[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 31 de outubro de 2012




Heliodoro Salgado,
pedonal mas sem peões...


O espaço pedonal da Heliodoro Salgado está ferido de morte desde o início. Trata-se de um projecto mal concebido, cheio de polémicas soluções, mal concretizado quer a nível técnico quer estético que, jamais, poderia coincidir com características análogas às dos espaços que conhecemos noutros contextos nacionais e lá por fora.

Na Heliodoro Salgado, estamos em presença de um sarcófago que condenou os comerciantes locais à mais lenta das mortes. E, cumulativamente, temos a bruta evidência da ausência de gente a circular na artéria. Como negar tão flagrante quadro de falta de gente a circular? Então as pessoas a circular na via liberta de automóveis não era, precisamente, a o grande objectivo do projecto?...

E, como não, se o aspecto «conquistado» para os peões é nitidamente desagradável, cinzentão, nada tendo a ver com quaisquer conotações mais ou menos paradigmáticas de Sintra? E, como não, se o mobiliário urbano é de péssima qualidade? E, como não, se o pavimento chega a ser perigoso, com um historial bem recheado de episódios de valentes trambolhões, como, por exemplo, o de Maria José Ritta, mulher do Jorge Sampaio? E, como não, se, em dias de chuva, devido à indesejável mas conseguida impermeabilização do referido pavimento, se formam linhas de grossa água que encharcam os pés de quem se aventure, em especial, na subida da rua, contrariando enxurrada?

Tal como aconteceu na Primavera de 2004, vamos ter de voltar a promover umas Jornadas de reflexão sobre problemas da Estefânea em que, para além do cidadão comum, possamos ouvir a opinião de urbanistas, arquitectos, sociólogos que nos enriqueçam com o seu ensinamento já que não passamos de curiosos mas, isso sim, residentes informados, capazes de entender que o trabalho levado a cabo na Heliodoro Salgado, certamente, por uma equipa pluridisciplinar de arquitectos e engenheiros, deve ter tido como patrona a Nossa Senhora da Asneira de Sintra...

Há alternativas. Claro que há e sempre a favor dos peões. Basta haver um projecto em que, desejavelmente, todos participemos nas fases de diagnóstico e planificação - algo que, de modo algum, aconteceu «no tempo da outra senhora» - e nos termos do qual nos revejamos como munícipes sintrenses e fregueses de Santa Maria e São Miguel. Ah, é verdade, como condição sine qua non, a disponibilidade financeira bastante para concretizar a coisa. É tão simples como isto...
 
 
 

segunda-feira, 29 de outubro de 2012



 
D. Fernando II,
no seu aniversário

 
A propósito da efeméride que hoje nos tem ocupado, permitam que cite a minha amiga Emília Reis, num seu comentário ao  texto “D. Fernando II, Pobre Artista! Pobre Rei”, também já aqui publicado na manhã de hoje:

 
“(…) Recordei, na minha página [do facebook], através das palavras do principe Lichnowsky, o que foi uma subida à Pena, na companhia dos monarcas em 1843. É a minha memória. Como música, naquilo que é a sua especialidade, aquela que o Parque da Pena me traz sempre ao ouvido é a do "Der Freischutz" de Weber. Pelo ambiente misterioso de uma floresta da Boémia, local onde se desenrola a história, uma tragédia romântica e, também, pelas muitíssimas vezes, que, pelas suas veredas, cantei com as minhas amigas o "Coro dos Caçadores"... Gratas lembranças, também.”


Como calculam, não me resta outra alternativa. Em homenagem dupla, ao senhor D. Fernando II e a Emília Reis, convosco como dilectas testemunhas, eis a peça em referência, numa óptima interpretação pelo Rundfunkchor Berlin e Berliner Philharmoniker, sob a direcção de Nikolaus Harnoncourt.

Boa audição!





D. Fernando II,
Pobre artista Pobre rei!


Hoje, 29 de Outubro, aniversário do senhor D. Fernando II, venho propor-vos um texto que, obedecendo a este mesmo título, escrevi, precisamente há cinco anos, para comemoração da efeméride, publicando-o aqui em www.sintradoavesso.blogspot.com

Sem mais delongas, eis a transcrição, chamando a vossa atenção para um novo parágrafo final, com uma irrecusável proposta de audição:


D. Fernando II
Pobre artista! Pobre rei!

 Há muitos anos que, para mim, o 29 de Outubro é subordinado à memória de Fernando de Sax- Coburg-Gotha (Coburg, 29.10.1816 - Lisboa, 15.12.1885), um dos homens que mais decisivamente marcou a segunda metade do século dezanove em Portugal, especialmente no âmbito da defesa e recuperação do património.

Muitas são as histórias e os episódios de salvaguarda de peças de valor patrimonial inestimável, in extremis resgatadas ao destino da pura e simples destruição, não fosse a sua directa intervenção. Um verdadeiro diletante, homem informado e de grande cultura, artista ele próprio, grande amante da Música, cantor, pintor de gabarito, tão impressiva foi a marca da sua atitude e actividades que ainda hoje é lembrado sob o epíteto de rei artista.

"(...) Pobre artista! Pobre rei!" É com estas exclamações que Ramalho Ortigão termina o texto subordinado ao título O Rei D. Fernando.* Estas palavras são precedidas por vinte páginas de uma homenagem que, passados que já são cento e vinte um anos sobre a sua escrita, ainda hoje continuam a funcionar como pretexto para que os portugueses melhor se reconheçam, quando lhes dá para o farisaísmo, mesquinhez, ordinarice, inveja, na acabada demonstração da incapacidade de se organizarem à volta dos seus mais autênticos interesses.

Animação da Leitura...

Quem ainda não leu aquelas estupendas linhas de As Farpas e julga conhecer a grande e a pequena História de Sintra, em especial no que se refere ao legado da Pena, não sabe o que tem andado a perder. Ramalho Ortigão escreveu-as, na sequência da morte do Senhor D. Fernando, a quente, reagindo à hipocrisia de uma data de ignorantes que, ao fim e ao cabo, ainda andam por aí. Ou ainda não terão notado? Verão a razão que me assiste quando as lerem.

Uma das maneiras para melhor comemorar a efeméride, não tenho a mínima dúvida, passa pela leitura de texto tão recomendável, que tanto proveito e gozo estético proporcionará a quem seguir o concelho deste humilde escriba que se atreve, não só ao beija-mão real, mas também à evocação de um escritor maior de oitocentos. Nos dias que correm, passe a presunção, não é façanha menor...

...da Música

Mas ainda não vos deixo sem outra recomendação que, aliás é suscitada pela leitura que recomendo: "(...) E, instalando-se num fauteuil, ao fundo da sala de música, [D.Fernando] cantou-lhe ao piano, à mais larga expressão elegíaca da sua extensa voz de baixo cantante, A Criação, de Haydn (...)"

Ouçam essa outra obra-prima. Mesmo que já conheçam a oratória "A Criação", não deixem de repetir. Dêem-se ao luxo de participar naquele momento sublime da História da Música que cioincide com a fracção de Tempo em que, no Espaço do caos, a luz se fez. O grande Haydn, introduzido pelo próprio Mozart na Maçonaria, deixa nesta obra o seu mais alto contributo para o brilhante acervo artístico da Augusta Ordem. Ouçam. Repitam.

Ainda vos escreverei que, durante alguns anos de luto, pelo que estava a acontecer no Parque da Pena, especialmente sob a desastrada administração do biólogo Serra Lopes, pedia eu a Brahms que com o seu "Ein Deutsches Requiem" me acompanhasse na celebração da efeméride fernandina. Como sabem, trata-se de um Requiem profano, já que não segue o cânone cristão. Mas raramente, música e textos, do Antigo e Novo Testamentos, traduzidos por Lutero, tão bem encontraram um caminho comum para celebrar a Morte das coisas e
das pessoas.

...e da Arte, em geral

Mas, por favor, nada de misturas. Em primeiro lugar, leiam. Depois, escutem as músicas. Não façam como tanta e tão boa gente, que afirma precisar da Música como fundo para a concretização de outras actividades culturais, como a leitura da Literatura, por exemplo. Se querem saber, eu sou completamente contra. É que tanto a Literatura como a Música são tão exigentes de concentração, que o leitor-simultaneamente-ouvinte, mesmo de obras literárias e musicasis afins, com certeza, perderá inúmeros aspectos de uma e outra obras de Arte.

Hoje, em memória de um pobre rei, em memória de um pobre artista, saibamos conceder-nos o benefício da Arte e, muito a propósito, lembremos o horaciano 'carpe diem' que, ao contrário do que alguns consideram bem interpretar, nada tem de aconselhamento à facilidade. E facilidade foi coisa que D. Fernando jamais promoveu embora tivesse sabido muito bem aproveitar os dias da sua passagem por aqui.


(*)Ramalho Ortigão, José Duarte, O Rei D. Fernando, in As Farpas, Obras Completas de Ramalho Ortigão, tomo III, Livraria Clássica Editora, Lisboa, 1969
______________________

Fim de citação. Apenas uma proposta final para vos pôr a vibrar comigo e com o senhor D. Fernando II. Como não podia deixar de ser, de acordo com a preferência do homenageado, aqui vos deixo com os momentos "A Criação" de Joseph Haydn, na estupenda leitura de Harnoncourt, com o Concentus Musicus. Ficam com a obra integral, uma das mais fabulosas realizações não só da Música mas também da Arte de todos os tempos, que bem atesta o sofisticado gosto do homem de cultura que era D. Fernando. Não se fiquem pelos momentos iniciais e, por aquela célebre explosão que, nesta gravação ocorre aos 8' e 09"...

Boa audição|


http://youtu.be/B42kFiPBy6Y


domingo, 28 de outubro de 2012




 

 Sintra,
Av. Heliodoro Salgado

 
De modo algum, jamais pus em causa a pertinência da solução urbana que se traduz pela pedonalização de determinadas artérias, a exemplo do que acontece por esse mundo fora. O que, ao longo de anos, eu tenho posto em causa é, não a solução da pedonalização mas, isso sim, a forma como, em Sintra, se concretizou o caso da Heliodoro Salgado e as nefastas consequências decorrentes da concretização de um projecto que privilegiou opções extremamente controversas.
 
Aliás, desde o início – tinham começado as obras, quando a então Presidente da CMS Edite Estrela resolveu promover uma reunião numa das salas do ‘Casino’ – não me acusa a consciência de deixar de afirmar, de viva voz, o que era absolutamente previsível. À Dra. Edite Estrela, disse eu, e há quem se lembra perfeitamente do episódio, naquela precisa reunião, que ela preparava, não a animação da conhecida via mas – porque, nos termos em que estava formulada, tal opção mais se assemelhava a um caixão – isso sim, o enterro  da Heliodoro Salgado.

Naturalmente, havia e há alternativas, mais e menos dispendiosas, consoante as soluções técnicas equacionáveis. A que foi decidida, na minha opinião, terá sido a pior já que, como afirmei em ‘Tolerância Zero’, publicado na última edição do Jornal de Sintra, nenhum dos benefícios previstos foi alcançado – nomeadamente aqueles que a edil imaginava, de animação cultural, comercial, de convívio cívico, etc, a exemplo do que, certamente, conhecia das suas deslocações ao estrangeiro, ali totalmente comprometidos pelos aspectos técnicos e estéticos da obra – com a agravante do inacreditável labirinto que, também sob a sua responsabilidade foi instalado a jusante.
Vá lá, repito, que nos soubemos organizar para suster a barbaridade que se preparava para a Volta do Duche, através de uma intervenção cívica de que, como munícipes de Sintra, só temos motivos de orgulho. Se assim não tivesse acontecido,  a situação ainda muito mais negativa seria. Aproveito a oportunidade para recordar aos que, há tanto tempo, acompanham a minha intervenção cívica, que, mesmo antes da pedonalização, já eu me pronunciava acerca de matérias afins. Basta procurar no Jornal de Sintra.

No entanto, só no  www.sintradoavesso.blogspot.com , cuja consulta do arquivo é muito acessível, entre outros textos (ainda que relacionados com o assunto mas não referidos na lista seguinte), gostaria de assinalar os seguintes, por ordem cronológica, desde 2007: 1.”Da Estefânea, com mágoa”, 14.09.07; “O (cansado) coração do concelho”, 17.09.07; 3. “Heliodoro Salgado, remédio qb”,  07.12.07; 4. “Heliodoro Salgado, que remédio?”, 11.12.07; 5.“Av. Heliodoro Salgado, paradigma de governação”, 15.04.08; 6.”Ainda a propósito da Heliodoro salgado”, 16.04.08; 7.”Aos bocados, vai caindo”, 12.09.08; 8.”Carta Aberta à Comandante da PM de Sintra”, 19.02.12.
Subscrevi  outros artigos relativos aos anos de 2009, 2010 e 2011 mas, como dei a entender, com os acima indicados, apenas pretendi proporcionar uma pequena amostra do interesse que tenho manifestado relativamente aos imensos problemas suscitados. E, não tenho a menor dúvida, muito há que continuar a lutar no sentido de requalificar aquele espaço e, eventualmente, ter em consideração e recuperar as conclusões que saíram de umas célebres Jornadas de Reflexão sobre problemas do Bairro da Estefânea, levadas a efeito no Palácio Valenças em Maio de 2004, outro manifesto de cidadania activa que revestiu  o maior interesse onde foram apontadas soluções muito interessantes, mas  cada vez mais com menores hipóteses de concretização devido à conjuntura financeira.



Sintra,
tolerância zero*

[texto publicado na edição de 26.10.2012 do Jornal de Sintra]
 
Infelizmente, basta andar umas dezenas de metros nas mais frequentadas artérias de Sintra, quer do bairro da Estefânea quer da Portela, na freguesia de Santa Maria e São Miguel, em pleno coração da sede do concelho, para verificar como tem estado e se mantém tão comprometida a qualidade da circulação das viaturas de quantos demandam esta área de comércio e de serviços para a resolução dos seus assuntos do dia-a-dia.

Aquilo que acabei de designar como compromisso da qualidade de circulação é algo que contribui, decisivamente,para pôr em causa, em termos mais precisos e abrangentes, a própria qualidade de vida em toda a zona. Entretanto, para que estas considerações sejam minimamente entendíveis e relacionáveis com a realidade local, cumpre lembrar que a articulação entre Estefânea e Portela – dois dos mais importantes acessos de Sintra – ficou fatidicamente prejudicada pela incompetente decisão de encerrar totalmente ao trânsito a Rua Heliodoro Salgado.

Estefânea-Portela, um eixo de asneiras

Tal opção resultou, a jusante, numa solução muito controversa e altamente contundente. A atestá-lo, há mais de uma dúzia de anos, bem sabemos como se instalou um labiríntico circuito de trânsito cujas negativas consequências materiais são inimagináveis. Pensem na poluição gerada, conjecturem sobre a contabilização das perdas de tempo, considerem o stresse decorrente e todos os demais danos colaterais e não vos será difícil concluir como a tanto pôde chegar a falta de ponderação dos responsáveis.
De qualquer modo, para que fique completo o ramalhete das asneiras – que, aliás não me acusa a consciência de não ter denunciado, em devido tempo, aquando da própria apresentação do projecto – ainda teremos de acrescentar o facto de a zona pedonal conquistada, de péssima qualidade de concretização, nomeadamente, nos aspectos técnicos e estéticos, não ter gerado qualquer dos benefícios que os autarcas de então consideravam que seriam inequivocamente alcançados. Foi prejuízo total…
Porém, neste sumaríssimo exercício de análise das dificuldades que transeuntes e condutores enfrentam quotidianamente, estamos longe de ter esgotado o rol dos malefícios em presença. Por exemplo, ainda importa equacionar a medida em que se potenciaram os factores de risco, suscitados por qualquer anomalia, por muito insignificante que se revele, tal como o imprevisto e incorrecto estacionamento de uma viatura que impeça a normalidade do fluxo do tráfego.
Querem um exemplo? Nesta manhã de 23 de Outubro, circulando eu a pé pela Rua Dr. Alfredo da Costa, acompanhei a evolução de uma camioneta de passageiros cujo condutor se viu em palpos de aranha. Chegado à zona do Centro de Saúde, foi obrigado a parar porque os carros estacionados em zonas proibidas, tanto à esquerda, devidamente assinalada no pavimento com largos riscos diagonais amarelos, como à direita, impediam a continuação do serviço. E o homem parou, o tempo que foi preciso, até aparecer o condutor de um dos carros que libertou a via. Uns metros à frente, em plena curva de acesso à Rua Dr. Miguel Bombarda, estava estacionada, em cima do passeio, uma pequena camioneta fechada e, junto ao passeio do lado oposto, estacionada estava outra camioneta de distribuição de refrigerantes. Claro que o homem voltou a parar, não conseguindo fazer a dita curva. Não sei quanto tempo demorou a resolver a situação porque continuei o meu percurso.
Ó da guarda!

Concluamos. Perante o estado das finanças públicas, independentemente de outras pertinentes considerações, a verdade é que, durante uns bons anos, não haverá disponibilidade de verbas para emendar os disparates  que herdámos há já tanto tempo. Pois, então, se vamos ter de continuar a sofrer as consequências de tamanho despautério  – que até poderia ter sido agravado não fora a nossa determinação quando nos opusemos à destruição da Volta do Duche – então urge que, inequivocamente, cada vez mais contemos com a imprescindível acção das forças policiais.
E cá venho bater à porta de quem pode. Com o maior agrado, até temos reparado no bom trabalho que, tanto a PM como a GNR estão a desenvolver, em especial no que se refere ao estacionamento. Temos acompanhado e, ainda assim, eventualmente, não imaginamos as dificuldades que, em nosso nome, enfrentam os agentes. Certo é que não podem estar naquele lugar e naquele momento em que alguém prevaricou e pôs em causa os direitos de terceiros.

No entanto, como não aproveitar este ensejo, para lhes solicitar uma radical tolerância zero para casos idênticos aos que apontei e, portanto, também um especialíssimo controlo do transporte e distribuição das mercadorias, nas ruas do centro vital do concelho, em estrita observância do regime de cargas e descargas? Como poderia perder a oportunidade de lhes solicitar uma intervenção que, cada vez mais, contribua para instalar as práticas civilizadas que tanto admiramos quando nos deslocamos lá fora?
Entre nós, a realidade é bem dura e muito diferente do que, por exemplo, se passa noutros países da União Europeia. Entre nós, infelizmente ,bem sabemos como, bem doseados, os baixos níveis de escolaridade, a falta de civismo, a iliteracia e a ignorância acabam por se traduzir numa mistura explosiva de atitudes absolutamente lamentáveis no domínio do trânsito e do estacionamento. Quanto aos autores das faltas? Pois bem, como sempre, só foram mesmo ali, num instantinho, voltam já… São cenas constantes, recorrentes. Estamos fartos!

Trata-se de gente, infelizmente, ainda tão indisciplinada, gente tão habituada a viver e a conviver com os mais evidentes manifestos da cultura do desleixo institucionalizado, gente que não pode ser objecto do mesmo tipo de tolerância que, noutras latitudes, se observa como algo de perfeitamente excepcional e que, entre nós, em resultado da frequência, se traduz, como todos sabemos, numa tolerância que acaba por evidenciar os mais perversos efeitos.
Tolerância zero! Por favor!

*Depois de tanto já ter escrito acerca deste assunto, é natural que volte a utilizar o título de um artigo que subscrevi há alguns anos, publicado nestas páginas do Jornal de Sintra.

 

 

quinta-feira, 25 de outubro de 2012



 

 

Volta do Duche,
 
às voltas com o tempo que passa [I]

 
A propósito de um dos meus textos de ontem acerca da Volta do Duche, eis um comentário do meu amigo Ricardo Duarte, jovem sintrense, recém licenciado em História de Arte, a trabalhar em França:

“Viva Professor. Vejo que no seu texto predominam verbos no tempo "passado" como que a indicar que esta causa já está devidamente concluída e arrumada. Olhe que não. Existem ainda algumas pessoas em Sintra, que por vezes ainda se lembram de reavivar o projecto de estacionamento subterrâneo na Volta do Duche. Defendem que na altura tal não foi bem explicado, que os cidadãos não foram suficientemente elucidados e que a existir hoje, resolveria os problemas de acessibilidades na Vila. Já fiquei estupefacto a ouvir uma ou outra. Por isso parece que a "coisa" ainda não está definitivamente arrumada e o morto poderá ressuscitar a qualquer momento.”

Perante tal mensagem, eis o que se me oferece responder:

"Caríssimo amigo, de facto, se o meu texto deixou que os verbos resvalassem tal não significa, de todo em todo, que não esteja atento e que, exactamente por isso, nas últimas semanas, a propósito das movimentações de rua, tenha trazido o assunto à baila para o ventilar. E, como verifica, está a acontecer. Não deixa de ser surpreendente que, depois de tanto tempo, continue a haver quem pense que o problema do estacionamento das viaturas dos visitantes que procuram aceder ao centro histórico de Sintra se resolveria com um estacionamento subterrâneo na Volta do Duche.

Não entendem tais pessoas, por melhores que sejam as suas intenções, que tal opção:
1.além de ferir o interesse da preservação de um património – que a população de Sintra e outros cidadãos, a nível nacional e mesmo internacional, não pretendem que sofra qualquer alteração –

2.iria ao arrepio das recomendações de todas as instâncias, nomeadamente da UNESCO, no sentido de não permitir o acesso de veículos motorizados particulares aos centros históricos;
3. imporia a superação de problemas técnicos de elevadíssima monta, por, exemplo – e é mesmo só um exemplo entre vários que, naturalmente, não é o momento para detalhar – a estratégia de remediação das linhas de água que, na zona, vencem muito importantes cotas de nível (para mais longe não considerar, desde Santa Maria até ao Rio do Porto), perante  uma importantíssima barreira de construção (o tal sarcófago…), estratégia que nem sequer tinha sido devidamente equacionada e contabilizada pelo projecto;

4. iria gerar importantíssimos fluxos de trânsito a montante e a jusante das entradas e saídas da instalação, com todas as perversas consequências decorrentes para o trânsito numa zona extremamente sensível, etc, etc, etc.
Não percebem tais pessoas que, entre outros factores a considerar, como a requalificação de algumas pequenas bolsas de parqueamento e a instalação de um importante dispositivo de estacionamento, nos terrenos adjacentes ao edifício do Departamento de Urbanismo, na Portela, que em nada colidem com a coerência da resolução última do problema.

Para quem já tenha esquecido, lembro que a solução adequada  imporá a necessidade da instalar parques periféricos, nos locais mais afins e vocacionados, junto às entradas da sede do concelho, parques com dignidade e segurança, a partir dos quais será montada uma oferta integrada de diversos tipos de transportes públicos, cuja tarifa estará incluída no preço do estacionamento.
É por esta solução que sempre me bati, tanto aqui, em Sintra, como em Salzburg, onde, há menos anos, participei numa campanha, graças a Deus também muito bem sucedida, contra a construção de um parque de estacionamento subterrâneo na Makartplatz, coração da cidade, luta essa para a qual muito útil foi a experiência que tinha ganho na minha terra. Os interesses económicos em jogo são sempre muito poderosos.
No caso de Salzburg a coisa era bastante mais sofisticada do que em Sintra porque já tinha sido constituído um sindicato de bancos, incluindo instituições de Viena para financiar o projecto. Lá como cá, a população organizada conseguiu anular as intenções destrutivas e, no caso de Salzburg, com maior evidência, desmascarar os negócios em perspectiva.
 
Finalmente, gostaria de lhe garantir, em meu nome e no de uma série de cúmplices – que, não tendo passado procuração, sei que estão totalmente sintonizados comigo – o empenho mais assanhado em qualquer refrega que se desenhe, em qualquer tempo e, em especial, no próximo futuro, com as eleições à porta, dentro de um ano.






Volta do Duche,
às voltas com o tempo que passa [II]


Naturalmente, quanto mais não seja para efeitos de arquivo, passo a transcrever a seguinte troca de comentários suscitados por um texto que subscrevi e ontem aqui publiquei. Como poderão verificar, introduzi parágrafos e, entre parêntesis rectos [ ], acrescentei um esclarecimento:

Ana Simão:
Boa noite João, estes Plátanos foram retirados. Os que lá estão hoje (na sua maioria) podados /torturados tinham (no projeto) um contorno de proteção das raízes igual ao diâmetro da sua copa (antes da poda) … Outra notinha nunca existiu nem foi “celebrado o protocolo de construção” mas sim um “concurso de obra”. E havia uma candidatura aprovada ao programa comunitário “Pólis para Centros Históricos” e um financiamento por parte do Fundo de Turismo, que financiavam (mais ou menos) 90% todo o projeto e construção.

João De Oliveira Cachado:

Obrigado pelos esclarecimentos. De facto, a memória traíu-me em relação ao «protocolo», assim grafado, porque tenho ideia de ter sido celebrado um documento que tal e assim mesmo designado.

Lembro-me de que, no projecto, os plátanos tinham, sim senhor, um 'contorno de protecção'. Mas tanto o Prof. Caldeira Cabral como o Arq. Gonçalo Ribeiro Telles, [aderentes, amigos e consultores do então Movimento Cívico de Sintra] consideraram esse recurso como algo perfeitamente repudiável em termos da salvaguarda das espécies em questão.

Claro que conheço a história recente e remota do local, lembro-me perfeitamente de como era nos anos cinquenta, sei quais foram as árvores substituídas. E, minha cara Ana Simão, até podia haver ouro em pó ou em barras para construir a coisa. A verdade é que foi repudiada e a população, naturalmente, arcou com as consequências da actuação da sua intervenção cívica.

Todas as forças partidárias concorrentes às eleições que substituiram o executivo de Edite Estrela se comprometeram a não concretizar o projecto quando perceberam a força residual da população e dos aliados que tinha conseguido conquistar para a luta.

Não há dúvida também de que este episódio comprometeu decisivamente qualquer veleidade que Edite Estrela tivesse no sentido de permanecer mais um mandato. Uma das coisas que se evidenciou foi a evidente fragilidade da então Presidente que se afirmava agente de cultura e que, tão manifestamente, subscrevia uma atitude de lesa cultura.

Por outro lado, lembro-me perfeitamente das barbaridades afirmadas pelo então Vereador da Cultura em quem Edite Estrela terá descansado quanto à defesa das suas cores e que só a colocou mal.

Enfim, águas passadas mas, jamais, águas esquecidas porque, reafirmo-o, com a maior veemência, foi um processo paradigmático de intervenção cívica e de tanta valia que, pouco tempo depois, o semanário 'Expresso' considerava o que tinha acontecido em Sintra como perfeitamente representativo e, lá está, exemplar em termos de cidadania.

Ana Simão:
Sem dúvida opiniões e visões diferentes... fundamentadas em informações diferentes!

que lá estão hoje (na sua maioria) podados /torturados tinham (no projeto) um contorno de proteção das raízes igual ao diâmetro da sua copa (antes da poda) … Outra notinha nunca existiu nem foi “celebrado o protocolo de construção” mas sim um “concurso de obra”. E havia uma candidatura aprovada ao programa comunitário “Pólis para Centros Históricos” e um financiamento por parte do Fundo de Turismo, que financiavam ( mais ou menos) 90% todo o projeto e construção.

João De Oliveira Cachado:
Obrigado pelos esclarecimentos. De facto, a memória traíu-me em relação ao «protocolo», assim grafado, porque tenho ideia de ter sido celebrado um documento que tal e assim mesmo designado.

Lembro-me de que, no projecto, os plátanos tinham, sim senhor, um 'contorno de protecção'. Mas tanto o Prof. Caldeira Cabral como o Arq. Gonçalo Ribeiro Telles, [aderentes, amigos e consultores do então Movimento Cívico de Sintra] consideraram esse recurso como algo perfeitamente repudiável em termos da salvaguarda das espécies em questão.

Claro que conheço a história recente e remota do local, lembro-me perfeitamente de como era nos anos cinquenta, sei quais foram as árvores substituídas. E, minha cara
Ana Simão, até podia haver ouro em pó ou em barras para construir a coisa. A verdade é que foi repudiada e a população, naturalmente, arcou com as consequências da actuação da sua intervenção cívica.

Todas as forças partidárias concorrentes às eleições que substituiram o executivo de Edite Estrela se comprometeram a não concretizar o projecto quando perceberam a força residual da população e dos aliados que tinha conseguido conquistar para a luta.

Não há dúvida também de que este episódio comprometeu decisivamente qualquer veleidade que Edite Estrela tivesse no sentido de permanecer mais um mandato. Uma das coisas que se evidenciou foi a evidente fragilidade da então Presidente que se afirmava agente de cultura e que, tão manifestamente, subscrevia uma atitude de lesa cultura.

Por outro lado, lembro-me perfeitamente das barbaridades afirmadas pelo então Vereador da Cultura em quem Edite Estrela terá descansado quanto à defesa das suas cores e que só a colocou mal.

Enfim, águas passadas mas, jamais, águas esquecidas porque, reafirmo-o, com a maior veemência, foi um processo paradigmático de intervenção cívica e de tanta valia que, pouco tempo depois, o semanário 'Expresso' considerava o que tinha acontecido em Sintra como perfeitamente representativo e, lá está, exemplar em termos de cidadania.

Ana Simão:
Sem dúvida opiniões e visões diferentes... fundamentadas em informações diferentes!

que lá estão hoje (na sua maioria) podados /torturados tinham (no projeto) um contorno de proteção das raízes igual ao diâmetro da sua copa (antes da poda) … Outra notinha nunca existiu nem foi “celebrado o protocolo de construção” mas sim um “concurso de obra”. E havia uma candidatura aprovada ao programa comunitário “Pólis para Centros Históricos” e um financiamento por parte do Fundo de Turismo, que financiavam ( mais ou menos) 90% todo o projeto e construção.

João De Oliveira Cachado:
Obrigado pelos esclarecimentos. De facto, a memória traíu-me em relação ao «protocolo», assim grafado, porque tenho ideia de ter sido celebrado um documento que tal e assim mesmo designado.

Lembro-me de que, no projecto, os plátanos tinham, sim senhor, um 'contorno de protecção'. Mas tanto o Prof. Caldeira Cabral como o Arq. Gonçalo Ribeiro Telles, [aderentes, amigos e consultores do então Movimento Cívico de Sintra] consideraram esse recurso como algo perfeitamente repudiável em termos da salvaguarda das espécies em questão.

Claro que conheço a história recente e remota do local, lembro-me perfeitamente de como era nos anos cinquenta, sei quais foram as árvores substituídas. E, minha cara
Ana Simão, até podia haver ouro em pó ou em barras para construir a coisa. A verdade é que foi repudiada e a população, naturalmente, arcou com as consequências da actuação da sua intervenção cívica.

Todas as forças partidárias concorrentes às eleições que substituiram o executivo de Edite Estrela se comprometeram a não concretizar o projecto quando perceberam a força residual da população e dos aliados que tinha conseguido conquistar para a luta.

Não há dúvida também de que este episódio comprometeu decisivamente qualquer veleidade que Edite Estrela tivesse no sentido de permanecer mais um mandato. Uma das coisas que se evidenciou foi a evidente fragilidade da então Presidente que se afirmava agente de cultura e que, tão manifestamente, subscrevia uma atitude de lesa cultura.

Por outro lado, lembro-me perfeitamente das barbaridades afirmadas pelo então Vereador da Cultura em quem Edite Estrela terá descansado quanto à defesa das suas cores e que só a colocou mal.

Enfim, águas passadas mas, jamais, águas esquecidas porque, reafirmo-o, com a maior veemência, foi um processo paradigmático de intervenção cívica e de tanta valia que, pouco tempo depois, o semanário 'Expresso' considerava o que tinha acontecido em Sintra como perfeitamente representativo e, lá está, exemplar em termos de cidadania.

Ana Simão:
Sem dúvida opiniões e visões diferentes... fundamentadas em
 


Volta do Duche,
mais uma achega


Para estar como está, a Volta do Duche exigiu que muita gente se batesse contra a destruição que o executivo liderado por Edite Estrela se preparava para concretizar, à pala de um projecto assinado pelo Arquitecto Fernando Távora, um dos mais prestigiados mestres da arquitectura portuguesa.

Já tudo tinha sido decidido, já tinha sido celebrado o protocolo de construção, tudo estava encaminhado, aprovado e consumado. E, mesmo assim, conseguimos reverter o processo de tal modo que a Volta do Duche permanecesse incólume, livre do sarcófago do parque de estacionamento subterrâneo que a iria destruir e para sempre desfigurar.

Um punhado de cidadãos de Sintra conseguiu opor-se à indiscutível e aparentemente inexpugnável força de uma máquina autárquica bem oleada. Foi uma autêntica luta de David contra Golias. Mas a nossa fisga, contra a barbárie que ali vinha, mascarada de belíssimas intenções, acertou no alvo. Tínhamos por nós a força da razão e, sem partidarismo que nos tolhesse o movimento, conseguimos suster a iniquidade.

Passada uma dúzia de anos parece mentira que tamanha asneira estivesse tão prestes a acontecer. É preciso manter bem viva a memória dessa luta, em defesa de um lugar muito especial, que é parte indissociável do património cultural de Sintra. Por ali, embalados em carrinho de bébé, fomos passeados por nossos pais e avós. Mais tarde, por ali, namorámos. Ciclicamente, repetimos os gestos, de mão dada aos nossos filhos e netos.

Todos os dias nos encantamos sob aqueles plátanos que a Maria Gabriela Llansol tanto prezava. Ela, sim – como esquecê-lo? – que igualmente participou na luta, escrevendo, acompanhando-nos em todo o processo, ela que antes de enviar ao jornal ‘Público’ um texto que acabara de redigir, em defesa daquele espaço, mo lia, emocionada, ao telefone, deixando-me sem palavras, totalmente rendido ao seu testemunho, ao seu civismo e à sua arte.

Lutámos. Na rua, é verdade, mas se nos tivéssemos limitado a ir para a rua, se a nossa fisga tivesse sido apenas a rua, nada tínhamos conseguido. Não, na rua, apenas demos o sinal do nosso desconforto, da nossa indignação. Montámos um dispositivo muito sério, verdadeiramente ‘profissional,’ em que nada foi deixado ao acaso, com vertentes de luta na comunicação social – os quatro canais de tv cobriram o evento bem como todos os jornais diários nacionais – nos meios intelectuais, nas várias Faculdades, concebemos dossiês exaustivos, comunicámos com todos os poderes, nacionais e instâncias culturais internacionais.

Se a Volta do Duche está como está não é coisa de somenos. É preciso dizê-lo nas escolas, hoje, tal como, na altura, quando contámos com o envolvimento de tantos estudantes. A defesa do património teve ali uma jornada muitíssimo honrosa e verdadeiramente exemplar já que, se ainda fosse necessário demonstrar, essa defesa não é restrita ao património natural e edificado, em que Sintra tão pródiga é, antes contempla também os lugares significativos que têm memórias aderentes à pele das pedras dos passeios e das ruas.

 

sexta-feira, 19 de outubro de 2012



A estratégia da rua

Como não podia deixar de suceder, já que estive totalmente envolvido no processo, sempre me ocorre lembrar o episódio da iminente destruição da Volta do Duche quando vem a propósito escrever ou falar acerca de manifestações de rua.
Quando o movimento cívico se começou a organizar, havia uma série de pessoas pensando na organização de uma manifestação de rua que percorresse aquela artéria, entre o Palácio da Vila e os Paços do Concelho, em que os cidadãos aderentes transportariam determinados cartazes com slôganes adequados à circunstância, dizendo as palavras de ordem combinadas.
Pois, hoje em dia, passados doze anos, permitam que confirme o que, acerca da manifestação de rua, dizia eu aos companheiros que se iam juntando à causa da defesa do lugar que era e, em consequência da nossa luta, continua sendo património emblemático de Sintra. Pois, nem mais nem menos, que só devíamos ir para a rua se tal atitude fosse apenas um dos elementos da estratégia da luta que estávamos equacionando.

E assim foi. Na realidade, até concretizámos a manifestação. Porém, em relação a tudo o resto que também realizámos, a manifestação de rua foi coisa de importância relativa. Tínhamos preparado dossiês de documentação com exemplares disponíveis no terreiro em frente ao Palácio da Vila, com fotocópias muito aumentadas do projecto, havia abaixo-assinados a circular, alguns especificamente dirigidos a académicos, intelectuais de todas as áreas, cartas remetidas a uma série de entidades entre as quais o Director-Geral da Unesco, etc.
Por outro lado, a estratégia junto da comunicação social surtiu totalmente o efeito desejado,  conseguindo a cobertura de todos os jornais diários nacionais e de todas as estações de televisão, tendo entrado em directo nalguns programas, inclusive com entrevistas/debate entre autarcas defensores do projecto e nós, os opositores. Houve distribuição de milhares de exemplares do manifesto do movimento nas ruas mais movimentadas de todas as sedes das várias freguesias, afixação de cartazes em lugares estratégicos.
Algo de muito importante foi o apontar soluções alternativas ao projecto de ali construir um parque de estacionamento subterrâneo, propondo medidas concretas. Pode afirmar-se que, dificilmente, alguma coisa terá sido deixada ao acaso. E, de tal modo assim foi, ou seja, as coisas correram tão de feição, que resultaram no abandono do projecto que já estava protocolado, um inequívoco sucesso que levou o semanário ‘Expresso’ a considerar o caso da defesa do património da Volta do Duche como exemplar.
Em conclusão muito simples, bem poderia considerar-se que tivéssemos nós programado apenas a manifestação de rua e nada teríamos conseguido. Foi perante o peso de toda um pacote de iniciativas bem equacionadas que vergou toda uma máquina autárquica, incapaz de contrapor atitudes mais originais e mais convincentes que anulassem a capacidade de mobilização dos munícipes altamente motivados perante um processo muito dinâmico.
Será que poderíamos extrapolar estas conclusões para outros quadros de movimentação cívica como, por exemplo, o que tem levado para a rua os cidadãos escandalizados com as medidas que o Governo tem vindo a anunciar, em especial, no campo fiscal? Duvido na medida em que se trata de um processo muito diferente e numa escala incomparável.  Mas tem sido à rua, no exercício de um direito especialmente protegido no artº 45º da Constituição da República Portuguesa, sistematicamente à rua, que os cidadãos têm descido para a manifestação do seu sentir.
Porém, uma coisa é certa: ir para a rua não resolve absolutamente nada. Nada! Ir para a rua apenas sinaliza o desconforto das massas populares em protesto, avisa os decisores políticos que, neste caso, os cidadãos chegaram ao limite das suas possibilidades e que, em muitas circunstâncias, já foi ultrapassado o limiar da dignidade. Isto, que não é pouco, não passa de um aviso. Porque a decisão, mesmo que passe por uma eventual inflexão da estratégia fiscal a inscrever no Orçamento de Estado, a decisão, repito, cabe ao Governo, nos termos do que acontece nos Estados Democráticos de Direito.

Aliás, foi de acordo com este princípio que, em Fátima, há uns dias, se manifestava o Cardeal Patriarca de Lisboa, falando à imprensa, na sua condição de Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa. De facto, a rua nada resolve, apenas envia sinais a quem deve estar atento, portanto, a quem, em última instância, cabe decidir. Não deixando de constituir um sério alerta cívico, a rua é uma forma rudimentar do exercício da cidadania. E, em sentido contrário, quem pensar que a rua é o máximo ou que esgota a intervenção cívica está redondamente enganado.
Volto ao início. Volto ao processo da luta pela defesa do património da Volta do Duche, de reduzidíssima dimensão, para confirmar como o movimento cívico de Sintra soube equacionar a medida em que a rua podia servir o seu objectivo último. Oxalá, sejam quais forem as circunstâncias, seja qual for a sua escala, que os movimentos cívicos de cidadãos com uma estratégia de recurso à rua para manifesto de um protesto, tenham sempre a precisa noção do valor da rua para a prossecução dos seus objectivos.


sábado, 13 de outubro de 2012




A Paz, os alhos e os bugalhos [II]


Acabo de ler, subordinado ao título "Nobel da Paz, a oportunidade de um prémio" o artigo que Teresa de Sousa subscreveu e que o jornal 'Público' apresenta na página 10 da sua edição de hoje.

Teresa de Sousa coincide totalmente comigo. Estou satisfeito, deveras satisfeito, na medida em que, tendo sido objecto de tanta reacção negativa, quase duvidei da razão que julgava assistir-me desde o momento em que tomei conhecimento da decisão do Comité Nobel.

É por isso que, com manifesto agrado, passo à transcrição do último parágrafo do mencionado artigo:

"(...) É por isso que a decisão do Comité Nobel de Oslo não poderia ser mais oportuna. Kohl classificou-a de "sábia e arrojada". Porque ela surge num momento, porventura o primeiro desde a sua fundação, em que a própria ideia da Europa está a ser rudemente posta à prova, e em que a possibilidade da desintegração nunca foi tão grande. O prémio convida a olhar para trás e a lembrar o que a Europa conseguiu de extraordinário nas últimas décadas. E é, ao mesmo tempo, um aviso a quem a dirige sobre a responsabilidade que tem em não destruir esse legado."

Deixem que rejubile com a opinião supra, do ex-chanceler Kohl, já que, eu próprio escrevi:

"(...) Aliás, com a sua decisão e à sua medida, o Comité Nobel faz uma inteligentíssima chamada de atenção, até estimulando e promovendo uma significativa quota parte de ânimo, mobilizando-nos a todos, decisores políticos e cidadãos em geral, para que nos empenhemos decisivamente nas soluções que, cada vez mais, apontem em direcção ao grande objectivo referido. (...)"

Repito, por um lado, as palavras do grande estadista - sábia e arrojada - e, por outro, as minhas, de modesto escriba - inteligentíssima chamada de atenção - para concluir que seria uma oportunidade perdida não acolher este prémio como um inequívoco estímulo para continuar em direcção ao grande objectivo da construção da Federação dos Estados Unidos da Europa.

Como federalista convicto, como europeu dos quatro costados, como ibérico e iberista e como português estou perfeitamente convencido de que «só» falta mesmo fazer o resto da caminhada...
 
 


A Paz, os alhos e os bugalhos*


O Comité do Nobel fala e escreve sobre alhos, ou seja, enaltece o caminho percorrido, desde os tempos da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço até aos nossos dias, evitando a beligerância entre países que tinham empurrado os seus filhos para dezenas e dezenas de anos de guerras fratricidas e fomentando a paz no continente por um período tão alargado como jamais aconteceu.

Porém, as reacções que tenho encontrado respondem bugalhos. E os «bugalhos» com que deparo são de um tal primarismo que aflige. Claro que é facílimo conotar as justíssimas reacções dos cidadãos europeus - nomeadamente portugueses, irlandeses, gregos, italianos e espanhóis, perante políticas nacionais e globais que estão a minar o Estado Social e a sua qualidade de vida - com estes acontecimentos recentes, circunstanciais, muito importantes de cidadãos gritando que não aguentam a violência de soluções mal equacionadas.

De facto, estamos todos a passar um péssimo momento, incapazes de trilhar a via do federalismo, para a qual apontaram Monet, Spaak, Adenauer e os outros pais fundadores. É verdade. Estamos em risco de não conseguir percorrer esse caminho para a Federação dos Estados Unidos da Europa e de não honrar o fabuloso património das conquistas alcançadas em setenta anos de paz.

Mas, por favor, nada de confusões. Não deixemos que a árvore nos impeça de olhar a floresta… Aliás, com a sua decisão e à sua medida, o Comité Nobel faz uma inteligentíssima chamada de atenção, até estimulando e promovendo uma significativa quota parte de ânimo, mobilizando-nos a todos, decisores políticos e cidadãos em geral, para que nos empenhemos decisivamente nas soluções que, cada vez mais, apontem em direcção ao grande objectivo referido.
 
*texto também publicado hoje no facebook
 
 


Uma questão de exemplo

[Texto publicado no facebook em 12 de Outubro]


Ao contrário do que algumas pessoas pretendem, o interesse dos cidadãos que discutem a aquisição dos quatro automóveis topo de gama pelo grupo parlamentar do Partido Socialista, com verbas disponibilizadas pelos contribuintes, não se enquadra em qualquer manobra de diversão, com o objectivo de desfocar a atenção de matérias que, supostamente, os deveriam preocupar em exclus
ivo.

Compreende-se que, muito naturalmente, ao Partido Socialista conviesse propalar tal ideia. Porém, é de tal modo paradigmática a atitude do referido grupo parlamentar que, por mais voltas e reviravoltas que dêem, nunca sairão bem do retrato.

Se não, vejamos. Completamente exaurido, julgava o povo não poder mais com a carga de impostos que tem vindo a suportar e eis que se avizinha um ano inimaginável. Ora bem, é precisamente numa altura como a que estamos a atravessar, com os cidadãos causticado por tantos sacrifícios, que os senhores deputados arranjaram maneira de escandalizar quem está cada vez menos disponível a aturar-lhes a bizarria de quaisquer mordomias.

Muito bom sintoma é este. Muito nos deve animar a circunstância de verificar que o povo se insurge contra tais testemunhos de abuso, que não encontram paralelo em países ricos, como os escandinavos, onde tudo se pauta com uma cuidadosa contenção nos gastos dos dinheiros públicos, exactamente no respeito pelo esforço dos cidadãos na disponibilização das verbas e no sentido de não ferir a sua susceptibilidade.

Se esses senhores – hoje, do grupo parlamentar do PS mas que, amanhã, não tenhamos a mínima dúvida, poderiam ser do PSD – pretendem fazer-se deslocar em viaturas que, enfim, ultrapassem a classe das utilitárias, pois, então, que as adquiram com os seus dinheiros pessoais. Não fariam mais do que, nos tempos da «outra senhora», fazia, por exemplo, o Dr. José Gonçalo Correia de Oliveira, Ministro da Economia e delfim de Salazar, que tinha a mania dos mais sofisticados automóveis, chegando a ter um Aston Regina Marti Evaldin DB6, vários Jaguar de diferentes modelos, Alfa Romeo, Facel Veja e eu sei lá que mais. Mas, atenção, eram pagos com o seu dinheiro, dele que era um homem rico, nascido numa família rica, com suficientes cabedais para sustentar tão requintados gostos.

Nos tempos que correm, como assim não podem fazer, isto é, como não têm de seu para pagar o luxo que julgam ter direito, muitos dos actuais políticos apenas se dão ares… E, portanto, com o dinheiro dos contribuintes, fazem ridículas figuras de papalvos, de pacóvios, protagonizando a atitude dos deslumbrados que, nunca tendo tido acesso a certos meios e a certos bens, se convenceram de que, ao volante dos automóveis em questão, as suas medíocres pessoas beneficiarão do estatuto a que aspiram…

O grande problema é que é gente deste baixo calibre e tanta falta de nível que acaba por ocupar os cargos do poder, delegado pelos eleitores, subvertendo os mecanismos da democracia. Urge não lhes dar descanso, urge desmascará-los, desacreditá-los, ridicularizá-los agora e quando tiverem o descaramento de se apresentarem ao eleitorado.

Não há como não conversar acerca deste assunto com os nossos miúdos, nas escolas, em casa, evidenciando o péssimo exemplo de quem mina a cidadania. Só assim, ajudando a entender e a descodificar comportamentos tão desviantes, talvez possamos ter a dita de nos livrarmos destes videirinhos ordinários.


Despudor sem limite

[Texto publicado no facebook em 11 de Setembro]


Através da TVI, acabamos de saber que o grupo parlamentar do Partido Socialista adquiriu quatro automóveis novos, de topo de gama, VW Passat e Audi A5, recorrendo ao orçamento da Assembleia da República, isto é, usufruindo de verbas disponibilizadas por todos os contribuintes.

Mais se soube que qualquer dos outros grupos parlamentares dispõe de viaturas que, para todos os efeitos, ou são menos espampanantes, mais económicas, mais antigas ou, no caso do BE, nem sequer as adquiriram, preferindo alugar quando necessário. Disse o leader parlamentar do PS que, deste modo, poupam mais de 100.000 Euros/ano em relação à frota que substituíram.

A propósito, logo nos lembramos de várias empresas públicas - não se recordam do caso da Companhia das Águas? - cujos gestores também pretendiam iludir o povo, exactamente com o mesmo argumento, para, despudoradamente, se fazerem passear em automóveis de luxo quando nem condições havia para se transportarem de carroça.

No mesmo país que, inadvertida e irresponsavelmente, o Partido Socialista conduziu à bancarrota, melhor seria que os membros do seu grupo parlamentar tivessem um pingo de vergonha e nos poupassem estas lamentáveis cenas de pacóvios deslumbrados com mordomias que custam o sangue, o suor e as lágrimas de um povo sofrido e exaurido. Não haverá quem os contenha?

Claro que o «arco do poder» é tão medíocre que, actualmente, em substituição de tão maus governantes, estamos sendo governados pela equipa dos mais incompetentes desde o Vinte e Cinco de Abril. São péssimos, é verdade, continuam perfeitamente às aranhas, com a troika de permeio, fazendo-nos pagar juros de agiota por empréstimos incomportáveis, no quadro de uma economia que nem sequer gera a riqueza necessária ao serviço da dívida.

Contudo, cumpre não esquecer que, na aflitiva situação que o país atravessa, os mesmos senhores que nos trouxeram à bancarrota, não hesitaram em comprar, com o nosso dinheiro, bens perfeitamente dispensáveis. Não, meus senhores, ao contrário do que possa sugerir-se, isto não é um episódio insignificante, onde estão em jogo «só» umas centenas de milhar de euros, coisa desgarrada, inconsequente.

Inadmissível seria que se confundisse este e outros comentários congéneres com qualquer ponta de demagogia. Nem por sombras! Tenho, temos, isso sim, o direito a concluir, perante as evidências, que prevalece a mesma mentalidade de sempre. É a mesma gente. É o mesmo escândalo. É, sem qualquer hipérbole, o horror institucionalizado a minar os frágeis alicerces de um Estado Democrático de Direito servido pelos piores dos piores. Que lástima!


 


 


quinta-feira, 11 de outubro de 2012




Assembleia Municipal de Sintra,
10 de Outubro de 2012, o essencial

 

Ontem à noite, 10 de Outubro, sessão extraordinária da Assembleia Municipal de Sintra no Auditório Acácio Barreiros do Centro Cultural Olga Cadaval. Estive naquela reunião do Parlamento local mas não venho contar-vos detalhes acerca do andamento do processo relativo à supressão de freguesias. Certamente, qualquer dos órgãos de comunicação social presentes se encarregará de informar e circunstanciar, muito melhor do que eu faria.
O que me traz é outra matéria, lateral quanto ao cerne da questão que lá se aflorava, ainda que suscitada pela discussão. Primeiramente, sem perder mais tempo na introdução, desde já o meu frontal repúdio pelo modo evidentemente descortês, como um (embora ainda pudesse referir outro) elemento da bancada socialista – faço a justiça de não confundir nem o Partido Socialista nacional, nem mesmo o local, onde conto com amigos, com a inqualificável prestação de um deputado municipal – que desrespeitou a própria Assembleia e o Presidente da Câmara Municipal. A propósito, cumpre esclarecer que, nem a CDU nem o Bloco de Esquerda, as outras duas organizações partidárias da oposição local, pisaram o risco da decência que, a todo o transe, deveria ter prevalecido.

Naturalmente, não tenho procuração do Prof. Fernando Seara, nem ele precisaria de defesa e, muito menos, de tão impreparado advogado como eu. Mas, de facto, escandalizou-me que, directamente, um senhor deputado tivesse chegado ao ponto de o acusar de cobardia. Nem mais nem menos, cobardia! Hão-de concordar que só uma grande capacidade de encaixe permite que, publicamente, o visado não perdesse as estribeiras…
Neste e noutros enquadramentos em que é suposto imperar a urbanidade, de tal modo que se possa participar numa reunião congénere sem qualquer sentimento de desconforto consequente da falta de maneiras, bom seria que a educação do berço – que nem tem a ver com os maiores ou menores recursos da família nem com apelidos com mais «de» ou «e» – a todos permitisse a prática da civilidade e o exercício da elegância. Enfim, infelizmente, assim não é.

Todos sabemos que a discussão e o debate de ideias, em Liberdade, numa assembleia democrática, pode e deve acolher momentos de grande vivacidade e até de contundência. É bom que assim seja e para isso todos estamos preparados, nomeadamente, os que ainda vivemos algumas décadas sob um regime em que o sagrado princípio da liberdade de expressão estava arredado e amordaçado. Mas há limites que cumpre observar no sentido de evitar a ofensa pessoal.
O que, tão energicamente, ontem feriu a minha susceptibilidade foi o modo absolutamente blasé como aquele senhor ofendeu pessoalmente o Presidente da Câmara, afinal, um seu colega autarca que, tal como ele, jurou defender os interesses dos cidadãos que os elegeram, numa plataforma de convivência democrática em que atacar e defender ideias é um inquestionável e nobre exercício. Que isso se confunda com ataque e ofensa pessoal será sempre absolutamente lamentável.

E, ao fim e ao cabo, na opinião de tão douto tribuno, representante do PS, cobarde, porque o Prof. Fernando Seara, antes de se pronunciar, em definitivo, quanto ao processo em curso sobre a supressão de freguesias, se permitiu – coisa inaudita! – estudar exaustivamente a Lei  vigente e propor aos seus pares do executivo municipal que  suscitassem  a intervenção da instância parlamentar de São Bento que, para o efeito, está prevista e disponível. E, de facto, toda a vereação concordou com tal iniciativa.
Ele próprio, aliás, teve ocasião de o sublinhar com a maior veemência. Fê-lo, puxando pelos galões académicos, lembrando como, quando necessária, é importante a atitude que conduz ao estudo aturado, consequente, exaustivo, cansativo como tantas vezes acontece. Mas, ironia das ironias, num país em que impera a ligeireza, a rapidez da decisão [?!?], num país de gente tão proverbialmente «despachadinha», dos Relvas e quejandos, no reino dos Acácios de garantido sucesso, quem ousa estudar e, subsequentemente, perguntar e esperar pela resposta, arrisca-se a levar em cima com o labéu de cobarde e oportunista…

Eis o que, fundamental e essencialmente, se me oferece reportar-vos acerca da sessão extraordinária da Assembleia Municipal de Sintra de 10 de Outubro de 2012. Quanto à reorganização administrativa do concelho, aqueles que há anos acompanham o que tenho vindo a publicar acerca do assunto, sabem que não advogo qualquer supressão ao total das vinte freguesias do actual e ingovernável concelho e, a contrario senso do main stream, que privilegiaria a constituição de mais um ou dois concelhos, equacionados a partir de coerências socioeconómicas, culturais e geográficas das freguesias, que determinariam as afinidades dos agrupamentos. E, como também não desconhecem, sempre o fui propondo sem ofender fosse quem fosse e  com o objectivo de contribuir, com o meu modesto testemunho, para a promoção da qualidade de vida dos meus concidadãos.           


Doutora Hildegarde

[Texto publicado no facebook em 8 de Outubro]
 
Por decisão de SS Bento XVI, Santa Hildegarde von Bingen (1098-1179), passou a emparceirar com os doutores da Igreja Católica Apostólica Romana. Em boa verdade, ontem foi dia grande porque idêntica decisão recaiu sobre outra figura máxima da hagiografia cristã, o místico espanhol São João da Cruz que, nestes preparos de tão ilustre doutoramento, vai emparceirar com a sua conterrânea Santa Teresa de Ávila.

Naturalmente, para todos quantos se reclamam dos benefícios do Conhecimento, estas são personagens que ultrapassam as fronteiras da Fé para se agigantarem no mundo profano como referências indeléveis da Cultura de todos os tempos.

Hoje, no entanto, a nossa especial atenção, apenas para Santa Hildegarde. Médica de vanguarda, visionária, poeta e compositora, mas igualmente empenhada em variadíssimos domínios do saber, não surpreendendo que, novecentos anos depois da morte, o seu magistério permaneça incrivelmente actualizado.

Trago-vos uma gravação altamente recomendável de um excerto da "Symphonia harmoniae ecclaestium revelationum", do Liber Divinorum opernum, pela Accademia San Felice, com a belíssima voz do soprano Barbara Zanichelli como solista. Foi registada no Mosteiro de San Mininiato al Monte (quem conhece Firenze, sabe a que imprescindível espaço me refiro), em 2006.

Boa audição!
 



Mozart,
Sinfonia No. 26


Há um qualquer efeito de cascata no que se refere à produção sinfónica de Mozart durante o ano de 1773, em que escreveu nada mais nada menos do que sete sinfonias, antes de um lapso de quatro anos. Três destas obras
são compostas no quadro do designado «estilo italiano» como Aberturas.

Tal é o caso da No. 26, KV. 184, em Mi bemol Maior, uma pequena obra-prima, instrumentada para uma orquestra mais dilatada, 2 flautas, 2 oboes, 2 fagotes, 2 trompas, dois two trompetes a e cordas. Estruturada em três andamentos, o ’Molto presto’, 4/4, inicial insinua-se à laia de concerto, seguindo-se um ’Andante’, 2/4, em Dó menor que, tão nitidamente, contrasta com a tonalidade geral e, finalmente, um ’Allegro’, 3/8.

Continuamos fiéis à interpretação da Mozart Akademie Amsterdam, sob a direcção de Jaap Ter Linden.

Boa audição!