembro de 1901 (m. 1978)

Foi seu aluno na Faculdade de Letras de Lisboa, na cadeira de Cultura Portuguesa, em 1966. Nas suas aulas, de tal ordem era o fascínio da espiral das ideias que nunca me passou pela cabeça tirar apontamentos.

Um fascínio, de facto, as conversas que mantinha connosco, cheio o famoso Anfiteatro Um, de centenas e centenas de rapazes e raparigas.
Bebíamos as palavras daquele homem que, em plena década de sessenta, antes do Maio de 68, era um espírito atento, de uma espantosa lucidez, que, sabendo pensar como poucos, sabia expressar o pensamento como revolucionária e constante epifania.

Cada aula, cada encontro com Nemésio era como pedra lançada à superfície lisa do lago, desencadeando círculos concêntricos até ao infinito, até hoje. De Nemésio guardo uma memória imensa de registos de toda a ordem, do professor, do poeta, do simplicíssimo e excelente homem que era, a proverbial e famosa despreocupação no vestir, a indefesa perante a maldade do mundo.

Eis um episódio paradigmático. Um dia, de manhã, saindo para a Faculdade, depara com um pobre pedinte, sujo, com fome, recolhido na entrada do prédio onde vivia. Sem qualquer hesitação, pega-lhe pelo braço, abre a porta de casa e diz-lhe que, como tem de seguir para o trabalho, ali o deixava, mostrando, ali, a casa de banho, aqui a cozinha, a comida que havia, enfim tudo à disposição. E, enfim, quando se tivesse recomposto, então que fosse à sua vida. Como já terão percebido, não havia mais ninguém naquela casa…

Em tempo de Natal, deste Vitorino Nemésio, poeta, muito cá de casa - A Ana, minha mulher, também sua aluna, comunga comigo esta queridíssima lembrança do mestre ímpar - vos deixo com

Natal chique

Percorro o dia, que esmorece
Nas ruas cheias de rumor;
Minha alma vã desaparece
Na muita pressa e pouco amor.

Hoje é Natal. Comprei um anjo,
Dos que anunciam no jornal;
Mas houve um etéreo desarranjo
E o efeito em casa saiu mal.

Valeu-me um príncipe esfarrapado
A quem dão coroas no meio disto,
Um moço doente, desanimado
Só esse pobre me pareceu Cristo.


Contra a incultura e a barbárie


No que respeita aos professores do Ensino Superior e à Investigação Científica, os governantes ibéricos estão bem unidos numa frente comum contra a cultura, contra o acesso ao conhecimento e, se deixarmos, i
rão por aí fora abrindo o caminho à barbárie.

Ocorre-me aquele célebre episódio do general franquista Millán-Astray pronunciando a frase que se tornaria uma expressão da brutalidade do fascismo espanhol "Abaixo a inteligência e viva a morte!" à qual o grande Miguel Unamuno soube responder, simples e comoventemente, com um "Viva a vida!".

Lição de sempre, para sempre.
 


Bailado O Quebra-Nozes

18 de Dezembro de 1892

O Quebra-Nozes é um bailado (ballet-férie) em dois actos, com música de Tchaikovski e coreografia de Marius Petipa e Lev Ivanov, baseado num conto de Natal de Ernst Hoffmann, publicado em 1881. Teve a sua estreia no Teatro Marinsky de São Petersburgo, num domingo, dia 18 de Dezembro de 1892, num espectáculo que ainda contou com a ópera “Iolanta”.

A acção tem lugar em casa de Jans Stahlbaum, que passa a noite de Natal com a família e os amigos. Estes são aguardados com grande expectativa por Clara, Louise e Fritz, filhos dos donos da casa, ansiosos pelos presentes. Clara recebe do padrinho, Drosselmeyer, um lindo quebra-nozes em forma de soldado. Os irmãos, com inveja, tiram-lhe o presente, acabando por danificá-lo. O padrinho para consolar a afilhada, entretanto, muito triste com o sucedido, promete-lhe que tudo se resolveria.

Terminada a festa, vão todos dormir. Clara acorda e vê que o Quebra-Nozes ganha vida. Na sala, como havia barulho de ratos, o soldadinho convoca os companheiros para lutar contra eles e o seu rei. Depois de matar este, Quebra-Nozes transforma-se num Príncipe e leva Clara a conhecer o Reino das Neves e o dos Doces. Aí, a Fada Açucarada organiza uma festa, onde dançam todas as figuras do reino, em homenagem à menina. Por fim, Clara e o Príncipe regressam a casa. Clara acorda, apercebendo-se de que tudo não passara de um sonho maravilhoso.

Quanto a particularidades da partitura, lembro a introdução da celesta, instrumento que Tchaikovski já utilizara na ópera O Voyevoda. A gravação que vos proponho é de uma produção do Teatro Marinsky, da responsabilidade de Simon Versuladze, com a companhia de bailado residente e a Orquestra Sinfónica da casa sob a direcção de Valery Gergiev.

Com o Natal à porta, aqui tem uma estupenda oportunidade de visionar uma produção de excelente qualidade deste bailado.

http://youtu.be/clWKDT4TQIk
 
 

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013




Concerto Gulbenkian,
São Roque, 21,30


O melhor do Natal!


 

Hoje à noite assistiremos à interpretação das três primeiras Cantatas da Oratória de Natal, BWV 248 de Johann Sebastian Bach, obra que, além destas primeiras, ainda é composta por mais três partes, que ouviremos em próximo concerto ainda esta semana, no meu caso, no dia 20. Sob a direcção de Michel Corboz, teremos o Coro e a Orquestra Gulbenkian, bem como os solistas Nathalie Gaudefroy, soprano, Bernarda Fink, mezzo, Tilman Lichdi, tenor e Sebastian Noack, barítono.

Trata-se de peças detentoras de diferentes dispositivos vocais e instrumentais, cada uma das quais destinada a ser executada num dia específico da quadra natalícia. A primeira parte, para o Dia de Natal, descreve o nascimento de Jesus, a segunda, para o dia 26 de Dezembro, a anunciação aos pastores, a terceira, para dia 27, a adoração dos pastores, a quarta para o Dia de Ano Novo, Circuncisão e do nome de Jesus, a quinta para o primeiro domingo depois do Ano Novo, sobre a viagem dos Reis Magos e a sexta, para a Epifania, a adoração dos Magos.

Já sabemos que, em São Roque, não nos espera aquilo que costuma designar-se como uma leitura «historicamente assistida», a exemplo do que já tenho assistido, por exemplo, com Marc Minkowsky, em Salzburg, dirigindo o seu agrupamento orquestral e um reduzido número de apenas 9 coralistas, além das vozes solistas.

Porém, a exemplo do que, ao longo de quarenta anos nos tem acostumado, o Maestro Corboz, titular do Coro Gulbenkian, a quem tanto devemos, apresentará, estou certo, uma prestação de grande nível, do alto da sua longuíssima experiência de abordagem das mais célebres composições coral-sinfónicas de todos os tempos.

Vão ou não a São Roque, aqui têm a obra completa que também funciona como excepcional presente de Natal. A versão, de referência, é de Sir John Elliot Gardiner dirigindo os Monteverdi Choir and English Baroque Soloists que, para a celebração dos 250 anos da morte de Johann Sebastian Bach, iniciava em 1999, a célebre «peregrinação» por uma série de igrejas da Europa onde interpretou as suas Cantatas Sacras.

Boa audição!

 
 
 



Parques de Sintra Monte da Lua
promotora da melhor Música

[facebook, 15.12.2013]
 

Memorável tarde em que nos foi anunciada uma temporada de música verdadeiramente excepcional. Música estupenda de um reportório muito sofisticado, por intérpretes do mais alto nível mundial. Em Sintra, em Portugal, só a Parques de Sintra Monte da Lua estaria à altura de iniciativa que tal. Por isso, «invejável».

Cuidado com as invejas...
 
 
 

domingo, 15 de dezembro de 2013



Sintra, estacionamento,
parques periféricos [II]

[facebook, 14.12.2013]

 
Há tantos anos me bato por estas soluções que já não sei quando comecei. Certamente, ainda nos anos setenta, quando iniciei a minha colaboração no Jornal de Sintra.

O então director (e fundador), o saudoso Senhor António Medina Júnior, pai da Dra. Maria Almira Medina e avô do meu cunhado, o Arq. António Medina Mouzinho, abriu-me a porta do jornal on
de me propus advogar a solução de parques de estacionamento, instalados na periferia, dissuasores da entrada no casco da urbe, em especial, do centro histórico.

Há quarenta e tal anos era coisa muito estranha. Na altura, devido aos negócios da família, ia eu muito à Dinamarca e Suécia, onde já tais cenários eram coisa comum. Querendo o melhor para Sintra, sabia eu que, de facto, a solução não podia deixar de ser aquela que eu via funcionar com tanto sucesso.

Julgava eu que, em relativamente pouco tempo, a perplexidade da maioria dos leitores se renderia à evidência da necessidade. Devo confessar, no entanto, jamais ter pensado que, quatro décadas passadas, nada estaria feito e que, portanto, tudo pioraria.

E de que maneira piorou! Depois de executivos camarários, de todas as cores e feitios, terem feito de Sintra e do concelho aquilo que está à vista, com a conhecida incompetência geracional que todos afectou, já vi(mos) de tudo. A realidade é que estamos cansados, desanimados e muito mais velhos.

No início dos anos setenta, tinha eu vinte e tal. Hoje, já com sessenta e muitos, não sei se verei concretizar a solução que, afinal, sendo absolutamente incontornável, não admite quaisquer paliativos. Agora? Não sei o que vos diga ou possa escrever acerca da hipótese de urgente concretização da solução dos parques dissuasores. Infelizmente, o andar da carruagem nada indicia.

Muito mais plausível será ouvir os conselheiros acácios do costume perguntando que parvoíce é essa dos parques dissuasores e, como é natural, desesperadamente, tentando descobrir quem será o disparatado lunático que pensa numa coisa dessas em tempo de crise...

E, socorrendo-me do célebre remate de conversa, deixem que também eu finalize, dizendo 'desculpem lá qualquer coisinha, Teresa de Jesus, uma sua criada...'
 
 

sábado, 14 de dezembro de 2013


Sintra,
estacionamento,
uma urgência vital 


Urge que a Câmara Municipal de Sintra assuma como prioritária a resolução da questão do estacionamento de viaturas particulares cujos condutores e acompanhantes pretendem aceder ao centro histórico. Enqua
nto tal não acontecer Sintra manter-se-á um destino turístico comprometido, armadilhado, em que os «tristes» da 'Volta dos Tristes', cada vez mais entristecerão, até desistirem de vir comer as queijadas e os travesseiros...

Os parques dissuasores, a rede de transportes urbanos públicos - precisamente, a partir de tais parques, cuja tarifa compreenda a do parqueamento seguro do automóvel - com destino aos lugares turísticos e de serviços, é o sistema pelo qual nos temos batido, há tantos anos.

Este, aliás, o mesmo sistema em que pretendemos ver integrada(s) a(s) linha(s) de funicular, a partir de Ramalhão, por um lado, e Ribeira-Rio do Porto, por outro, para acesso aos pontos mais altos da serra, i. e., Santa Eufémia, Parque e Palácio da Pena, Castelo dos Mouros.

Este o sistema que não pode deixar de se articular com a necessidade de condicionar as vias de acesso ao centro histórico, apenas privilegiando os residentes, comerciantes e viaturas de emergência. Parques dissuasores a instalar nas três mais importantes entradas da sede do concelho, ou seja, nas zonas do Ramalhão, da Ribeira e do Lourel, dispositivos civilizados, de inequívoca segurança, com sanitários, pequenos comércios, etc.

Este o sistema que não pode funcionar capazmente sem que se instale um regime muito rigoroso de cargas e descargas. Enfim, medidas que não constituem qualquer novidade, perfeitamente operacionais e de sucesso em lugares com as características de Sintra e que a Cãmara Municipal de Sintra não pode adiar mais.

Infelizmente, enquanto a CMS não atacar o problema nestes termos, o espaço sugerido por Fernando Castelo, rodeando o edifício do Departamento do Urbanismo da Câmara Municipal de Sintra, que todos os dias úteis, está repleto de carros, não resolve o ingente problema com que Sintra se confronta há muitos anos.

Naturalmente, trata-se de uma área significativa e estrategicamente localizada, que não poderá deixar de integrar a rede das bolsas de estacionamento e de parques periféricos dissuasores do acesso ao centro histórico, precisamente, de acordo com a solução que defendemos.


sexta-feira, 13 de dezembro de 2013



13 de Dezembro
Dia de Santa Lúcia



Relacionado com este Dia de Santa Lucia, que inicia o Ciclo da Luz, está o Dia 2 de Fevereiro, Dia de Nossa Senhora das Candeias, que, invariavelmente, há muitos anos, passo em Salzburg. .


Lá é dia grande de festa nas igrejas, dia em que ritos pagãos e o sagrado cristão têm uma dimensão sincrética muito interessante. E a informação circula, precisamente acerca destas coincidências culturais e civilizacionais.

Este Ciclo da Luz está algo esquecido. Nem a própria Igreja nem os media lhe «pegam». Provavelmente, até ao dia em que alguma multinacional da energia eléctrica decida apostar forte em qualquer campanha de marketing, a exemplo do que aconteceu com a CocaCola e o Pai Natal...

Muito a propósito, neste Dia de Santa Lucia, proponho-vos que abrilhantemos este lembrete de
José Manuel Anes, com a famosa canção italiana cantada, nada mais nada menos, do que pelo grande Beniamino Gigli.

Boa audição!



http://youtu.be/iBGGK-XJjzA

Já em pleno Ciclo do Natal (começado com o Advento) começou hoje, dia de Sta. Luzia (Lucia) o Ciclo da Luz que vai até à Candelária (2 Fev.) - festa esta que coincide com uma importante festa do calendário celta. Qual é ela, amigas 'druidas'?
[José Manuel Anes]


Heinrich Heine
13 de Dezembro de 1797 (m. 1856)


 
Die Lorelei


Ich weiß nicht, was soll es bedeuten,
daß ich so traurig bin;
ein Märchen aus alten Zeiten,
das kommt mir nicht aus dem Sinn;
die Luft ist kühl und er (es) dunkelt,

und ruhig fließt der Rhein;
der Gipfel des Berges funkelt
Im Abendsonnenschein

Die schönste Jungfrau sitzet
dort oben wunderbar;
Ihr goldnes Geschmeide blitzet,
sie kämmt ihr goldenes Haar
Sie kämmt es mit goldenem Kamme
und singt ein Lied dabei,
das hat eine wundersame,
gewaltige Melodei

Den Schiffer im kleinen Schiffe
ergreift es mit wildem Weh;
er schaut nicht die Felsenriffe,
er schaut nur hinauf in die Höh'
Ich glaube, die Wellen verschlingen
am Ende Schiffer und Kahn;
und das hat mit ihrem Singen
Die Lorelei getan

Em memória do grande poeta, proponho este mesmo poema através da canção de Franz Liszt, interpretada por Yelena Dudochkin, soprano, com a NEC Youth Symphony, sob a direcção9 de Steven Karidoyanes, numa homenagem ao compositor, em 29 de Janeiro de 2011, no ano do centenário do seu nascimento.

Boa audição!


http://youtu.be/09fHFNYr_QE
 
 


 12 de Dezembro de 1903
-12 de Dezembro de 1963
 
[facebook, 12.12.2013]


Yasujiro Ozu, realizador japonês. Tokyo Story, a celebrar hoje a dupla efeméride do nascimento e do falecimento, um filme belíssimo. A todos os títulos recomendável, apesar da dessincronização entre a fala e as legendas que, infelizmente, aparecem na variante brasileira do Português.

Bom visionamento!

http://youtu.be/7gXr9Ud_rdw