[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015



2015, Salzburg XXIV
Grosses Festspielhaus,
19.30, 28 de Janeiro

[facebook, 31.01.2015]

Novamente, Orquestra Filarmónica de Viena

Segundo concerto com a Orquestra Filarmónica de Viena, precedido por uma conversa muito esclarecedora entre Mathias Schulz – Director Artístico da Fundação Internacional do Mozarteum que, nestas circunstâncias, desempenha, aliás, muito bem, as funções de anfitrião – e o jovem Maestro colombiano Andrés Orozco-Estrada, acerca de quem gostaria de apresentar umas breves notas.

A sua vida e perspectivas mudaram radicalmente depois de, aos vinte anos, em 1997, ter vindo estudar para Viena na Academia de Música e de Artes Performativas, na classe de direcção de orquestra, com Uros Lajovic que, por sua vez, fora aluno do lendário Hans Swarowsky.

Com uma carreira fascinante, ainda na casa dos 30, já é Maestro Principal da Orquestra Sinfónica HR (Alta Renânia) de Frankfurt, Director Musical da Houston Symphony Orchestra, mantendo relação especial com as Filarmónicas de Viena e de Munique, Gewandhaus de Leipzig e Orquestra de Câmara Mahler, além de se ter estreado em 2014 na direcção de ópera, com “Don Giovanni”, em Glyndbourne.

Desta vez, inserindo-se no geral objectivo do Mozarteum de propiciar a audição integral da obra sinfónica de Franz Schubert, Orozco-Estrada veio apresentar a “Sinfonia No. 1 em Ré Maior” D 82, numa direcção muito eficaz, atenta, empolgante, à qual o público correspondeu com aplauso vibrante, também certamente tocado que foi pela nota patriótica de estar a ouvir a peça, em lugar tão especial como é o GF de Salzburg, obra de um grande compositor austríaco.

Um pequeno parêntesis lembrando que, para a «economia» dos aplausos nas salas de concerto austríacas, este factor ‘nacional’ não é despiciendo, vindo a propósito referir, de cor, uma dúzia de compositores tão famosos como Mozart, Haydn, Schubert, Bruckner, Mahler, Schönberg, Alban Berg, Webern, Biber, Hugo Wolf, os Strauss que, naturalmente, mexem muito com a disposição das audiências…

Seguidamente, referência ao “Concerto em Lá bemol para Violoncelo e Orquestra” de Schubert/Cassadó que resultou do arranjo da “Sonata em Lá bemol” D 821 – ‘Arpeggione’, na interpretação modelar de Gautier Capuçon. Bem, como sabem, é uma peça linda, linda de morrer. E não é que, na mudança de andamento, o público estava de tal modo ruidoso – de repente, até parecia que estava na Gulbenkian!... – que, com dificuldade em retomar, o maestro se voltou para trás dando a entender que não estava mesmo a compreender o que acontecia num auditório tão especial. Capuçon, estupendo, justamente aplaudidíssimo.

Tal como se tinha ouvido a primeira que Schubert escrevera aos 16, também se ouviu a primeira de Mozart, a “Sinfonia em Mi Maior” KV. 16, composta aos 8 anos. Um momento de perfeito encanto, com os músicos embevecidos. E, finalmente, de Elliot Carter, igualmente a sua Sinfonia No. 1, que me deixou a vontade de, cada vez mais, mergulhar na obra deste compositor americano.
 
Portanto, a estreia sinfónica de três gigantes da música de todos os tempos, na leitura de um grande senhor maestro, à frente de uma orquestra que, dispensando adjectivos, nos honra em Salzburg, durante a Mozartwoche, com três concertos. Privilégio? Não, quase um sonho!...


 
 


Mais uma distinção!
"É preciso saber merecer a Pena"

[facebook, 30.01.2015]

Mais uma distinção que apraz registar. Um património, de facto, de invulgares características, que está nas melhores mãos. A Parques de Sintraa, que já se habituou a receber parabéns dia-sim-dia-sim, está de parabéns. E, naturalmente, todos nós, portugueses em geral e munícipes sintrenses em particular.

A provar que o Palácio e Parque da Pena têm vida, exultam, rejubilam todos os dias, pelas mais diversas e sempre boas causas, eis o Serão Musical de amanhã, invocando Elise Hensler, a Condessa d' Edla, certamente esgotado e, no dia 3 de Fevereiro, a inauguração de várias obras de preservação e recuperação na zona dos Lagos.

Sempre o maior orgulho. Como costumo afirmar, Sintra no seu melhor. O meu querido e saudoso amigo Manuel Rio Carvalho costumava dizer, e escreveu em texto muito interessante, que "(...) é preciso saber merecer a Pena!". E uma das atitudes de inequívoca preparação para tal merecimento, que propunha com muito humor - ele que era coxo - implicava subir a pé, se necessário, pois, penosamente...
 
 
 
 
A European Best Destinations criou lista dos mais atraentes castelos europeus e à entrada não hesitou: abre com o Palácio da Pena de Sintra.


2015, Salzburg, XXIII
Giovanni Antonini
Il Giardino Armonico
 
 
[facebook, 30.01.2015]
 
Tal como anunciei em ‘Salzburg XIX’, o evento preenchido por Il Giardino Armonico, sob a direcção de Giovanni Antonini, acompanhando a violinista Isabel Faust na interpretação de todos os 5 Concertos para Violino de Mozart, saldou-se num enorme êxito. E, tal como seria suposto pensar em análogas circunstâncias, não se tratou de ‘maratona’ alguma.

Isabel Faust apresentou-se em excelente forma. É um verdadeiro prodígio e o violino que tem a seu cargo, o Stradivari ‘Bela adormecida’ de 1704, empréstimo do L-Bank Baden Wurtemberg, tem características espantosas que as suas mãos potenciam numa dimensão que, naturalmente, só se pode comparar com artefactos idênticos, tocados por artistas da mesma estirpe.

A poucos lugares do meu estavam sentados dois violinistas da Orquestra Filarmónica de Viena. Em determinada altura, apareceu Marc Minkowski, num dos lugares reservados da Fundação do Mozarteum, para apenas assistir à interpretação de Il Giardino Armónico do 'Larghetto e Dança das Fúrias' e 'Sinfonia e Fandango', ambas da Ballettmusik "Don Juan ou Le Festin de Pierre" de Christoph Willibald Gluck.

Críticos, musicólogos, professores de Música, são às dezenas, uma plateia de respeito. Mas os grandes intérpretes adoram e, naturalmente, em vez de intimidados, sentem-se desafiados num auditório com a fama e o proveito deste.

Com muita sorte, consegui encontrar uma gravação, ao vivo, em que Isabelle Faust interpreta o terceiro andamento, ‘Rondó.Allegro’ do Concerto No.2 em Ré Maior, KV. 211, com a Orquestra Filarmónica de Belgrado, sob a direcção de Gintaras Rinkevičijus, através da qual, apesar da problemática captação do som, poderão aquilatar do gabarito desta artista.

Mas, no primeiro vídeo, para que a possam conhecer melhor, uma entrevista em que também emparceira com Kristian Bezouidenhout, outra presença na Mozartwoche de 2015 e que, há cerca de um ano, esteve em Queluz no contexto do Ciclo "Tempestade e Galanterie" promovido pela Parques de Sintra, sob Direcção artística de Massimo Mazzeo.


Boa audição!

http://youtu.be/Lzlqtpa2wSQ - entrevista
http://youtu.be/1JcaJJgy4aA
 
 
 

2015, Salzburg, XXII
À Missa,
por Mozart


[facebook, 30.01.2015]


No dia 27 também fui à Missa. Em memória de Mozart, naturalmente. Não pensem, contudo, que fui assistir a alguma cerimónia oficial de sufrágio. Que eu saiba, entidade alguma promove tal atitude. Por isso, trato eu da questão. Escolho a igreja de São Pedro onde, de certeza absoluta, sei que Wolfgang Mozart ali viveu, pelo menos, um dia de grande júbilo.

De facto, em 26 de Outubro de 1783, data que todos os verdadeiros mozartianos sabem de cor, Amadé apresentou, nesta Abadia – que não estava sob a jurisdição do Príncipe-Arcebispo Hieronymus Joseph Franz de Paula, Conde de Colloredo von Wallsee und Melz*, com quem se tinha incompatibilizado dois anos antes – a sua Missa em Dó menor, KV 427.
 
Foi precisamente nessa ocasião que Constanze cantou uma das partes de soprano, ela que, pela primeira vez, aparecia na cidade para ser apresentada ao sogro Leopold, à cunhada Nannerl, aos amigos e conhecidos e, enfim, à sociedade salisburguense em geral.

Adoro ir àquela igreja. Ali há um pouco mais de sossego do que nas outras vizinhas, é possível um certo recolhimento em algumas horas onde, pura e simplesmente, ninguém aparece. E, coisa que não acontece apenas comigo, pois já tenho partilhado e confirmado a impressão com amigas e amigos, é lá que se sente uma especial presença de Wolfgang Mozart.

Remonta ao século VII. Mas só quinhentos anos mais tarde, em 1147, é que acontece a sagração do templo, data que também não preciso de confirmar porque, bem a meio da nave principal, sempre passo sobre o túmulo do seu Abade Balderico que morreu, justamente, naquele ano.

Na nave lateral direita, o túmulo de São Ruperto, o primeiro Bispo de Salzburg, primeiro Abade de São Pedro e patrono da cidade. E, quem põe em causa que foi sob a sua estupenda proteção e bênção que Salzburg atingiu um dos mais altos patamares da cultura e civilização europeias?… Ah grande santo!

Pois lá fui à Missa. Católico como ele, encomendei sua alma ao Senhor Jesus. Como M:. M:. e MQI, tenho-o na mesma conta de todos quantos, mais e menos ilustres, já passaram ao Oriente Eterno com a convicção – que ele próprio confirmou em carta a seu pai – de que a Morte é a nossa melhor amiga. E, como melómano, apenas me resta este culto de subordinada e canina dependência da sua suprema criatividade, cuja expressão superficial conhecem os meus amigos…

É neste compósito contexto que, agora, abandonando o tom algo jocoso, vos proponho a audição da Missa em Dó menor, KV. 427, um dos legados máximos da música sacra de todos os tempos. Vai interpretada pelas vozes solistas de Miah Persson: soprano, Ann Hallenberg: contralto, Helge Rønning: tenor, Peter Mattei: barítono, Royal Stockholm Philharmonic Orchestra & Monteverdi Choir, sob a direcção de Sir John Eliot Gardiner.

E, já agora, a notícia em primeira mão de que, precisamente, este Maestro e os English Baroque Soloists, Monteverdi Choir e Solistas do Monteverdi Choir estarão na Mozartwoche de 2016, às 19.30 do dia 23 de Janeiro, no Grosses Festspielhaus, para interpretarem não só esta peça sublime mas também o Requiem KV. 626.

Boa audição!

____________________


*Normalmente, referimo-nos a este prelado, que tão má relação teve com o compositor – convenhamos que até com alguma razão - como «o Colloredo». Mas eu adoro declinar o seu nome próprio e o título nobiliárquico. Confessem que tem outro chic…


http://youtu.be/TGCUPyrk4Eg
 


2015, Salzburg, XXI

Marc Minkowski,
Música, Memória & Responsabilidade


[facebook, 30.01.2015]

No passado dia 27, ainda outro evento marcante, por ocasião da passagem do aniversário de Mozart. Reporto-me ao concerto das 19,30 na Grosse Saal do Mozarteum, em que, dirigindo Les Musiciens du Louvre Grenoble, Mar Minkowski nos trouxe um programa muito interessante.

Teve o condão especialíssimo de propiciar a audição, em simultâneo, de dois dos instrumentos que pertenceram ao próprio Mozart e que ele tocou em diferentes períodos da vida. Em primeiro lugar, o Pianoforte da oficina de Anton Gabriel Walter, de cinco oitavas, que deve ter sido construído em 1782, comprado pelo compositor antes de 1785 para tocar nos vários auditórios em que se fazia ouvir em Viena.

A outra «vedeta instrumental» em presença foi um dos seus violinos, o último que utilizou. É da manufactura de Pietro antonio Dalla Costa, de Treviso, cidade que bem conheço, a poucos quilómetros a Norte de Veneza. Constanze vendeu o violino, instrumento este que sempre manteve uma nota relativa à compra, por Johann Anton André: “Este violino é do espólio de Mozart e Mozart sempre nele tocou. Comprei-o à viúva Mozart”.

Tocados, respectivamente, por Franceco Corti e Thibault Noally - ambos membros da orquestra fundada e dirigida por Minkowski, sendo Noally o concertino – soaram estupenda e emotivamente. Não esqueçamos que, há mais de dois séculos e meio, não se apresentavam em concerto público com estas características. Pois bem, não deixa de ser fantástico confirmar, em especial no que se refere ao pianoforte, que som «produzido» tinha Mozart na cabeça pois, de facto, nada tinha a ver com o dos posteriores pianos.

Antes de começar o concerto, Marc Mikowski lembrou que, à efeméride do aniversário de Mozart, se vivia outra, já que neste mesmo dia de 1945, acontecia a libertação do campo de extermínio – já a designação é um horror!... – de Auschwitz-Birkenau. Campos de extermínio, campos de concentração, campos de trabalho. “Arbeit macht frei”, lembram-se? Entretanto, irreversível, o escândalo continua a desafiar a explicação. Porque o Homem, na realidade, foi capaz, é capaz.

Marc Minkowski lembrou e pediu um minuto de silêncio. Assim se fez. Aqui, «a coisa» rondou muito próxima. Ainda ontem, passei pela placa aposta numa fachada do claustro da igreja dos Franciscanos, onde está gravada a informação de que ali funcionaram os serviços da Gestapo.

Em programa, o “Concerto em Lá Maior para Piano e Orquestra” KV. 488, o “Concerto em Lá Maior para Violino e Orquestra” KV. 219 e a Sinfonia No. 9 em Dó Maior” D 944 de Franz Schubert. No palco da Grosse Saal do Mozarteum, não é fácil alojar o conjunto enorme de músicos necessários. E, na preparação do espaço, todos colaboram, inclusive o próprio Maestro, que põe uma cadeira aqui ou ali, uma estante, as partituras, etc.

Interpretações de alta qualidade. Achei que Thibault Noally não estaria nos seus dias mais propícios. Alguma precipitação em cordas duplas e cruzadas foram por demais evidentes mas, de modo algum, comprometendo o resultado. Mas, decisivamente grandiosa, a execução da ‘Grande’, no epíteto que ganhou a Sinfonia de Schubert.

Aliás, o que está a acontecer na Mozartwoche, em relação à obra sinfónica de Schubert é das melhores iniciativas desta edição do Festival já que nos permite ouvir todas as Sinfonias do compositor por grandes orquestras, maestros e intérpretes.

Eis uma proposta, precisamente, na interpretação de Les Musiciens du Louvre Grenoble sob a direcção de Marc Minkowski.

Boa Audição!


http://youtu.be/-dteT1zm9Ho

 
 


2015, Salzburg XX

[facebook, 30.01.2015]

Tenho estado à espera de que o Mozarteum publicasse fotos sobre todos os eventos no sentido de que, a propósito, pudesse apresentar comentários alusivos. Tal não tem acontecido e, por isso, continuarei a propor da minha lavra e sem ilustração. No entanto, ainda tenho um caso para partilhar com várias fotos.

Trata-se de uma festa que se realizou na noite de terça-feira, dia 27, aquando do aniversário de Mozart. Teve lugar na Wiener Saal do Mozarteum, tendo constituído o encerramento da apreentação em Salzburg do Lyceum Mozartiano de La Habana. A primeira parte, na Grosse Universitätsaula, foi absolutamente sensacional.

Entre outras peças, também de música cubana composta por contemporâneos, tocaram a “Sinfonia em Lá Maior” KV 134, o “Andante em Dó Maior para Flauta e Orquestra” KV. 315 e a “Sinfonia em Si Maior” KV 319 de Mozart, em interpretações muitíssimo esmeradas, revelando, a montante, uma capacidade de preparação, de organização e de logística verdadeiramente notáveis.

O Maestro José Antonio Méndez Padrón é um indefectível mozartiano, extremamente cuidadoso, discreto, a saber transmitir aos jovens as particularidades da «dualidade» de Mozart que, por vezes, à distância de poucos compassos, salta da exuberância jubilar para uma nostalgia quase patológica. Este projecto, com o selo de garantia do Mozarteum de Salzburg, está condenado ao sucesso e, para Cuba, é uma mais-valia extraordinária já que se vai transformar numa impressiva e ímpar missão cultural, com os efeitos diplomáticos que se depreendem.

Estava tão entusiasmado que, naturalmente, fui dar os parabéns a Mathias Schulz, o Director Artístico da Fundação Internacional do Mozarteum, grande entusiasta do programa de intercâmbio que enquadrou esta residência em Salzburg. Às tantas, também o Presidente Johannes Honsig-Erlenburg, com toda a informalidade, se meteu na nossa conversa, muito satisfeito com o meu entusiasmo e apoio.

Então, à noite, houve mais um concerto na Grosse Saal do Mozarteum à qual se seguiu a festa, no ambiente escaldante de um lounge cubano, de que dou conta através das fotos. Como poderão verificar, animação não faltou.
 
Ver mais


Eis a transcrição do artigo publicado na edição do 'Jornal de Sintra' da passada 6ª Feira, dia 23 de Janeiro, através do qual, me refiro à situação actual do MU.SA, instalado no Casino de Sintra. Apelo à vossa compreensão porque o texto não mantém os recursos gráficos do original.
____________________________

Sintra,
Cultura em 2015,
Expectativa moderada [I]


[facebook, 29.01.2015]


De facto, são muitas e especialmente desafiantes as questões cuja resolução depende da Câmara Municipal de Sintra. Espera-se que, durante este ano, se resolvam algumas delas e se inicie o desbloqueio de problemas que suscitaram desassossegos vários. Como as pessoas estão muito descrentes, a expectativa é quase nula ou apenas moderada. É compreensível. Acrescentemos que, consoante os casos, de tal modo a corda se foi esticando até ao limite que, agora, qualquer adiamento não deixará de ser interpretado como incapacidade ou incompetência.

Comecemos pelo Casino de Sintra, propondo uma visita comparada ao antes e agora. Sediado no Casino, paredes-meias com o Centro Cultural Olga Cadaval, dois edifícios traçados por Norte Júnior, um dos mais notáveis arquitectos portugueses do século vinte, o MU.SA faz parte de um dispositivo cultural com ímpares e invejáveis características no todo nacional.

A verdade é que, depois do entusiasmo inicial, coincidente com o período da inauguração, a solução ali vertida, indubitavelmente bem intencionada – qual seja a de expor a Coleção Municipal de Arte Contemporânea, incluindo zonas para Arte Fotográfica, Livraria Municipal e Galeria de exposições temporárias de artistas nacionais e estrangeiros – não está a surtir os benéficos efeitos que, a partir de condições tão favoráveis, era suposto colher.

Moro a escassos metros, conheço porque acompanho diariamente a situação, não posso tapar o Sol com a peneira e, interessado que estou na resolução do problema, o mais que tenho a fazer é ventilar, partilhar frontalmente a preocupação. Com muito escassa procura actual por parte do público e, perante a ausência de estratégia de promoção, inevitáveis são as comparações com o que ali acontecia até 2013. Naturalmente, não me dedicaria a qualquer exercício de cotejo, com previsíveis e tão desanimadores resultados em relação à actualidade, se o meu propósito não fosse, tão só, o de propiciar matéria de reflexão.

MU.SA vs SMAC

Uma vez que só pode e deve comparar-se o que é comparável, terei de pedir-vos que me acompanhem num regresso a 1997, altura em que a presidência do executivo municipal era assegurada por Edite Estrela, que teve o rasgo estratégico de fazer do edifício do Casino o Museu de Arte Moderna e Contemporânea-Colecção Berardo (SMAC), negociando com o Comendador Joe Berardo um Protocolo que vigoraria até 2013.

Não farei quaisquer considerações acerca da qualidade do acervo em exposição permanente que, se bem lembrados estão, enquanto parte de uma das mais famosas colecções de Arte do mundo, incluía peças dos mais notáveis artistas. Referir-me-ei, isso sim, às exposições temporárias que, durante quase década e meia, constituíram propostas que muito honraram Sintra, tanto a nível nacional como internacional.

Com dados bastante acessíveis, através de catálogos de belíssima qualidade geral, que guardo religiosamente, lembrarei alguns dos mais significativos sucessos, referindo os patrocínios sem os quais é impossível trabalhar com uma certa dignidade:

17.06.2000 a 30.09.2000 - Um olhar sobre a Colecção Berardo – Rui Sanches
15.10.2000 a 31.12.2000 – Durante o Fim – Rui Chafes (articulação Palácio da Pena e CMS)
08.04.2001 a 30.06.2001 – O Surrealismo na Colecção Berardo
10.11.2001 a 30.03.2002 – Living – Site Specific Wall Paintings - Michal Craig Martin
(com apoio da Robbialac e Tabaqueira
19.04.2002 a 15.09.2002 – Pop Arte & Compª na Colecção Berardo
08.05.2004 a 07.11.2004 – Pomar – Autobiografia
(com apoio Colecionadores privados e do Millenium BCP)
01.02.2004 a 27.03.2005 – A Fotografia na Colecção Berardo
05.05.2005 a 09.10.2005 – Geração Esquecida – Erich Kahn, Judeu Sobrevivente –
Expressionista Alemão
26.11.2005 a 30.04.2006 - Fernando Lemos e o Surrealismo
17.03.2007 a 14.10.2007 – Art Deco
17.04.2009 a 14.07.2009 – Rafael Bordalo Pinheiro - Da Caricatura à Cerâmica
(em articulação com a CMS e Museu Rafael Bordalo Pinheiro)
26.07.2009 a 27.09.2009 – Gao Xingjian – Depois do Dilúvio
(articulação com CMS, apoio Würth e Museu Würth La Rioja)
17.04.2010 a 31.10.2010 – Leal da Câmara – Retrospectiva


No meu diário, tenho registadas conversas com a Dra. Maria Nobre Franco, Directora do referido Museu, durante as quais aquela minha querida amiga me mostrou estatísticas das entradas de visitantes, por exemplo, cifrando-se na ordem média da centena por dia, em eventos culturais da maior repercussão, inclusive internacional.

Caso do World Press Cartoon

E, ainda neste contexto das exposições temporárias e temáticas, como não recordar, desde 2005, o êxito verdadeiramente estrondoso do World Press Cartoon, sob a coordenação de ANTÓNIO [António Moreira Antunes] o nosso maior cartoonista, ao longo de nove edições, no Centro Cultural Olga Cadaval e, a partir de 2008, também no Museu de arte Moderna? Como não entender que tal sucesso potenciou as mais-valias de outras exposições no passado e ainda o poderia continuar a fazer no futuro?

Lembro-me muito bem das razões invocadas pela Câmara Municipal de Sintra para deixar de apoiar a realização deste grande festival do cartoon – meio de comunicação e de expressão artística que ganhou tão trágico protagonismo na semana passada – mas, de todo em todo, não as consigo entender. Ou também eu deveria aceitar a ideia que para aí vai vingando segundo a qual o actual executivo assim teria decidido porque um tão grande êxito, transitado dos mandatos anteriores, constituiria marca demasiado impressiva?…

É que o alcance da iniciativa era imenso, verdadeiramente global, projectando Sintra em todas as latitudes, funcionando como extraordinária e requintada campanha publicitária que, assim encarada, resultava num investimento perfeitamente compatível, mesmo em tempos de austeridade. E já sabem para onde vai o World Press Cartoon? Pois, nem mais nem menos do que para Cascais!... Aqui bem ao lado, Cascais imediatamente entendeu o que, 'motu proprio', Sintra deixou escapar. Que ironia!

No mais alto nível

Estou absolutamente convicto de que ninguém deixará de partilhar comigo o sacrossanto princípio, comum a todos os domínios de actividade, nos termos do qual, uma vez atingido determinado patamar de qualidade superior, como aconteceu com o Sintra Museu de Arte Contemporânea, jamais se poderá retroceder para soluções que não estejam à altura do nível e sucesso alcançados, princípio particularmente crítico neste dificílimo e sofisticado terreno da disponibilização da Arte moderna e contemporânea.

Foi com base naquela ideia que, cessado o Protocolo entre a CMS e o Comendador Joe Berardo, tanto me bati pela solução de ali sediar a Colecção Bartolomeu Cid dos Santos que é o único acervo disponível com nível artístico idêntico ao das obras que as paredes do Casino tinham acolhido nos últimos anos.

Se assim tivesse acontecido, a CMS estaria capitalizando o investimento concretizado durante o precedente período em questão, durante o qual aquela casa passou a ser procurada, expressamente, por um público nacional e internacional conhecedor, interessado, que se tinha habituado a demandar este Museu como elemento da rede nacional e mundial da Arte Moderna. E sabem que, ainda hoje mesmo, continua a aparecer gente à procura do que ali existiu?

Já que acima aludi, permitam um parêntesis acerca da Colecção Bartolomeu Cid dos Santos que, na realidade, já é uma extraordinária mais-valia para Sintra. Em 2013, Maria Fernanda dos Santos, viúva do gravador da maior reputação mundial, cedeu o espólio à Câmara Municipal de Sintra mediante Protocolo que, há largos meses, está em vias de reformulação no sentido de garantir a máxima protecção dos interesses de ambas partes. Os juristas já se terão pronunciado pelo que estaremos em vias de conhecer decisões.

Estou certo de que, dentre as várias opções em perspectiva, se encontrará o local mais adequado para acolher a obra e o centro de investigação que o Barto, meu querido e saudoso amigo, deixa a Sintra. A quem ainda possa desconhecer, cumpre esclarecer que o gabarito artístico de Bartolomeu Cid dos Santos é dos de maior abrangência, entre os melhores do mundo, por exemplo, como o de Paula Rego, de quem, aliás, foi amigo íntimo cá e em Londres.
 
Se, por desígnio do município vizinho, Paula Rego já está em Cascais – sempre a atenta e culta Cascais, constantemente a desafiar-nos com tão boas iniciativas no passado recente e na actualidade – então Barto, pela relação que manteve com Sintra, tem muitas mais e acrescidas razões para ficar entre nós, de acordo com o que estabelecerá o referido Protocolo. Assim saiba Sintra estar à altura de privilégio tão especial.

Findo o assunto que coube naquele parêntesis, volto à matéria com a qual está tão inequivocamente relacionado. Inconformado com o statu quo, recuso-me a aceitar a inevitabilidade daquele ambiente mais ou menos fúnebre do MU.SA. Há soluções de animação que urge operacionalizar. Não é fácil, bem sei, recuperar uma frequência média de cem visitantes por dia. Contudo, em 2015, o que fazer para atrair os visitantes? Que estratégia desenhar? Que pequenas exposições promover, v.g., Historia do Casino, História do Vinho de Colares, Historia do Foral de Sintra, História do Desporto em Sintra, Figuras importantes da História Sintrense etc?

Onde estão as pessoas, as instituições, entidades nacionais, ibéricas, europeias, às quais recorrer, através de convénios, parcerias? E os concursos, oficinas e outras iniciativas, bem publicitadas, atempadamente anunciadas, sob a coordenação e orientação de animadores bem conhecidos, para públicos infantis, juvenis e seniores? Há falta de recursos? Quais? Humanos, materiais, ambos? É o acervo que carece de uma outra abordagem, de diferentes diálogos e conotações temáticas interrelacionais, ou de uma outra estratégia com diferentes grelhas e linguagens expositivas? E que articulação ou articulações preferenciais com outros suportes culturais, Literatura, Música, etc?

Continuarei este artigo com referências à próxima edição do Festival de Sintra, recuperação do Hotel Netto e ao caso do funicular.

(Continua)

[João Cachado escreve de acordo com a antiga ortografia]
 


2015, Salzburg, XIX
Um grande concerto,
um longo concerto
 
[facebook, 29.01.2015]
Hoje às 19,30, na Grosse Saal do Mozarteum, Isabel Faust tocará os cinco Concertos para Violino de Mozart, ou seja, KV. 207, KV. 218, KV. 211, KV. 216 e KV. 219. Falo-á como solista acompanhada pela Orquestra Il Giardino Armonico, sob a direcção de Giovanni Antonini.


Porém, o concerto em apreço ainda integrará mais três peças: 1.a 'Sinfonia em Sol Maior Hob. I:S "Le Soir" de Haydn, 2. 'Larghetto e Dança das Fúrias' e 3. 'Sinfonia e Fandango', ambas da Ballettmusik "Don Juan ou Le Festin de Pierre" de Christoph Willibald Gluck.

Mais um excepcional evento em perspectiva!.
 
Ver mais


Isabelle Faust steht heute nach dem Konzert um 19.30 Uhr für eine Signierstunde in der Stiftung Mozarteum zur Verfügung.
 


2015, Salzburg, XVIII
A ternura na Wiener Saal
 
[Facebook, 29.01.2015]
 
Na passada terça-feira, pelas 14.00, entrava na Wiener Saal do Mozarteum para assistir a uma Mesa Redonda em que, pensava eu, me limitaria a ouvir o testemunho de Alfred Brendel acerca das relações e conotações entre as obras de Mozart e Schubert que, durante a presente edição da Mozartwoche são quase um Leitmotiv.
...
Enganado estava porque, ao sentar-me na última fila, olhando para trás, em duas cadeiras encostadas à parede, deparei com um senhor que, embevecido, dava o biberon a um bebé, numa cena de indiscritível ternura, verdade sendo que, cada vez mais frequente é ver homens em tais preparos em todas as latitudes.

Porém, a minha surpresa deveu-se, isso sim, nem mais nem menos, à circunstância de o protagonista ser o outro grande vulto da pianística actual que a foto documenta. Ao fim de muitos anos, na Wiener Saal, assisti a uma lição de 'poeisis', no sentido etimológico do termo, que se reporta a um verbo, 'fazer' uma acção que transforma e continua o mundo.
 
Aquela que eu presenciei, era uma cena do 'fazer'. A Vida. A Vida, ali, a acontecer, enquanto se falava de Arte, da grande Música, de obras-primas, de poesia, outra realidade, palavra outra, derivada da mesma raiz etimológica. Também eu ganhei especiais momentos de Vida.

Daqui a uma hora, Pierre-Laurent Aimard, dar-nos-á mais razões para encarar a Vida, da melhor forma, durante o concerto na Grosse Saal, com conhecidos membros da Chamber Orchestra of Europe, interpretando obras de Mozart e de Elliot Carter.
 

Heute steht Pierre-Laurent Aimard nach dem Konzert um 11.00 Uhr in der Stiftung Mozarteum Salzburg für eine Signierstunde zur Verfügung.
 
 


Sintra,
Quinta do Relógio,
episódio a recordar


[facebook, 28.01.2015]

_____________________________


"Nos jardins da Quinta do Relógio, onde se encontra, neste momento uma galeria de exposição de fotografias, existe, meio escondida, uma pequena gruta construída com a técnica de embrechados, na qual foram utilizados, maioritariamente e em grande profusão, cacos diversos de louça da china. Com um enorme tanque de água à sua frente quase passa despercebida. Um nicho no alto, neste momento vazio, em baixo, em estuque a representação de uma igreja e construções laterais que eu arriscaria dizer que se trata da Basílica e Convento de Mafra. Do lado direito do nicho, talvez a representação do Convento da Pena e, do outro lado o Castelo dos Mouros já muito danificado (?). Em ambos os lados da gruta existem bancos e, no chão, uma enorme concha. É muito bonita !!!

Num manuscrito anónimo existente na Biblioteca de Sintra redigido por volta de 1850, o autor menciona esta Quinta que um certo “padre Jerónimo legou aos antepassados do 15º Conde do Redondo, o actual proprietário” que na época era D. José de Sousa Coutinho (1797-1863). (Anne de Stoop – Quintas e Palácios nos Arredores de Lisboa 1986)

Será esta gruta contemporânea do dito frade Jerónimo ou, foi algum dos proprietários que se lhe seguiram que a terá mandado construir?"
[Emília Reis]


___________________________


A propósito deste interessantíssimo 'post' da querida amiga Emilia Reis, gostaria de lembrar um quadro de referência global em que se enquadra este seu contributo. E começo logo por afirmar que, era «por estas e por outras» razões, também interessantes, que, durante a presidência do Prof. Fernando Roboredo Seara, tanto se falou na compra da Quinta do Relógio por parte da Câmara Municipal de Sintra.

Como sabem os meus leitores, e a Emilia Reis é das pessoas que bem sabe, tive oportunidade de me manifestar veementemente, durante quase dois anos, através de escritos sucessivos, contra tal negócio na medida em que os custos inerentes à recuperação do património em questão - devido à total descaracterização do interior do palacete de estética romântica de feição arabizante - são perfeitamente incomportáveis para as finanças municipais.

Se o negócio da venda que o proprietário propunha - não sei se continuará a propor - era assim tão bom, porque não convenceria ele um grupo financiador privado a concretizá-lo? É para isso que a iniciativa privada deve aparecer, para correr riscos e promover atitudes negociais, com objectivos de disponibilização ao usufruto cultural, mediante entradas pagas, iniciativas hoteleiras, de restauração, espectáculos, etc, em relação aos quais a administração local e central não estejam vocacionadas ou não possam encarar tal investimento.

Felizmente, na minha perspectiva - e saudei a decisão com o maior júbilo, igualmente através de textos nas redes sociais e na imprensa local - a autarquia desinteressou-se da compra a qual, em tempo de recursos tão mitigados, poderia ter sido muito problemática.

Também «por essas e por outras», portanto, 'por não se ter deixado encantar por cantos de sereia' é que o Prof. Fernando Roboredo Seara deixou ao actual executivo uma situação financeira que tem sido elogiada em todas as instâncias. O ex-Presidente, aliás, é daqueles que muito há-de ser recordado por aquilo que, muito judiciosamente - repito, sempre na minha perspectiva - impediu que fosse feito...

Por vezes, tenho visto comparar esta situação com a da compra da Quinta da Regaleira. Quando a Dra Edite Estrela assim decidiu, de modo algum, se colocavam os riscos da operação que acima acabei de referir. Na altura, fez muito bem, fez um riquíssimo negócio, os sintrenses enriqueceram o património com uma unidade interessantíssima que «começou logo a facturar». E não mais parou!

Q.E.D.!


.


Visitas aos monumentos,
regimes, diferenças & público a conquistar


[facebook, 28.01.2015]

Como sabe o Fernando Morais Gomes, há uma série de impedimentos comunitários sobre as discriminações positivas relativamente às entradas nos museus e monumentos.
Cumpre não esquecer que TODOS OS MONUMENTOS NACIONAIS afectos à Direcção-Geral do Património APENAS ABREM GRATUITAMENTE NO PRIMEIRO DOMINGO DE CADA MÊS e dependem dos impostos de todos os cidadãos.

De acordo com um regime muito mais favorável, OS PARQUES E MONUMENTOS SOB ADMINISTRÇÂO E GESTÂO DA Parques de Sintra ABREM TODOS - TODOS! - OS DOMINGOS DE MANHÂ, não custam um cêntimo aos contribuintes, unicamente dependendo das verbas apuradas pelas bilheteiras, e usufruindo de obras de preservação e recuperação também sem qualquer custo para os cidadãos contribuintes, e com uma qualidade reconhecida a nível mundial!

Enquanto, aos domingos de manhã, a Parques de Sintra mantém os seus espaços de portas abertas para os residentes no concelho e os destinatários deste medida dela se alheiam, preferindo outras formas de ocupação dos seus tempos livres, não consta que os Centros Comerciais da zona, por exemplo, se queixem da falta de frequência...

A necessidade de consumo de bens culturais, como é o caso de uma visita em família a um sofisticado palácio romântico ou barroco, passa pela consciencialização das benéficas consequências dessa atitude. Julgo que, em Portugal, país onde os índices de literacia são baixíssimos em comparação com a média da União Europeia, onde a taxa do analfabetismo pleno é mesmo a mais elevada da zona e onde o abandono escolar é tremendo, ainda é preciso concretizar outro tipo de trabalho.

Aliás, noutros domínios culturais afins, os teatros não têm o público que deveriam, os jornais não vendem os números que seria suposto, nos concertos de música erudita, a frequência é o que se sabe, os grandes 'best sellers' livreiros - reparem que não escrevi literários - são os de José Rodrigues dos Santos e quejandos porque, residualmente, o substrato potencialmente interessado tem as características que sabemos.

É preciso, por exemplo, explicar claramente, mas sem paternalismos dissuasores, que este tipo de acesso aos bens culturais, em Sintra abertos aos domingos de manhã, nada tem a ver com o projecto da "Sintra dos Pequeninos" - que até parece concitar o interesse de responsáveis autárquicos - pretendendo levar as famílias e crianças para o cimento do Plano da Abrunheira Norte, em vez de promover a visita real aos monumentos em questão...

Como em tudo, as famílias devem definir e saber definir prioridades. Por vezes - no caso dos portugueses, em geral, e dos residentes em Sintra, em particular - é mesmo muito necessário ajudá-las, ensiná-las a definir tais opções... Ou seja, muito cruamente, é preciso saber «vender» este requintado produto cultural.

Finalmente, tanto quanto me parece, e até já o tenho escrito, à Parques de Sintra, além da presença nos meios virtuais, v.g., redes sociais, talvez ainda se possa pedir a concretização de uma mais notória e complementar divulgação da sua iniciativa de abertura dos espaços aos domingos de manhã através de suportes publicitários convencionais, como cartazes, folhetos, etc.


 


São Tomás de Aquino (1225-1274)

[facebook, 28.01.2015]

Hoje, a Igreja Católica celebra o dia de um dos seus maiores. Quem desconhece São Tomás nem sonha quanto deve a este fenomenal pensador que muito ultrapassa o estrito âmbito da 'santidade e do amor às ciências sagradas', atributos da veneração que lhe é prestada nesta efeméride.

Uma das suas propostas, que tenho muito presente, colho-a na 'Suma Teológica', obra que o imortalizou. Acreditando que Deus é o "criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis" - palavras da afirmação da nossa Fé no Credo que conjugamos - São tomás, como Aristóteles, defendia que a vida poderia formar-se a partir de matéria não viva ou de plantas, uma forma de abiogênese conhecida como "geração espontânea".

“(...) Como a geração de uma coisa é a corrupção de outra, não é incompatível com a primeira a formação de coisas; que, da corrupção do menos perfeito, o mais perfeito deva ser gerado. Assim, animais gerados da corrupção de coisas inanimadas ou de plantas possam então ser gerados. ” [Suma Teológica, Tomás de Aquino].

Bem sei que Aristóteles... Bem sei que Empédocles de Agrigento... Mas São Tomás, enquanto elo da cadeia que une o legado da Antiguidade à Revolução do pensamento moderno, é indissociável de Lavoisier, que, passados quinhentos anos, diria a mesmíssima coisa através da sua famosíssima Lei, que tanto sossego nos concede quanto à imortalidade da matéria física. Já quanto à imortalidade do espírito, é «matéria» outra, de Fé, território pouco propício a estas paragens 'facebookianas'.


 


2015, Salzburg, XVII

[facebook, 28.01.2015]

Final da récita de "Alfonso und Estrella", ópera de Franz Schubert, que subiu à cena na Haus für Mozart, no passado dia 23 [referências no meu texto 'Salzburg VII' de 24.01]. Como tive oportunidade de partilhar, o soprano Mojca Erdmann não me convenceu por aí além e fiquei mesmo com muita pena de não ter tido oportunidade de voltar a ouvir Aleksandra Kurzak que, inicialmente, era quem estava contratada para cantar o papel da protagonista.
Alfonso und Estrella unter Antonello Manacorda


2015, Salzburg, XVI
O 'Imperador' e um Príncipe
 
[facebook, 28.01.2015]
 
No passado Sábado à noite, no Grosses Festspielhaus. Acerca deste concerto, o meu texto 'Salzburg VIII' datado de 24.01. Aos 86 anos, tal como tive oportunidade de confirmar, Harnoncourt está com uma força e uma lucidez absolutamente espantosas. Dizer que o adoro é pouco. De algum modo, ao longo dos 50 anos em que tenho acompanhado a sua actividade, ele atingiu o mais alto estatuto no Império Musical, ou seja, precisamente, o de 'Imperador'...
 
Apenas uma nota para referenciar, à direita da foto, aquele piqueno lourinho, segundo violino da Orquestra Filarmónica de Viena que, em Salzburg, é figura muito querida. Nem mais nem menos, é ele quem dirige a Mozarteum Kinderorchester, [Orquestra Infantil do Mozarteum], fundada e acarinhadíssima por Marc Minkowski desde que, há três anos, assumiu a Direcção Artística da mundialmente famosa Mozartwoche.

Pois é Christoph Koncz, o Príncipe desta história, cuja presença, muito simpática, é sempre captada pelas câmaras da televisão, por exemplo, como se lembrarão, durante as transmissões do Concerto de Ano Novo, até porque o seu lugar é, invariavelmente, ao lado direito do Maestro. Logo, às 18,30 assistirei a uma conversa entre ele, o Maestro Andrés Orozco-Estrada e Mathias Schulz que precede o segundo Concerto com a Filarmónica de Viena.
 


Nikolaus Harnoncourt dirigierte die Wiener Philharmoniker im Großen Festspielhaus.


2015, Salzburg, XV
(27 de Janeiro)
 

Medalha de Ouro!

[facebook, 28.01.2015]

Foi ontem de manhã, durante uma daquelas cerimónias tão formais como os austríacos sabem apresentar, sempre com todos os toques de «elegante informalidade» que a Cultura, as Artes e a Beleza suscitam a todos os que as cultivam e delas são privilegiados destinatários.

Mitsuko Uchida, aqui considerada como tendo conseguido alcançar o patamar onde está o 'divino' Amadé' - como sempre dirá, e muito bem, o MQI José Anes, que jamais me cansarei de nomear nestas minhas andanças - estava naturalmente comovidíssima. Os aplausos não paravam, risos, sorrisos, lágrimas de júbilo, abraços muitos mas com imenso cuidado que ela é frágil...

Tenho assistido a festas idênticas em que a Medalha de Ouro do Mozarteum - o mais alto galardão concedido a quem, universalmente, se reconhece ter concretizado os mais distintos trabalhos a favor da «causa mozartiana» - foi atribuída a Alfred Brendel e a András Schiff. Naturalmente, ficam comigo os momentos inesquecíveis em que tocaram peças de Mozart durante tais actos.
 
Ver mais
Mitsuko Uchida
gab eine Matinee und hat an Mozarts 295. Geburtstag die Mozart Medaille erhalten

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015



2015, Salzburg, XIV
 
[facebook, 27.01.2015]
 
Como vos tinha informado, durante a Mozartwoche, a Cantata "Davide penitente" KV. 469 de Mozart, apresenta-se em três récitas. Dei-vos conta da estreia, a que assisti no passado dia 22. Anteontem, domingo, dia 25. sucedeu a segunda. Foi depois da função que Marc Minkowski e Bartabas se encontraram, durante uma requintada ceia com a Sra. Gürtler que é a grande responsável pela famosíssima Alta Escola de Viena.
 
Espero que os meus queridos amigos da Parques ...de Sintra acedam a esta foto porque, para eles tenho um especial recado. Depois de ter falado com o grande maestro, e, em nome do Dr. Manuel Baptista, lhe ter oferecido o livro da autoria da Dra. Teresa Abrantes sobre a Escola Portuguesa de Arte Equestre, ela que, justamente, é a sua directora, fiquei com a certeza de que, logo lhe seja possível, Minkowski virá a Queluz.
 
E, como soe dizer-se, com a mesma cajadada... Por um lado, satisfará a sua paixão pelos cavalos e, por outro, tão ou mais importante, fará os contactos que se impõem na vertente musical, de acordo com as referências que lhe deixei e, durante esta minha estada, ainda penso acrescentar.

Ficou impressionadíssimo com as fotos que ilustram a obra, o mesmo acontecendo, aliás, com Geneviève Geffray, acerca de quem acabei de publicar um texto sobre a amizade que mantemos há tantos anos.

E, se as coisas correrem a contento, num futuro não muito longínquo, seremos capazes de publicar uma foto deste género, com conotações directas e imediatas à Música e à Arte Equestre que, no caso da Parques de Sintra, constituem centros de inequívoco lugar geométrico de actividade empresarial de tanto prestígio.
 

Marc Minkowski, der künstlerische Leiter der Mozartwoche traf gestern nach der Aufführung von Davide penitente Frau Gürtler, Chefin der spanischen Hofteitschule Wien, gemeinsam mit dem Choreographen Bartabas.