[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Os emergentes da
Praia Pequena
*

Com natural espanto, só nos últimos dias me apercebi de que, na Praia Pequena, já é permitido estacionar o carro próprio junto do areal. Embora inacreditável, é tão verdade que, a comprová-lo, no passado fim de semana, lá estavam vários automóveis, a poucos metros dos refastelados proprietários.

Até há pouco tempo, aquela era uma cena impossível. Para todos os efeitos, o acesso não era autorizado, e reforçando a interdição, ao cimo da rampa, uma forte corrente entre dois pilares dissuadia qualquer condutor mais expedito ou habilidoso. Mas a irresponsabilidade e o regime de impunidade que os prevaricadores sentem existir, autorizaram a condenável remoção do referido dispositivo de vedação e, portanto, abrindo a porta para ir até lá abaixo, parquear e voltar, com muitos cães atrás, mais os respectivos acessórios e pertences.

As arribas são instáveis? Há probabilidade de desmoronamento? Parece que sim pois, se assim não fosse, não teriam sido colocados cartazes alertando quanto a essa possibilidade. De qualquer modo, lá continua a placa de trânsito proibido e, bem explícita, a mensagem que exceptua os veículos de emergência. Ignorando o perigo a que sujeitam pessoas e bens, um punhado de emergentes cidadãos faz o que lhe dá na real gana.

Opinam alguns que o facto de se tratar de uma praia sem vigilância poderá induzir tais comportamentos. Contudo, como conjugar este tipo de actuação, sem qualquer controlo nem sanção por parte das autoridades, com a recente requalificação da plataforma sobranceira ao oceano, através da instalação de vedações, resguardos com assentos, tudo em boa madeira e em perfeita adequação com o usufruto do fabuloso panorama que dali se alcança?

De que vale requalificar se, posteriormente, se autoriza a prática de tanta falta de civismo? Na verdade, é outro manifesto da tão perniciosa e indisfarçável cultura de desleixo, ou seja, e tão somente, mais uma questão de autoridade por resolver.

*Publicado JS, 31.07.09

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Pois é,
a ignorância…

Em tempo de férias de Verão e de maior frequência dos areais, cada vez mais vai rareando a praia onde não se promove actividades de animação. Na maior parte dos casos, através de apelos em alta gritaria, um ou dois jovens animadores, conseguem arrebanhar uns participantes para os plastificados recintos em que actuam. Armados de microfone e ligados a potentes amplificadores e respectivas colunas, sugerem movimentos ao colectivo dançante que corresponde até ao esgotamento.

A música (?) de fundo é a que todos conhecem. Parece que o objectivo é praticar desporto (??) e contribuir para um quotidiano saudável (???). Entre muitas coisas, cujo esclarecimento apenas deve residir na cabeça de certos iluminados, sobressai a necessidade de consumo de muitos decibéis por estas iniciativas, indispensáveis ao apelo às criancinhas e jovens de todas as idades como, tão criativamente, designam o público alvo…

Como se impunha, Sintra, ou seja, a Câmara Municipal de Sintra, não podia alhear-se da nacional alarvidade. Todavia, como muita gente reconhece, trata-se de uma campanha que, com tanto som no ar, se farta de incomodar quem, ingenuamente, ainda pensa ser possível ir até à praia para passar umas horas sossegadas, se possível, sem quaisquer agressões diante do mar e do horizonte.

Atente-se no caso da Praia Grande. O programa em curso subordina-se ao tema património do desporto. Não sei, nem me interessa, se é coisa que se estende a outras praias. Registo, isso sim, a grande originalidade da proposta por estas bandas. Bom seria, no entanto, propiciar uma ou outra pista para que se percebesse o jogo das implícitas, tão ricas e doutas conotações…

Avesso militante que sou a suburbanas práticas que tais, ousaria propor aos iluminados promotores destes desconchavos que procurassem concretizar alternativas à altura de Sintra, terra que se reclama defensora do património em todas as vertentes. Para o efeito, ainda me permitiria sugerir que consultassem bibliografia afim dos jogos tradicionais portugueses.

Finalmente, especificando um pouco mais, não tenho a menor dúvida em aconselhar se familiarizem com os textos do Prof. Doutor Mário Cameira Serra (que, há tantos anos, foi meu formando, no quadro de acções de formação promovidas pelo Ministério da Educação), autoridade nacional na matéria, onde encontrarão sugestões perfeitamente adaptáveis a estes enquadramentos estivais, em que se impõe fazer render uma vertente lúdica de interesse indesmentível.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Haydn, sempre

Venho lembrar-lhes a efeméride dos duzentos anos da morte de Joseph Haydn (1732-1809). Adjectivar a obra deste grande mestre da Primeira Escola de Viena resultaria num exercício de pura redundância. Haydn é compositor que qualquer verdadeiro melómano comemora muito frequentemente, ouvindo, ouvindo. E, para proveito vosso - que, como sabem, se reflectirá à vossa volta, como as ondas de choque após a pedra que se lança à tranquila superfície do lago - sugiro a audição de Die Schöpfung (A Criação).

Ouçam na totalidade, claro. Não façam como, actualmente, se procede na Antena Dois, ficando-se pelos excertos dos momentos mais conhecidos, em especial, o que corresponde à altura em que, a partir do caos, o Criador fez a Luz, uma das mais conhecidas gloriosas explosões da História da Música. Não deixem de confirmar como se trata de uma obra maior da nossa cultura ocidental judaico-cristã, um orgulho civilizacional para todos.

Em Salzburg, já este ano, durante a Mozartwoche, tive o privilégio de ouvir esta oratória interpretada sob a direcção de René Jacobs, com a Orquestra Barroca de Freiburg, o Coro de Câmara da RIAS e vozes do soprano Julia Kleiter, do tenor Maximilian Schmitt e do baixo Johannnes Weisser. Para mim, que conheço esta obra de trás para diante, tal audição constituiu uma autêntica epifania. Acreditem que não será fácil fazer melhor.

É obra que se ouve recorrentemente. Devem fazer-se acompanhar do libretto para não perderem nem uma do imenso caudal de belíssimas palavras, em que estão plasmadas O Genesis, o Livro dos Salmos, para os hinos corais de louvor, o Paradise Lost de Milton e o trabalho de corte e costura do Barão Gottfried van Swieten que, para o efeito, terá produzido o primeiro texto bilingue alemão/inglês.

Apenas para aqueles que ainda não disponham de uma gravação deste fundamental monumento, aconselharia a do maestro Wolfgang Gönnenwein, dirigindo a Orquestra do Festival de Ludwigsburg e Süddeutsches Madrigalchor de Stuttgart, solistas Helen Donath, soprano, Adalbert Kraus, tenor e Kurt Widmer, baixo.

Boa audição! E podem estar certos de que hoje ainda podem receber muito bons conselhos de índole cultural mas nenhum melhor...








segunda-feira, 27 de julho de 2009


A propósito
(de um concurso de piano)

Sempre que posso, não perco. Tenho assistido a muitas provas públicas, tanto em Portugal como no estrangeiro, sempre na expectativa de, eventualmente, ser surpreendido por algum intérprete excepcional, de ter o vislumbre da centelha, de poder assistir à manifestação de um inequívoco talento apontado à grande Arte, de partilhar o instante mágico da recriação musical pelo jovem que tudo promete.

Naturalmente, no âmbito do Concurso Internacional de Piano de Vendome, acompanhei as provas eliminatórias dos quinze concorrentes que se apresentaram no grande auditório da Gulbenkian. Lá estive até ao fim da passada quinta feira, dia 23, altura em que, de acordo com as regras, ficaram apontados os dois concorrentes que acabariam por disputar a final.

De modo algum surpreendente em circunstâncias que tais, nenhum dos finalistas seleccionados pelo júri coincidiu com o favor do conhecedor público presente na Gulbenkian. Mais uma vez sucedeu aquilo que, já há muitos anos, me levou a concluir que os tais momentos mágicos, de grande música para piano, em que se avalia a capacidade do recitalista e do concertista, não acontecem nas grandes finais mas, isso sim, a montante, nos dias precedentes.

Tive o privilégio de assistir a tudo quanto se passou nos grandes bastidores. Por outro lado, como não tenho necessidade de remates institucionais, não fui à final. Não só no caso dos concursos musicais mas também no de outros contextos artísticos que pressupõem grandes finais – que, tantas vezes, não passam de encontros sociais – cada vez mais, me fico pelas linhas e entrelinhas.

E neste particular caso do Vendome, até a própria designação me suscita memórias de uma sofisticada praça de Paris, tão conotada com linhas de Chopin e entrelinhas de Mesmer. Por aqui fora poderia continuar, com outras relações musicais, lembrando como Mozart aproveitou as propostas de Mesmer em Cosi fan tutte… É fascinante como os saberes e a experiência da vida se plasmam num fluxo tão inesgotável de sensações, de memórias…


sexta-feira, 24 de julho de 2009



Que comparação!


Hoje, apenas venho pedir-vos um exercício de comparação. Primeiramente, pensem no tão recente e paradigmático caso da actividade de supervisão que Vitor Constâncio, Governador do Banco de Portugal, era suposto ter conduzido nos casos do BCP, BPN e BPP e que, inqualificavelmente, com tanto prejuízo para os cidadãos, deixou de exercer ou exerceu de modo negligente e, como chegou a admitir, talvez com uma certa dose de ingenuidade.

Por outro lado, com sinal oposto, lembrem o modo competente, digno, sério, isento e corajoso como o Presidente do Tribunal de Contas, Guilherme de Oliveira Martins tem liderado aquela instituição. Dali, para sossego de todos, só chegam boas notícias. Ultimamente, mais uma preocupante denúncia, i.e., de ter sido ruinoso para o Estado e, portanto, lesivo dos interesses dos contribuintes, a concessão do terminal de contentores de Alcântara à empresa Liscont, do grupo Mota-Engil, tão afecto ao poder vigente. E, ainda, a promessa de envio de documentação afim da negociata para instâncias judiciais.

Com base nesta constatação, que bom seria poder generalizar a implícita conclusão a toda a sociedade, esperando que a cada cidadão desleixado correspondesse outro, cuidadoso e diligente! Teríamos uma beatífica paridade. Como tal não acontece, a desproporção é tremenda e dilacerante...


quinta-feira, 23 de julho de 2009

Festival do Estoril,
dias de contentamento

Só tenho razões para me congratular em relação àquilo que, há poucas semanas, escrevi acerca da programação do 35º Festival do Estoril. Com uma oferta de eventos absolutamente notável e de grande coerência, difícil tem sido, no meu caso pessoal, acompanhar todos os recitais e concertos uma vez que outras manifestações culturais vão solicitando atenção, obrigando a opções inevitáveis.

Aqui tão perto, o Festival do Estoril é um magnífico exemplo de preocupação de manutenção das características identitárias que, a nível nacional e internacional, o fizeram conhecido e reconhecido ao longo do tempo, preocupação esta que, aliada à preservação da qualidade, não tenho a mínima dúvida em afirmá-lo, são os factores de maior relevância para a aceitação de que goza, nos meios cultural em geral e no musical, em particular.

Aliás, ao escrever estas encomiásticas considerações, depois de ter assistido aos concertos da Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras com Rui Lopes como solista em fagote, do Wiener Mozart Trio e dos pianistas Alexander Ghindin e Alberto Nosè, mais não faço do que me inserir na linha de reconhecimento com que, ao mais alto nível, a Comissão Europeia decidiu distinguir as Semanas de Música do Estoril.

De facto, no contexto do Ano Europeu para a Criatividade e Inovação, este festival mereceu o FestLab Pass chamando a atenção para a sua dimensão de laboratório criativo, algo que, afinal, todos os anos se repete através da promoção do talento de novos intérpretes e de novas obras musicais, nos Cursos Internacionais de Música do Estoril, no Concurso de Interpretação do Estoril e no Encontro Nova Geração de Compositores do Mediterrâneo.

Aqui ao lado, tão perto, sob a direcção de Piñeiro Nagy e dos adjuntos Nuno Vieira de Almeida e Nikolay Lalov, o Festival do Estoril é uma autêntica lição. Com recursos limitados, portanto, obrigados a um percurso de grande contenção e equilíbrio e balizados pelos princípios já aludidos, melhora a imagem e o produto cada ano que passa.

PS:

Gostaria de chamar a atenção para o 1º Festival das Artes, promovido em Coimbra pela Fundação Inês de Castro. Desde já vos digo que o considero um verdadeiro paradigma. Aliás, não é caso para admiração já que estão ligadas à proposta pessoas de grande nível.

Quem leu os meus textos acerca da conveniência da subordinação dos eventos a um tema comum, da necessidade de estrutura lógica, coerência interna e identidade dos festivais, percebe como subscrevo totalmente a proposta deste novo acontecimento cultural. Para já, acedam a
www.festivaldasartes.com e não hesitem, vão mesmo a Coimbra. Já sabem, vão por mim...


quarta-feira, 22 de julho de 2009

Campismo no Largo Virgílio Horta


[Eis mais um dos comentários de Fernando Castelo que resolvi trazer à primeira página]

"(...) Tenho procurado não atender às surpresas que os políticos reservam a Sintra, talvez até por razões humanitárias.

Ontem, jantando com o nosso comum amigo Eng. Diogo Palha, dizia-me – com a autoridade da sua idade – que o problema de Sintra já não é político mas sim de flatos incontrolados. Entre outras coisas, referia-se à forma como, cheios de gás, alguns políticos cozinham o nome de Sintra temperando-o com o romantismo, ou falando em "especificidades únicas no mundo", levando-nos depois a deglutir a prática de caravanismo selvagem no Centro Histórico.

Aliás, face ao que se vai assistindo, não está posta de parte a hipótese de, um destes dias, o Largo Dr. Virgílio Horta acordar com várias tendas lá montadas, com políticos cordatos a levarem o pequeno-almoço aos campistas.

No meio da nódoa que, internacionalmente, está a ser dada, quer ao prestígio de Sintra quer ao seu Turismo e pretensa Marca, ao menos a Câmara Municipal de Sintra, com mais um empréstimo bancário, poderia adquirir – para ofertar aos caravanistas – uns tantos baldes de alumínio com cordas para retirarem água do canal que por lá corre.

Talvez a moda pegue para envergonhar os milaneses que poderiam fazer campismo na Piazza del Duomo, ou os austríacos que só ganhariam com umas tendas à entrada da Abadia de Melk; um estendal de roupa debaixo dos olhos da Neues Rathaus, em plena Marienplatz seria o orgulho dos muniquenses tal como seria belo um lavar de tachos na Piazza della Libertà em Florença.

Não admirará, pois, que o parque de estacionamento junto à estação da CP também sirva de sanitários públicos, com as virtudes de ser ao livre: só lá faltam uns canteiros com florinhas...
Fernando Castelo, 21.07.09"


segunda-feira, 20 de julho de 2009

Rio do Porto,
o amor e uma cabana

Hoje não sei o que aconteceu, não passei por lá. Ontem, cerca das nove da manhã, havia uma dúzia de avantajadas autocaravanas, todas da zona Euro - espanholas, francesas, italianas e belgas - estacionadas no parque de campismo do Rio do Porto. Na altura, antes de se fazerem novamente aos seus caminhos, os respectivos ocupantes desentorpeciam as pernas depois da pernoita.

Por acaso, não havia toalhões turcos pendurados nem mesas de campismo com restos de comida. Mas já vi, fotografei e publiquei. Por acaso, ontem, parece não ter havido desacatos mas, há uns tempos, registaram-se assaltos. Naturalmente, alguns dos poucos residentes da zona temem, sempre à espera de que qualquer coisa aconteça.

Se quiserem, pensem nas condições sanitárias. Se aí chegar a vossa preocupação, também podem imaginar ao que, em termos de segurança, se sujeitam aquelas estrangeiras pessoas. Há anos que denuncio a situação, inclusive junto da autarquia e da autoridade policial, sem qualquer resultado.

Tudo isto se passa a escassas dezenas de metros dos Paços do Concelho. Olímpica e sintomaticamente, os doutos autarcas toleram e autorizam o despautério. Conjugo esta situação com uma recente notícia do DN, acerca da oferta hoteleira de Sintra, capital do romantismo. Não tenham dúvida, o Rio do Porto deve inscrever-se no capítulo de «o amor e uma cabana»...



sexta-feira, 17 de julho de 2009

Sintra,
partidas e chegadas*

Parece-me muito interessante a ideia defendida pela CDU de Sintra, por ocasião das comemorações do centenário da Força Aérea Portuguesa, de propor a abertura à aviação civil da Base Aérea no.1, na Granja do Marquês. Apesar de não ser a primeira vez que a sugestão é ventilada, cumpre saudar tanto os argumentos como o sentido de oportunidade.

Vive-se um momento de particular turbulência económico-financeira, no meio de uma crise de preocupantes contornos, cuja primeira consequência vai no sentido de equacionar o novo paradigma para a conjugação do binómio energia/transportes. Nestes termos, a proposta daquela coligação partidária reveste-se de particular acuidade e pertinência para o futuro de Sintra, em especial, no contexto de uma zona metropolitana carecida de medidas verdadeiramente estratégicas que não comprometam o seu futuro.

Na realidade, a exemplo do que acontece nos arredores de capitais europeias como Londres, Bruxelas ou Paris, cujos aeroportos principais se articulam com pequenas unidades aeroportuárias, em rede complementar que permite especializar funções e servir destinatários específicos, também Lisboa precisaria que Sintra permitisse o descongestionamento da Portela e de Tires, constituindo-se o nosso aeródromo como inequívoca mais-valia para o desenvolvimento económico do concelho.

Relativamente a medidas estratégicas no âmbito dos transportes, ainda me parece da maior relevância se concretizasse o sonho, tantos anos esquecido, que passaria por unir Sintra, Estoril e Cascais, através de uma linha de eléctrico ligeiro rápido, muito simples e funcional, com as vantagens que todos conhecem. Prejuízos? Estou em crer que só a empresa rodoviária, actualmente monopolista do péssimo serviço, poderia reclamar…

Todavia, muita coisa teria de mudar.

A propósito, e, para todos os efeitos, oxalá estejamos a viver o estertor desta fase de proverbial incapacidade da autarquia, patente no escândalo do actual carro eléctrico – já aqui tantas vezes denunciado – que, depois de investimento tão significativo, apenas circula entre Estefânea e Ribeira. Por mais que procurasse, difícil seria encontrar maior símbolo de incompetência!


*Publicado no JS, 6ª Coluna, 17.07.09






quarta-feira, 15 de julho de 2009


Nota introdutória

Fernando Castelo, dentre as pessoas que conheço - e conheço grandes viajantes - é das que mais se desloca por esse mundo. Ainda não há três meses, andava pelo Vietname e, hoje mesmo, ei-lo na Polónia, onde, aliás, já esteve outras vezes.

Fernando Castelo não é um turista. Se bem compreendem a diferença, é um viajante, informado, culto, para quem a viagem é também um inesquecível momento de formação e de enriquecimento. Longe de Sintra, sempre atento ao que por cá se passa, enviou um comentário ao texto ontem aqui publicado que passo a transcrever. Não estranhem o título que lhe atribuí. Já vão compreender...

Tanta gente desdentada !...


"(...)

Mesmo longe da nossa Sintra, este blogue é um espaço incontornável. Ainda bem.
O tema é velho e, tal como diz, também admito que andamos a ser gozados, face à notória indiferença de quem é remunerado pelos nossos impostos, que são impostos.


Por este mundo fora, em todas as cidades históricas há soluções, mas parece que, por aqui, é que a coisa é difícil, porque é diferente. Os umbigos serão mais redondos, por certo.

Sintra atafulhada de carros, sem saída, parece ser uma virtude cara aos responsáveis pelo ambiente.

Sintra onde os visitantes apenas passam, parados na estrada ou em circulação lenta, deve ser um orgulho para os responsáveis pelo Turismo.

Sintra sem transportes públicos qualificados e ajustados, sem parques na periferia com ligações rápidas, deve corresponder aos objectivos terceiro-mundistas de quem nos gere.

Quantas vezes se tem denunciado o escândalo da Serra, especialmente a caminho da Pena, cheia de carros e perigos em caso de uma sempre possível evacuação, e tudo na mesma, até ao dia em que se desculparão descaradamente.

Como nestas e noutras coisas recordo a minha querida professora, a menina Alicinha como respeitosamente nos dirigíamos a ela, que nos recomendava amiúde e nos amedrontava: "Não mintam, pois a quem mente caiem-lhe os dentes".

Que pena a profecia não corresponder à realidade, para sorte de muita gente que anda por aí.
(...)"

Fernando Castelo

terça-feira, 14 de julho de 2009


O pior de tudo

Foi subordinado a este título que José Vítor Malheiros, subscreveu o pequeno texto que passo a transcrever do suplemento Pública, do jornal "Público" de 12.07.09:

No centro de Sintra não se pode estacionar mas… fora do centro também não. Quem chega a Sintra de carro o que deve fazer? Dobrar o carro e metê-lo debaixo do braço? Será que a Câmara não devia dizer? Ou então que diga que os carros são mal-vindos, que se deve ir de comboio, e depois proporcionar para os trajectos mais procurados mini-buses ou carrinhos eléctricos ou o que for.”

Como eu, como nós compreendemos… Ando há dezenas de anos a dizer e a escrever acerca da solução a que JVM alude, ou seja, os parques periféricos de estacionamento, estrategicamente situados, porventura coincidindo com o limite de cada uma das três freguesias da sede do concelho, a partir dos quais funcionariam, não só mini autocarros mas também outro tipo de transportes públicos, cuja tarifa já incluiria a do estacionamento, com destino aos diferentes pontos turísticos e zonas de serviços.

Cheguei ao ponto de propor carreiras com as respectivas paragens, de alvitrar as articulações de diferentes meios de transporte. Fartei-me de apresentar sugestões e de me dar ao trabalho de reunir com técnicos camarários que, durante anos, me foram entretendo, até perceber que o gozo tinha ultrapassado a medida limite da minha elegância e boa educação.

Como não quis atingir o descalabro de ter de mandar alguém para onde não gostaria de ir, resolvi acabar com as reuniões de empata, passando apenas a dedicar-me à denúncia escrita. Outra coisa que fiz, foi deixar de participar nas reuniões públicas da Câmara e na Assembleia Municipal. Não tenho estômago para assistir a tantas ofensas aos direitos dos cidadãos, protagonizadas pelos próprios eleitos.

O pior de tudo – JVM há-de autorizar que me aproprie do seu título – até nem é ter perdido, só com o actual executivo, oito preciosos anos de inércia traduzida, por exemplo, na falta dos tais parques de estacionamento. O pior de tudo é que, com tal atitude, os eleitos minam a essência da própria vida democrática, insistindo, persistindo na perniciosa cultura do desleixo, que compromete o presente e o futuro das gerações que espreitam tanta incompetência.




segunda-feira, 13 de julho de 2009

Byron,
novamente em Sintra

Ao longo dos anos, o que não tem faltado é cruzar-me com pessoas convencidas de que conhecem razoavelmente os motivos, o geral enquadramento das viagens e, inclusive, se afirmam ao corrente de detalhes da estada de tantos conhecidos estrangeiros que, para sempre, acabaram por deixar o nome colado à história de Sintra.

Na verdade, não raro, basta trocar umas singelas ideias para que, tão rápida quanto surpreendentemente, conclua pela extrema superficialidade da informação que detêm tais pessoas. E são professores, gente mais ou menos interessada pela vida cultural em geral.

O rol de notáveis é infindável. Por ordem cronológica e, apenas lembrando aqueles que deixaram obra publicada acerca de Sintra, poderia citar, desde Luísa Sigea, passando por Carl Israel Ruders, William Bradford, William Kinsey, James Murphy, William Beckford, Heinrich Friderich LinK, Robert Southey, até Byron, o grande poeta romântico inglês que merecerá especial referência neste texto.

Entretanto, sem que me alongue em exaustiva referência, ainda poderia continuar nomeando Lady Jackson, J. Moyle Sherer, Lovell Badcock, Dora Wordsworth, Hans Christian Andersen, Tennyson, Príncipe Lichnowsky, Conde de Schack, Padre Prospero Peragallo, Valéry Larbaud ou Thomas Bernhard.

Porém, como já dei a entender, é a figura de Byron que, de novo, se apresenta perfeitamente incontornável, na semana que agora começa, para quem se interessa por este universo dos visitantes ilustres. E tudo porque, em boa hora, a Parques de Sintra Monte da Lua decidiu promover uma actividade que, não tenho a menor dúvida, vai deixar marca indelével no programa de animação cultural que está a concretizar com tanto sucesso.

Trata-se de uma oportunidade excelente para, realmente, ficar a saber mais sobre Lord Byron, a sua personalidade, as impressões sobre o Portugal que conheceu, sobre Sintra que tanto o impressionou. Tal vai acontecer de uma forma tão viva quanto nos garante o trabalho de The Live Literature Company, sob a direcção de Valerie Doulton, com duas peças, Byron in Love e Byron the Poet, de Anne Fleming, escritora inglesa que já publicou três obras sobre o poeta.

Desta vez, trata-se de teatro. Byron regressa a Monserrate, mais precisamente ao Terraço Sul do Palácio, nos dias 16, 17 e 18 de Julho, às 18,30 pela mão dos actores, Rufus Wright e Madeleine Worrall. Faça o tempo que fizer, será sempre propício este encontro tão promissor. E não esqueçam que, ao intervalo, será servido um Collares de honra.

Além dos momentos de arte e de beleza que nos esperam, será Sintra no seu melhor. Reparem que, ao mesmo tempo que recupera tantas das peças do património nacional e local que lhe estão confiadas, por exemplo, na Pena e em Monserrate, o Professor António Ressano Garcia Lamas, Presidente da Parques de Sintra Monte da Lua, e a sua excelente equipa de colaboradores, não deixam o crédito por mãos alheias. Mais uma vez.

De facto, já passámos a contar com este tipo de atitudes por parte de gente de tão bom gosto e perfeitamente à altura das circunstâncias. Em Sintra, como sabem, é coisa rara, raríssima. Assim sendo, não deixem de acorrer a Monserrate e de colher o proveito deste meu conselho de Verão. Vão por mim, só quero o vosso bem...


PS:

Certamente, haverá detalhes que me escapam quanto à marcação e compra de bilhetes. O melhor é contactarem com Suzana Quaresma, através do telefone 219237333 ou do sítio www.parquesdesintra.pt





sexta-feira, 10 de julho de 2009

Fingimentos

Ao deixar a Rua Dr. Alfredo da Costa, com tantas fachadas e entranhas degradadas, bastará que passemos pelos Paços do Concelho e continuemos a caminhar em direcção à Vila Velha para perceber como esta é uma terra que não consegue respirar sem pequenos e grandes fingimentos.

Já em plena Volta do Duche, pelo passeio do lado direito, reparemos nos candeeiros. Como o lampadário, do outro lado da rua, não estava à sua altura, certo autarca de serviço acabou por autorizar a instalação de umas luzes do estilo lanternal modernaço. Claro que a canhestra decisão, fingindo a adopção de uma evidente tradição, denuncia o desconhecimento de integração de elementos do passado num espaço urbano com as características do centro histórico de Sintra.

Passada a Sapa, eis umas peças de escultura, sugerindo ao desprevenido passeante que está numa galeria a céu aberto, semelhante às que conhecemos noutras latitudes. Desta vez, é Sintra a fingir que dá grande atenção à arte contemporânea. Todavia, logo cai por terra o disfarce. Onde está o suporte de comunicação? Onde pára o enquadramento, a informação acerca dos autores, dos materiais empregues, as datas, etc?

Seguidamente, baixemos a vista até ao Rio do Porto. Lá está a área de estacionamento que, pela tardinha e noite fora, finge ser parque de autocaravanas… Outro disfarce, é a fachada de uma das ruínas locais, ainda coberta por parte residual de apodrecido painel, à laia de tapume, mas a fingir-se dispositivo performativo do esquecido “Sintra floresce”…

Mas não é tudo. Reparem que, há anos, o antigo mercado também finge. Que se transformará, anuncia, no futuro (nado morto, adiado?) Museu de História Natural. Mais à frente, o que foi Hospital da Misericórdia finge esperar uma próxima utilização no âmbito do Sistema (Nacional?) de Saúde. O Netto finge contar com os bons ofícios da Câmara de Sintra para transformação no moderno hotel que tanta falta faz e a Pensão Bristol está embargada por uma Justiça que já não consegue fingir seja o que for.

Tanto disfarce! Tanto tempo perdido!



*publicado no Jornal de Sintra, 6ª Coluna, 10.07.09

quinta-feira, 9 de julho de 2009



O quê? Onde?
Sim, na Regaleira...

Muito gostaria eu de saber o que pensam os candidatos à presidência da Câmara Municipal de Sintra acerca do projecto que o actual executivo deu cobertura, no sentido da construção de um parque de estacionamento para umas dezenas de viaturas num terreno dentro da Quinta da Regaleira.

Quando foi anunciado, no passado mês de Abril, só o Bloco de Esquerda emitiu opinião. Pena foi que, igualmente, os outros responsáveis partidários locais não tivessem vindo a público já que se trata de matéria concreta e deveras sintomática para aquilatar não só a sensibilidade quanto ao assunto em particular mas também em relação ao problema geral em que se insere.

Actualmente, em véspera de eleições autárquicas, assuntos como este revelam-se muito interessantes para que os cabeças de lista à Câmara não deixem de se pronunciar. No caso vertente, embora a componente do estacionamento seja evidente e imediata, há que perceber se, quem se apresenta a sufrágio, entende o complexo quadro de enquadramento em presença, de tal modo que o eleitor avalie da sua real capacidade de análise e de como equaciona a resolução.

Claro que não é coisa para resposta rápida, no meio de sorrisos de circunstância, ao passar por umas barraquinhas, nas feiras de Verão que aí estão a rebentar...


PS:
A Propósito, vd. Amargas amêndoas culturais, texto aqui publicado em 23.04.09.




terça-feira, 7 de julho de 2009

Queluz,
cheque à pressa

Na sua essência, o cheque-obra faz parte de uma estratégia de financiamento da recuperação de bens do património nacional, tanto mais de saudar quanto surge num país que, até ao momento, não foi capaz de se dotar dum dispositivo legal ajustado à prática do mecenato cultural que poderia suprir tantas necessidades afins da intervenção em peças degradadas com risco de perda iminente.

Nestes termos, não haverá qualquer dúvida ao saudar aquela como uma excelente e expedita medida, nitidamente a crédito de José António Pinto Ribeiro, titular da pasta da Cultura. Dezasseis empresas já aderiram ao programa que pressupõe a entrega ao Ministério da Cultura de 1% do valor das empreitadas de obras públicas que lhes tiverem sido adjudicadas.

Ora bem, de acordo com declarações de Pinto Ribeiro ao Jornal de Letras (JL, 17-30 de Junho) já foi recebida a primeira contribuição, no valor de 452 mil euros. Este montante, acrescentou o governante, destinar-se-á à pintura do Palácio Nacional de Queluz “(…) que teve agora os jardins reabilitados e abertos ao público(…)”.

Acerca desta referência é que não podemos estar de acordo. De facto, tais palavras pecam por excesso de voluntarismo uma vez que, como seria de esperar, depois de tantos anos de negligência e abandono, os jardins ainda estão em longo processo de reabilitação.

É obra grande que nada tem a ver com os prazos das legislaturas. Aconselho vivamente que visitem o espaço onde terão o gosto de perceber o caminho já percorrido e como vale a pena continuar o investimento. Mas, por favor, nada de confusões! Já bastam as pressas do Senhor Ministro…


segunda-feira, 6 de julho de 2009

Espinho, Estoril e Póvoa de Varzim,
festivais culturais

(com recado a Sintra)


Convém esclarecer que escrevo e dirijo estas linhas a quem considera qualquer Festival de Música como um especial lugar de formação, onde se permanece durante uns dias, em busca de eventos musicais imperdíveis, articulados com outras actividades culturais, obedecendo sempre a uma estrutura em que tanto a matriz definidora dos concertos e recitais programados como a sua lógica interna são indissociáveis.

Escrevo, portanto, para quem considera que o Festival propõe uma ideia geradora de afinidades, em que a música se apresenta como arte catalizadora de uma rede de interesses culturais. É neste sentido que os meus cúmplices, são melómanos, sim senhor, mas, muito mais do que isso, mulheres e homens de cultura, que entendem qualquer artefacto cultural como elemento de um conjunto, tanto mais enriquecedor quanto mais pontes possibilitar para o entendimento de si e do outro.

Os três exemplos em apreço, Espinho, Estoril e Póvoa preenchem todas as condições enunciadas. Difícil será, em função das propostas calendarizadas, optar pelo percurso que mais convenha, de acordo com a disponibilidade de cada um. Como se dá a circunstância de um ou outro artista se apresentar em dois dos festivais, aconselharia que, depois da consulta detalhada dos programas, procurassem não perder:

Espinho - a violoncelista Natalia Gutman, os pianistas Fazil Say, Artur Pizarro e a Elisso Virsaladze;
Estoril - aqui tão perto e, cada ano que passa, sempre mais apetecível - Wiener Mozart Trio, os pianistas Alexander Ghindin e Alberto Nosè, Trio Pangea, Ensemble D. João V, Orphenica Lyra, Quarteto Diotima, para além do concurso, conferências e tertúlias;
Póvoa - Conferência de Ruy Vieira Nery, agrupamentos Doulce Mémoire, Cinquecento, Graindelavoix, Les Witches e Gli Incogniti, os pianistas Andreas Steier, Arcadi Volodos.

Trata-se de festivais a sério, e, tal como o aludido Cistermúsica de Alcobaça, com uma irrepreensível programação, honrando as características que os têm definido ao longo das três décadas de existência de cada um, em que não cabem eventos desgarrados. Depois, os lugares são estupendos, lindos, com belíssimos auditórios, sempre o mar presente, óptima gastronomia. Tenho amigos austríacos e alemães que não perdem esta altura entre nós. Façam como nós, vão também. Vão por mim...










sexta-feira, 3 de julho de 2009

Outras músicas
(continuação)

A programação da Gulbenkian é um verdadeiro festival. Naturalmente, é impossível pormenorizar. Muito gostaria, no entanto, de apenas vos deixar os nomes de alguns dos mais famosos intérpretes para que, seguidamente, fossem pelos detalhes ao sítio da Fundação na internet. Ainda estão a tempo de seleccionar um conjunto de eventos que constituirão, não tenho dúvida, momentos altos da vossa vida nos próximos meses.

A orquestra e coro da casa serão dirigidos por maestros como Lawrence Foster, Cláudio Scimone, Michel Corboz, Simone Young, Michael Boder, Peter Ruzicka, Thomas Hengelbrock, Krzysztof Penderecki, Bertrand de Billy, Bernhard Klee. Nestes concertos colaborarão solistas de primeira linha tais como os pianistas Sequeira Costa, Elena Bashkirova, Artur Pizarro, violinistas Pinchas Zukerman, violoncelistas Kyril Zlotnikov, Amanda Forsyth, para além de um imenso conjunto de dezenas de estupendas vozes tão conhecidas como as do contratenor Carlos Mena, meio-soprano Angelika Kirchschlager.

No âmbito do ciclo de Piano, há que contar com Daniel Barenboim, Grigory Sokolov, Radu Lupu, Maurizio Pollini, Arcadi Volodos, Emmanuel Ax, uma verdadeira galeria de gigantes, absolutamente imperdível. No Canto, teremos Anne Sofie von Otter, Anna Caterina Antonacci, Christoph Prégardien, Matthias Goerne. No ciclo de Música de Câmara, o Trio Florestan, Seraphin Quartett Wien, Quarteto Hagen, Yo-Yo Ma e Katryn Stott, Quarteto Diotima, Quarteto ZehetMair e Quarteto Keller.

No ciclo de Música Antiga, a Academy of Ancient Music, Café Zimmermann, Andreas Staier, The Theater of Voices com o maestro Paul Hillier, The Amsterdam Baroque Orchestra com o maestro Ton Koopman, Europa Galante com o maestro Fábio Biondi e o tenor Ian Bostridge.

Haverá um ciclo de orquestras convidadas e em residência como a Sinfónica de Londres com o maestro Dir John Eliot Gardiner ou a Orquestra de Câmara da Europa com os maestros András Schiff e John Nelson, para além de um ciclo Stockhausen, outro de novos intérpretes e ainda o habitual com solistas da orquestra Gulbenkian.

Acreditem que este é apenas um aperitivo. Reparem que, tendo mencionado apenas alguns nomes, não referi uma única peça. Ao fazê-lo, reproduzo uma prática comum que parte do princípio de que gente deste gabarito só se junta a projectos do mais alto nível, ao serviço da grande música, reunindo à sua volta tudo quanto há de melhor.

Ao consultar o programa geral, vão surpreender-se com a altíssima qualidade das propostas que só na Gulbenkian é possível aceder. E, factor nada despiciendo, os preços dos bilhetes são extremamente convenientes. Na Avenida de Berna estarão como em qualquer dos melhores auditórios mundiais. Vão, vão por mim. Quem embarca numa coisa destas, depois, aguenta todos os outros desgostos

musicais...



quinta-feira, 2 de julho de 2009


Outras músicas

A Fundação Gulbenkian é uma casa que conheço desde os meus quatorze anos, quando, muito antes de dispor do magnífico edifício da sede na Avenida de Berna, começou a apresentar as suas actividades relacionadas com o mundo da música, nomeadamente, a orquestra de câmara na formação inicial de uma dúzia de elementos, para além do coro e grupo de bailado um par de anos mais tarde.

Portanto, permanente e constantemente, desde os tempos do Tivoli – e, é verdade, do Politeama, onde ainda assisti a muitos espectáculos do ballet Gulbenkian – sou daqueles que têm acompanhado e beneficiado de programas, invariavelmente de grande qualidade, desta que é considerada uma das instituições de referência mundial no domínio da promoção de eventos que obedecem a temporadas regulares, com intérpretes do mais alto nível.

Tenho a felicidade e o privilégio de, também há décadas, me deslocar regularmente aos lugares onde se faz a melhor música por esse mundo fora. Assim sendo, consigo fazer o balanço geral de milhares de eventos a que assisti ao longo da vida, podendo concluir que não seria quem sou sem o inequívoco contributo da Gulbenkian para a minha formação, não só como melómano, que é coisa secundária, mas, essencialmente, como pessoa.

Como sabem, as temporadas musicais decorrem entre fim de Setembro, princípio de Outubro e prolongam-se até Junho do ano seguinte. Claro que, só na Gulbenkian, são dezenas e dezenas de recitais e concertos com a orquestra da casa, orquestra e coro, orquestra convidada residente, ciclos de canto, piano, música de câmara, música antiga, contemporânea. Semanas há em que lá vou cinco vezes. É quase uma segunda casa.

Ninguém contesta que a FG seja um paradigma de organização. Claro que não dou novidade alguma. No entanto, só para que tenham ideia do apuro a que chega, conto-vos o que sempre acontece por esta altura do ano em que se adquirem os bilhetes.


Como todos os antigos assinantes, sou favorecido por um regime de renovação das várias assinaturas nos termos do qual, ainda durante o mês de Junho, tudo fica resolvido. Findou a temporada precedente, no dia 2, com um último recital do ciclo de piano, em prestação inolvidável de Sequeira Costa. Pois, passados quinze dias, já tinha em meu poder todos os cerca de setenta bilhetes para 2009-10! E, três dias antes, com a proverbial simpatia, a Sra. D. Faustina da bilhética, ainda telefonou duas vezes a desfazer dúvidas acerca dos meus pedidos.

Em Portugal? Pois é. Contudo, apesar de sedeada em Lisboa, a realidade da Gulbenkian não é o que poderá considerar-se à portuguesa

(continua)


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Atenção:

Podem os leitores continuar a comentar a actual edição do Festival de Sintra no sintradoavesso. Basta aceder ao texto Revisão da matéria publicado no dia 18 do corrente.