[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 31 de outubro de 2007


Monserrate,
cena de desbaste

Passou-se a cena que passo a contar há uns meses, por altura do início da grande operação de limpeza de árvores e arbustos, de um e outro lado da estrada de Monserrate. Juntamente com intervenções da mesma índole, noutros locais sob gestão da Parques de Sintra Monte da Lua, estava-se no advento de mais uma das actividades que a empresa tem vindo a conduzir no sentido de resgatar a vergonha de dezenas de anos de indesculpável relaxe.
Preciso é anteceder o relato da tal cena com uma nota pessoal que, certamente, me hão-de relevar. Todos os dias, faça sol, chuva, vento ou caia neve, esteja onde estiver, em Portugal ou no estrangeiro, cumpro o saudável dever de andar a pé tantos como são seis quilómetros, bem medidos, durante uma hora. Em Sintra, palmilho vários percursos, mais ou menos sinuosos, mais ou menos luminosos, consoante a hora que mais me convenha, em função dos compromissos.
Uma das caminhadas mais frequentes leva-me de Seteais à Quinta da Piedade, vértice do mágico triângulo que a une a Monserrate e à Pena. Por breves instantes, chegado ao largo contíguo à capela, o olhar percorre a parte visível da propriedade. Avistando a pérgula, assaltam em brilhante catadupa, imagens sonoras de tantos e estupendos deleites musicais. Bem visível e afirmativo, um renque de jovens cedros, já plantados por Teresa Schönborn, neta da Marquesa de Cadaval, orienta-se à memória da mecenas a quem Sintra e o país tanto devem. Um líquido azul, a poente, donde sobem maresias benfazejas, o castelo mouro e o palácio na montanha, à direita, não há dúvida que é um lugar de feitiço, sítio religioso, propício.
Assim, já percebem por que tanta gente me encontra, tão frequentemente, por aquelas paragens, agarrado a uma bengala que só me serve de bordão ao pensamento... Enfim, depois há que voltar ao ponto de origem, para dobrar a distância e completar o programa. Foi num desses regressos que passei pelo Dr. Manuel Baptista do conselho de administração da PSML. Sentado ao volante do seu carro, aguardava que o trânsito fluísse, após interrupção necessária à movimentação de troncos.
Grande era a azáfama, com máquinas e viaturas sem parança. O ruído produzido pelas motosserras era de tal ordem que quase não deixava que trocássemos a saudação matinal. Mas, a breve trecho, recomeçava o movimento na estrada, não sem que ainda tivesse tempo para lhe dizer como aquela actividade da PSML soava a doce melopeia aos meus ouvidos de inveterado melómano... Pois é, autêntica música, aquele serrar, libertando resinosos odores. Passados tantos anos, eis que se assiste a uma operação indispensável à manutenção das matas da zona.
Outra cena
Não me passa pela cabeça que os técnicos que conduzem os trabalhos não saibam o que estão a fazer. A minha única hipótese de avaliação decorre da analogia com cenas a que assisto nas deslocações aos festivais de música. À volta de Bayreuth, de Lucerna, de Salzburg, todos os anos, se rasgam novas clareiras, se amontoam imensos esteres de lenha, montes de estilhas cujos destinos se adivinham.
Diferentes que sejam as espécies arbustivas e arbóreas, não deixam de pressupor semelhantes intervenções, quer em Sintra quer naquelas famosas regiões europeias. Como, até ao momento, desconheço qualquer comentário técnico abalizado, favorável ou contrário à condução técnica da actividade ainda em curso, não me assiste razão para alinhar com quem tem manifestado apreensões. (*)
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(*) Vd., no espaço do blog destinado a comentários, ereis datado de 24.10.07

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Restauros,
cotação em alta

Atentos que andamos a tudo quanto, em Sintra, possa constituir lenitivo que compense a teimosa permanência de graves situações, irredutivelmente imutáveis apesar da urgência de actuação, na semana passada tivemos motivo para um certo alento. Na realidade, poucas notícias tanto nos poderiam ter alegrado como a que desceu da Serra, relativa à recuperação e restauro de duas das peças patrimoniais que mais lugar ocupam nos nossos afectos.
Quanto ao Palácio de Monserrate - na sequência da campanha de obras de que tem sido objecto em tempos recentes, os quais vão permitindo que o público aceda e usufrua dos espaços entretanto recuperados - os trabalhos de beneficiação irão prosseguir no interior, de tal modo que, cada vez mais, inclusive a nível institucional, possa funcionar como uma das mais dignas salas de visitas de Sintra.
Relativamente ao Chalé*da Condessa, cujo estado tem suscitado tantas e naturais preocupações por parte de cidadãos empenhados - e, finalmente, também na sequência de decisivas iniciativas da actual administração da Parques de Sintra Monte da Lua - vai sofrer uma intervenção à altura das circunstâncias que respeitará a identidade do edifício, a sua génese, as suas características, as memórias de Fernando e Elise e o espírito do lugar para que permaneça inequívoca aquela felicíssima e incomparável relação do imóvel com tudo o que o rodeia.
Bom será não esquecer que, para benefício do restauro em questão, deveria ser equacionado o envolvimento da Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra, que conta com um acervo documental de grande interesse já que, antes do incêndio, procedeu à completa recolha gráfica e fotográfica de todos os aspectos da construção e decoração do edifício, assim devolvendo à comunidade parte do grande investimento que a própria autarquia tem concretizado naquele estabelecimento de ensino. É uma oportunidade imperdível para antigos e actuais alunos e para a demonstração pública da alta qualidade da formação ali ministrada.
A gratidão tem nomes
Da EFTA (Associação Europeia de Comércio Livre) vão chegar significativos recursos. Parabéns à PSML que os soube ir buscar e negociar de tal modo que o fundo cobrirá setenta por cento do investimento em apreço, ou seja, cerca de um milhão e meio de euros, para Monserrate e chalé. Efectivamente, a actuação da empresa tem sido muito correcta [para desgraça bastou a dos tempos do biólogo-gestor Serra Lopes...] e discreta quanto baste. A João Lacerda Távares, vereador da CMS e membro da administração, justo é que lhe dirijamos uma palavra de reconhecimento e de incentivo.
Não cabe aqui referir, nominalmente, o empenho de alguns cidadãos nesta luta que já conta muitos anos de desgostos. Todavia, cometeria uma flagrante injustiça se não evidenciasse o envolvimento da Alagamares - para todos os efeitos, realmente a única associação de Defesa do Património de Sintra - que ao caso do chalé da Condessa tem dispensado uma atenção a todos os títulos assinalável.
Separando o trigo do joio, também continuam a pendurar-se os oportunistas do costume, militantes imobilistas por definição e natureza, identificados pelo "Saloio"** como os defensores das florinhas da Volta do Duche, que se colocam em bicos dos pés para ficarem em todas as fotografias, tentando apanhar a boleia de todos os comboios já em andamento, a quem a autarquia, incompreensivelmente, concede um crédito público totalmente imerecido. Tarda aparecer alguém a dizer que o rei vai nu...
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* Verifico que algumas pessoas continuam a referir este tipo de construção, com grafia francesa. Acontece, no entanto, que a Academia das Ciências de Lisboa admitiu a grafia chalé, aliás, tal como aparece no seu dicionário editado em 2001, pelo que esta deverá ser preferida.
** Vd. espaço reservado a comentários deste blog, "Saloio", 25.10.07.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

D. Fernando II
Pobre artista! Pobre rei!


Há muitos anos que, para mim, o 29 de Outubro é subordinado à memória de Fernando de Sax Coburg Gotha (Coburg, 29.101816 - Lisboa, 15.12.1885), um dos homens que mais decisivamente marcou a segunda metade do século dezanove em Portugal, especialmente no âmbito da defesa e recuperação do património.
Muitas são as histórias e os episódios de salvaguarda de peças de valor patrimonial inestimável, in extremis resgatadas ao destino da pura e simples destruição, não fosse a sua directa intervenção. Um verdadeiro diletante, homem informado e de grande cultura, artista ele próprio, grande amante da Música, cantor, pintor de gabarito, tão impressiva foi a marca da sua atitude e actividades que ainda hoje é lembrado sob o epíteto de rei artista.
"(...) Pobre artista! Pobre rei!" É com estas exclamações que Ramalho Ortigão termina o texto subordinado ao título O Rei D. Fernando. (*) Estas palavras são precedidas por vinte páginas de uma homenagem que, passados que já são cento e vinte um anos sobre a sua escrita, ainda hoje continuam a funcionar como pretexto para que os portugueses melhor se reconheçam, quando lhes dá para o farisaísmo, mesquinhez, ordinarice, inveja, na acabada demonstração da incapacidade de se organizarem à volta dos seus mais autênticos interesses.
Animação da Leitura,
Quem ainda não leu aquelas estupendas linhas de As Farpas e julga conhecer a grande e a pequena História de Sintra, em especial no que se refere ao legado da Pena, não sabe o que tem andado a perder. Ramalho Ortigão escreveu-as, na sequência da morte do Senhor D. Fernando, a quente, reagindo à hipocrisia de uma data de ignorantes que, ao fim e ao cabo, ainda andam por aí. Ou ainda não terão notado? Verão a razão que me assiste quando as lerem.
Uma das maneiras para melhor comemorar a efeméride, não tenho a mínima dúvida, passa pela leitura de texto tão recomendável, que tanto proveito e gozo estético proporcionará a quem seguir o concelho deste humilde escriba que se atreve, não só ao beija-mão real, mas também à evocação de um escritor maior de oitocentos. Nos dias que correm, passe a presunção, não é façanha menor...
da Música,
Mas ainda não vos deixo sem outra recomendação que, aliás é suscitada pela leitura que recomendo:
"(...) E, instalando-se num fauteuil, ao fundo da sala de música, [D.Fernando] cantou-lhe ao piano, à mais larga expressão elegíaca da sua extensa voz de baixo cantante, a Criação do Mundo, de Haydn (...)"
Ouçam essa outra obra-prima. Mesmo que já conheçam a oratória A Criação, não deixem de repetir. Dêem-se ao luxo de participar naquele momento sublime da História da Música que cioincide com a fracção de Tempo em que, no Espaço do caos, a luz se fez. O grande Haydn, introduzido pelo próprio Mozart na Maçonaria, deixa nesta obra o seu mais alto contributo para o brilhante acervo artístico da Augusta Ordem. Ouçam. Repitam.
Ainda vos escreverei que, durante alguns anos de luto, pelo que estava a acontecer no Parque da Pena, especialmente sob a desastrada administração do biólogo Serra Lopes, pedia eu a Brahms que com o seu Ein Deutsches Requiem me acompanhasse na celebração da efeméride fernandina. Como sabem, trata-se de um Requiem profano, já que não segue o cânone cristão. Mas raramente, música e textos, do Antigo e Novo Testamentos, traduzidos por Lutero, tão bem encontraram um caminho comum para celebrar a Morte das coisas e das pessoas.
e da Arte, em geral

Mas, por favor, nada de misturas. Em primeiro lugar, leiam. Depois, escutem as músicas. Não façam como tanta e tão boa gente, que afirma precisar da Música como fundo para a concretização de outras actividades culturais, como a leitura da Literatura, por exemplo. Se querem saber, eu sou completamente contra. É que tanto a Literatura como a Música são tão exigentes de concentração, que o leitor-simultaneamente-ouvinte, mesmo de obras literárias e musicasis afins, com certeza, perderá inúmeros aspectos de uma e outra obras de Arte.
Hoje, em memória de um pobre rei, em memória de um pobre artista, saibamos conceder-nos o benefício da Arte e, muito a propósito, lembremos o horaciano carpe diem que, ao contrário do que alguns consideram bem interpretar, nada tem de aconselhamento à facilidade. E facilidade foi coisa que D. Fernando jamais promoveu embora tivesse sabido muito bem aproveitar os dias da sua passagem por aqui.
(*) Ortigão, José Duarte Ramalho, O Rei D. Fernando, in As Farpas, Obras Completas de Ramalho Ortigão, tomo III, Livraria Clássica Editora, Lisboa, 1969

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Lição inesperada

Estive ontem a finalizar a preparação da minha intervenção num seminário em que, na qualidade de formador, abordarei algumas questões subordinados ao tema geral "A Estética e a Intervenção Cívica". Com esse objectivo, apenas me faltava fazer umas fotografias de conhecidos lugares de Sintra, cujos enquadramentos nem precisava ter preparado, de tão bem que os conheço, das mais diferentes perspectivas.
Foi precisamente neste contexto, de um trabalho que até estava a decorrer sem problemas de maior, que deparei com um quadro de imundície, em pleno centro histórico de Sintra, na Vila Velha, que me deixou tão desgostoso e desanimado, como há muito não me sentia. E a coisa sucedeu porque, para atalhar, desde o nosso Terreiro do Paço até às instalações da Santa Casa da Misericórdia, me meti pelo meu caminho de sempre, ou seja, através da rua que segue por baixo das esplanadas do Paris e do Central.
O fado da mouraria...
Aquilo que, uma vez cuidadosamente recuperado e arranjado, poderia, deveria ser mostrado como um interessante trecho da nossa mouraria, mais parece uma latrina à qual não falta o odor a preceito, para que tudo condiga. Sem qualquer iluminação e, portanto, quase completamente escurecido, mesmo em dia claro, não deixa de suscitar a curiosidade de turistas cujas impressões envergonham qualquer mortal...
A saída, a jusante, desemboca nuns degraus atulhados de uma mistura de areia, saibro e lama que evidenciam um desleixo inusitado e, muito menos, em qualquer lugar com as características daquele, constantemente sujeito à curiosidade de forasteiros os quais, se ainda não estavam, acabam por ali ficar perfeitamente elucidados quanto à capacidade de gestão urbana das autoridades locais.
Não conformados - pelo menos, quero eu acreditar... - mas habituados, isso sim, estamos nós, diariamente confrontados com aqueles prédios do casco histórico, ávidos de beneficiação, de uma demão de tinta que não recebem há dezenas de anos. Mas será que também já damos de barato a higiene mais rudimentar que mesmo a pobreza mais desgraçada não dispensa?
Não há por aí uns cantoneiros de limpeza a quem dar umas horas, de trabalho regular, de manutenção constante, que nos limpem a cara desta vergonha? Ou, ali mesmo, a política a manter é a de tapar as misérias com uns tapumes floridos, actualmente destruídos, decepcionante máscara de pseudo-artística intervenção performativa, num tecido urbano mais carente de água, lexívia, creolina e outros desinfectantes?
Para já, como se depreende, não me refiro às tais obras de recuperação, embora haja que concretizá-las e com a máxima urgência. Para já, era só uma intervençãozinha, por favor, para repor a higiene perdida. Não sei de quem depende medida tão simples, se da Câmara, se da Junta de Freguesia. Seja quem for, bom seria que actuasse depressa e bem.
E retomo o tema "A Estética e a Intervenção Cívica" para me questionar se poderia esperar quadro mais propício à minha intervenção. É uma daquelas coincidências que dá que pensar...

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

"Bristol" em banho-maria

Num país como o nosso em que pouca coisa funciona, com a eficácia e a celeridade que se espera num Estado de Direito, não deixa de ser minimamente gratificante verificar que, por vezes, até mesmo no âmbito da tão criticada Justiça, são aplicadas as medidas necessárias.
Ora bem, quanto mais não seja, pelo próprio título de Notas Diárias de hoje, já entenderam que me refiro ao caso da Albergaria Bristol, ali incrustada no centro histórico, paredes meias com o Museu do Brinquedo, apenas a uns metros do Palácio Valenças.
Permitam-me que, para efeitos do enquadramento do assunto, vos cite parte de um artigo que subscrevi, publicado pelo Jornal de Sintra em 13.10.06:
"(...) aí temos a Albergaria Bristol, qual fenix montelunar, renascendo de uns calhaus arrasados a preceito, atrás de uma fachada mais ou menos incólume, a fingir que se preserva e reconstrói alguma coisa quando, afinal, isso sim, se apagam e aniquilam vestígios, sinais, pormenores de construção, um acervo de natureza múltipla que integrava a memória e a história do edifício, o próprio espírito do local.
(...) há por aí uns pobres coitados, incapazes de destrinçar o que, por exemplo, diferencia a correcção de obras como as do Lawrence's das de vulgar fancaria, para tudo meterem no saco daquilo que consideram ser tudo a mesma coisa. Atrevidotes, pois claro, permitem-se dar uns palpites de avaliação sobre intervenções em casco histórico, como se se tratasse das questões de lana caprina a que estão habituadas as suas embotadas mentes.
A Câmara Municipal de Sintra (...) por um lado, furta-se ao controlo e ao exercício da autoridade democrática, decorrentes do voto popular, licenciando e autorizando intervenções pouco ou nada qualificadas (...) parece esquecer que «isto» do coração de Sintra nada tem a ver com o betão de Massamá ou de Monte Abraão ou com a infelicidade do Cacém que, com ou sem Polis, sempre serão desengraçadas selvas de cimento (...)" Fim de citação.
Passadas eram apenas algumas semanas sobre a data de publicação do artigo referido, o Tribunal Administrativo acabou por decretar a suspensão das obras, na sequência de oportuna intervenção da bancada da CDU na Assembleia Municipal de Sintra. E, na realidade, os trabalhos foram mesmo suspensos, apesar dos interesses comerciais e turísticos em presença. A Justiça, cega por inerência, actuou. (*)
Respeitar prazos...
De acordo com os termos iniciais destas Notas Diárias, muitos sintrenses acolheram a decisão judicial, com o maior respeito e apreço, como inequívoco sinal de que, efectivamente, as instituições do Estado de Direito até funcionam. Quando, diariamente, passo pela fachada tapada e entaipada daquele edifício (**), sempre penso no caso. Contudo, em complemento, não posso deixar de lamentar que, passado quase um ano, mais nada se soube.
Entretanto, quem passa no local não tem a mínima informação sobre a situação da obra. Parece evidente que, no mínimo, deveria existir um painel dando conta da decisão judicial. A própria dona da obra nisso teria toda a vantagem na medida em que evitaria o corrente boato da falência da empresa.
Pois é, a Justiça tem de funcionar mas sempre com celeridade, senão o aparente benefício inicial acaba por se transformar num prejuízo para a comunidade. Quantos anos serão precisos para que se assista ao desfecho do caso? Será admissível continuar a ignorar que, tanto neste como noutros casos, há justos interesses pessoais e gerais a defender? Infelizmente, na situação de «banho-maria», aquele edifício é mais um sintoma da cultura de desleixo que por todos os lados nos cerca.
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(*) Para mais detalhes, aceder ao sítio do Alvor de Sintra;
(**) Apenas uma curiosidade para lembrar que se trata do edifício onde alguns cidadãos sintrenses, fantasistas e visionários - que também os há - pretenderam descortinar misteriosos túneis...

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Ilha da Regaleira, II



Na sequência das Notas Diárias ontem publicadas, subordinadas ao título Regaleira, os senhores da ilha, em resposta a comentários de leitores, tive oportunidade de acrescentar algumas notas que, passe a presunção, julgo poder considerar pertinentes, pelo que sugiro a sua leitura, já que aí se formulam ou são recordadas as soluções adequadas às características do lugar. Basta accionar o comando «comments» para aceder a tais considerações.
No entanto, depois de ter chamado a atenção para textos antigos, uns já publicados na vigência deste blog, desde o dia 12 do passado mês de Setembro, e muitos outros, durante anos, no Jornal de Sintra, já hoje publiquei um texto, nesse espaço dos comentários, que resolvo trazer à primeira página, não vá passar despercebido. Ora bem, eis o escrito:
"(...)

apesar de tantos anos a remar contra a maré, continuo a ficar perplexo perante a extrema demora na adopção dos processos que podem resolver questões essenciais para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. Refiro-me a soluções que todos conhecemos, concretizadas em lugares que visitamos ou de que temos conhecimento através da comunicação social, uns mais perto, outros mais longe.

Não há nada, absolutamente nada, que possamos discutir e propor que constitua novidade. A única coisa que compete aos decisores, uma vez auscultada a comunidade - e Sintra tem dado os sinais necessários - é avançar para as soluções já sobejamente estudadas e com provas dadas ao longo de anos de concretização.

E, para o efeito, há que afectar recursos, urge desenhar aqueles processos siofisticadíssimos de engenharia financeira, em que tantos técnicos portugueses são peritos, no sentido de ir buscar dinheiro nem que seja na cabeça de um tinhoso...

No meio de tudo isto, dava um certo jeito que ressuscitasse o Movimento Cívico que foi capaz de lutar contra o projecto de instalar o parque de estacionamento subterrâneo na Volta do Duche. Pela minha parte, que me honro de ter sido um dos seus animadores, estou mais que mobilizado!

Das pessoas que participaram naqueleas vitoriosas jornadas, a maioria não se revê nas tíbias, absolutamente irrelevantes e imobilistas posições de apenas bem intencionados cidadãos que, sem o conseguirem, em Sintra se afirmam afins do que é suposto constituir o trabalho de uma verdadeira associação de Defesa do Património. Mas é tempo de tomar outras posições, corajosas, frontais, de quem, efectivamente, não tem medo de dar a cara por projectos que valham a pena." Fim de citação.

A Pena, a propósito...

Para que conste, ainda cumpre lembrar que, como a da Regaleira, outras «ilhas» há em Sintra. Não me anima qualquer senha de denúncia persecutória. Se necessário for denunciar alguma situação menos consentânea, menos apropriada, a merecer o devido reparo, cá estarei mas, invariavelmente, sem qualquer intenção persecutória.

Lembrem-se do que aconteceu na Parques de Sintra Monte da Lua. Durante anos, um certo fulano, armado em gestor, permitiu-se ofender os espaços que era suposto gerir, permitiu-se ofender os munícipes sintrenses, em particular, os contribuintes portugueses em geral, através de práticas de administração que determinados auditores consideraram «irregulares». Tarde e a más horas, acabou por ser afastado, sem que, passados anos, se conheça qual o desfecho dos processos de investigação entretanto levados a cabo. Infelizmente.

Gostaria que soubessem que, não raro, fui interpelado no sentido de não perseguir o biólogo Serra Lopes que, coitado, até era boa pessoa, que até estava animado de boas intenções... Claro que só me resta invocar São Judas Tadeu, advogado dos impossíveis... Como é possível confundir a denúncia frontal com perseguição? Alguém pôs em causa a bonomia do biólogo? Que eu saiba, apenas se pôs em causa a sua (in)capacidade como gestor, aliás, q.e.d. ...

Bem, apesar das incompreensões e do desconforto, acaba por valer a pena. A prová-lo aí está a actual administração da PSML, sob a presidência do Prof. António Ressano Garcia Lamas que, até ao momento, só nos tem dado motivos de satisfação e de quem esperamos a adopção das medidas que, paulatinamente, é preciso ainda concretizar. Como, por exemplo, contribuir no sentido de proibir o trânsito de viaturas particulares na rampa da Pena e o acesso das mesmas ao Castelo dos Mouros e ao Parque. Não é coisa fácil mas, estou certo, num prazo razoável, seremos surpreendidos pela definitiva concretização desta solução, coincidente com a abrangente, integrada e sistémica noção de Defesa do Património. (**)


(*) Vd. Notas Diárias de 17.10.07, «Irregularidades» de Serra Lopes, no rol do esquecimento?

(**) Vd. Notas Diárias de 25.09.07, Acesso à Pena, um caso especial(íssimo).

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Regaleira,
os senhores da ilha

Naturalmente, não direi que a direcção da Cultursintra, residente na Quinta da Regaleira, é a responsável pela situação de caos que ali se instala devido ao estacionamento nas imediações. Contudo, se não é a responsável, muita culpa tem no cartório...
Até hoje, jamais li ou terei ouvido qualquer dos membros do orgão executivo referir-se à resolução do problema do estacionamento das viaturas daqueles que pretendem visitar o complexo monumental e jardins da Regaleira. Nem uma referência, nem um comentário sobre o assunto, como se o assunto não existisse.
Muito pelo contrário tenho visto, isso sim, os senhores membros da direcção da Cultursintra estacionando os seus particulares automóveis, precisamente, sobre o estrelado empedrado, trabalhado por canteiros e calceteiros de outras eras - património que tão escandalosamente desrespeitam - e, a partir de tão criticável atitude, induzindo outros condutores à concretização e réplica do mesmo ordinário comportamento...
Censurável quotidiano
Isto é o que eu tenho sistematicamente visto. Sim, repito, sistematicamente, não coisa esporádica. E até já documentei, como aconteceu na edição de 1 de Setembro de 2006 do Jornal de Sintra, no artigo que subscrevi, subordinado ao título Cenas de Verão, ilustrado com seis fotografias, uma das quais, declaradamente, escancarando o automóvel do Arq. Cruz Alves «estacionado» sobre o passeio.
Actualmente, quem quiser ter o desgosto, pode observar, dia sim, dia sim, o lindo e negro Alfaromeo da Dra. Maria João Dias Ferreira, também primorosamente «estacionado», junto ao portão principal de acesso, senhora que estará completamente nas tintas para o escândalo que causa ou, melhor, provavelmente, sem sequer se aperceber do escândalo que causa comportamento tão incivilizado, tão rude e grosseiro, o que é ainda mais grave...
Repare-se que não me refiro às iniciativas levadas a cabo na Regaleira. Isso é outra e tão diferente coisa que poderá suscitar reflexões outras, de índole mais afim da avaliação do seu impacte público. Refiro-me, portanto, à sobranceria com que, do alto da torre onde foram instalados, estes senhores se permitem ignorar o caos que reina cá fora, afinal, consequente da falta de resposta de um serviço civilizado de estacionamento cuja resolução teriam toda a vantagem em se envolverem.
Episódio esclarecedor
Poderia falar de outros assuntos que bem atestam este tipo de manifestações por parte de membros da direcção da Cultursintra. Enfim, só mais um episódio. Por altura de umas intempéries do passado Inverno, as folhas acumularam-se nas caleiras, entupiram a sarjeta junto ao portão da entrada lateral da rampa a caminho de Seteais e, perigosamente, alagavam a estrada, cobrindo-a de saibros e lamas. Durante quatro dias não houve quem, na Regaleira, tivesse dado uma ordem que sustivesse a situação e a resolvesse prontamente.
Eu próprio, ali passando diariamente, perplexo perante tanta falta de sensibilidade, armado de oleado impermeável pela cabeça, que chovia desalmadamente, e de uma vara a preceito, meti as mãos ao buraco, resolvendo o caso em escassos cinco minutos. Naturalmente, logo de seguida, pedi para falar com alguém «responsável». Apareceu-me a Dra. Denise que, com umas desculpas esfarrapadas, me deu a entender que não tinha meios. Ora bem, quem afirma não ter meios, deve tomar atitudes consequentes... Tanto mais que foi posta a circular uma certa e peregrina ideia, no sentido de que a Regaleira é autosuficiente, noção que em nada se articula com o quadro que acabei de descrever.
E, tendo mencionado a necessidade de assumir atitudes consequentes, cumpre perguntar se não vai sendo tempo para que a Câmara Municipal, a força policial, a Cultursintra e todos quantos poderão estar interessados na resolução do problema do estacionamento caótico no local, irem trabalhando articuladamente, viabilizando uma solução provisória enquanto a definitiva alternativa não for concretizada?
Tal como se encontra, a situação da Regaleira é a de uma ilha, qual república independente, governada por quem não tem estado à altura de verificar que ali não há nem poderá ser construído qualquer cais acostável. Nem mesmo, e, muito menos, para os «botes» dos governantes...

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

O túnel adiado


Na semana passada, todos fomos confrontados com (mais uma!...) informação no sentido de que a reabertura do túnel do Rossio fora adiada. Em vez de Dezembro de 2007 - qual brinde de Natal - o grande evento, afinal, só acontecerá na segunda quinzena de Fevereiro de 2008.
Quem o veio afirmar foi Mário Lino, o desacreditado e ridículo Ministro das Obras Públicas, cujas bocas só são superadas pelas sempre controversas declarações dos seus colegas da Educação, da Economia, das Finanças, da Cultura, da Agricultura, da Administração Interna, da Justiça, do Ambiente, enfim, tutti quanti, de um grupo escolhido a dedo por um PM que, esse, coitado, vê tudo com óculos côr de rosa, enquanto, alegremente, vai fazendo o possível e o impossível por aumentar a vergonhosa taxa de pobreza no país que (des)governa...
Naturalmente, continuamos a ter boas razões para duvidar se a anunciada data será mesmo respeitada. Aliás, nisto de túneis, o partido que suporta o Governo, tem um azar absolutamente desmedido. Ele é o túnel do Rossio, ele é o túnel do Terreiro do Paço... São anos e anos de desvios e da consequente derrapagem nas verbas orçamentadas, descredibilizando quaisquer governantes ou autarcas e que nos desanimariam por completo não fosse o escrutínio do Tribunal de Contas, sob a orientação de Guilherme de Oliveira Martins, que nos vai dando um certo alento.
Depois do desviozinho, volto ao túnel do Rossio. E faço-o para lembrar o fabuloso capital de incomodidades de toda a ordem, desconforto, desânimo, desilusões, desgaste de centenas de milhar de pessoas - muitos familiares, amigos e conhecidos - que utilizam a mais saturada linha de caminho de ferro da Europa. Em cada manhã e fim de tarde, tanto factor negativo a aumentar e a acrescentar às já inúmeras razões de queixa, para que os cidadãos utentes mantenham e agravem um baixíssima auto-estima!... Se ainda fosse necessário publicar um manual sobre falta de qualidade de vida, a história do túnel do Rossio forneceria um manancial inesgotável.
Quem enfia a carapuça?
Haverá incompetências várias a denunciar. Num país adiado, em que tanta irresponsabilidade anda à solta, se culpas houver a suscitar, não podem morrer solteiras. No meio de um embróglio cheio de peripécias envolvendo o Estado, Refer e empreiteiros, um emaranhado que é preciso dirimir, em nome dos cidadãos que pagam impostos, veremos se aparece uma luzinha, nem que seja ao fundo de mais um adiado túnel...

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Uma polícia sem estratégia

Depois do que pudemos verificar, sobre actuação da GNR na resolução do caso suscitado pelo estacionamento clandestino no empedrado fronteiro ao Centro Cultural Olga Cadaval, sobressai uma conclusão inequívoca: a força policial, em vez de ter evitado a ocorrência de um problema que só passou a existir fruto da sua complacência e tolerância, acabou por apenas «intervir para remediar».
E isto me parece de evitar a todo o transe. A polícia tem que demonstrar publicamente que obedece a uma estratégia concertada em cada um dos domínios em que as suas actividade e competeência são exercidas. No caso do estacionamento, por exemplo, deveria ter aproveitado a circunstância para dar sinais afins da resolução do vizinho problema do estacionamento caótico, à volta do mercado municipal da Estefânea. Não o fez nem se prevê quando o fará. E é grave o que está a acontecer porque pactua com um statu quo de terceiro mundo, perfeitamente inadmissível.
Talvez ainda mais grave é o que tem vindo a acontecer junto à Quinta da Regaleira. Depois do sucedido nos fins de semana anteriores e, particularmente no último, será que a GNR não vai tomar medidas rigorosas, não permitindo o estacionamento sobre os passeios? Vamos ficar todos na expectativa e cá estaremos na próxima segunda-feira a dar os parabéns ou a lamentar...

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Civismo, moral e justiça,
ao pé da porta

Há questões de importância aparentemente irrelevante que, sendo suscitadas pela atitude desatenta, descuidada, desleixada e egocêntrica de alguns cidadãos, induzem, por imitação, fenómenos de replicação do comportamento desviante que, às tantas, transformam aquelas questões em seríssimos problemas, pondo em jogo alguns princípios de ética cuja observância é indispensável à vida em comum.
Deixem-me abrir um parêntesis, a propósito de Notas Diárias de hoje, para lembrar como a leitura de determinados textos clássicos deveria ser inequivocamente obrigatória, em algum momento do percurso da escolaridade. Entre outros, destacaria o fascinante Protágoras, diálogo de Platão, com destaque para o momento em que Zeus ordenou a Hermes que levasse aos homens o sentido moral (aidós) e a justiça (dike), a fim de haver ordem nas cidades e laços harmoniosos de amizade.
Mesmo nas situações qualificadas como pouco significativas, basta que o sentido moral e a justiça seja oportunisticamente «esquecido» apenas por um cidadão, para se gerarem evitáveis momentos de imitação indutores dos conflitos de interess. E, quando isso acontece, preciso é que uma autoridade reponha a regularidade, que sendo extremamente frágil, tão frágil como o próprio homem, a todos convém porque é absolutamente vital.
Exemplo edificante...
Querem um exemplo muito comezinho? Imaginem que, aqui no Centro Cultural Olga Cadaval, trabalha um daqueles cidadãos que, não tendo lido o Protágoras, também não terá sido, por qualquer outra via, beneficiado com os valores da moral e da justiça. Sentindo que, melhor do que ele, só Nosso Senhor Jesus Cristo e, com alguma dificuldade, o special one decide que a sua superior qualidade (?!?) justifica que estacione o seu carro numa zona totalmente proibida, portanto, à revelia do que está estabelecido como Lei para todos os cidadãos, que a ele não atinge, haja em conta a importância que atribui ao seu excepcional estatuto...
Naturalmente - ou, talvez, nem tanto - os colegas, em vez de, frontalmente, porem em causa, de denunciarem um comportamento que, tão manifestamente, desafia a Lei vigente, acabam por fazer aquilo que é mais fácil e habitual num país onde impera a cultura do desleixo, ou seja, imitam a atitude desviante, sob a desculpa de que ou há moralidade, ou comem todos... E,num ápice se gerou a cena a que todos assistimos nas semanas precedentes.
Claro que não posso jurar que as coisas se terão passado assim. Situações análogas, em contextos semelhantes, levam-me a apostar que algo de idêntico terá acontecido por aqui. O que não é normal é que a autoridade tivesse levado tanto tempo a repôr a legalidade. Mas fê-lo, de acordo com a vontade dos agentes culturais envolvidos, nomeadamente, a Dra. Maria Nobre Franco do Museu de Arte Contemporânes e Dr. Mário João Machado da Sintraquorum, CC Olga Cadaval. E, afinal, foi tão fácil ccolocar aquela barreira de ferro... Saúdo a GNR pela exemplar actuação, ainda que tardia.
Inadmissível, contudo, continua a situação à volta do mercado da Estefânea - a começar na Rua Capitão Mário Alberto Soares Pimentel, onde se estaciona livremente, mediante a complacência da mesma GNR, cujo regime é o de trânsito vedado a automóveis, por ter sido oportunamente pedonizada, exactamente como a Av. Heliodoro Salgado - para se estender às ruas limítrofes, suscitando quadros de perigo iminente, com particular acuidade em dias de mercado.
É inadmissível mas remediável, mesmo hoje, ainda que não estejam disponíveis as alternativas que a Câmara Municipal de Sintra não pode escusar-se a concretizar.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

«Irregularidades» de Serra Lopes,
no rol do esquecimento?

Lembram-se do caso protagonizado em Sintra pelo biólogo Paulo Serra Lopes, desde a constituição da empresa em 2000 e que, até ser substituído pelo Engº António Abreu em 2003, foi Presidente do Conselho de Administração da empresa de capitais públicos Parques de Sintra Monte da Lua?
Em linhas muito, muito gerais, o ex-«gestor» do aquário do Parque das Nações, cometeu uma série de irregularidades na condução dos interesses da empresa que foram objecto de duas auditorias e suscitaram prolongadas investigações da Polícia Judiciária. Eu próprio, por duas ou três vezes, em sessões públicas, interpelei o Senhor Presidente da Câmara Municipal de Sintra acerca do que se teria apurado, sem que o Professor Fernando Seara pudesse adiantar qualquer informação porque a matéria estava sob a reserva do segredo de justiça.
Como tenho muito mais que fazer, deixar-me-ia de preocupar com o caso se as aludidas irregularidades tivessem sido concretizadas com o dinheiro pessoal de Paulo Serra Lopes ou da sua conhecida família. Ora acontece que o biólogo-gestor, no exercício de uma gestão muito controversa, terá actuado, irregularmente, inclusive em benefício próprio, com os dinheiros públicos que estavam à sua disposição. E isto é causa de escândalo, tanto maior quanto são dinheiros públicos, repito, dinheiros de um povo tão pobre que vinte por cento - números de hoje! - vive no absoluto limite da pobreza.
Então e o quarto poder?
Na verdade, desconheço se o caso, hoje objecto de atenção, já caíu ou não no rol do esquecimento. Em Portugal, o ritmo a que obedece a máquina da justiça é de tal modo lento que mesmo os assuntos mais palpitantes vão ficando tão longínquos que o cidadão comum, muito naturalmente, deles se esquece, perdendo-lhes o rasto, para logo ceder à voracidade mediática de bombas cada vez mais morbidamente apetecíveis.
Todavia, o caso de Serra Lopes na Monte da Lua só não é devidamente tratado na comunicação social local e nacional porque, na generalidade, os senhores jornalistas devem andar muito distraídos. Aliás, se tivessem em consideração as graves acusações do Engº António Abreu aos então Ministro e Secretário de Estado do Ambiente, respectivamente, José Sócrates e Pedro Silva Pereira (vd. Jornal de Sintra 24.12.04) acusações nunca desmentidas, teriam pano para mangas...
Como se vê, no entanto, há quem não tenha esquecido e continue na esperança de que, oportunamente, as coisas se esclareçam e se conheça os contornos da actuação de Serra Lopes. Provavelmente, o assunto não caíu no «rol dos esquecidos» mas, providencialmente, estará adormecido, na «pasta das dúvidas», para ressurgir por ocasião de umas quaisquer eleições, se for considerado indispensável à descoberta da careca de algum candidato. Pacientemente, aguarda-se o próximo episódio na presunção de que, entretanto, não prescreva...

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Um concelho gigante


Durante cinco anos, só no Jornal de Sintra, terei escrito mais de dezena e meia de artigos subordinados ao tema do gigantismo do Concelho de Sintra. Fundamentalmente consonante com as mais actuais tendências da gestão territorial, que promovem a proximidade, cada vez mais estreita, entre eleitos e cidadãos eleitores, tive oportunidade de reflectir sobre a triste realidade sintrense.
Quase meio milhão de pessoas às portas de Lisboa, compósita, disfuncional e macrocéfala, concentradas num mosaico absurdo de unidades - com freguesias de puro e duro betão, sem qualquer afinidade com a realidade que a sede do concelho constitui no todo nacional - sofrem as agruras de uma gestão autárquica distante, que raramente consegue actuar a tempo e a contento, tantas e tão diversificadas são as solicitações.
Até mesmo no estudo coordenado pelo Professor Braga de Macedo, consigo vislumbrar a necessidade de considerar a solução de dividir o grande concelho de tal modo que se constituam, a partir do actual, mais um ou mesmo mais dois concelhos. Tanto quanto a minha luta se tem pautado, continuo a apostar num inequívoco concelho de Sintra-Sintra - designemo-lo assim para nele afirmar as características de uma unidade com afinidades mínimas de carácter sociocultural e económico - agrupando as freguesias de Santa Maria e São Miguel, São Martinho, São Pedro, Colares, São João das Lampas e Montelavar.
Mais pequeno e governável
No agrupamento em questão, como poderá verificar-se, não se recusa a diversidade, antes se procura concentrar o que é minimamente afim, aquilo que, apesar de um leque muito aberto de características e actividades, não deixa de constituir uma proposta de complementaridade saudável e desejável. Se alguma coisa se repudia, teremos que procurá-la na recusa de aceitação de componentes cuja lógica, desde logo as afasta deste quadro.
Bem sei que tudo isto é muito controverso. Há uma série de freguesias que estão encostadas a Sintra, que se consideram altamente beneficiadas pela inclusão e proximidade geográfica com uma Sintra queirozianamente mítica, tudo fazendo para manterem o statu quo. Que ilusão!... Pois bem, não tenho a mínima dúvida de que valeria a pena que invistissem no estudo de alternativas, de acordo com a ideia que veiculo, criando grupos ad hoc, círculos de estudo que concitem o interesse dos jovens fregueses e munícipes, lutando pela melhoria de uma qualidade de vida, actualmente tão des(en)graçada.
Mais tarde ou mais cedo é solução que acabará por acontecer e, quem cá estiver, verificará como tais freguesias ficarão muito mais bem servidas se e quando agrupadas numa unidade geradora de sinergias com afinidades intrínsecas e lógica inequívoca. Tal como se encontra, o actual concelho é uma manta de retalhos, um gigante perfeitamente ingovernável, como há dezenas de anos se tem vindo a demonstrar.
Este blog está aberto à discussão em apreço. Façam o favor de entrar.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

O nosso Terreiro do Paço

A primeira página do Jornal da Região da semana 9-15 de Outubro é dominada por uma parangona, devidamente ilustrada com fotografia do Palácio Nacional de Sintra e empedrado adjacente, subordinada ao título Largo cobiçado para estacionamento.
Bastaria ler o subtítulo, em caixa vermelha - Os empresários do centro histórico de Sintra querem o regresso do estacionamento no largo do Palácio da Vila. Preocupados com a falta de parqueamento, em especial na época de Verão, defendem a ocupação daquele espaço - para, imediatamente, compreender duas coisas.
Primeiramente, que não basta ter porta aberta para ser empresário, qualificação à qual apenas podem aspirar os empreendedores devidamente preparados, bem informados, dotados de cultura geral mínima e, em segundo lugar, que a ausência destas condições pode dar origem às mais ignorantes e até ofensivas declarações.
Cumpre ter em consideração que a proibição de estacionamento naquele local não decorre, tão somente, de uma qualquer, apenas secundária, motivação estética - que, aliás, será sempre pertinente, como o dá a entender o meu amigo Adriano Filipe, Presidente da Junta de Freguesia de São Martinho - mas, isso sim, afirma a pertinência de um mandato afim da defesa e preservação do património.
Questão de cultura...
Antes de se pronunciarem acerca daquilo que desconhecem, antes de emitirem opinião - erradíssima - natural mas condenavelmente favorável aos seus particulares interesses, os negociantes da Vila deveriam aceder aos textos constantes de Tratados, Convénios e Protocolos que obrigam o Estado Português, relativamente à Conservação do património e dos "sítios" históricos, para logo compreenderem como é impossível, quer à autarquia quer ao governo central, a anuência aos seus desejos.
É impossível. Ponto final. E nada de comparações com as excepções, cuja concretização, por ocasião de uma recepção ou concerto no Palácio, em absolutamente nada coincidem com a verdadeira agressão que aqueles senhores solicitam. Seria bom que todos tivéssemos em consideração que aquele é o nosso Terreiro do Paço, um espaço nobre que não pode ser disponibilizado senão a título absolutamente excepcional e por períodos de tempo diminutos.
A solução da construção de um parque de estacionamento no Rio do Porto não me parece razoável. Se tantos de nós lutámos contra a construção do parque de estacionamento subterrâneo na Volta do Duche, no sentido de não facilitar o acesso de viaturas particulares ao centro histórico, não poderemos agora concordar com uma atitude que negaria a justeza do movimento cívico que nos determinou, apontado como exemplar a nível nacional e até internacional.
A não esquecer
Esta também a razão fundamental da nossa oposição à famigerada solução do parque de estacionamento no Vale da Raposa. O Rio do Porto constitui apenas uma bolsa para o parqueamento de umas dezenas de viaturas que deve ser dignificada, sim senhor, portanto, requalificada, através de soluções que já mereceram a intervenção do Arquitecto Paisagista Francisco Caldeira Cabral.
De uma vez por todas, assumamos a excepcionalidade de Sintra e a conveniência, absolutamente urgente, de concretizar as medidas que são objecto do meu texto publicado neste blog em Notas Diárias do dia 13 de Setembro último, soluções já adoptadas noutros civilizados locais, que apenas me limitei a adaptar ao caso de Sintra (vd. Arquivo do blog).
Continua a parecer muito acertada a posição da Câmara Municipal de Sintra que aposta na solução da instalação de um grande parque de estacionamento no espaço adjacente ao edifício do Departamento de Urbanismo que, de qualquer modo, só será eficaz se articulada com as medidas aludidas no parágrafo anterior.

domingo, 7 de outubro de 2007



Mas que triste sina!...



Acabo de regressar a casa, na Estefânea, depois de uma caminhada que me levou até à Quinta da Fonte dos Cedros da minha amiga Maria José Rau. Ida e volta são seis quilómetros que constituem um dos meus percursos diários. Não consigo passar sem este exercício de uma hora. Vá para onde for, no país ou no estrangeiro, esta prática é tão necessária como o pão para a boca. E, como não é difícil entender, à velocidade de seis quilómetros à hora, vejo e observo tudo o que preciso para que me não falte matéria às Notas Diárias.


O que hoje escrevo, podê-lo-ia ter feito ontem ou anteontem. Amanhã ou depois de amanhã também. Como não mudam de um dia para o outro - e, em Sintra, nem de um ano para o outro, nem de uma década para a outra - é possível escrever e repetir inúmeras vezes uma qualquer situação desagradável que, assim sendo, vai ficando por resolver até que Deus Nosso Senhor, na Sua infinita Misericórdia, assim o entenda...


Estas são cenas de todos os dias, comprováveis, concretas, que a ninguém, pelos vistos, causam a mínima aflição.


Junto ao Hotel Palácio de Seteais, os caixotes do lixo estão a abarrotar, arrotam desperdícios e, não raro, são acompanhados por uma ou outra cadeira de madeira ou de metal, até um sofá, para além de embalagens de madeira, de cartão, etc. Não se compreende como a direcção do hotel admite um tal desconchavo. Não se compreende como a CMS não controla o serviço da empresa municipal afecta à higiene pública...


A tolerância da GNR


Junto à Regaleira é o horror do costume, com carros em cima dos passeios, num caos de bradar aos céus. Na Vila Velha, os autocarros que se dirigem ao Castelo dos Mouros e Pena enchem-se de turistas até caberem, perigosamente encavalitados uns nos outros. Passando na Volta do Duche, avisto o parque de estacionamento do Rio do Porto, transformado em parque de campismo, onde o número de autocaravanas hoje ultrapassa tudo o que tenho verificado. Na mesma Volta do Duche, há inúmeros automóveis estacionados em contramão...


Até chegar à Estefânea, onde imensos são os automóveis sobre o empedrado da Praça Francisco Sá Carneiro, cruzei-me, nada mais nada menos, do que com três patrulhas de agentes transportando-se em automóveis Toyota brancos e um outro montado na sua moto, para além de vários guardas apeados. Nunca vi tantos meios policiais circulando em Sintra!


Infelizmente, no entanto, nunca vi tanto desmando, tanto desleixo, tanta complacência e tolerância por parte da autoridade policial, que está a tratar esta terra como um pardieiro e transformando-a num lugar cada vez menos civilizado e inseguro. É triste que seja a autoridade policial instituída a propiciar este quadro tão confrangedor, em vez de o combater e tudo fazer no sentido de não suscitar por parte dos cidadãos os condenáveis comportamentos implícitos.




Quinta da Regaleira

-Insegurança institucionalizada II





Logo após ter editado a mensagem datada de 10 de Outubro, acerca do estacionamento selvagem junto à Quinta da Regaleira, com o beneplácito da famigerada tolerância da GNR, me ocorreu contar o que ali aconteceu no dia feriado de 15 de Agosto deste ano.


A verdade é que cerca das duas e meia da tarde, o entupimento era indescritível. Perante um monstruoso quadro resultante da sua incapacidade de prever o que é substancialmente previsível, a GNR destacara dois agentes que «faziam o pino», coitados, tentando fazer fluir um trânsito que teimava em não circular porquanto, tanto a montante como a jusante, as coisas não eram nada favoráveis.


Entretanto, passando pela Villa Roma, fui dar com a minha amiga Luísa Salgado, ao portão do jardim, preocupadíssima com tal dislate. Lá em casa esperavam pessoas que, naturalmente, não conseguiam chegar. E lembrava-me ela a idade da mãe que, nos seus noventa e tal anos, em vez de, naquele momento, aguardar a vinda de amigos, poderia estar a precisar de um socorro de médico ou de ambulância que, pura e simplesmente, não poderiam ali chegar...


Quando é que a GNR, autoridade policial local, começará a equacionar as soluções que se impõem, enquanto não surgem concretizadas as alternativas de estacionamento que sempre demorarão um certo período a surgir? Estarão à espera da tragédia?


Quinta da Regaleira


-insegurança institucionalizada...






O que se passa na estrada que dá acesso à Quinta da Regaleira, no que respeita o estacionamento de automóveis, é um escândalo que nunca atingiu as proporções que, actualmente, evidencia. Trata-se de uma daquelas situações que carece de uma solução definitiva, solução que jamais pressuporá, como hoje acontece, o parqueamento das viaturas ao lado do monumento objecto de tanto interesse.



A Guarda Nacional Republicana não tem demonstrado a mínima capacidade para o enquadramento do problema e concretização de medidas minimamente satisfatórias, no sentido de não transformar o local no perigoso caso de insegurança, nos limites do suportável. Em determinados dias, chegou-se ao ponto do entupimento total sem que qualquer veículo conseguisse circular em qualquer dos sentidos.



Após a necessidade de recurso ao reboque de alguns carros, a GNR colocou, com extraordinária timidez, em pequenos segmentos do acesso em referência, umas cintas amarelas e brancas, mal suportadas, com flagrante falta de dignidade enquanto sinalização dissuasora do estacionamento. Naturalmente, passados uns poucos dias, as fitas tinham sido vandalizadas e os carros continuam a estacionar consoante determinar a falta de descernimento e de civismo dos seus proprietários e condutores.



Há pouco mais de um ano, durante uns dois fins de semana, a Polícia Municipal ensaiou, com enorme sucesso, a colocação de fitas vermelhas e brancas, bem seguras por postes apropriados, mantendo um ou dois agentes no local que impediam a concretização de qualquer veleidade de estacionamento em cima dos passeios.



Nunca percebi a razão que terá suscitado a suspensão da iniciativa. Passa-me pela cabeça que dirigentes da Culturgest, também useiros na prática do estacionamento sobre o lindo e estimável empedrado dos passeios, se tenham confrontado com a eventual diminuição de visitantes e solicitado à Câmara que acabasse com a civilizada medida...



Certo certo é que a GNR, no quadro da sua estratégia de tolerância, veio agravar a situação de tal modo que, hoje em dia, se desconhece quando ali poderá acontecer algo de muito grave em termos de segurança pessoal dos residentes nas imediações.
Uma pergunta do blogger



Quase cem pessoas por dia acedem a Notas Diárias do sintradoavesso, sendo de quase cinco minutos o tempo médio de cada visita. Este é o resultado mensurável, a partir da estatística que me é fornecida. Outro barómetro do eventual impacto destes textos é o resultante de conversas telefónicas ou de mensagens que me chegam por email acerca dos assuntos abordados, depois da reactivação no dia 12 do passado mês de Setembro.



Como sempre fui adepto das pequenas escalas, considero que os números supra muito me honram. É, de igual modo, uma responsabilidade que procurarei manter sempre em mente no sentido de não defraudar as expectativas de quem, através deste meio, procura partilhar preocupações, tal não significando que procure partilhar opiniões...



No entanto, confesso que algo me intriga. Então, se as pessoas visitam e permanecem no blog, por que razão não participam no espaço que lhes está reservado para os comentários? Se me interpelam pessoalmente, se se incomodam ao ponto de telefonarem, concordando ou nem por isso, por que não escrevem, assim partilhando com toda a gente as razões que lhes assistem?

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Em Jersey

A reflexão que hoje proponho só não aparece como corolário da maior parte das considerações que convosco venho partilhando desde o dia 12 do mês passado, porque ainda estou longe de ter fechado o ciclo das Notas Diárias dedicado aos assuntos afins das temáticas da insegurança, do desleixo, da irresponsabilidade, da cultura da famigerada tolerância que a autoridade policial em Sintra tão pródiga é, alheia aos malefícios que gera.
O Notas Diárias de hoje aparece na sequência de recente estada na Ilha de Jersey, no âmbito de um trabalho pessoal sobre a comunidade portuguesa ali residente que, como é do conhecimento geral, equivale a cerca de dez por cento da população daquele pequeno território do Reino Unido. Tive oportunidade de contactar portugueses oriundos do continente e, naturalmente, em maior número, os provenientes da Madeira, com o objectivo de conhecer episódios, histórias verídicas da integração desta gente.
Na realidade, julgo conhecer razoavelmente bem algumas questões pertinentes da vida dos portugueses na ilha, especialmente os inerentes ao ensino dos filhos dos trabalhadores, na medida em que, durante alguns anos, na década de noventa do século passado, desempenhava funções de técnico superior no Ministério da Educação, responsável pelo dossiê respectivo, não só no Reino Unido mas também nos Estados Unidos da América, Austrália, Espanha e Suíça.
Desta vez, como já dei a entender, o que me interessa são histórias de vida, cenas edificantes, esclarecedoras de diferenças das maneiras de ser e de estar entre os cidadãos dos países de acolhimento e os que procuram aquelas paragens para resolverem questões de sobrevivência que Portugal não propicia. Interessa-me, sobretudo, incidir a atenção e estudar episódios da vida quotidiana em que, portanto, britânicos e portugueses se encontram e desencontram, evidenciando as respectivas idiossincrasias.
Portugueses, mas diferentes...
Entrando já na zona dos factos concretos, darei o exemplo de um nosso compatriota que se permitiu infringir uma regra de estacionamento proibido. Imediatamente, foi multado em cinquenta libras. Como não pagou dentro do prazo estipulado, uma semana depois, a multa foi dobrada e, mesmo assim, tendo-se permitido ignorar a situação, logo o caso entrou num circuito judicial que o marcou para sempre como infractor.
Vários companheiros portugueses que assistiam à conversa que mantínhamos, confirmaram este procedimento absolutamente normal por parte das autoridades. Mais me disseram que, na maioria dos casos, tendo obtido as suas cartas de condução em Portugal, quando cá voltam em período de férias, preferem não conduzir nas nossas estradas e cidades devido à indisciplina, à falta de cuidado.
Em sentido mais generalizado, tenho ouvido comentários no sentido de que, estando radicados há já alguns anos, muito dificilmente se habituariam àquilo que os esperaria num regresso definitivo pois a sua integração no país, implicou numa radical mudança de atitude que os transformou noutro tipo de cidadãos. São portugueses, continuam portugueses mas a sua cabeça já não admite a habilidade da esperteza saloia, já não consegue perceber o que é isso de tolerância da autoridade em relação ao cumprimento da Lei...