[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 31 de julho de 2013



Autárquicas em Sintra

Ainda a procissão vai no adro e já tanto ódio bolsado nas redes sociais. Que lástima!

Mesmo que me queira convencer de que, entre muitos e bons propósitos, o facebook também é a cloaca de alguma desqualificada gente, que nem sequer admito me apareça na «Página Inicial», a verdade é que sou surpreendido por mensagens de «amigos» [?!?] cujo baixo teor - de perfeito esgoto, m
ascarado por ramalhetes de recados aparentemente muito democráticos - estava eu longe de imaginar poder ser subscrito por pessoas que deixaram de me merecer respeito.

Felizmente, não me refiro aos candidatos mas, isso sim, a alguns dos seus destacados apoiantes, militantes, simpatizantes, acerca de quem tive a veleidade de pensar que uma certa elegância pautaria a sua disputa. A elegância a que me refiro, que, note-se, nada tem a ver com o berço de cada um, não é compatível com o estalar do verniz, na primeira oportunidade, em que era suposto manifestar que estaria à altura das circunstâncias, com o equilíbrio e a urbanidade desejáveis.

Veleidade? Com a idade que já levo, bem deveria saber tratar-se de coisa que não pode alimentar-se quando, de facto, o quadro de referência é baixote e está muito mais perto da cloaca do que, em princípio imaginaria. Para já, lastimo. Espero que o nível não desça ainda mais.

Finalmente, gostaria de lembrar que as eleições locais vão decorrer nas primeiras semanas do próximo ano lectivo. Os jovens estudantes, atentos e preocupados, teriam tudo a lucrar se pudessem assistir e, eventualmente, participar numa campanha eleitoral civilizada, asseada q.b. Por isso, toda a contenção - não voltarei a propor «a elegância»... - não será demasiada.
 
 

Peças do Museu de Arte Antiga integram exposição “Vitrais e vidros” no Palácio da Pena
[transcrição de informação que a PSML hoje me disponibilizou]

A Parques de Sintra estabeleceu um protocolo com a Direção Geral do Património Cultural com o objetivo de trazer algumas peças que pertenceram à Coleção de vidros do rei D. Fernando II das reservas do Museu Nacional de Arte Antiga para integrarem a exposição “Vitrais e Vidros: um gosto de D. Fernando II”, p
atente no Palácio da Pena. Assim, foram agora incluídas na exposição mais 12 peças de vidro europeu de elevadíssima qualidade, produzidas entre os séculos XV e XVIII, que podem agora ser novamente admiradas pelo público, depois de muitos anos afastados do olhar.

Este protocolo surge no seguimento da investigação que vem sendo realizada pela Parques de Sintra sobre a coleção de vitrais e vidros do rei D. Fernando II, e que tem procurado fomentar a divulgação sobre este importante conjunto de objetos. Em setembro de 2012, os primeiros resultados desta investigação foram apresentados em Piran, na Eslovénia, no XIX Congresso da Associação Internacional para a História do Vidro. Em novembro seguinte, a Parques de Sintra participou também na I Jornada do Vidro no Palácio Nacional da Ajuda. A investigação permitiu já identificar uma grande parte dos objetos que constituíam a Coleção de vidros que o rei D. Fernando juntou nos seus dois principais palácios: as Necessidades e a Pena, e que hoje estão dispersos por vários museus e palácios nacionais.

Em maio de 2013, foi então estabelecido um protocolo com a Direção Geral do Património Cultural, para que uma seleção de objetos de vidro que o rei tinha no Palácio das Necessidades, agora nas reservas do Museu Nacional de Arte Antiga, pudesse ser exposta na Sala dos Veados do Palácio Nacional da Pena. O público pode, assim, conhecer melhor a esplêndida diversidade e qualidade da coleção de D. Fernando II.

Trata-se portanto de uma adição de um conjunto de 12 peças venezianas e centro-europeias, que vem complementar a exposição de vitrais e vidros aberta ao público desde setembro de 2011 e que tem registado um enorme interesse não só por parte dos visitantes em geral como também de especialistas nacionais e internacionais (como foi o caso do Comité para a Conservação do ICOM, e do comité português do Corpus Vitrearum). Entre estas novas peças, merecem particular destaque uma taça veneziana com decoração esmaltada do século XV, um copo de Nuremberga do século XVII com uma paisagem pintada a negro e dois grandes cálices com tampa, um deles coroado com uma imponente águia bicéfala.

A exposição “Vitrais e Vidros: um gosto de D. Fernando II”, na Sala dos Veados do Palácio da Pena, apresenta a mais eclética coleção de vitrais do país, incluindo o mais antigo vitral conhecido em Portugal. É constituída pelo resultado de um aprofundado trabalho de conservação, restauro e reconstituição, desenvolvido em parceria com o Departamento de Conservação e Restauro (DCR) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.

As obras expostas constituem um notável conjunto de vitrais dos séculos XIV a XIX, incluindo também a coleção de vidros do Palácio, uma das mais representativas coleções da história do vidro europeu existente no nosso país, e à qual se juntam os vidros agora trazidos das reservas do Museu Nacional de Arte Antiga.
 
 

terça-feira, 30 de julho de 2013

Parque temático?
Feira popular?

 
Ora vamos lá ver se algum candidato terá o topete de recuperar a peregrina ideia da «Sintralândia». Se necessário for, cá estarei para voltar a encarar uma luta que, entre outros, também me teve como opositor declarado dos promotores de então.
 
A coisa estava tão adiantada que chegou a ser protocolada entre a Presidência da Câmara Municipal de Sintra e o Ministério da Defesa. Foi no fim da última década do século passado. Mas, para todos os que nos batemos contra tal despautério, a memória está bem viva...
 
 


Branco nas legislativas


Enquanto não nos conseguirmos organizar de modo a alterar a Lei Eleitoral - atitude que considero absolutamente determinante e matricial de toda a acção e actividade cívica subsequente - CONTINUAREI A VOTAR BRANCO!

Quando ocorrerem, irei às urnas no dia das eleições, mas recusando-me continuar a colaborar numa palhaçada que resulta na perpetuação do poder destes medíocre
s sujeitos que, com um sistema tão blindado, se «reproduzem» sem que os eleitores tenham qualquer hipótese de inequívoco e directo escrutínio sobre as atitudes dos parlamentares.

Reparem como alguns senhores deputados, quer do PS quer do PSD, que, com o seu silêncio e obediência partidária canina, sancionaram todos os desmandos dos anteriores executivos que conduziram o país ao descalabro, agora, imaculados, se apresentam como candidatos a Presidentes de Câmara, prestes a iniciarem nova e talvez derradeira experiência política a colar aos seus impolutos curricula...

Claro que o exercício da cidadania, objectivo máximo que nos deve animar, é inalcançável sem uma estratégia que, a montante, contribua para a remediação da iliteracia de uma significativa percentagem de portugueses que confunde cidadania com manifestações de rua, a única expressão que, afinal, lhe é acessível...

No entanto, depressa e bem, não há quem. Naturalmente, longo é o caminho. Será coisa para demorar mais de uma década de árduo empenho cívico de quem se disponha a protagonizá-lo, com a modéstia e humildade do espírito de serviço. As actuais condições não poderiam ser mais adversas já que, sobranceira e perversamente, os partidos políticos dominam e não cedem o passo a qualquer tentativa de intervenção cívica lúcida e independente.

A isto, me parece, corresponde a correcta atitude de não confundir a árvore com a floresta.
 
 


 
A não perder
Entrevista com António Barreto, a transmitir pela RDP 1, daqui a pouco menos de uma hora, a partir das 10,00. Já ouvimos excertos, absolutamente concludentes, acerca da necessidade de responsabilização dos decisores políticos que, para benefício próprio, dos seus partidos, por motivos eleitoralistas e outras conhecidíssimas razões, em especial através das Parcerias Público-Privadas, conduziram o país à bancarrota e comprometeram o futuro dos nossos filhos e netos por várias décadas futuras.

Como venho escrevendo, há pelo menos cinco anos, desde que comecei a denunciar os desmandos de um Governo cujo previsível horizonte era a inevitável falência das contas públicas, torna-se absolutamente imprescindível responsabilizar esses trastes que, a coberto dos mecanismos da democracia, perverteram a possibilidade de uma vida democrática decente e do exercício escorreito da cidadania.

Tal como ontem sublinhava Daniel Barenboim - durante a conversa que manteve com Jorge Sampaio, no âmbito da cerimónia de atribuição do Prémio Calouste Gulbenkian à Orquestra West-Eastern Divan Orchestra - não há qualquer hipótese de progresso histórico sem que, liminar e inquestionavelmente, os povos assumam os erros do passado. Trata-se de um princípio bem conhecido cuja conjugação, em Portugal, parece ter sido esquecida...

Naturalmente, sem ódios, dando todas as possibilidades de defesa a quem terá prevaricado, impõe-se que essa desqualificada gente, da medíocre classe política do «arco do poder», que usou e abusou dos dinheiros públicos, obrigando-nos à liquidação de escandalosa dívida que só agora iniciámos, impõe-se, escrevia eu, que saibamos responsabilizá-la.

Segundo opinião de António Barreto, tais indivíduos deveriam ser, pura e simplesmente impedidos do exercício de quaisquer cargos políticos, mediante decisão de uma Inspecção de Finanças, de instâncias parlamentares, etc. Já o Juíz jubilado Carlos Moreno, também a propósito das PPP, emite opinião análoga.

Não posso estar mais de acordo. Nunca o silêncio, que o silêncio é cúmplice da iniquidade. Em simultâneo, como também tantas vezes tenho proposto, preciso é, isso sim, alterar a Lei Eleitoral de tal modo que se evite a perpetuação no poder destes indivíduos.
Entrevista com António Barreto, a transmitir pela RDP 1, daqui a pouco menos de uma hora, a partir das 10,00. Já ouvimos excertos, absolutamente concludentes, acerca da necessidade de responsabilização dos decisores políticos que, para benefício próprio, dos seus partidos, por motivos eleitoralistas e outras conhecidíssimas razões, em especial através das Parcerias Público-Privadas, ...conduziram o país à bancarrota e comprometeram o futuro dos nossos filhos e netos por várias décadas futuras.

Como venho escrevendo, há pelo menos cinco anos, desde que comecei a denunciar os desmandos de um Governo cujo previsível horizonte era a inevitável falência das contas públicas, torna-se absolutamente imprescindível responsabilizar esses trastes que, a coberto dos mecanismos da democracia, perverteram a possibilidade de uma vida democrática decente e do exercício escorreito da cidadania.

Tal como ontem sublinhava Daniel Barenboim - durante a conversa que manteve com Jorge Sampaio, no âmbito da cerimónia de atribuição do Prémio Calouste Gulbenkian à Orquestra West-Eastern Divan Orchestra - não há qualquer hipótese de progresso histórico sem que, liminar e inquestionavelmente, os povos assumam os erros do passado. Trata-se de um princípio bem conhecido cuja conjugação, em Portugal, parece ter sido esquecida...

Naturalmente, sem ódios, dando todas as possibilidades de defesa a quem terá prevaricado, impõe-se que essa desqualificada gente, da medíocre classe política do «arco do poder», que usou e abusou dos dinheiros públicos, obrigando-nos à liquidação de escandalosa dívida que só agora iniciámos, impõe-se, escrevia eu, que saibamos responsabilizá-la.

Segundo opinião de António Barreto, tais indivíduos deveriam ser, pura e simplesmente impedidos do exercício de quaisquer cargos políticos, mediante decisão de uma Inspecção de Finanças, de instâncias parlamentares, etc. Já o Juíz jubilado Carlos Moreno, também a propósito das PPP, emite opinião análoga.

Não posso estar mais de acordo. Nunca o silêncio, que o silêncio é cúmplice da iniquidade. Em simultâneo, como também tantas vezes tenho proposto, preciso é, isso sim, alterar a Lei Eleitoral de tal modo que se evite a perpetuação no poder destes indivíduos.



A fazer História

[publicado no facebook em 29.07.2013]


Muitos Papas ficaram na História pelas piores razões. De certeza que, com Francisco, tal não acontecerá. Que bom é poder partilhar, neste meu último quartel da vida, a esperança que Francisco traz ao Mundo. Na medida do possível de cada um, oxalá já estejamos a fazer ou a preparar-nos para o que Francisco nos lembra ser preciso concretizar. Não é nada fácil. Mas, se assim acontecer, não é só ele, seremos todos a ficar na História pela «volta» que formos capazes de protagonizar na época que nos cabe viver.
 
 

 
 

 


West-Eastern Diwan,
subsídio para entendimento da designação


[publicado no facebook em 29.07.2013]



Tenho testemunhado a enorme confusão acerca da designação da West-Eastern Divan Orchestra que Daniel Barenboim e Edward Said fundaram em 1999. Hoje mesmo, por ocasião da atribuição do Prémio Calouste Gulbenkian 2012, pessoa que costumo encontrar nalguns dos concertos da temporada, me dizia que desconhecia por completo que relação haveria entre a orquestra e o nome em questão.

Elucidei aquele meu conhecido e logo me ficou a intenção de aproveitar a ocasião para partilhar. West-Östlicher Diwan, designação no original Alemão, ou West-Eastern Divan, como proposta de tradução para Inglês, é um «diwan» - ou seja, uma antologia de poemas líricos - da autoria de Johann Wolfgang von Goethe (28 de agosto de 1749-22 de março de 1832) inspirados na obra do poeta persa Hafez.

Fazendo parte do último grande ciclo de poesia em que Goethe se envolveu, consiste num conjunto de doze livros de poesia dos mais diferentes registos, tais como parábolas, de recorte histórico, de cariz político ou religioso, sempre com o objectivo da aproximação entre Oriente e Ocidente, propósito tão caro aos artistas do período Romântico:

Livro do Cantor (Moganni Nameh)
Livro de Hafiz Hafiz (Hafis Nameh)
Livro do Amor (Uschk Nameh)
Livro da Reflecção (Tefkir Nameh)
Livro do Humor (Rendsch Nameh)
Livro das Máximas (Hikmet Nameh)
Livro de TimurTimur (Timur Nameh)
Livro de Zuleika (Suleika Nameh)
Livro do Copeiro (Saki Nameh)
Livro das Parábolas (Mathal Nameh)
Livro dos Parsi (Parsi Nameh)
Livro do Paraíso (Chuld Nameh).

Em suma, trata-se de uma obra a ser encarada como exemplo e mesmo símbolo da troca, do diálogo entre Oriente e Ocidente, não só no sentido restrito da realidade alemã vs Médio Oriente, mas também Latino-Persa e Cristão-Muçulmano.

Enfim, talvez assim melhor se compreenda porque decidiram Barenboim e Said optar por esta designação para a Orquestra que fundaram em 1999.

The West-Eastern Divan Orchestra,
Prémio Gulbenkian, 2012


 
[publicado no facebook em 29.07.2013]
 
 
Esta tarde tive o gratíssimo privilégio de presenciar a cerimónia de atribuição do Prémio Calouste Gulbenkian 2012 à The West-Eastern Divan Orchestra, pela sua capacidade para transcender conflitos e construir pontes para o entendimento entre os povos, através da Música. A decisão coube ao júri presidido por Jorge Sampaio, incluindo destacadas personalidades como Vartan Gregorian (Carnegie Corporation, EUA), Paul Brest (Hewlett Foundation, EUA), Comandante Pedro Pires (ex-Presidente da República de Cabo Verde), SAR a Princesa Rym Ali da Jordânia (fundadora do Jordan Media Institute), e António Nóvoa (Reitor da Universidade de Lisboa).

Recebeu o prémio o Maestro Daniel Barenboim que, em conversa muito informal com Jorge Sampaio, falou da sua experiência à frente da West-Eastearn Divan Orchestra, um projecto que remonta a 1999, The West-Eastern Divan Orchestra criado em conjunto com Edward Said, que reúne músicos israelitas e palestinianos, entre outras nacionalidades. 

Foi um diálogo de cerca de uma hora, entre dois homens de Cultura, durante o qual, entre outras, foram partilhadas preocupações afins do fenómeno da globalização, questões palpitantes relacionadas com a cidadania crítica, cidadania universal e universalismo, diálogo intercultural, a incontornável imprescindibilidade da assunção dos erros do passado para a construção das pontes para o futuro e particularidades do no universo da Música que contribuem para a mútua aproximação dos povos em conflito.

Daniel Barenboim e Jorge Sampaio, mentes brilhantes. Na Gulbenkian, pois claro…

Nota curiosa. De repente, dei por mim confirmando que, naquela sala, estavam cinco pessoas que participaram no filme biográfico sobre a Senhora Marquesa de Cadaval em que tenho estado empenhado com um grupo de amigos. Assim, no palco, Daniel Barenboim, beneficiário do mecenato de Dona Olga, e Jorge Sampaio, amigo; na assistência, Luís Pereira Leal, Luís Santos Ferro, também amigos e eu próprio. A grande Música, sempre, a mobilizar-nos pelas melhores causas.
 
 


Municipalização da Educação,
stricto sensu
 
 
[publicado no facebook em 29.07.2013]


Dos vários pontos abordados, ater-me-ei, tão somente, à designada «municipalização» da Educação que o Prof. Fernando Seara circunscreve à gestão do Pessoal de Apoio Educativo que, geral e incorrectamente, é referido como «pessoal não docente».

Dominando muito bem os dossiês em presença, sabe o Prof. Fernando Seara que a sua proposta é análoga à que prevalece em muitos países da União Europeia. Na maior parte dos casos, é precisamente o município a mais distante instância de poder com que se relacionam as escolas dos mais diversos sistemas educativos europeus.

Independentemente das escalas, quer do município quer dos estabelecimentos escolares, singulares ou agrupados, este é o caminho. Em países como os do Benelux, nórdicos, etc, há décadas que assim é, movimento esse que coincide com o da real autonomia das escolas, incluindo o recrutamento local, caso a caso, dos profissionais das diferentes carreiras.

Independentemente dos contornos e enquadramento da sua candidatura à Câmara da capital, leva o Prof. Fernando Seara uma experiência acumulada de boas praticas de gestão do Pessoal de Apoio Educativo em Sintra. Posso testemunhá-lo como técnico de Educação e dirigente sindical representante dos Trabalhadores da Educação, Técnicos Superiores, Assistentes Técnicos e Assistentes Operacionais.

Como sintrense, sempre que me é oportuno, tenho o maior orgulho em partilhar uma avaliação, geralmente muito encomiástica, com que, no domínio em apreço, o pelouro da Educação da Câmara Municipal de Sintra tem sido distinguido nos últimos anos, como absolutamente exemplar na área metropolitana de Lisboa.
Ver mais
 


Abegoaria da Pena,
novo espaço cultural de Sintra 


 [artigo publicado na edição do 'Jornal de Sintra' de 19 de Julho de 2013]


 No contexto de um notável programa de recuperação de bens patrimoniais sob sua tutela, a empresa Parques de Sintra Monte da Lua (PSML) deu-nos mais outra alegria quando, em fins do passado mês de Junho, após um período de obras de beneficiação, pôde reabrir e disponib...ilizar para visitas a Abegoaria do Parque da Pena.

De facto, falar de alegria, fica muito aquém deste sonho concretizado, depois do pesadelo de dezenas de anos, durante os quais edifício principal e anexos se degradaram até a um amontoado de ruínas. Convém não esquecer que, em idêntica situação se encontravam o Chalé da Condessa e respectivo jardim – entretanto recuperados com tanto sucesso – bem como a horta, estufas, o pombal, viveiro de plantas, monte do chá que, actualmente, continuam em fase de intervenção.

Portanto, preciso é ter em consideração não ser coisa desgarrada o investimento na Abegoaria , compreendendo a instalação de estupendas boxes para várias cavalgaduras, cómodos para tratador e equitador, em articulação com um espaço, muito bem dotado de todas as infra-estruturas, que se pretende funcione para a realização de exposições, conferências e auditório.

Neste sentido, se bem entendem, a Abegoaria faz parte de um programa integrado de intervenções, através das quais a PSML tem o propósito manifesto de recuperar aquele que foi o plano de D. Fernanbdo e da Condessa d’Edla para toda a zona do parque, no qual esta instalação se articula com os já referidos e outros tantos motivos e centros de interesse, proporcionando ao público visitante a possibilidade da leitura e interpretação de páginas tão sugestivas às quais se acrescenta uma vertente outra, ou seja, a da animação cultural.

As actividades e atitudes de recorte cultural deverão pressupor o grande painel de referência que constitui o enquadramento local. Começando a uma cota mais elevada, o cenário conta com o próprio Palácio da Pena e vai descendo, muito docemente, até aos lagos, passando pelo Chalé da Condessa e jardim circundante, prolongando-se pela quinta e espaços com a qual articulam, continua por um labirinto de cantos e recantos do maior encanto, num estupendo parque de aclimatação de espécies botânicas, suscitando interminável e enleante programa de sugestões estéticas.

Hoje em dia, tal como se encontra e a podemos usufruir, a Abegoaria é um incontornável e determinante elemento deste Jardim de Klingsor, com o sacrossanto lugar do Graal mais acima. Se, de acordo com estas referências, o deslumbrado Richard Strauss veio encontrar, na Pena, o concreto ambiente de Parsifal de Richard Wagner, pois me parece que não só essa mas também outras conotações coincidentes poderão aproveitar-se como espalda para as iniciativas a programar para estas recuperadas e tão propícias instalações.

Mais uma vez, não posso deixar de sublinhar que, para tudo isto concretizar, a PSML dispõe de uma equipa motivadíssima de jovens técnicos, nos mais diferentes domínios, que se desdobra por todos os espaços onde a empresa tem interesses. No caso da Pena, entre outros colaboradores, ao Engº Nuno Oliveira todos nós devemos imenso pelo inexcedível empenho com que tem coordenado as actividades relacionadas com a silvicultura, a horticultura biológica, a jardinagem, a pecuária, por exemplo, na sua vertente dos Ardenais, equídeos de raça pesada que tanto sucesso conhecem nestas paragens.

E, continuando na Pena, na preparação de actuais e futuras iniciativas culturais, já a pensar no aproveitamento pleno das características únicas da Abegoaria, deverei lembrar a Dra. Ana Oliveira Martins e, noutra plataforma de actuação, o Arq. António Nunes Pereira, Director do Palácio, actualmente tão envolvido nas sofisticadas obras de recuperação em curso no seu interior e que, imagino, estará contando com uma preferencial articulação entre esta «sua» casa e o outro espaço.

Desde o Conselho de Administração aos colaboradores, não há dúvida de que, à partida, funciona um núcleo de entusiastas na PSML que, em cada um dos seus contextos de actuação, farão as melhores propostas para rendibilização plena de todas as invejáveis potencialidades da Abegoaria da Pena, nos diferentes campos de animação pela Arte, nas vertentes da Literatura, da Música, das artes plásticas. E, deixem que confesse, como amigo desta boa gente, estou desejoso de poder dar o contributo ao meu alcance.

[João Cachado escreve de acordo com a antiga ortografia]
 
 


Tribunais Administrativos,
esperança na Justiça


[publicado no facebook em 18.07.2013]


Espero bem que estejam a acompanhar, com o interesse que merecem, as decisões dos Tribunais Administrativos de Lisboa e de Beja, quanto às providências cautelares, respectivamente, acerca da Maternidade Alfredo da Costa e da interrupção de obras de construção de Auto-Estrada no concelho de Ferreira do Alentejo.

São decisões que honram o Poder Judicial. Cumpre acolhê-las com o regozijo que se impõe. Haja esperança!


Festa do Avante,
invejável frescura
 
[publicado no facebook em 18.07.2013]

A Festa do Avante continua a ter uma frescura juvenil que chega a comover. É uma grande afirmação de presença e de força anímica de um Partido, de militantes e de simpatizantes que, no Comunismo, continuam a encontrar um objectivo comum às mais nobres causas da Humanidade, ultrapassando as fronteiras dos enquadramentos ideológicos e partidários.

Aeroporto da Portela

[Texto publicado no facebook, 17.07.2013]


Lembram-se de Jorge Coelho, Ministro das Obras Públicas, convocar a comunicação social para anunciar que, estando esgotada a capacidade da Portela, não havia alternativa à construção de um novo aeroporto? E que seria na Ota?

Sustentando-se em estudos que nos custaram milhões, sucessivos governos foram confirmando a inevitabilidade da obra, com Mário Lino a gritar que, na O
utra Banda, jamais, jamais!![leia-se 'jamé']... Que estudos? Bem podemos perguntar. que a resposta sempre será a mesma: «encomendadíssimos», mascarando uma realidade que era preciso falsear a todo o transe...

Com que então capacidade esgotada... Tão esgotada que, agora, a Portela, com um novo terminal, aumenta para o dobro a recepção de passageiros! E, quanto ao TGV. Já alguém se esqueceu que, no governo Barroso, houve quem tivesse negociado com a Espanha não uma mas três linhas de alta velocidade?

Que ricos estudos! E, pois claro, há quem os assine. E há quem os pague, a peso de ouro, Secretários de Estado e Ministros que, em nome do povo, se permitem promover em tais embustes.

Estudos da mesma natureza daqueles que sustentaram a construção de auto-erstradas que estamos a pagar, no contexto das PPP, vias sem circulação, as tais estradas fantasma... Aldrabices horrorosas que serviram para encher os bolsos de construtores e de mais algumas entidades que será bom desvendar no mais curto prazo possível.

E sabem porquê? Porque a República, a coisa pública, assim o exige. Esses governantes sem palavra, sem honra - eles que juram, solenemente, por sua honra, cumprir com lealdade as funções em que são investidos - que desvirtuam a confiança do povo, que desrespeitam os eleitores, têm de ser chamados à responsabilidade.

Não podem furtar-se a dar explicações em sede do poder judicial. Disso não podem furtar-se, a coberto de uma designada responsabilidade política que «só nas urnas», dizem, é sancionada aquando das eleições legislativas. Pois não, convém-lhes que assim seja!...

sábado, 13 de julho de 2013




Taxistas virtuais


 [Publicado na edição do Jornal de Sintra, 12.07.2013]

Já repararam que, com maior ou menor apuro, em especial no que se refere à manifestação de opinião sobre questões da política nacional e internacional, as redes sociais se transformaram num virtual forum de taxistas? Espero bem que os condutores de carros de praça não se susceptibilizem com a apropriação que, sendo nada pejorativa, apenas aproveita a proverbial noção de que opinam acerca de tudo, com a profundidade que se sabe, pois mais não permite o tempo das deslocações por muito engarrafado que o trânsito se apresente.

E não é que, aos tais taxistas virtuais, lhes passa pela cabeça serem indispensáveis à formação da opinião do cidadão comum? Não percebendo que, apesar de utilizarem os mesmos meios que os verdadeiros opinion makers, o alcance das suas intervenções é tão restrito que não passa do trazer por casa, assumem-se como comunicadores determinantes.

Com o facílimo acesso aos blogues, facebook, twiter e similares, não há quem não bote sentença. Homens e mulheres de todas as idades, dos mais diferentes lugares urbanos, rurais, suburbanos, desde os mais sombrios esconsos e cloacas até às grandes vivendas burguesas, palácios e palacetes, todos engrossam a fileira desses vulgaríssimos escrevinhadores de mensagens, sem noção da qualidade dos seus posts, ou seja, dos textos que, publicados em tais suportes, assim são designados na gíria.

Tantas vezes morfológica e sintacticamente intragáveis, de substância pouco mais do que duvidosa, não passam de réplicas desqualificadas do trabalho de conhecidos jornalistas, comentadores políticos, etc. Sem escola, sem respeito por princípios e valores a que os profissionais estão obrigados pela deontologia, tais autores têm a maior dificuldade em se enxergarem. Com frequência, atingem quem não devem e, raramente, focalizam os poucos argumentos de que dispõem contra aqueles que arvoram como adversários.

Não raro, a sua abordagem dos fenómenos políticos, obedece ou coincide com a vulgar estratégia do comentário ao jogo da bola, em que o PS é o benfica e o PSD o sporting. Normalmente, têm a maior dificuldade na aceitação de quem se reclama da independência e, na rigidez das suas mentes, desconhecem a paleta dos matizes, ignoram a gama de cinzentos, entre os termos branco e preto, únicos que se adequam à sua restrita medida, incorrendo em constantes e precipitadas análises e não menos apressadas conclusões. E, por fim, ainda se atrevem a esperar comentários que «honrem» tão doutas opiniões…

Cumpre assinalar que, por princípio, se qualquer enquadramento é tão nobre como eficaz à partilha das ideias, pois, no caso das referidas redes, é difícil concluir se, na maior parte das circunstâncias, a surpreendente profusão de opiniões acerca da matéria política em circulação resulta em qualquer mais-valia e não em pura perda de tempo...

Sugestão & compromisso

A este propósito, tanto quanto me vou apercebendo, estarão em curso estudos enquadrados pela sociologia da comunicação que, com bases tão científicas quanto permitem tais coordenadas, poderão ajudar a sistematizar as ideias. E, não faltando matéria, bom é que assim aconteça porquanto, nestas andanças, por todos os concelhos do país, há centenas, milhares de taxistas virtuais, politólogos de proximidade, cuja actividade carece e merece a atenção, diagnóstico e análise dos meios académicos.

Poder-se-á concluir que, num tempo tão exigente como o nosso, aparentemente, tanta gente incorra em perdas tanto tempo? Francamente, não sei mas atrevo-me a pensar que a vantagem eventual, decorrente da intervenção cívica implícita à circulação de tanta mensagem – que, não duvido, tem como objectivo a maior consciencialização das situações objecto de reflexão – esmorece se não fenece, perante a vacuidade subsequente. Enfim, aguardemos que os tais estudos nos esclareçam.

No entanto, se tantas pessoas manifestam tão manifesta vontade de partilha de opinião, porque não operacionalizar atitude que, à partida, é tão nobre? Em cada comunidade, há tantos pequenos problemas que podem ser resolvidos pelos cidadãos! Porque não pensar na concretização de grupos-tarefa, funcionando com base nas metodologias do Treino Mental ou dos Círculos de Estudos, a primeira de enquadramento mais à francesa e a outra, evidentemente, de perfil mais nórdico que, garanto porque as estudei e pratiquei, são tão eficazes?

No que de mim puder depender, desde já prometo que, depois das próximas eleições locais, seja qual for o vencedor na minha freguesia, me disporei a trabalhar no sentido de realizar, primeiramente, a nível de experiência piloto, o que acabo de sugerir no parágrafo anterior. E, vamos lá, sempre no contexto do voluntariado, vai sendo tempo de, à cautela, não me expor à possibilidade de qualquer leitor, mais ressabiado, também me devolver o epíteto de taxista virtual …


[João Cachado escreve de acordo com a antiga ortografia]
 
 
 


Kirsten Flagstad,
[12.07.1895 - 07.12.1963]


Foi ontem o aniversário deste portento. Ainda estará para nascer quem consiga fazer - entre outros momentos inigualáveis de interpretações absolutamente paradigmáticas - um melhor Lamento de Dido. Sem mais comentários.

Boa audição!

http://youtu.be/sFMkSf8I2bE
 

Sintra, Festival 2013
Concerto de encerramento [II]
 
[Facebook, 12 de Julho de 2013]

Na sequência do post anterior acerca do concerto desta noite no Centro Cultural Olga Cadaval, pelas 22,00, com a Orquestra Gulbenkian, sob a direcção de Joana Carneiro, cumpre apresentar a outra peça em programa, a Sinfonia No. 1 em Dó Maior WWW29 de Richard Wagner.

Para o efeito, permitirão que recupere parte de um texto que escrevi e publiquei no blogue sintradoavesso, acerca da Mozartwoche 2013, aquando da minha desloca
ção a Salzburg, altura em que esta mesma peça foi apresentada pela orquestra Les Musiciens du Louvre, dirigida por Marc Minkowski.

“(…), obra de juventude, composta aos dezanove anos, que os wagnerianos conhecem, mas ignorada pela maior parte do público que frequenta as salas de concerto, quanto mais não seja, também porque é rarissimamente interpretada. Não vamos afirmar que se trata de uma obra prima. No entanto, está longe de se justificar ter sido tão votada ao esquecimento, aliás como a sua outra, incompleta, sinfonia em Mi Maior.

Como decidi proporcionar-vos a sua audição, hão-de reparar como é notória uma certa influência de Beethoven e, em particular da Sétima Sinfonia. De qualquer modo, notem como já se vislumbram certas soluções que prenunciam uma oficina, de facto, muito mais vocacionada para outros domínios musicais, em especial, o da ópera em que Wagner pontificou como um dos mais sérios casos da nossa cultura.

Aí tendes, um bom registo do primeiro andamento, Sostenuto e maestoso, Allegro con brio, na leitura do maestro Heinz Rögner, à frente da Orquestra Sinfónica da Rádio Berlin.

Como não consegui uma gravação sem imagens, fica a advertência para que não se distraiam com os retratos de Wagner. Como adivinho que a maior parte dos leitores nunca terá ouvido esta obra, há mesmo que ter a noção de se tratar de um momento raro."

Mais uma vez sublinho que o serão desta noite é mesmo de rara oportunidade para o contacto ao vivo com a obra. Portanto, se puderem, não percam o evento.

Boa audição!


http://youtu.be/nAvhVNfMf60
 

Sintra,
Festival 2013 - Concerto de encerramento [I]
 
[Facebook, 12 de Julho de 2013]
Num concerto da Orquestra Gulbenkian dirigido por Joana Carneiro, com o pianista Pedro Gomes como solista, vai encerrar a 48ª edição do Festival de Sintra. O programa compreenderá o "Prelúdio da Ópera 'Macbeth'" de Verdi, o "Concerto para Piano, op 13" de Benjamin Britten e a "Sinfonia No. 1em Dó Maior, WWW29" de Richard Wagner.

A primeira obra para piano e orquestra de Britten, composta antes de qualquer das suas óperas
, foi o Concerto para Piano op. 13, composto em 1937 estreado num Concerto Promenade em 1938, com o próprio Britten ao piano. Posteriormente seria revista em 1945, tendo Britten substituído o terceiro andamento (Recitative and aria) por um novo, Andante lento.

Descrito pelo compositor como «simples e direto na forma», o Concerto para Piano é uma obra repleta de virtuosismo e impulso rítmico, que permaneceu na obscuridade durante décadas e tem vindo a conquistar cada vez maior atenção do público.

A versão revista de 1945 foi estreada no Festival de Cheltenham em 2 de Julho de 1946. Pouco antes, Britten tinha levado à cena a ópera Peter Grimes, e o enorme êxito desta imediatamente o guindou à
fama mundial. Seguir-se-iam mais seis óperas durante a década seguinte, que o consagraram como um dos mais importantes compositores do século XX.

A estreia em Londres do Concerto para Piano op. 13 ocorreu pouco depois dessa circunstância, no Royal Albert Hall de Londres, com a London Symphony Orchestra dirigida por Basil Cameron. A gravação do Concerto de Britten que mais se celebrizou nas décadas seguintes foi realizada com o pianista Sviatoslav Richter (1915-1997) e a English Chamber Orchestra dirigida pelo próprio compositor Benjamin Britten. Foi gravada ao vivo em 1970, num concerto no Festival de Aldeburgh.

Precisamente dessa gravação vos apresento o I Andamento, Toccata, Allegro molto e con brio.

Boa audição!

http://youtu.be/z6E4OhTcPMU
 

Ora et labora

[Facebook, 11 de Julho de 2013]


Em 1964, reconhecendo o papel fundamental da vida e obra de São Bento (480-574) para o desenvolvimento da sociedade e da cultura europeias, SS Paulo VI declarou-o ‘Padroeiro da Europa’. Trata-se de figura cimeira da cultura europeia de todos os tempos cuja obra, de facto, não se limitou, à génese do movimento monástico que se propagou a todo o continente a partir da comunidade de Montecassino.

São Bento é o expoente de uma fascinante cultura de despojamento, símbolo do homem que pretende «ser» em oposição ao homem que só pensa no «ter». Por isso, acerca de temática que tanto me mobiliza, acodem-me os mais diferentes artefactos, literários uns, musicais outros. Por exemplo, de Ricardo Reis, tão a propósito:

Não tenhas nada nas mãos
Nem uma memória na alma,
Que quando te puserem
Nas mãos o óbolo último,
Ao abrirem-te as mãos
Nada te cairá.
Que trono te querem dar
Que Átropos to não tire?
Que louros que não fanem
Nos arbítrios de Minos?
Que horas que te não tornem
Da estatura da sombra
Que serás quando fores
Na noite e ao fim da estrada.
Colhe as flores mas larga-as,
Das mãos mal as olhaste.
Senta-te ao sol. Abdica
E sê rei de ti próprio.

in Odes


Ora et labora. Regra de ouro que tão soberbos frutos gerou, divisa que tão bem se aplica a Bento XVI, Papa Emérito, que tantos testemunhos acumulou e nos deixa em precioso legado de textos afins dessa preocupação de despojamento e de serviço ao outro. E a Francisco que, em tão poucos dias de pontificado, já deu sinais magistério esplêndido.

No dia em que a liturgia lembra São Bento, tenho motivos de sobra para exultar, como cristão, herdeiro orgulhoso deste passado longínquo e recente. Os que puderem acompanhem-me, com Mozart, no famoso motete “Exultate, Jubilate”, KV. 165, um milagre de Arte, que compôs aos dezassete anos.

A interpretação é de Cecilia Bartoli, acompanhada pela Orquestra Filarmónica de Viena, dirigida por Riccardo Muti, na célebre gala do dia 27 de Janeiro de 2006, no Grosses Festspielhaus de Salzburg, por ocasião do 250º aniversário do compositor, a que tive o privilégio enorme de assistir.

Boa audição!

http://youtu.be/YruVzW6zjdk



Portugal?
-É assim

[Facebook, 10 de Julho de 2013]


Vasco Graça Moura, autor do poema que reproduzo, não podia ter sido mais lúcido no reconhecimento das vias do nosso desassossego. Reparem como estamos todos, inteiros, nestes versos.

Crónica

eram barcos e barcos que largavam
fez-se dessa matéria a nossa vida
marujos e soldados que embarcavam
e gente que chorava à despedida

ficámos sempre ou quase ou por um triz
correndo atrás das sombras inseguras
sempre a sonhar com índias e brasis
e a descobrir as próprias desventuras

memória avermelhada dos corais
com sangue e sofrimento amalgamados
se rasga escuridões e temporais
traz-nos também nas algas enredados

e ganhou-se e perdeu-se a navegar
por má fortuna e vento repentino
e o tempo foi passando devagar
tão devagar nas rodas do destino

que ou nós nos encontramos ou então
ficamos uma vez mais à deriva
neste canto que é nosso próprio chão
sem que o canto sequer nos sobreviva

Letras do Fado Vulgar

Luís Filipe Castro Mendes,
'Every Poem is an Epitaph'


[Facebook, 9 de Julho de 2013]


Leram o meu texto "T. S. Elliot & Beethoven"? Então, dispense-me de fazer qualquer introdução para vos propor, de Luís Filuipe Castro Mendes, 'Every Poem is an Epitaph':

Desfiz meu corpo nas vivas marés que os versos me traziam. Solidão mil vezes retomada, sombra e pó, palavras que nos doem mais de perto: tudo desfez meu corpo e neste mar um navegante encontra seu deserto.
_________________

In "Outras Canções"


T. S. Elliot & Beethoven

[Facebook, 9 de Julho de 2013]


Foi pelos meus dezassete anos, no primeiro ano da Faculdade. Aluno de Teoria da Literatura a cargo de Joaquim Fernandes Tomás Monteiro Grilo (poeta Tomaz Kim), por ele fui iniciado em T. S. Elliot, nomeadamente, em “The Four Quartets”, indubitavelmente, uma das peças mais geniais alguma vez escrita, longa reflexão acerca do Tempo, estruturada à volta das quatro estações e dos quatro elementos.

Há poucos minutos, relendo poemas de Luís Filipe Castro
Mendes – diplomata formidável poeta, que tive o gosto de conhecer pessoalmente num círculo de amigos e colegas, entre os quais Margarida Lages, sua mulher e o saudoso Eduardo Prado Coelho – in “Outras Canções”, voltei a deparar com um título ‘Every Poem is na Epitaph’, precisamente extraído de ‘Little Gidding’, última parte da referida obra de Elliot.

Deixem que vos cite:

“(…)And every phrase
And sentence that is right (where every word is at home
Taking its place to support the others
The word neither diffident nor ostentatious
An easy commerce of the old and the new
The common word exact without vulgarity
The formal word precise but not pedantic
The complete consort dancing together)
Every phrase and every sentence is an end and a beginning
Every poem an epitaph. And any action
Is a step to the block, to the fire, down the sea's throat
Or to an illegible stone: and that is where we start
We die with the dying:
See, they depart, and we go with them
We are born with the dead:
See, they return, and bring us with them
The moment of the rose and the moment of the yew-tree
Are of equal duration. A people without history
Is not redeemed from time, for history is a pattern
Of timeless moments (…)”

Em 1931, depois de escutar uma gravação do “Quarteto para Cordas em Lá menor, op. 132” de Beethoven, Elliot escreveu uma carta a um amigo, o poeta Stephen Spender, em que considerava esta peça do compositor “quite inexhaustible to study.” É o único dos últimos quartetos de Beethoven que tem a estrutura de cinco andamentos do poema. Elliot continuava: “There is a sort of heavenly, or at least more than human, gaiety about some of his later things which one imagines might come to oneself as the fruits of reconciliation and relief after immense suffering; I should like to get something of that into verse before I die.”

Quem duvida de que tenha conseguido? Naturalmente, só poderia rematar com o op. 132 de Beethoven que, para vosso gaudio, vos apresento numa interpreatação fabulosa do Végh Quartet, com Sándor Végh, primeiro violino, Sándor Zöldy, segundo violino, Georges Janzer, viola e Paul Szabo, violoncelo. Coloco esta leitura perfeitamente ao nível da do Quarteto Borodin.

Eis a estrutura da obra, com indicação dos tempos na mudança de andamento:

Assai sostenuto — Allegro
II. Allegro ma non tanto (08:53)
III. "Heiliger Dankgesang eines Genesenen (17:45)
an die Gottheit, in der lydischen Tonart"
(A Convalescent's Holy Song of
Thanksgiving to the Divinity, in the Lydian Mode).
Molto adagio — Neue Kraft fühlend. Andante —
Molto adagio — Andante--Molto adagio.
Mit innigster Empfindung
IV. Alla Marcia, assai vivace (attacca) (32:14)
V. Allegro appassionato - Presto (34:32)

Boa audição!

http://youtu.be/NjXi4mwCGhc
 
 
 
Romântico
para a eternidade
 
[Facebook, 8 de Julho de 2013]


Percy Bysshe Shelley (1792-1822), certamente, uma das mais interessantes e importantes vozes do Romantismo inglês, morreu num dia 8 de Julho, em Viareggio*.

Tenho-o sempre tão presente que, naturalmente, não é a primeira vez que o lembro, mesmo nestas páginas. Desta vez, "Song - To the men of England", poema universal, cujos destinatários, afinal, são todos os homens, de todos os lugares, e de todos os tempos de exploração do homem pelo homem...
.

Sem dúvida, um poema para a eternidade.

__________
*Viareggio, por curiosidade, fica muito perto de Torre del Lago, tão conotada com Puccini e o famoso festival de ópera.
__________

http://youtu.be/pJnEsXxg9c4
 

7 de Julho,
Dia Mahler [III]
 
[Facebook, 7 de Julho, 2013]

Ainda tão quente esta tarde de aniversário Mahler! No meu caso, continuar a celebrar a data implica cruzá-la com um sete de Julho mais familiar pois a Ana Maria, uma das minhas irmãs, também faz hoje anos. Naturalmente, este compositor é-lhe particularmente querido. E, ao escutar este “Quarteto com Piano em Lá menor”, peça que nela tem a especial destinatária, de certeza que também recordará o nosso pai, a quem tanto devemos, por nos ter inculcado este... tão entranhado gosto pela grande música desde muito, muito garotos.

O caso das minhas primeiras abordagens a Gustav Mahler, pela mão do pai, aconteceu através de discos que ele importava, directamente dos Estados Unidos, para si próprio e para alguns amigos, músicos que com ele tinham feito o Conservatório, como o João de Freitas Branco, o Luís Villas Boas, o Joly e ainda para outros, caso do João Sassetti, cujo negócio, na Rua do Carmo, também passava pela venda de música gravada, o Pignatelli, o Duarte Borges Coutinho, etc.

Iria eu nos meus doze anos – numa altura em que, no nosso país, o compositor era conhecido apenas em meios muito restritos – quando tive a sorte incrível de um pai informado e com uma invejável cultura musical que, depois de outras bem mais precoces, me abriu a porta a este Titã. Como eu recordo, a sua introdução à Sinfonia No. 1 do Mahler, precisamente denominada ‘Titan’, em especial, àquele terceiro andamento ‘Feierlich und gemmessen, ohne zu schleppen’ [solene e moderado, sem arrastar] em que o tema do ‘Frère Jacques’ que, nos países germânicos, é conhecido por ‘Brüder Martin’, é adaptado a uma esplêndida marcha fúnebre… Meu Deus, há mais de meio século!

A grande herança do nosso pai foi a transmissão desse interesse pela Arte, não só pela Música, atitude que já o avô cultivava, por exemplo, nos célebres serões da sua casa em Belém. E, ainda mais relevante, a vontade insaciável de conhecer o que era possível saber, sempre subordinado à máxima ‘o saber não ocupa lugar’.

Neste dia de recordações, que me chegam a propósito do aniversário da mana, lembro que o pai tinha o topete de dizer que eu lia pouco. Eu lia enormidades mas, na verdade, comparado com ele, que, por dormir pouco, preenchia as madrugadas a ler de tudo, tinha eu, de facto, muito caminho para fazer… Meu Deus, onde já ia! Regressemos ao “Dia Mahler” e à coincidência dos aniversários.

Ouçamos o “Quarteto com Piano em Lá menor”, uma raridade nas salas de concerto, de inquestionável maturidade, ainda que composto aos dezasseis anos… A interpretação, de belíssimo recorte, foi confiada a Julia Fischer-Violino, Daniel Roehn-Violino, Alexander Chaushian-Violoncelo e a Milana Chernyavska-Piano.

Parabéns e, já sabem,

Boa audição!
http://youtu.be/JDaXUxudpbA
 

7 de Julho,
Dia Mahler [II]
 
[Facebook, 7 de Julho de 2013]


Ainda de Gustav Mahler, no domínio de “Don Juan”, com texto de Tirso de Molina, duas preciosidades raramente interpretadas para voz e piano, ‘Phantasie’ e ‘Serenade’, em estupendas leituras de Dietrich Fisher Dieskau e (nos bons tempos...) de Daniel Barenboim.

Queiram accionar os comandos seguintes I e II para acesso às respectivas gravações.

Boa audição!

http://youtu.be/3rygF8jd82I [I - Phantasie]
http://youtu.be/SX_gDcXkVR4 [II - Serenade]

 
 



Mahler,
7 de Julho [I]
 
[Facebook, 7 de Julho de 2013]

 No aniversário de Gustav Mahler (7/7/1860-18/5/1911), gostaria de vos propor a sua “Sinfonia No. 6 em Lá menor” que, manifestamente, em consequência da impreparação do público que frequenta as salas de concerto, é considerada a menos popular de todas as do compositor. Como ‘Trágica’ cognominaram esta que, na opinião de Alban Berg, é a «única» Sexta, mesmo incluindo a ‘Pastoral’…

Trata-se de gravação colhida no Festival de Luzern, em leitura de Claudio Ab...
bado, que tem dirigido do melhor Mahler a que já assisti.

A vossa especial atenção para o primeiro andamento [I. Allegro energico, ma non troppo. Heftig, aber markig. 0:07; II. Andante moderato 24:10; III. Scherzo: Wuchtig 39:13; IV. Finale: Sostenuto - Allegro moderato - Allegro energico 52:18] em que Mahler faz um retrato de sua mulher Alma.

Alma foi mulher de outros homens, tão extraordinários como Gustav, tais como Gropius, Franz Werfel, Kokoschka, que a pintou inúmeras vezes, íntima de Arnold Schoenberg, de Gerhart Hauptmann, Enrico Caruso e de Alban Berg cuja ópera “Wozzeck” lhe foi dedicada. Trata-se de pessoa absolutamente fascinante que vale a pena conhecer o melhor possível.

Boa audição!

http://youtu.be/Lqqk0cfaA8Y
 


 
Sintra,
o desassossego de São Pedro

[texto publicado na edição do 'Jornal de Sintra' de 5 de Julho de 2013] 
 
Não imagino quantas maneiras haverá de comemorar o solstício de Verão. De qualquer modo, em Portugal, dentre as de maior sucesso, estarão as festas de São João e de São Pedro, respectivamente, nos dias 24 e 29 de Junho, praticamente coincidentes com a altura em que,
para nós que o observamos da Terra, o Sol parece manter uma posição fixa quando nasce e se põe. Interessante que a palavra solstício, de etimologia latina – sol, solis + sistere (parar, não se mexer) – contém essa precisa ideia de Sol parado.

Então, a festa. Em Sintra, São Pedro é o que se sabe. Em seu sossego ou desatino, consoante as perspectivas, deixo as festas institucionais, o feriado municipal, os discursos, as visitas e as inaugurações várias, o hastear da bandeira, a banda que toca. Tudo isso e mais a vertente religiosa eu deixo para que, a partir deste momento, apenas me refira à festa profana, no recinto da feira de São Pedro, Largo D. Fernando II.

Há dezenas e dezenas de anos, não há São Pedro em que a família dispense a sardinhada, as farturas e tudo o mais que houver direito. Com as filhas, genros, netos, vamos até lá acima, sempre pelo cedo porque, caso contrário, encontrar mesa a jeito não é fácil tarefa. Uma vez chegados, rapidamente instalados, que os lugares já escasseavam, pedidas as vitualhas, eis que a mesa se cobre com as saladas, morcelas, caldo verde, sardinhas, pão, bebidas e tudo a preceito.

Alegremente, vai-se cultivando a boa vizinhança com amigos e conhecidos, ditos e dichotes, de mesa para mesa. Brinca-se com quem, improvisadamente, vai servindo de empregado por estes dias de festa. Amesendar, falar e conversar, brincar e brindar, é a festa, São Pedro, a mudança de estação, o Verão a instalar-se.

Pouco a pouco, fala-se mais alto, cada vez mais alto e, quando damos por isso, toda a gente quase grita ou já berra. Passados alguns minutos, apenas vejo o movimento dos lábios de quem está à minha frente. Debruço-me e, para ouvir melhor, com a mão em concha ao lado do ouvido. Ao pretender dizer seja o que for, não há hipótese, tudo tem de ser alta voz ou aos berros.

Berreiro no terreiro

Entretanto, pura e simplesmente, acontecera que dois ou três carrocéis, bem como o conjunto musical em ensaios de som, tinham iniciado o seu débito máximo de decibéis. Em suma, ainda o Sol se não tinha posto – sim, que apesar do solstício, a Terra não pára – e aquilo que poderia ter sido um bonito fim de tarde e agradável serão de festa popular já se transformara num inferno.

A coisa era de tal ordem impossível, os fortíssimos e profundos graves de goelas escancaradas, os batuques descompassados provenientes das várias fontes de som, tudo nos pedia que abandonássemos o lugar. Tão depressa quanto possível foi o que fizemos, tentando que, entre nós, se não se instalasse a atmosfera de desagrado que, afinal, era inevitável.

Bem sabem os leitores que, tal qual escrevo, pois é assim acontece. Como nada exagero, ninguém poderá replicar que são só os meus e os sensíveis ouvidos da minha família que acusam o incómodo. Longe, muito longe disso. Incrível o facto de, à nossa volta, toda a gente se queixar do mesmo e não haver maneira de alterar uma situação que se repete ano após ano. Será que não há mesmo?

Claro que há. Sem precisar de recorrer ao exemplo de festejos populares por essa Europa fora, mesmo em Portugal, tenho assistido a festas extremamente civilizadas e decentes, em que nunca a poluição sonora, pois é disso que se trata, nos violenta a este ponto.

Deixem que, a terminar, registe um especial apelo ao meu amigo Fernando Cunha, Presidente da Junta de Freguesia de São Pedro Penaferrim, lembrando que uma pequena desatenção acaba por estragar a tão tradicional e grande festa. A qualidade da diversão que, tão decisivamente, faz parte da qualidade de vida dos cidadãos, exige o cuidado e carinho que uma festa anual desta importância merece. E eu não tenho a mínima razão para duvidar do cuidado e carinho da sua equipa.

No entanto, não ter actuado, a tempo, velando e zelando por que os «detalhes» que acabo de assinalar tivessem sido devidamente ponderados e cuidados, ter-se-á revelado um manifesto da cultura de desleixo que, tantas vezes, provavelmente, demasiadas vezes, me vejo na circunstância de denunciar.

Mesmo com toda a benevolência e bonomia, o nosso santo vai dando sinais de manifesto desassossego perante estas sonoras investidas. Veremos se, por altura do próximo solstício de Verão, depois de a Terra ter dado mais uma volta ao Sol, se não teremos mais razões para desagradar ao nosso queridíssimo São Pedro.
 
 
 


Eleições, para quê?
Mais uma achega


[Facebook, 6 de Julho de 2013]


O cerne do meu texto de ontem apontava, isso sim, sem equívocos, para a necessidade de alterar radicalmente a Lei Eleitoral vigente, «mãe» da maior parte das iniquidades que inquinam a vivência da Democracia em Portugal, fundamentalmente, pelas razões referidas. De facto, porém, parece ser tema que não suscita o mínimo interesse.

PS e PSD podem estar perfeita
mente tranquilos, mantendo-se e reproduzindo no poder uma classe política desqualificada porque bem conhecem o seu eleitorado... Para tais partidos «da alternância», promover a mudança da Lei Eleitoral é o equivalente a um tiro no pé.

Por razões que tenho abordado em variadíssimas oportunidades, desde o analfabetismo à iliteracia, aos baixíssimos níveis de escolaridade, os portugueses, em geral, não podem assumir práticas de vida cívica sistemática e consequente. Num contexto sociocultural mais propício estou certo de que não faltariam movimentos, de escala vária, lutando pela alteração da Lei Eleitoral.

No entanto, no actual estado de coisas, o cidadão médio nacional considera que a vida cívica activa se subsume à manifestação de rua. É num estádio mais avançado de consciencialização política que os cidadãos participam, por exemplo, em «círculos de estudo» que, nos países nórdicos, ajudam a resolver imensos problemas do quotidiano das comunidades locais e nacionais.

Pessoalmente, considero que a estratégia do voto branco é a que melhor se adequa à situação actual, se e quando for decidido convocar eleições legislativas, mantendo a actual Lei Eleitoral. Pessoalmente, repito, sem qualquer veleidade de proselitismo. Finalmente, a propósito desta troca de impressões, gostaria de lembrar como, em termos literários, tal tema tão bem trabalhado foi por José Saramago em "Ensaio sobre a Lucidez".


Sintra,
Festival, 2013
Palácio da Vila, 5 de Julho
 
 
[Facebook, 5 de Julho de 2013]

Hoje à noite, no seu recital, às 21,30, Luísa Tender tocará estupendas obras de Charles-Valentin Alkan (1813-1888), compositor quase esquecido, cujo duplo centenário o Festival de Sintra d
ecidiu comemorar juntamente com os de Wagner e Verdi, bem como centenário de Britten.

Se puderem, não percam esta raríssima oportunidade de assistirem à apresentação ao vivo de obras de Alkan, de quem Luísa Tender tocará 'Préludes' e a 'Grande Sonate "Les Quatre Ages" Op. 33'. Desta última, eis a interpretasção de Ronald Smith.

Boa audição!
http://youtu.be/UxX60TmUXMs
 


Eleições,
para quê?


[Facebook, 4 de Julho de 2013]


Não tenho a menor dúvida de que a realização de eleições legislativas antecipadas seria a solução mais conveniente para a situação política que o país enfrenta. No entanto, mantendo-se vigente um dispositivo legislativo desadequado e nada propício à renovação dos eleitos, considero que o resultado da consulta se revelaria perfeitamente irrelevante.

Ao PS interessa que funcion
e a alternância. Fundamentalmente, confia em que, depois tanta asneira do Governo do PSD, o pouco esclarecido eleitorado português votará maioritariamente na alternativa PS. Pois, se é assim que vem acontecendo há uma data de anos, porque haveria agora de ser diferente? Na realidade, de tal ordem foram os desacatos, os disparates, a gritante incompetência, que o tal eleitor médio flutuante, pouco informado, sem vida cívica que ultrapasse umas facílimas idas à «rua», se votou PSD em 2011,agora votaria PS, independentemente deque tal opção pudesse garantir qualquer maioria.

Outro resultado extremamente previsível é que seja a da abstenção a verdadeira maioria. E também estou convencido de que muito significativa seria a percentagem dos votos brancos, do eleitorado mais esclarecido, nomeadamente socialista, de esquerda e que, de modo algum, se tem sentido ou sentirá alguma vez representado pelo PS. Desta feita, com o especial inconveniente da actual liderança de António Seguro, nada credível, frouxa, falha de ideias, sem quaisquer credenciais ideológicas, sem ponta de carisma, afinal, apenas senhor de um discurso aparentemente mais enxuto do incómodo neoliberal, mas saco da mesma «farinha Jota» que Passos Coelho.

Mais concretamente, cumpre perguntar para que poderia servir o sufrágio se, quaisquer que fossem os resultados, se manteria sem a mínima alteração a classe política e, nomeadamente, a enquadrada pelos partidos do designado «arco do poder». Andará muito desatento quem não entender que tais partidos mantêm o poder – e se mantêm no poder – porque, quando se avizinham períodos eleitorais, os respectivos chefes se limitam a replicar o «cozinhado» das candidaturas nos termos de uma receita que obedece ao único e simples objectivo de que os futuros deputados garantam a mais canina das obediências.

Enquanto a Lei Eleitoral não for revista, de tal modo que sejam institucionalizados os círculos eleitorais uninominais e, infelizmente, não há quaisquer indícios de que PS e PSD estejam sequer interessados nessa hipótese, a realização de eleições legislativas sempre resultará na perversão da própria vivência da democracia. O círculo eleitoral uninominal não é a virtude absoluta mas, inquestionavelmente, garante a renovação e a responsabilização directa dos eleitos que ficam sujeitos ao directo escrutínio dos eleitores. Em relação ao quadro agora vigente significaria uma revolucionária alteração.

Entretanto, sem qualquer vislumbre de tal revolução, se a «evolução» dos acontecimentos conduzir à realização de eleições legislativas, sei perfeitamente o que fazer. Branco, inequivocamente branco será o meu voto. Só assim poderei ficar tranquilo. Só assim o meu voto não contribuirá para a manutenção de uma classe política envelhecida, degradada, incompetente, medíocre. Mais «cozinhados»? Tenham dó!...